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1 A expansão econômica e social na Amazônia: migração e sociabilidade da força de

2.1 A exigência de novo marco teórico: migração e força de trabalho

A formação da força de trabalho nas fronteiras da Amazônia não se constituiu e não se regulou segundo modelos clássicos. Não obstante às mudanças que transformaram as relações de produção na Amazônia, foram conduzidas pela transformação do complexo de exploração das riquezas que implicou em mudanças no perfil da força de trabalho. Nas cidades polos do Sudeste do Pará, Marabá e Parauapebas foram forjadas e aprofundadas as características de um processo de construção do capitalismo na Amazônia muito particular, percebidos em diferentes unidades regionais que compõem a grande Amazônia brasileira.

Neste sentido, ao definir, na seção anterior, genericamente que todas as sociedades são sociedades de (i)migrante, que algumas são mais rurais do que urbanas, ou mais urbanas do que rurais, ou até mesmo cidades em transição, podemos então definir que a força de trabalho na Amazônia acompanha o processo de transição da forma de explorar as riquezas, sentido rural- urbana, e estas novas modelagem implicam em novas exigências às forças produtivas.

Becker (1997) afirma que a partir da década de 1970 a maioria da força de trabalho migrante era composta por trabalhadores rurais sem terras, pequenos agricultores e proprietário sem capital excedente, e o fluxo migratório deslocava-se das regiões pressionadas pelo latifún- dio, como o caso do Nordeste e Centro Oeste; e por intempéries naturais, fluxos migratórios vindos especificamente do Nordeste. Do Sul, Sudeste e Centro Oeste do país os fluxos eram em grande parte causados pelo crescimento do agronegócio no meio rural, a diminuição de terras cultiváveis disponíveis e o aumento de cidades urbanizadas. Por isso vimos, nos anos de 2000, a maioria do fluxo migratório é pressionado pelo processo de urbanização em todas as regiões de fronteira com o Pará.

Ainda, para Becker (1997), há pesquisas que investigam a migração a partir da direção e a duração dos movimentos de população. Segundo a autora, esse enfoque não leva em consi- deração a diversidade das direções do fluxo migratório (rural/rural, rural/urbano, urbano/ur- bano, urbano/rural) que desfaz e desatualiza os constructos que baseiam os fluxos migratórios apenas aos parâmetros rural/urbano.

Outrossim, as durações dos movimentos migratórios tampouco podem ser consideradas isoladamente para atualizar as referências teóricas, e passem a se constituir marcos teóricos pra ampliar o conhecimento sobre a migração na Amazônia Oriental. Além disso, há questões que precisam ser melhor trabalhadas como o problema da fixação do migrante. Ou seja, na Amazô- nia Oriental parcela dos migrantes tinham o interesse de se fixarem, por isso levavam a família inteira, mas o sentimento era de retorno. Ademais, Becker tinha razão quando afirmava que a

duração não pode definir o conceito de migração ou as características do migrante. Isso porque, os migrantes se fixavam, nas décadas de 1970 e 1980, em razão de as vias de mobilidade serem muito precárias. Com a melhoria de transportes a mobilidade ficou mais ágil; razão pela qual, os migrantes não precisavam mais se fixar e ter que conduzir toda a família, surgindo, assim, uma nova forma de mobilidade na figura do migrante itinerante (BAENINGER,2008). Vejamos como Picoli se refere a estes migrantes:

A força de trabalho para oxigenar os projetos econômicos instalados na região, fruto da existência de um exército industrial de reserva do país aparece sob a forma de três atores: o primeiro encontra-se na região flutuando, não é possui- dora de residência fixa, presta trabalho onde aparecer; o segundo encontra-se nas cidades planejadas, criadas para esta finalidade e o terceiro é importado de outras regiões do país, incentivados pelos capitalistas, quando falta mão- de-obra. Estes trabalhadores, com a finalidade única da subsistência vão for- mar os quadros funcionais das empresas da extração mineral e florestal, bem como dos projetos agropecuários e nas cidades. (p. 56).

Em Parauapebas a mobilidade de itinerantes flutuantes tem crescido, formando e forta- lecendo essa nova modalidade de migrante, que deixam as suas famílias no lugar seguro, sem tirá-la do convívio. O migrantes se aventuram oferecendo a sua força produtiva, nos SINEs (Sistema Nacional de Empregos). Assim evitam o estranhamento de suas famílias com as soci- edades receptoras. Lembremo-nos que isso ainda está em desenvolvimento.

O que o fenômeno dos migrantes itinerantes promove? Oscilação dos dados estatísticos populacional. Momentos em que são oferecidas mais vagas pelas empresas terceirizadas há um inchaço nas cidades36, quando as ofertas de trabalho minguam a população se retrai e aumenta o número de migrantes circulantes.

Becker (1997) assinala que é preciso compreender os contrastes dos modelos acima des- critos como essenciais para definir um determinado marco teórico que traduza a realidade so- cial. Se a realidade da migração for interpretada apenas na mobilidade rural/urbana, não terá força de explicação da verdadeira concepção, que reforça a ideia da existência das diversas formas de migração, até mesmo que se considere como um sistema em movimento, ou seja, a migração não se restringe a um fenômeno que se explique per si; há movimentos transitórios, como a mobilidade rural/rural, urbana/urbana, urbana/rural, que explicam a transitoriedade do processo migratório.

Para tentar esclarecer melhor, o marco teórico deve no estudo dos aspectos específicos buscar movimentos predominante na atualidade, considerando os aspectos históricos, mas sem

36 No terceiro capitulo veremos na entrevistas de dirigentes sindicais a confirmação do exposto, a da força de tra-

os tornarem exclusivos, porque o movimento do sistema de mobilidade jamais parará de pro- duzir novas relações especificas. A mobilidade rural/urbana, no passado, tiveram a sua impor- tância histórica para definir as características da força de trabalho migrante. De todo modo, apenas a polivalência pouco define as características de mobilidade da atual força de trabalho. Com o propósito de encontrar nexos nas variáveis apresentadas, nesta seção, é necessá- rio pôr em evidencia as questões que se julgam centrais para a possível existência de marcos teóricos sobre migração. O objetivo não é engolfar as evidências, mas elencar algumas questões que nos ajudem a refletir sobre o tema da seção. Vejamos:

A força motriz que exige refazer as leituras sobre o conceito de migração são as mudan- ças constantes nas formas de exploração das riquezas na Amazônia Oriental. Essas mudanças exigiram um novo perfil de mobilidade do migrante e portanto um novo perfil de força de tra- balho: da mobilidade com fins de fixação, para a mobilidade itinerante (flexível na mobilidade e nas funções), como Becker deduziu.

Até a década de 1980 o fluxo migratório para a Amazônia tinha como vetor, quase que exclusivo, a pressão do latifúndio sobre as regiões do Nordeste e Centro Oeste do Brasil, ou seja, rural destas regiões para o meio rural amazônico; depois, no mesmo sentido da geografia do Brasil, rural/urbano, urbano/rural, e urbano/urbano. Esse fenômeno confirma a teoria de Becker, quando surge em plena Amazônia a figura da força de trabalho polivalente, entretanto, o tradicional e o moderno voltam a se confundir, uma vez que as subsidiarias da Vale contratam a força de trabalho polivalente, mas a Vale dá preferência a trabalhadores com perfil técnico mais especifico.

Quanto à força de trabalho dos migrantes itinerantes, considera-se que interferem indi- retamente nas políticas públicas, porque os gestores públicos ao tentarem planejar a vida urbana não sabem o número exato de habitantes migrantes, por causa da oscilação dos dados estatísti- cos; por outro lado, o migrante tradicional fica mais exposto ao confronto de sociabilidades, e o migrante itinerante não se envolver em disputas por espaços de sociabilidades.

2.2 O paradoxo necessário: mobilidade do capital e mobilidade da força de trabalho