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A Expansão do Comércio Bilateral: O Predomínio dos Produtos Básicos (2000-2006)

No documento Parceria Estrat Site (páginas 105-135)

O início dos anos 2000 marca um “divisor de águas” na evolução da Parceria Estratégica, na qual uma correção de rumos e de perspectivas permite lançar as bases para um florescente comércio bilateral, erigido sobre a fundação de uma crescente complementaridade entre as economias brasileira e chinesa. A indústria de transformação chinesa, que progredira velozmente na segunda metade da década dos noventa, passou a exigir dilatados suprimentos de matérias-primas, em montantes muito acima da capacidade produtiva da China. De forma semelhante, a melhoria do padrão alimentar de sua população, após quinze anos de reformas econômicas, aumentou a demanda não só de grãos, mas sobretudo de alimentos mais sofisticados, como carnes, igualmente em proporções não disponíveis dentro da China. A partir da década de 2000, essas tendências ganharam mais força, fazendo surgir um modelo de relação comercial bilateral na qual tocava crescentemente ao Brasil (e à América Latina) fornecer matérias-primas à China, recebendo dela, em troca, manufaturados de qualidade ainda mediana, mas a custos muito baixos.

O Brasil e a América Latina (à exceção do México) muito se beneficiaram inicialmente desse fenômeno, que fez da China, pela primeira vez, um parceiro comercial significativo da região. A cooperação nas áreas espacial e energética, que esteve no centro da Parceria Estratégica nos anos noventa, cedeu espaço ao comércio, que passou a ser o elemento mais dinâmico do relacionamento bilateral nos anos 2000. Esse comércio, entretanto, traria vantagens e

desvantagens. De um lado, acirrou a concentração da pauta exportadora brasileira em commodities. De outro, propiciou uma espetacular expansão das exportações brasileiras para a China(109), que fez ressurgir o interesse

empresarial brasileiro por aquele país. Desta vez, a aproximação foi liderada pelo setor agroindustrial brasileiro, principalmente pelos exportadores de soja, bem como por grandes empresas e multinacionais brasileiras, como a CVRD, que identificam na China um mercado estratégico. Embora a soja e o minério de ferro viessem a dominar a pauta exportadora brasileira para a China nesses anos, chegando a responder por 50 a 65% do total, surgiram novas oportunidades, ainda por serem plenamente consubstanciadas, para a exportação de produtos de maior valor agregado para a China, sobretudo na área de carnes e aeronaves.

4.1 - Panorama da economia industrial da China no início dos anos 2000

Este segmento não pretende descrever pormenorizadamente a evolução da economia chinesa no decorrer da década dos anos noventa – algo que estaria fora do escopo desta tese. Focalizará apenas as grandes linhas da política econômica e a evolução tecnológica da China e seu impacto sobre o comércio bilateral sino-brasileiro. Mais específicamente, tentará mostrar como esses fatores condicionaram o novo modelo de complementaridade econômica que se estabeleceu entre as duas economias. O fim da década dos anos noventa e início da de 2000 marca a transformação da China numa das maiores potências econômicas mundiais. Como resultado do efeito cumulativo de vinte anos de forte crescimento econômico, com apenas um breve interlúdio de retração econômica (1989-1992), a economia chinesa dobra de tamanho entre 1993 e 2000. O PIB chinês, que era de US$ 545 bilhões em 1993, passa para US$ 1,08 trilhão em 2000. No mesmo período, o comércio exterior chinês experimenta um salto mais impressionante ainda, mais do que duplicando, ao passar de US$ 195,2 bilhões em 1993 para US$ 474,3 bilhões em 2000. As exportações chinesas quase triplicaram, ao passar de US$ 91

(109) As exportações brasileiras para a China cresceram 61% em 2000, 75% em 2001, 32% em 2002

e 80% em 2003, ultrapassando largamente as cifras das importações brasileiras da China nesse período. A partir de 2004, em contraste, as exportações chinesas ao Brasil passaram a crescer em ritmo acelerado, registrando aumento de 73% em 2004, 44% em 2005 e 50% na primeira metade de 2006, ultrapassando largamente as cifras das exportações brasileiras à China no mesmo período.

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para 250 bilhões, e as importações mais do que duplicaram, passando de US$ 104 bilhões para US$ 225 bilhões. As cifras referentes ao comércio exterior chinês encontram-se na Tabela abaixo:

Tabela 11 - Comércio Exterior de Bens da China (1993-2000)

Fonte : Estatísticas da Aduana chinesa (valores em US bilhões)

Os impressionantes progressos registrados pela economia chinesa em matéria de produção industrial e consumo de recursos repercutem, inevitavelmente sobre seu relacionamento exterior. Por um lado, a indústria de transformação chinesa, sob o impacto de anos de investimentos maciços em tecnologia e capitais, internos e externos, e favorecida pelos seus baixos custos de mão de obra e pouca regulamentação trabalhista e ambiental, tornara- se, ao final dos anos noventa, uma versão moderna da Inglaterra da Revolução Industrial, a nova workshop of the world, que tomava para si a tarefa de produzir parcela crescente de produtos têxteis, bens de consumo duráveis e eletroeletrônicos consumidos pelo mundo. Para aproveitar esse florescente mercado consumidor, mas sobretudo para lá produzir a custos baixos e exportar para o mundo desenvolvido, empresas multinacionais de todo o mundo transferem para a China, de forma acelerada, setores inteiros de produção, sobretudo na área de produtos têxteis e eletroeletrônicos. Os outrora dinâmicos setores eletroeletrônicos na Coreia do Sul, Japão e Taiwan, face ao aumento dos custos de produção em seus países de origem, não tiveram escolha senão transferirem-se também para a China. Até o México, que contava com um vigoroso setor de maquiladoras na sua fronteira norte, sentiu os efeitos dessa concorrência no mercado norte-americano, perdendo, ademais, investimentos para a nova potência econômica asiática. Como

resultado desse acelerado desenvolvimento comercial, a China registraria, em 2000, saldos comerciais expressivos com os três polos principais de poder econômico mundial: os EUA (US$ 84 bilhões), Japão (US$ 25 bilhões) e a União Europeia (US$ 41 bilhões) (110).

O surgimento na China de uma vigorosa indústria de transformação tem como corolário o aumento da demanda chinesa por matérias-primas e insumos industriais estrangeiros, para sustentar sua poderosa “máquina de exportação”. Estabelece-se, a partir de então, a grosso modo, um esquema econômico triangular, com papel de crescente influência na economia mundial. Numa ponta do triângulo, encontram-se os países ricos, sobretudo os EUA e a União Europeia, que compram montantes cada vez maiores de bens de consumo da China, em relação à qual passam a registrar grandes déficits comerciais. A China, em outra ponta do triângulo, compra quantidades crescentes de matérias- primas e de energia, necessárias ao funcionamento de sua indústria, provenientes de países em desenvolvimento, com os quais muitas vezes passa a ter um déficit comercial. Estes últimos, na terceira ponta do triângulo, são beneficiados duplamente. De um lado, encontram uma nova fonte de escoamento para a sua produção, que anteriormente se destinava quase que unicamente aos mercados tradicionais dos EUA e Europa. Ao mesmo tempo, sob o impacto da nova demanda chinesa, sobrevém um aumento geral e consistente nos preços internacionais de matérias-primas, nos segmentos de metais, alimentos e energia, com fortes benefícios para esses mesmos países exportadores de matérias- primas. Não obstante, como veremos nos Capítulos 6 e 7, no caso de países em desenvolvimento com expressiva base industrial, são matizados os benefícios do comércio chinês, uma vez que eles sofrerão, em alguma medida, a concorrência de produtos industriais chineses.

4.2 - Panorama da agricultura chinesa no início dos anos 2000 e avaliação do potencial mercado chinês para o agronegócio brasileiro A China e Brasil estão entre os mais importantes produtores, importadores e exportadores mundiais de produtos agrícolas. A China, na primeira metade dos anos noventa, produziu uma média de 400 milhões de toneladas de cereais (sobretudo arroz, milho e trigo), patamar esse que se elevou à cifra de 450 milhões de toneladas, entre 1996 e 1999, graças ao

(110) LENZ, Allen. “China’s World Trade and Investment: an Overview”, US-China Economic and

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estímulo da política oficial de autossuficiência em grãos. Dentre os cereais, o produzido em maior escala é o arroz (175 milhões de toneladas, em 2002), seguido de milho (121 milhões) e trigo (90 milhões). A produção de oleaginosas, dentre as quais a soja é a mais importante, cresceu de 25 milhões de toneladas (em 1990) para 47 milhões (em 2002). No mesmo período, a produção de algodão aumentou de 4,5 milhões para 4,9 milhões de toneladas, mas a de tabaco caiu de 2,6 para 2,4 milhões de toneladas. A produção de frutas foi uma das atividades agrícolas que mais cresceu no período, passando de 19 para 70 milhões de toneladas entre 1990 e 2002. No setor de pecuária, a produção chinesa de carne suína atingiu impressionantes 46 milhões de toneladas em 2002, ou seja, 15 vezes mais que o Brasil e 47 % da produção mundial. Nesse mesmo ano, a produção de carne de frango atingiu 9,5 milhões de toneladas, colocando o país em segundo lugar no ranking dos maiores produtores mundiais, logo à frente do Brasil (7,8 milhões de toneladas). Em termos de carne bovina, finalmente, a China produziu 6,2 milhões de toneladas, a quarta colocação mundial, e 1,3 milhão de toneladas menos que o Brasil (111). Em função desse cenário

de contínuos aumentos da produção agropecuária, ao longo dos anos noventa, e graças à sua quase autossuficiência em grãos, somada a um excedente no campo de frutas e vegetais, pôde a China, até 2003, caracterizar-se por ser uma exportadora líquida de produtos agrícolas, conforme demonstra a Tabela abaixo:

Tabela 12 - Comércio Agrícola da China (1993-2003)

Fonte: Estatísticas da Aduana chinesa (Valores em milhões de doláres norte-americanos)

(111) SALES, Mário Queiroz, JANK, Marcos, YAO, Shunli e CARTER, Colin. “Agriculture in

Brazil and China: Challenges and Opportunities”, Institute for the Integration of Latin America and the Caribbean, Inter-American Development Bank, 2005, p. 14 -19.

Esse quadro iria mudar decisivamente, entretanto, na primeira metade da década de 2000. Sob o impacto da prosperidade resultante de 20 anos de fortes e contínuas taxas de crescimento econômico e do consequente aumento do PIB per capita, que promoveu um significativo crescimento na demanda chinesa por produtos agroindustriais, era inevitável que a China viesse a importar parcelas crescentes de sua demanda de alimentos, tornando-se um grande mercado potencial para o agronegócio brasileiro. Na visão do Sr. Marcos Jank, Presidente do Instituto de Estudos de Comércio e Negociações Internacionais (ICONE), think tank agrícola sediado em São Paulo, a transformação da China, de exportadora para importadora líquida de alimentos, deu-se a partir de três fenômenos que se acentuaram no fim dos anos noventa. Em primeiro lugar, o crescimento da população urbana, que passou, nos últimos 20 anos, de 200 para 500 milhões de pessoas, enquanto a população rural permaneceu estagnada em torno de 800 milhões de pessoas. Nesse processo, agricultores de produtos de subsistência transformaram-se em operários urbanos. O segundo fenômeno consiste no ganho de renda da população chinesa, que se traduziu no aumento do consumo alimentar. O terceiro vetor seria o “efeito-graduação”, ou seja, a melhoria do padrão de alimentação da população, como resultado do crescimento de sua renda, dando-se uma migração do consumo de grãos e raízes para carnes e lácteos(112).

Como resultado desses três fenômenos, o consumo de alimentos na China, no período entre 2000 e 2003, supera sistematicamente a capacidade de produção doméstica e dá início a um processo de rápido aumento das importações chinesas de produtos agroindustriais, que atinge principalmente a soja em grão, lã, óleo de palma, algodão e óleo de soja. Somados, estes produtos responderam por 46% das importações totais agrícolas chinesas no período. Tomando-se como base uma cesta dos quatorze produtos agrícolas mais consumidos na China (milho, arroz, trigo, algodão, tabaco, açúcar, soja em grão, farelo de soja e óleo de soja, maçã, laranja, carne bovinas, ovina e suína), constatar-se-á que a produção interna para a maior parte desses produtos foi, nesse período, largamente inferior ao seu consumo, à exceção de farelo de soja e maçãs, como se vê na Tabela abaixo:

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Tabela 13 - Consumo de Produtos Agrícolas chave na China e no Brasil (2001-2003)

Fonte: ICONE (consumo médio em milhões de toneladas, consumo per capita em kg /pessoa)

A Tabela acima demonstra que o Brasil dispõe de excedentes exportáveis para a quase totalidade dos produtos de que a China é carente, à exceção de arroz e trigo. No caso dos demais produtos, o Brasil já direciona produtos agroindustriais para aquele país em montantes significativos (soja), ou poderá fazê-lo no futuro próximo (óleo de soja, algodão, tabaco e açúcar). A manter-se a atual tendência de crescimento econômico e, por conseguinte, de paralela urbanização daquele país, prevê- se que a China continuará a aumentar consistentemente suas importações de produtos agroindustriais, oferecendo a países como o Brasil, Argentina e os EUA excelentes oportunidades para ampliar suas exportações. No futuro, o Brasil deverá encontrar-se em situação especialmente confortável, pois detém grande potencial para aumentar sua área plantada (atualmente de apenas 55 milhões de hectares), enquanto a China (com 155 milhões de hectares cultivados), já explora a quase a totalidade de suas terras aráveis. A situação chinesa é ainda agravada pela ameaça da desertificação, ao norte e centro, e pelo rápido processo da urbanização no país, fenômenos que estão retirando da produção agrícola parcelas não desprezíveis do território chinês antes sob cultivo.

4.3 - A grande expansão das exportações brasileiras de “commodities” (2000-2003)

O final dos anos noventa, como visto no Capítulo 3, assistiu à queda do comércio sino-brasileiro. Em 1999, o Brasil exportou apenas US$ 676 milhões para a China, que ocupava então o modesto posto de 15º maior comprador de mercadorias brasileiras. Embora a China tivesse logrado consolidar-se, anos antes, como o segundo maior parceiro comercial do Brasil na Ásia - à frente da Coreia do Sul e de Taiwan -, a corrente de comércio sino-brasileiro ainda era, no início dos anos 2000, superada com folga pelo comércio brasileiro com o Japão, país que permaneceu, até 2003, o principal parceiro comercial brasileiro na Ásia. A transformação da China no terceiro maior mercado do Brasil, em 2003, atrás apenas dos EUA e da Argentina, dá-se no breve período de apenas três anos.

Nesse processo, o mercado chinês ultrapassou rapidamente em importância mercados tradicionais como Alemanha, Reino Unido, França e Itália. Com efeito, entre 2000 e 2003, o mercado chinês responde por parcela crescente de nossas exportações totais, passando de apenas 2,0% (em 2000) para 6,2% (em 2003), ultrapassando-se com folga o pico histórico anterior de 1985, que fora de 3,3%. Essa tendência, reproduzida no relacionamento da China com outros países latino-americanos, fez daquele país, naquele ano, o maior mercado individual para as exportações do Brasil de soja triturada e de minério de ferro, e o quarto para celulose brasileira. A evolução impressionante do intercâmbio bilateral entre 2000 e 2003 – com ênfase num crescimento vertiginoso das exportações brasileiras, que quadruplicam entre esses anos – pode ser vista no quadro abaixo:

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Tabela 14 - Brasil: Intercâmbio Comercial com a China (2000- 2003)

Fonte: CACEX/DEPEC (Valores em US milhões F.O.B.)

A redinamização do comércio bilateral no início dos anos 2000 convive com a consolidação de sua estrutura nas bases existentes desde o final de década dos noventa. Com efeito, a composição das exportações brasileiras à China no início dos anos 2000 em pouco difere do quadro registrado no período de 1997 a 1999, época em que o Brasil já exportava majoritariamente matérias-primas à China, e dela importava principalmente produtos eletrônicos, máquinas e instrumentos. O que efetivamente se modificou entre o período de 1997-1999 e o período 2000-2003 foi a escala das exportações brasileiras, tanto no caso da soja quanto no de minério de ferro, impulsionadas, de um lado, pela aceleração da expansão da indústria siderúrgica chinesa, e de outro, pela abertura do mercado chinês a importações de soja em grão. O dinamismo que caracterizou as exportações brasileiras de soja e ferro não se manifestou, entretanto, no setor de produtos semimanufaturados e manufaturados. Após representar 50% da pauta exportadora brasileira em 2003, igualando o valor das exportações de produtos básicos, as exportações de produtos industriais brasileiros à China voltaram a cair como proporção da pauta exportadora em anos subsequentes, como se vê na Tabela abaixo:

Tabela 15 - Composição da Pauta Exportadora Brasileira à China (2000-2006)

Fonte: Siscomex/MDIC * janeiro a setembro

As tendências examinadas acima pareciam confirmar o acerto dos prognósticos chineses de que o Brasil viria a se transformar, nos anos 2000, em importante fonte de suprimentos desses produtos. Já durante a visita do então Primeiro-Ministro Li Peng ao Brasil, em 1996, era forte o interesse no aumento das compras de minério de ferro e grãos brasileiros, uma vez que a China se mostrava desejosa, no primeiro caso, de diminuir sua dependência em relação a fornecedores tradicionais (como a Índia e Austrália) e, no segundo, de garantir acesso a novas fontes de alimentos. Consciente de que a crescente demanda chinesa por essas commodities poderia afetar negativamente os preços internacionais, tratou a China de encorajar o surgimento de novas alternativas de suprimento, como o Brasil e a Argentina. De certa forma, a China repetia com o Brasil a experiência nipo-brasileira na década dos setenta, quando nosso país transformou-se em fornecedor de produtos básicos e minérios e metais (aço, alumínio) para sua então vigorosa indústria. Nos anos noventa, com a paulatina decadência da indústria pesada japonesa, premida por considerações ambientais e de custos crescentes, o “bastão” foi transferido à China, que passou a aplicar a mesma política de diversificação de fontes de matérias- primas adotada antes pelo Japão.

O Brasil encontrava-se bem preparado, em 2000, para cumprir esse papel. O minério de ferro brasileiro, de teor excepcionalmente alto, complementava as reservas chinesas, de qualidade inferior. Avanços tecnológicos em matéria de produtividade e logística permitiram o

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barateamento dos transportes a granel (113), tornando o minério brasileiro

competitivo na China, apesar da competição de fornecedores mais próximos, como a Austrália e a Índia. No caso da soja, o abandono, em 2001, da anterior política chinesa de autossuficiência nesse produto resultou num crescimento das importações totais chinesas de 4 milhões de toneladas, em 1998, para 22 milhões de toneladas, em 2004. Ironicamente, as antigas normas haviam favorecido as importações de óleo de soja, diante da escassez interna de soja para esmagamento e beneficiamento dentro da China. A partir dos anos 2000, decidiu o Governo chinês, inteligentemente, liberar a importação da soja em grão, de modo a permitir a agregação de valor internamente à matéria-prima importada, encorajando o surgimento de uma indústria doméstica de produção de óleo de soja.

A alta concentração das exportações brasileiras à China em poucos produtos, nesse período, pode ser vista na Tabela abaixo:

Tabela 16 - Brasil: Principais Produtos Exportados para a China (2001-2003)

Fonte: MDIC/SECEX (Valores em US$ milhões F.O.B.) * dados preliminares

(113) A ampliação das exportações brasileiras de minério de ferro à China foram viabilizadas tanto

pelo seu alto teor de ferro, que permitiu fosse pago preço superior ao vigente para o produto australiano, como pelos investimentos chineses na construção, ao longo dos anos noventa, de portos com suficiente calado para permitir a atracação de navios graneleiros de até 250 mil toneladas, necessários para o barateamento do frete.

A dependência do Brasil em apenas dois produtos – minério de ferro e soja em grãos – para mais de metade de suas exportações à China(114) aponta

para as dificuldades enfrentadas pelo Brasil para diversificar sua pauta exportadora para produtos industriais, embora viesse a ocorrer entre 2001 e 2003 um curto pico de exportações de produtos siderúrgicos brasileiros para a China.

4.4 – Os atritos comerciais no segmento de exportações tradicionais: o caso da soja e minério de ferro (2004-2006)

A crescente presença na pauta exportadora brasileira à China de soja em grão e minério de ferro, entretanto, não se deu sem percalços. Apesar da elevação da produção mundial propiciada por novos fornecedores como Brasil e Argentina, o constante e acelerado aumento da demanda chinesa terminou por elevar sensivelmente os preços internacionais dessas commodities ao longo da década de 2000. No mesmo período, o forte aumento da produção chinesa de produtos manufaturados teve o efeito de deprimir os preços internacionais de produtos eletroeletrônicos, sapatos, têxteis e máquinas e equipamentos. Esse duplo fenômeno - de aumento nos preços de matérias-primas e redução no valor de produtos industriais - levou muitos analistas e estudiosos a prognosticar

No documento Parceria Estrat Site (páginas 105-135)