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O Estabelecimento da Parceria Estratégica Sino-Brasileira (1993)

No documento Parceria Estrat Site (páginas 55-73)

O cenário mais amplo do relacionamento bilateral sino-brasileiro no início dos anos noventa comportava mais indagações do que respostas e, sobretudo, mais desafios do que conquistas. Nesse sentido, o ano de 1991 representou o nadir do comércio bilateral. Apesar de o intercâmbio bilateral ter recuperado certo fôlego em 1992, não pareciam existir maiores indícios, no início de 1993, de que estaria por se iniciar uma nova e promissora etapa nas relações bilaterais sino-brasileiras. As dificuldades econômico-financeiras por que passou o Brasil no final do Governo Sarney e durante os Governos dos Presidentes Collor e Itamar Franco - hiperinflação, conjugada com forte recessão - pareciam diminuir, aos olhos dos chineses, a atratividade do Brasil como parceiro significativo chinês(37). No campo econômico-comercial, como

já visto no capítulo anterior, as perspectivas de um revigoramento do comércio

(37) Telegrama da Embaixada do Brasil em Pequim de abril de 1993. Nele, o Embaixador brasileiro na

China, referindo-se à iminente visita ao Brasil do Vice-Primeiro Ministro Zhu Rongji, sugere que se procure "proporcionar ao visitante, para além da conjuntura econômica desfavorável que o [Brasil] enfrenta desde vários anos, uma visão positiva do potencial econômico brasileiro". Isso porque, segundo o Embaixador, existiria na China uma "visão algo negativa da situação econômica vivida pelo Brasil nos últimos anos. O quadro econômico brasileiro suscita a curiosidade de economistas chineses, desejosos de melhor conhecer nossa experiência justamente para evitar a repetição [na China] dos maus resultados decorrentes da tentativa feita no passado [pelo Brasil] de conciliar altas taxas de crescimento com níveis elevados de inflação, e de buscar o desenvolvimento industrial sem uma política ativa de abertura ao capital estrangeiro e ao comércio exterior".

bilateral eram ainda distantes, diante do aparente esgotamento do modelo de relacionamento bilateral seguido nos anos oitenta. Diante de tal cenário, necessitariam “entrar em cena” novos elementos que servissem de motivação e de justificativa para esse projeto até certo ponto inesperado da Parceria Estratégica sino-brasileira.

O engajamento chinês nessa iniciativa explica-se pelas incertezas introduzidas, a partir de 1992 – 1993, em seu delicado processo de reformas políticas e abertura econômica, pela cisão entre conservadores e progressistas, evidenciada durante os incidentes da “Praça da Paz Celestial” (ou Tiananmen, em chinês). Será necessário também entender os constrangimentos à atuação internacional da China, em seu entorno mais imediato e em suas relações com o Ocidente. A busca de aproximação com potências regionais de expressão política e econômica, independentemente da ideologia professada por esses países, faz portanto parte de esforço chinês de abandonar o isolamento ideológico do passado, na tentativa de reconduzir a China ao rol das grandes potências internacionais. Aspectos fundamentais do processo de nova inserção política da China no cenário internacional foram o esforço de conviver pacificamente com os EUA, de reaproximar-se da Europa, e de constituir relações estratégicas com regiões como a África, a América Latina e Ásia Central, bem como, no plano individual, relacionar-se com países em desenvolvimento influentes, como o Brasil e África do Sul. Para avaliar melhor esses e outros aspectos do desenvolvimento da política interna, externa e economia chinesas, examina-se, no próximo segmento, o panorama econômico e político da China no início dos anos noventa.

2.1 - Panorama da política interna e externa, e da economia, da China no início dos anos noventa

Os anos que se sucederam aos incidentes da Tiananmen foram cruciais para definir as opções políticas e econômicas que viriam a caracterizar o Estado chinês ao longo de toda década dos anos noventa e início dos anos 2000. Foi nesses anos que surgiu o conceito de “economia socialista de mercado com características chinesas”, calcado numa estrutura econômica chinesa cada vez mais permeável às forças de mercado, mas que convive com um sistema político autoritário e avesso a qualquer processo de abertura política. Nos meses seguintes aos incidentes de junho de 1989, que cindiram o Partido Comunista e quase fizeram soçobrar suas bases de sustentação

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popular, houve fortes pressões internas, sobretudo da facção conservadora do Partido, para desacelerar e até interromper as reformas econômicas lançadas anos antes por Deng Xiaoping.

Dois elementos chave parecem ter contribuído para conter a tentação de abandonar as reformas econômicas e para assegurar, assim, a vitória das correntes pró-reforma dentro do PCC. De um lado, calou fundo a derrocada da União Soviética (URSS) e dos regimes comunistas do Leste Europeu, que deixaram, como rastro, no caso sobretudo da ex-URSS, uma herança de caos, separatismo e instabilidade política nas fronteiras ocidentais da China. Temiam as autoridades chinesas repetir o imobilismo econômico e o enrijecimento político da “Era Brezhnev” e a incapacidade do Partido Comunista Soviético, apesar de Gorbachev, de reformar a decadente e ineficiente estrutura política e econômica do país. Do exemplo soviético, extraíram a lição de que os princípios da “economia de comando” e do “monopólio estatal dos meios de produção” não eram mais apropriados àqueles tempos de “globalização” incipiente, e que só reformas econômicas de mercado poderiam dar uma base estável de sustentação ao crescimento econômico chinês. Observaram também a temeridade de Gorbachev de começar as reformas pela abertura política (Glasnost), para só depois adotar a econômica (Perestroika). Optou o regime chinês pela estratégia oposta, qual seja, a de realizar as reformas econômicas de mercado, melhorar o padrão de vida da população, para só posteriormente encarar a espinhosa questão da abertura política, a ser postergada ao máximo.

Por outro lado, e igualmente importante, foi a determinação de Deng Xiaoping de retomar e intensificar as reformas econômicas que ele havia implantado a partir de 1979 e que se encontravam “bloqueadas” entre 1989 e 1991. Sob o impacto da desorganização e da inflação, que haviam caracterizado a economia chinesa no período imediatamente anterior a junho de 1989, os três anos seguintes foram marcados por um esforço de saneamento e estabilização. Deng Xiaoping havia percebido estarem maduras as condições, no início de 1992, para um novo salto econômico do país. Com um inegável sentido midiático, Deng, que desde fevereiro de 1991 não era visto em público, reapareceu espetacularmente, em janeiro de 1992, na cidade sulista de Shenzen, que fora o palco do primeiro experimento capitalista da China pós-Revolução Cultural, exigindo a aceleração do ritmo das reformas. Na ocasião, cobrou mais audácia e experimentação do Partido na implementação dessas reformas, que eram necessárias, na visão de Deng,

para o aprimoramento das forças produtivas, ampliação do poderio nacional e melhoria das condições de vida do povo chinês. Essa última motivação era particularmente importante, tendo em vista que a eclosão da revolta de Tiananmen havia deixado transparecer a insatisfação das camadas urbanas intelectualizadas (uma “protoclasse média”) com o Regime. Na visão de Deng, rapidamente secundada pelo novo Secretário-Geral do PCC, Jiang Zemin, era necessário cooptar e conquistar tais segmentos dessa população urbana, através de um processo de massificação do consumo e crescimento da renda. Em outras palavras, a estabilidade do regime recomendava claramente, não a reversão do ritmo das reformas, mas, muito pelo contrário, sua aceleração (38).

Os esforços de Deng são recompensados em março de 1993, quando a ala reformista do Partido domina os principais cargos do Executivo e Alto Comando do Exército. O Primeiro Ministro Li Peng, antigo oponente do crescimento “excessivo”, adere, sob a pressão de Deng e Jiang Zemin, à ala reformista(39). Consagra-se, em definitivo, a teoria de Deng Xiaoping, da

construção de um “socialismo com características chinesas”, conceito que viria a metamorfosear-se, alguns anos depois, na hoje familiar expressão “economia de mercado com características socialistas”. Ganha a “batalha” em favor da reforma, relança-se em definitivo um processo de rápidas transformações econômicas, sob a liderança do Vice-Primeiro-Ministro e depois titular da Chefia de Governo, Zhu Rongji.

No plano da política externa, a desintegração da URSS e o fim da bipolaridade esvaziam a aliança tática EUA-China, estabelecida após a célebre visita do Presidente Nixon à China em 1972 para “conter” a então expansionista URSS. A partir de 1990 e 1991, com a transformação da antiga superpotência soviética numa Rússia frágil e, sob Boris Yeltsin, de tendência pró-ocidental, a China transforma-se na única possível rival estratégica dos EUA. Inaugura-se, assim, no apagar das luzes da Administração George H. Bush e no início da nova Administração Clinton, um período de relações tensas com os EUA.

(38) Em discurso, pronunciado na VIII Legislatura do Congresso Nacional do Povo, em março de

1992, o Primeiro Ministro Li Peng afirma, segundo tradução disponibilizada em inglês, que: “Only if we continue to deepen reform, develop the economy and improve living standards can we lay a solid foundation for long-term social stability”.

(39) Nesse mesmo discurso, Li Peng também afirma que “The fundamental objective of the socialist

society is to liberate and develop the productive forces, and work in all fields should be subordinated to serve economic development. Reform and opening to the outside are the only way to liberate and expand productive forces, increase our country’s overall strength and raise the people’s living standards”.

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Entre 1990 e 1992, a China busca recompor suas relações com as principais potências europeias ocidentais, danificadas pelo episódio de Tiananmen, bem como com a nova Rússia que surgia das “cinzas” da velha URSS. O mais difícil teste foi, sem dúvida, o relacionamento com a superpotência remanescente, os EUA. O Presidente Bill Clinton, que assumiu o poder em 1992, havia sido eleito com a promessa de que reavaliaria criticamente as relações sino-norte-americanas, empenho que se confirmou amplamente nos anos seguintes. Assim, ao longo de seu primeiro mandato (1992-1996), a relação dos EUA com a China é espinhosa e difícil, tendo como pano de fundo duas preocupações. No âmbito geopolítico, setores conservadores “brandam” a ameaça de que a China possa tomar o lugar da ex-URSS, para tornar-se uma potência rival dos EUA, dando continuidade assim à antiga Guerra Fria, com um novo ator. Do ponto de vista comercial, preocupava outros setores da sociedade norte-americana o dinamismo extraordinário da economia chinesa, que ameaçava “sucatear” indústrias inteiras nos EUA, sobretudo as que se baseavam no uso intenso do fator trabalho, como a indústria têxtil.

Face a pressões da esquerda do Partido Democrata, envolvendo tanto segmentos liberais quanto sindicalistas, Clinton inicialmente “endurece” com a China. Sua principal “arma” nesse sentido está no condicionamento da concessão anual à China do status de “Nação Mais Favorecida (NMF)”, vital para o comércio chinês com os EUA, à realização de progressos em matéria de Direitos Humanos. Em resposta, ao longo de 1993 e 1994, a China ameaçaria cancelar contratos de exportação norte-americanos, o que levaria Clinton a desistir em 1994 daquela vinculação. Em contrapartida, Clinton manteve a China sob pressão por meio de dois outros instrumentos, ao longo dos anos noventa: a) patrocínio sistemático, no âmbito da Comissão de Direitos Humanos da ONU, de resoluções condenatórias da situação dos Direitos Humanos da China, e b) o endurecimento das negociações bilaterais com a China, no contexto da tentativa da China de aderir à OMC, objetivo só alcançado em 2001.

As más relações com os EUA tornaram particularmente importante para a China reaproximar-se da França, Reino Unido e Alemanha, países fundamentais na estratégia chinesa de atrair investimentos externos e absorver altas tecnologias. A “opção europeia” servia adicionalmente como instrumento de acirramento deliberado da concorrência entre empresários europeus e norte-americanos pelo acesso ao cobiçado mercado chinês. A China podia

assim “punir” os interesses comerciais de algum país circunstancialmente “hostil”, mediante a concessão de contratos econômicos vultosos a representantes comerciais de seus concorrentes (40).

Embora a médio e longo prazo a estratégia chinesa de aproximação com os principais países da Europa Ocidental se tenha revelado bem sucedida, no período sob exame (1990 a 1993), os resultados ficaram aquém das expectativas chinesas. Os lobbies europeus em questões de direitos humanos, que advogavam sanções à China, não eram a única fonte de atrito. No caso do Reino Unido, pesaram ainda os desentendimentos em torno do processo de incorporação de Hong Kong à soberania chinesa. A insistência em realizar vendas de material bélico sofisticado a Taiwan custou à França represálias comerciais chinesas. O principal êxito da estratégia de aproximação com a Europa deu-se com a Alemanha, que fora dos primeiros países europeus a se reaproximar de Pequim após os incidentes de Tiananmen, tendo suspendido as sanções econômicas em dezembro de 1991. A Alemanha resistiu, em 1992, a acenos de Taiwan para vender-lhe submarinos e fragatas, sendo por isso recompensada por Pequim com importantes contratos, que desejava mostrar à França as “desvantagens” de se afastar do cumprimento estrito do princípio de “Uma Só China”.

Nesse contexto internacional não de todo favorável, a China viu-se estimulada a dedicar especial atenção à melhora de suas relações não só com seus vizinhos imediatos, mas também com outros atores, capazes de obstar o isolamento diplomático imposto pelas potências ocidentais. É nesse contexto que a China se volta em direção ao Japão, então seu principal parceiro comercial e fonte de investimentos estrangeiros. O Japão, que impusera relutantemente sanções econômicas à China em 1989, torna-se a primeira potência “pró-ocidental” a afrouxar o “cordão de isolamento”, voltando a reativar, em meados dos anos noventa, seu programa de assistência econômica ao seu vizinho. Dá-se então um processo de intensificação das relações políticas com o Japão, que atingiu um pico com a visita do Imperador Akihito à China em 1992 (41).

(40) Casos clássicos desse tipo de manobra foram as punições impostas à França no final de

1992, quando esta vendeu caças Mirage à Taiwan (fechamento de Consulado em Cantão, cancelamento de contratos para a construção de usinas nucleares) e aos EUA em 1996, quando permitiu que o “Presidente” taiwanês Lee Teng Hui visitasse o território norte-americano (cancelamento de compras de aviões da Boeing).

(41) A visita de Akihito à China pareceu representar, à época, um marco histórico no relacionamento

bilateral, convencendo muitos observadores internacionais de que os dois países haviam superado tacitamente suas pendências históricas. Essa avaliação se revelaria equivocada, pois as indicações hoje são de que a China apenas “congelara” seus litígios com o Japão, em vista do isolamento internacional que enfrentava então. Com o fortalecimento de sua posição internacional, no final

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No mesmo diapasão, a China estabelece, em 1992, relações diplomáticas com a Coreia do Sul, iniciativa que, além de trazer benefícios à economia chinesa, fortalece a capacidade da China de atuar como mediadora no processo de pacificação da Península Coreana. Seguindo a mesma estratégia, a China estabelecerá fortes vínculos com as novas repúblicas centro-asiáticas egressas do desmembramento da ex-URSS. Este é o embrião do qual, na segunda metade dos anos noventa, viria a surgir a “Organização de Cooperação de Xangai”. Aliava a garantia das fronteiras pacíficas ao Oeste com acesso a recursos energéticos, que poderiam ser “pagos” com exportações chinesas de manufaturados.

No Sudeste asiático, dedicou-se a China à composição política com os países integrantes da “Associação das Nações do Sudeste Asiático” (ASEAN), tradicionalmente temerosos da influência chinesa em sua região(42).

Nesse esforço, que conduziu ao restabelecimento de relações diplomáticas com a Indonésia (em 1990) e com o Vietnã e Brunei (em 1991), a China foi favorecida pelo fim da Guerra Fria, que fizera declinar o temor ao comunismo. Não obstante, persistiam ainda, entre os países membros da ASEAN, nítidas desconfianças quanto ao potencial agressivo da China. Tal percepção fora motivada não apenas pela invasão chinesa do Vietnã, anos antes, como também pelo acelerado ritmo de crescimento econômico chinês e pelo reaparelhamento e modernização de suas forças armadas. Emperravam essas relações, ainda, algumas reivindicações territoriais conflitantes em relação à parte meridional do Mar da China, reivindicada simultaneamente pela China, Vietnã, Malásia, Filipinas e Brunei. Como sinal dessas desconfianças, as Filipinas, tradicional aliado dos EUA, defenderam nesse período a criação de um foro regional para questões de segurança no qual não estaria presente a China.

É nesse contexto que se explica o interesse chinês por uma maior aproximação com a América Latina em geral, e com o Brasil em particular, por se tratar de região estratégica, fora de seu entorno imediato e crescentemente “independente” da influência direta dos EUA. Pesou ainda o fato de a América Latina oferecer oportunidades ainda não aproveitadas de comércio e cooperação econômicas. Tais vínculos, ademais, ajudariam a China a evitar uma excessiva concentração de seus fluxos de comércio com apenas alguns poucos países ocidentais, detentores de uma agenda política potencialmente adversa para os interesses soberanos chineses.

da década de noventa, os desentendimentos com o Japão voltaram à tona, como amplamente demonstrado nos anos 2005-06.

(42) O temor à expansão do comunismo chinês nos anos sessenta, inclusive por meio da expressiva

2.2 - As relações sino-brasileiras no início dos anos noventa A despeito dos avanços no relacionamento bilateral propiciados ao longo da década de oitenta, pelas visitas à China dos Presidentes João Figueiredo (em 1984) e José Sarney (em 1988), o quadro geral do relacionamento sino- brasileiro, no início dos anos noventa, como já visto no Capítulo 1, era de estagnação e perda de ímpeto. Conforme resumiu Roberto Abdenur, Embaixador brasileiro na China entre 1989 e 1993, em uma comunicação enviada ao Itamaraty em novembro de 1992, sugestivamente intitulada “Relações Brasil - RPC: Problemas e Perspectivas”, existiria, entre os Governos brasileiro e chinês, um “ambiente cordial e positivo no diálogo bilateral” e “manifestava-se [...] ampla coincidência de critérios em relação a questões internacionais de interesse comum, como ocorrido quando da realização da “Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentado” (UNCED), no Rio de Janeiro”. Em tom de alerta, entretanto, afirmava ele que essa “atmosfera positiva” encobria “um relacionamento que vinha claudicando em variados campos, justamente em setores nos quais se encontra em jogo a implementação efetiva de compromissos de cooperação, ou a tomada de decisões com vistas à evolução do intercâmbio comercial bilateral. Em duas das principais áreas das relações bilaterais – as de ciência e tecnologia e a do comércio – tem sido flagrante a ocorrência [nos últimos anos] de um processo de esvaziamento das relações sino-brasileiras”. Assim arrematou ele: “de perdurar, esse esgarçamento em nossos laços de cooperação e intercâmbio poderá levar, mais adiante, a um gradual afastamento entre os dois países, ou pelo menos a um esfriamento de seu interesse recíproco” (43).

Preocupavam o Embaixador Abdenur duas tendências negativas. A primeira diz respeito aos sérios percalços sofridos então pelo Projeto CBERS(44). Na opinião do Embaixador, embora houvesse falhas do lado

chinês, “a maior parte da responsabilidade” pelo lamentável estado em que se encontrava o CBERS recaía sobre o lado brasileiro, cuja atuação era prejudicada por um “elevado grau de descontinuidade administrativa,

importantes para o estabelecimento da ASEAN em agosto de 1967.

(43) Telegrama da Embaixada do Brasil em Pequim de novembro de 1992.

(44) O tema da cooperação espacial em geral, e o projeto CBERS em particular, não serão examinados

pormenorizadamente neste trabalho, por já terem sido abordados em tese específica, com o título “A Cooperação Espacial Brasil-República Popular da China”, de autoria do então Conselheiro Carlos Alberto Lopes Asfora, apresentada no XXXVIII CAE.

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pelo insuficiente nível de coordenação e integração e, muito particularmente, pela falta de recursos financeiros [dedicados ao projeto]”. Apesar dessa aguda inadimplência financeira, desde 1990 procurava o Brasil rever os termos do acordo original de 1988 para buscar maior ganho tecnológico mediante a “ampliação da transferência de tecnologia no sentido China-Brasil, em atividades de ponta, como a da montagem de satélites e rastreio e controle desses artefatos em órbita”. Frisava o Embaixador estar já o lado chinês “visivelmente agastado” com as dificuldades e adiamentos constantes na implementação do projeto. Por

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