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A EXPERIÊNCIA NOS JORNAIS – UM HOMEM DAS PALAVRAS

João Simões Lopes Neto sempre foi um homem das palavras, sejam elas escritas ou simplesmente proferidas nos seus discursos e conferências públicas. Foi nas palavras que ele encontrou a sua forma mais nobre de expressão, que culminou mais tarde em uma obra sólida e de referência no contexto da literatura gauchesca brasileira e, por que não dizer espontaneamente, no contexto da literatura brasileira, visto que, João Simões Lopes pensava, de acordo com nossa hipótese, em uma narrativa que representasse determinada região para que se conhecesse as múltiplas culturas nacionais? Tema este que retomaremos com mais propriedade mais adiante nessa pesquisa. Contudo, nesse item do capítulo trataremos de suas primeiras incursões pelo mundo das palavras escritas, ou melhor dizendo: na imprensa. Porém, vale destacar que a produção jornalística do autor é bastante volumosa e diversificada, dessa forma, elencamos o que compreendemos ser as suas produções mais importantes e significativas, com destaque para a série de artigos publicada em 1913 sobre Lamarck, Darwin e Haeckel. A qual acreditamos ser de importância fundamental para compreendermos algumas ideias do autor.

Para começo de conversa, foi também na cidade de Pelotas, dois anos depois de retornar do Rio de Janeiro, em 1887, com o pseudônimo de João Felpudo, que João Simões Lopes Neto fez sua estreia na imprensa, publicando em A Ventarola (BORGES,

KOSCHIER, 2010, p.162). No ano seguinte, publicou seu primeiro poema Rêve52, no

jornal pelotense A Pátria no dia 14 de março, mais adiante, no dia 26 do mesmo mês, publicou neste mesmo jornal o poema Dúvida. Esses foram os primeiros passos de uma longa caminhada! Escrever para os jornais de sua cidade foi uma atividade exercida por João Simões Lopes Neto ao longo de sua vida. Essa atividade perpassou muitas outras e,

52 talvez tenha sido essa, a única atividade permanente do espaço de experiência vivido pelo autor. Dessa forma, João Simões Lopes Neto seja apenas como colaborador ou como editor, dedicou-se a imprensa de sua cidade tratando dos mais diversos temas, foi essa atividade que lhe garantiu alguma dignidade no final de vida, já falido e com tantos projetos fracassados.

Cabe destacar que a imprensa só começa a se desenvolver no Brasil após a vinda

da família real, em 180853. Com a criação da impressão Régia foi lançado o primeiro

jornal impresso no Brasil: a Gazeta do Rio de Janeiro (10 de setembro de 1808). No Rio Grande do Sul, ou melhor dizendo, na Província de São Pedro a imprensa surgiu em 1827 com o Diário de Porto Alegre. Em 1851 foi a vez de Pelotas estrear nesse campo com o jornal O Pelotense.

No entanto, o aparecimento tardio da imprensa em Pelotas, comparativamente a Porto Alegre e Rio Grande, tem certamente uma outra explicação: a consolidação posterior de Pelotas como núcleo urbano, comparativamente a Rio Grande e Porto Alegre.

Só depois de encerrado o ciclo farroupilha começa-se a cogitar em Pelotas da criação de uma imprensa periódica54, porque a partir desse instante são dadas

as condições para que se desenvolva uma cidade, diversa e afastada do ambiente rural das charqueadas [...].

Mas a verdade é que a imprensa pelotense conseguiu recuperar-se, com facilidade, da desvantagem cronológica. Em poucos anos multiplicou-se em número de jornais e aperfeiçoou-se em qualidade, o que lhe permitiu no mínimo equiparar-se com a imprensa da própria capital. (MAGALHÃES, 1993, p.204)

O Pelotense, do tipografo Cândido Augusto de Melo, apareceu em 7 de novembro de 1851. Todavia, não foi tão significativo quanto O Noticiador, que circulou de 1854 a 1886, somando 14 anos de circulação (REVERBEL, 1981, p. 40-41).

A historiadora Beatriz Loner (2010, p.144) constatou que a imprensa na cidade de Pelotas “[...] estava relativamente ao alcance material de indivíduos de posses médias e, assim, muito se utilizaram dela como meio de propaganda de ideias ou pessoas, também auxiliando a congregar simpatizantes de uma mesma causa ou partido. ”. Teria sido esse o motivo para uma grande diversidade inicial. A historiadora afirma que

“Entre os vários tipos de imprensa, havia jornais políticos, literários, ilustrados,

53 Antes da vinda da família real para o Brasil havia uma proibição de Portugal em relação ao desenvolvimento de uma imprensa brasileira. Contudo, mesmo não sendo redigido no Brasil, em junho de 1808, redigido e dirigido por Hipólito José da Costa, era lançado em Londres o Correio Brasiliense. Para mais ver: MAGALHÃES, Mário Osório. Opulência e Cultura na Província de São Pedro do Rio

Grande do Sul: um estudo sobre a história de Pelotas (1860 – 1890). Florianópolis, UFSC, 1993. p. 203

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representativos de classes ou associações, de grupos de jovens amigos, de tipógrafos profissionais, de propaganda de firmas ou comemorativos de algum evento, saindo às vezes em números únicos. ”. (LONER, 2010, p.144-145)

Vários tipógrafos emprestavam suas máquinas para outras pessoas e causas, o que também facilitava essa diversidade de conteúdo. Somente no século XX é que os jornais vão dar início a um processo de profissionalização, com maiores investimentos em oficinas e máquinas, o que aos poucos, foi restringindo a diversidade da imprensa em Pelotas.

A partir de meados do ano 1860 é que ficou evidente a imprensa diária em Pelotas. Contudo,

Boa parte dos jornais estava comprometida com a defesa de ideias e concepções políticas e não com informação55, o que acarretava que, nos primeiros periódicos, encontravam-se poucas notícias e muito mais ensaios, manifestos, projetos político-partidários ou denúncia de posições e comportamentos dos adversários, o que foi uma característica do século XIX, do jornalismo de opinião e de ataque contra os rivais. [...] todos eles costumavam acompanhar o gosto pela literatura, e dessa forma boa parte da produção de autores locais ou nacionais56, e inclusive estrangeiros, especialmente poesias, intercalava-se com a programação normal dos jornais, além de haver um local especial, normalmente o quarto inferior da primeira (ou última) página nos diários, que era dedicado ao folhetim57, que trazia em capítulo, um conto ou novela de algum romancista conhecido. (LONER, 2010, p. 146)

Importante aparte nessa questão é o fato da literatura pelotense ter se desenvolvido juntamente com os jornais que circulavam em Pelotas a partir de 1851, o desenvolvimento de um está atrelado ao do outro. Entre os colaboradores e profissionais que figuravam nesses jornais, segundo Borges e Koschier (2010, p.160), estavam alguns dos mais

importantes autores regionais da época: Lobo da Costa, Bernardo Taveira Júnior58, Múcio

Teixeira, Menezes Paredes, Paulo Marques e, o autor que é tema dessa tese, João Simões

55 Grifo nosso.

56 Grifo nosso. Nesses espaços, muitos dos textos que compõem os Contos Gauchescos (1912) e Lendas do Sul (1913) foram publicados pela primeira vez.

57 Grifo nosso. De 15 de outubro a 14 de dezembro de 1893 nas páginas do Correio Mercantil, João Simões Lopes Neto, assinando com o seu pseudônimo de Serafim Bemol, em parceria com Sátiro Clemente e D. Salústio, publicaram o folhetim A Mandinga. Trataremos desse folhetim na sequencia desse capítulo. 58 Bernardo Taveira Júnior, segundo Mariana Gonçalves (2012, p.37), teria sido professor de João Simões Lopes Neto. Taveira, segundo Guilhermino César (p.23), foi autor da “[...] primeira coletânea de poemas cujo fundo, como se ramado com tiras de couro de boi, recria a linguagem, os costumes, os hábitos, o estilo de vida guasca. [...] a verdade é que as Provincianas [1886], com toda a sua falta de ritmo, a sua aspereza melódica, assinalam a transição do arcadismo para o regionalismo de feição romântica, no Rio Grande, com uma vivacidade temática exemplar. [...].”. Portanto, podemos ver pontos de nexo entre os dois autores, que serão aprofundados na sequencia desta pesquisa.

54 Lopes Neto, entre outros. Ainda de acordo com Borges e Koschier (2010, p.160), “foram nas oficinas tipográficas das empresas jornalísticas, as quais buscavam suprir a lacuna da falta de editoras, que saíram os primeiros livros. ”. Entre esses livros, notabilizavam, literatura regional, nacional e estrangeira. Significativo é o fato de que, todo esse abundante mercado editorial, foi também o responsável pela difusão e circulação de literatura estrangeira, mesmo que estas tenham se dado em edições clandestinas e em traduções, aliás, essas edições ilegais e clandestinas muito colaboraram para o desenvolvimento cultural da cidade. A partir dessas informações, podemos constatar que João Simões Lopes Neto possuía em sua cidade, mesmo que de forma clandestina e, muitas vezes em traduções, “tudo” o que havia de literatura estrangeira ao alcance das mãos. Dessa forma, podemos supor, com bastante propriedade e tendo em vista o leitor atento que era, que teve acesso a vasta literatura estrangeira e nacional de onde

encontramos muito de suas matrizes ideológicas59.

Outro importante fato se destacar é que durante o último quartel do século XIX

duas empresas dominaram o mercado editorial pelotense: A Livraria Americana60 e a

Livraria Universal61 (MAGALHÃES, 2010, p.165). A partir da fundação dessa última, o

mundo intelectual da cidade de Pelotas ganhou um importante reforço. De acordo com Diniz (2003, p.64) João Simões Lopes Neto esteve na inauguração da Livraria Universal, contudo, ainda não poderia imaginar que as máquinas daquela tipografia imprimiriam as suas obras máximas. Segundo Magalhães (2010, p.165) na primeira metade do século XX

ambas as livrarias passaram a ser Globo, filial da Editora Globo de Porto Alegre62, na

época umas das maiores editoras do Brasil.

Não obstante, quando o nome de João Simões Lopes Neto começou a figurar pelos

jornais pelotenses, ou melhor, quando seus pseudônimos63 começaram a figurar na

imprensa pelotense na cidade existiam

[...] alguns periódicos de expressão (notadamente o Cabrion, o Investigador e o Farrapo) e quatro diários, cujo padrão pouco ou nada ficava a dever aos de Porto Alegre: o Onze de Junho, o Diário de Pelotas, o Correio Mercantil e A

59 Estas serão tratadas com mais propriedade ao longo desse capítulo, principalmente no que tange a sua série de artigos intitulada Uma Trindade Científica, publicada em A Opinião Pública no ano de 1913. 60 Propriedade de Carlos Pinto & Cia, foi fundada em 1875.

61 Propriedade Echenique & Cia, foi fundada em 07 de dezembro de 1887.

62 Cabe destacar que será através de uma edição conjunta de Contos Gauchescos e Lendas do Sul, em 1949, realizada pela Editora Globo que João Simões Lopes Neto ganhará a crítica e o estudo merecido acerca dessas obras. Foi esta edição que lhe concedeu reconhecimento literário.

63 João Simões Lopes Neto assinou com seu nome propriamente dito em apenas algumas circunstâncias, na maioria das vezes assinava com pseudônimos, sendo João do Sul e Serafim Bemol os mais conhecidos.

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Pátria. Foi nesse órgão que Simões Lopes Neto iniciou sua longa e movimentada atividade jornalística, embora a tenha exercido, profissionalmente, apenas nos últimos anos de vida, quando já perdera o ânimo para investir contra “moinhos de vento”. (REVERBEL, 1981, p.41).

Como já dissemos, foi em A Pátria64 que João Simões Lopes Neto deu seus

primeiros passos na imprensa pelotense, a começar por seus poemas e continuar, em julho

de 1888, com a estreia da primeira fase de sua coluna Balas de Estalo65. Esta primeira

fase é constituída de 20 publicações esporádicas, a começar em 2 de julho de 1888 e terminar em 1º de outubro do mesmo ano (MOREIRA, 1983, p.8). O autor, então com 23 anos, “[...] escrevia como quem se diverte, glosando, quase sempre de forma humorística, os acontecimentos do dia-a-dia e não raro, bulindo, de modo irreverente, com as pessoas neles envolvidos” (REVERBEL, 1981, p.44). A coluna se desenvolvia em forma de “triolets” – uma forma literária bastante comum na época –, com humor leve e com temática de circunstâncias, o que nos dificulta no processo de entendimento do mesmo, pois, envelheceram com o tempo e com ele perderam o sentido para nós. De acordo com Chiappini (1988, p.29),

[..] mesmo assim é possível perceber uma certa irreverência para com as autoridades políticas e religiosas, uma liberdade de espírito, uma certa identificação com o que chamava de ‘Zé Povinho’ e seus problemas. Sátira leve aos fatos cotidianos, tipos e instituições da ‘Princesa do Sul66’.

Bom exemplo do que estamos falando é o quarto triolet da série, assinado com o pseudônimo de João Rimole, data de 14 de julho de 1888. No mesmo, o autor ironiza o contrabando e o fisco:

O sr. D. Contrabando/ Alça a cabeça e ri. /Diz: que gente, nunca vi! ... /O sr. D. Contrabando – /E todo ancho de si, / Vai a todos flauteando. /O Sr. D.

64 O Jornal A Pátria era propriedade do tio avô de João Simões Lopes Neto – Ismael Simões Lopes –. Criado em 1886, ficou aos cuidados de seu fundador Albino Costa até fevereiro de 1888, quando sua circulação foi suspensa. Foi nesse período que Ismael Simões Lopes associou-se a este, formando a empresa Costa&Simões e, a partir de então, o jornal voltou a circular sob a responsabilidade de Ismael. Este, em outubro do mesmo ano, adquiriu a parte de Albino no diário, que ficou sob sua responsabilidade, assumindo uma nova fase, até o seu definitivo fim em 4 de junho de 1891 (REVERBEL, 1981, p.42).

65 Balas de Estalo também era o nome de uma série coletiva da Gazeta de Notícias do Rio de Janeiro, que circulou nas edições de 1883 a 1886, para a qual, escrevia Machado de Assis com o pseudônimo de Lélio. Heloísa Netto (2015, p.31) supõe que João Simões Lopes Neto era leitor habitual da Gazeta de Notícias. Para ela alguns colaboradores do jornal podem ter marcado certa influência nos trabalhos futuros do autor, como: Capistrano de Abreu, José do Patrocínio e o escritor português Ramalho Ortigão, que colaborou com o jornal entre anos de 1877 e 1915.

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Contrabando/ Alça a cabeça e ri! /Pomadas e panos quentes. /Que remédio! É infalível! .../

– Energia? é incompatível –

Pomadas e panos quentes. / É bem caricato, é risível, /Mas não se faz descontentes. / Pomadas e panos quentes:/Que remédio! É infalível!

Este fisco é impagável, /Por outra, pago demais.../Por entre suspiros, ais. /Este fisco é impagável! /E por brilhanturas tais, /Este fisco lamentável, /Este fisco impagável, /

Por outra pago demais. (LOPES NETTO), João Simões. A Pátria, Pelotas, 14 de julho de 1888).

Cabe salientar, que o contrabando foi uma prática bastante comum no Rio Grande do Sul. A extensa fronteira com a Argentina e, principalmente com o Uruguai, fronteiras essas que não apresentavam quase nenhum obstáculo, fez que essa prática se tornasse comum em ambos os lados das fronteiras. Segundo Loner (2010, p.86), no final do Império o contrabando era amplamente praticado e, de maneira tão intensa que, os prejuízos sofridos pelos comerciantes de atacados estabelecidos nas principais cidades gaúchas, como Porto Alegre, fez com que esses solicitassem uma “tarifa especial” ao governo do Brasil para que pudessem exercer condições de competitividade frente as mercadorias contrabandeadas. Com a Proclamação da República essa tarifa foi anulada e outras medidas foram tomadas como: a criação de zonas fiscais e a maior fiscalização na região. Contudo, as alianças estabelecidas entre os contrabandistas e forças políticas locais, de certa forma, já haviam se tornado um costume e o contrabando seguiu na região. Podemos dizer, que em bem menor escala, segue até os dias atuais. Portanto, note-se, João Simões Lopes Neto escreveu seu triolet no ano de 1888, ou seja, nos anos finais do Império, no momento em que o contrabando prejudicava o comércio nos centros urbanos. O tema do contrabando voltará a permear a mente do autor que em 1912, em seu Contos Gauchescos, traz o conto O Contrabandista. De certa forma, o contrabando faz parte da configuração histórica do Rio Grande do Sul.

No intervalo entre a primeira e segunda fase do Balas de Estalo, João Simões

Lopes Neto publica a sátira Os Chapéus na Plateia67, nela, segundo Moreira (1983, p.

22) o autor se revela um autêntico poeta. Esta sátira também marca um momento importante do autor, quando deixa de lado os pseudônimos e assina com o nome o qual é

67 Publicado em A Pátria em 28 de julho de 1888. A sátira pede as ilustres damas que não utilizem chapéus ao irem assistir os espetáculos na plateia, o que prejudicava a visão dos demais. Interessante é que o autor começa citando Victor Hugo, o que demostra que o mesmo o leu, ou leu pelo menos alguma coisa de tão celebre autor.

57 reconhecido pelos seus contemporâneos: João Simões. No final de 1888 publica, também em A Pátria, uma série de seis crônicas intituladas O Rio Grande a Vol d’Oiseau, fruto das viagens feitas por ele à São José do Norte e a Rio Grande. Assinadas com o

pseudônimo de Serafim Bemol68, são estas crônicas as primeiras manifestações literárias

em prosa do autor. Para Reverbel (1881, p.45), essas seis crônicas representam de fato a estreia jornalística do autor, já caracterizando o “seu colorido e personalíssimo estilo literário. ”. Em 25 de abril de 1889, o autor dá início a segunda fase de Balas de Estalo, publicadas de forma descontínuas em A Pátria até o dia 20 de agosto de 1890. Diferente da primeira fase em que o autor utilizou vários pseudônimos como: João Rimole, Job Rimaduro, Job Rivotos, Job Ripasmos e outros, sempre utilizando o nome João ou Job adicionado com a maneira como ri, nesta segunda fase o autor assinou todos os triolets

com o pseudônimo de Serafim Bemol. Em 1890, João Simões Lopes Neto inicia outra

sessão no mesmo jornal, assinando com seus muitos pseudônimos, a coluna Tesourinha Hilariante, a mesma “tratava-se em grande parte de historietas ouvidas, repetidas de boca em boca que o escritor fixa pela escrita. [...] apela para o recurso do exagero, bastante

popular, e comparável as anedotas de Romualdo69” (REVERBEL, 1981, p.32).

Portanto, durante o período em que escreveu para A Pátria (1888-1891), João Simões Lopes Neto foi apenas colaborador, de acordo com Reverbel (1981, p.45), “Não fazia, propriamente, parte da redação. ”. Dessa maneira, não recebia para escrever para o jornal e, também, não possuía nenhum vínculo empregatício com o mesmo, desempenhava essa atividade como amador.

Esse [é o] período risonho e franco, em que João vive ainda sustentado pelo pai, em boa casa de Pelotas, sob as asas do avô, fazendo seus “triolets”, é a época dos vários Joões, todos risonhos, expressos em seus pseudônimos: J. Rimuido, J. Rimaduro, J. Risempre, JobRivitos, JobRiverde, João Rimole, João Riduro, João Riforte, João Rifraco, João Ripianíssimo, João Rimudo... (CHIAPINNI, 1988, p.30)

68 Segundo Reverbel (1981, p.32) “Serafim lembra anjo, cujos cantos divinais são harmoniosos e elevados, mas Bemol abaixa esse canto de um semitom: da ironia, do canhestro, do paródico, menos parente dos deuses que dos demônios. ”.

69 Reverbel cita um exemplo: Conversa sobre pintores:/Na antiguidade houve um pintor que apresentou uma tela tão perfeita que até enganou os pássaros. / Um espanhol:/ Não preciso ir longe: na minha aldeia existe um que chegou a enganar a terra: pintou um pepino, plantou-o e o pepino produziu. Este foi publicado em A Pátria em 05 de junho de 1890. Quanto a questão de ser “comparável as anedotas de Romualdo”, Reverbel está fazendo referência a obra do autor Casos do Romualdo, publicado postumamente, porém alguns casos já haviam sido publicados na imprensa.

58 Porém, em 04 de junho de 1891 o jornal A Pátria encerrou suas atividades e teve

seu acervo comprado pelo Diário Popular70, fundado em 27 de agosto de 1890 por

Theodósio de Menezes, este era um órgão do Partido Republicano Rio-Grandense (PRR). Após o fim de A Pátria, João Simões Lopes Neto volta a figurar na imprensa pelotense com suas colaborações no Diário Popular, de forma regular, essas colaborações se estendem de 1893 a 1896. Bem como em A Pátria, o autor foi colaborador do Diário Popular e, de acordo com Reverbel:

[...] De fato, praticar jornalismo assalariado, naquela época, sobretudo em cidades do interior, significava não ter onde cair morto. Afora os proprietários, havia duas categorias na imprensa de então: a dos colaboradores (não- remunerados) e a dos profissionais ou ratos de redação (secretários, redatores, noticiaristas), pessimamente pagos. Podendo trabalhar sem remuneração, os colaboradores, como ele próprio fora durante quase toda a sua atividade jornalística, eram em geral pessoas de maiores ou menores recursos, não necessitando das humilhações salariais da imprensa da época. [...]

João Simões Lopes Neto era uma dessas pessoas que não necessitavam das humilhações salarias da imprensa da época pois, nesse mesmo período o autor trabalhava