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A PRIMEIRA REPÚBLICA E A GUINADA EM DIREÇÃO À FORMAÇÃO DA PÁTRIA E DO CIDADÃO

2.2.2 “TAL É, SRS, O MEU PARALELO: HUMILDE ARBUSTO ENTRE ÁRVORES FRONDOSAS [ ]”

3.1 A EDUCAÇÃO SERIA O CAMINHO PARA A “REGENERAÇÃO” DO POVO BRASILEIRO?

3.1.2 A PRIMEIRA REPÚBLICA E A GUINADA EM DIREÇÃO À FORMAÇÃO DA PÁTRIA E DO CIDADÃO

Somente a partir da República, mais precisamente no início do século XX é que começarão a surgir correntes mais nacionalistas que faziam apologia às “riquezas”

brasileiras. Nesse sentido, a educação como instrumento do nacionalismo188 ganha um

novo fôlego. É neste contexto que surge um dos livros que serviu de inspiração para João Simões Lopes Neto: Porque Me Ufano de Meus País (1902) de Afonso Celso. Além disso,

[...]. A República será confirmada pela Constituição de 1891 e a ela será dado o formato federativo, representativo e presidencialista: o voto tornou-se mais aberto com o fim do voto censitário e a imposição do letramento como condição de votar e ser votado. Entretanto, a tradição advinda do Império e de uma sociedade patriarcal não permitiu o exercício do voto pelas mulheres, pelos clérigos reclusos e soldados rasos. (CURY, 2005, p.23).

Inspirada na Constituição Norte-Americana, a Constituição de 1891 colocou o Brasil no panorama da tradição liberal de organização federativa e do individualismo político e econômico. A Constituição dos Estados Unidos pode ser considerada mais como um reforço para justificar e consolidar o individualismo que se reafirmava na Primeira República brasileira do que uma inovação (RESENDE, 2003, p.93). Ademais, o federalismo acabava com o estado centralizado do governo imperial, dando mais poderes aos estados e municípios, nesse sentido, as elites locais ganham poder e força. A Constituição de 1891 deu certa autonomia para os estados recém-criados.

[...] Na República, governadores e presidentes, conforme denominado na respectiva constituição de cada estado, são eleitos e detêm enorme soma de poder que lhes advêm do próprio texto constitucional. Eles dirigem e controlam a política do estado a partir de poderosas máquinas partidárias estaduais. [...] (RESENDE, 2003, p.95)

O Partido Republicano Rio-Grandense caracterizou uma dessas poderosas máquinas partidárias estaduais, das quais nos fala Resende (2003). O Rio Grande do Sul configurou

188 De acordo com Eduardo Arriada e Elomar Tambara (2009, p.279) o nacionalismo entra definitivamente no cotidiano do país a partir de 1915 quando Olavo Bilac (1865-1918) prega a obrigatoriedade do serviço militar, sendo este considerado por ele uma escola de civismo capaz de resolver os problemas nacionais. No ano de 1916 criou a Liga de Defesa Nacional. No entanto, cabe destacar que 1916 marca o ano da morte de João Simões Lopes Neto, portanto, o mesmo não chegou a presenciar o nacionalismo de fato no cotidiano dos brasileiros a partir das ações de Bilac.

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um caso ímpar na história do Brasil. Fortemente influenciado pelo positivismo189 o estado

viveu, a seu modo, é claro, a ditadura republicana prescrita pelo positivismo de Comte. A modernidade se apresentava como via para o progresso tão sonhado,

[...]. Portanto, a modernização que significou a pratica da modernidade em termos sulinos, implicou no traçado de políticas públicas que demonstraram as convicções da nova elite dirigente, centradas na busca de uma racionalização que transformou o Estado gaúcho em importante agente social, político e cultural, à época. (CORSETTI, 2005, p.203).

Acompanhando o processo de descentralização do Estado brasileiro, o ensino primário passou a ser competência dos Estados e o ensino secundário e superior competências concorrentes entre a União e os Estados, contudo, a União manteve a sua tradição de prezar pelo ensino superior (CURY, 2005, p.24). Além disso, a gratuidade, bem como a obrigatoriedade do ensino perderam seus status de obrigação na Constituição de 1891, ficando a cargo dos Estados.

Dessa forma, o ensino primário se mostrava como importante estratégia política e intelectual dos Estados, além de apresentar-se também como via para a formação do cidadão. Baseado nas ideias de Comte, o Partido Republicano Rio-Grandense estabeleceu um projeto de modernização da sociedade gaúcha, visando solucionar os problemas do Estado.

A partir dos pressupostos comtianos, foi proposta a construção de uma sociedade racional, distinta da anterior, na qual o controle dos trabalhadores requeria a utilização sistemática da educação moral e da prática do trabalho regular. O esforço educacional era, assim, indispensável à nova ordem. Neste contexto, a ciência, a educação e a moral se transformaram em poderosos instrumentos de controle social e de veiculação ideológica, de tal forma que fosse garantida a reorientação da sociedade, neutralizando os conflitos e mantendo a estabilidade social, tudo em nome do bem comum. (CORSETTI, 2005, p.204)

Portanto, a educação se mostrava como uma importante via de moralização da sociedade para sanar conflitos, reorientar e controlar a sociedade. Era preciso um novo

189 A doutrina Positivista de Augusto Comte estabeleceu forte influência na política brasileira de modo geral no final do século XIX e início do XX, contudo, no Rio Grande do Sul ela se estabeleceu como “política de estado”, obviamente, adaptada para satisfazer os interesses da elite governante. Ademais, cabe destacar que foi através das instituições de ensino que o positivismo garantiu maior penetração no Brasil. De acordo com Elomar Tambara (2005, p.170), foi nas instituições de ensino que as ideias positivistas ganharam maior ressonância, a possível causa para tal, seria um processo de reação ao tipo de educação predominante, com características positivistas, das quais os positivistas sempre tentaram marcar suas diferenças.

173 modo de educar uma nova sociedade, essa era uma demanda dos novos tempos, a educação de homens livres e considerados iguais. Logo, era necessária “[...] uma educação física, intelectual e moral da mocidade, com a finalidade de possibilitar ao espírito todas as noções necessárias para garantir a ordem, se colocou como central para que todos os homens tivessem consciência de seu papel social [...]” (CORSETTI, 2005, p.204).

Era necessário formar cidadãos pois, estamos falando de uma nova construção da pátria a partir de uma visão republicana, fortemente influenciada pela ideia republicana da Revolução Francesa, bem como pelos ideais positivistas. Desse modo, de acordo com Marcel Mauss (2017, p.79),

[...] A noção de pátria simboliza o total dos deveres que tem os cidadãos perante a nação e seu solo. A noção de cidadão simboliza da totalidade dos direitos (civis e políticos, evidentemente) que tem o membro dessa nação em correlação com os deveres que nela deve cumprir. [...] pátria e cidadão não passam, no fundo, de uma mesma instituição, de uma mesma e única instituição, de uma mesma e única regra de moral prática e ideal e, na realidade, de um mesmo e único fato capital, que dá à república moderna a sua originalidade e toda a sua novidade, assim como sua dignidade moral incomparável.

João Simões Lopes Neto190 também estava alinhado com essas ideias, presava pela

formação de um cidadão consciente de si e, ainda, consciente de seu papel cívico para com a nação. Em Terra Gaúcha (2013), no texto intitulado Aviso, o pai de Maio o explica sobre a missão do Mestrinho (diretor do Colégio), revelando também a missão do Colégio

Municipal191 em relação a formação dos meninos em cidadãos:

- Olha, Maio, o Mestrinho tem uma nobre ambição: ele quer e se esforçará para que todos os meninos de hoje e os que vão crescendo daqui para adiante vão aprendendo a ser brasileses192, e ter confiança e orgulho e amor a sua pátria, para quando forem moços feitos, serem cidadãos úteis, capazes de servir ao progresso, à grandeza e a glória do Brasil! (LOPES NETO, 2013, p.153)

Mas, para que os meninos se tornassem brasileses, ou brasileiros, era necessário aliar uma educação moral e cívica com uma educação física, era necessário corpos e mentes sãs

190 Vale lembrar que João Simões Lopes Neto era um republicano, inclusive, filiado ao Partido Republicano Rio-Grandense

191 Aqui mais uma vez João Simões Lopes Neto se mostra alinhado com a realidade brasileira, onde o ensino primário era de responsabilidade dos estados e municípios.

174 para colaborar com o progresso e a grandeza da pátria. Neste sentido, o autor também concordava com essa afirmação, em sua Conferência Cívica de 1904, destacava a importância de se aliar uma educação intelectual e uma educação física. Para ele, a primeira servia para preparar um espírito culto e bom, já a segunda servia para formar um corpo robusto e são e, ambas aliadas, forneceriam o necessário para formar um homem culto, bom, instruído e forte (LOPES NETO, 2009, p.322). Para dar mais credibilidade ao que expõe, citou os exemplos da Alemanha onde, segundo ele, a educação física se confundia com patriotismo, da Suíça onde eram realizadas grandes festas nacionais e da Inglaterra que configurava o povo mais forte que havia naquele momento e, não por acaso, haviam conquistado o mundo. O autor ainda diz que a mocidade brasileira era muito fraca, com ar envelhecido, e que os jovens deveriam ser o que são jovens (LOPES NETO, 2009, p.322).

Em seu livro Terra Gaúcha (2003), criou Schultz, personagem que alinha as características citadas por ele nas Conferências. Schultz era um alemão professor de educação física, que sempre expõe aos meninos do Colégio Municipal a importância de se ter um corpo e mente sãos e, não raras vezes dá exemplo de como as coisas são na sua terra. Inclusive, há em Terra Gaúcha (2013), um texto intitulado Na Minha Terra, senhor...!, no qual o professor Schultz aproveita a ocasião da chuva, e da impossibilidade de fazer exercícios ao ar livre para contar aos meninos que na sua terra, ou seja, na Alemanha há muitas coisas ruins, mas há também muitas coisas a se elogiar, como o fato de todos saberem entoar o hino da pátria, bem como canções patrióticas, que os meninos desde cedo treinam o tiro em clubes de tiro e assim chegam preparados ao serviço militar, que os torna fortes e aguerridos para defender a sua pátria (LOPES NETO, 2013, p.156- 157).

Podemos notar que João Simões Lopes Neto estava atento as demandas de sua época e que suas ideias se alinhavam com o projeto de educação proposto pelo PRR, que por sua vez, estava articulado com um projeto nacional republicano. Segundo Corsetti (2005, p.205), a ação do governo gaúcho se dava no âmbito de utilizar a educação como instrumento da política de modernização do Estado. Corsetti (2005, p.206), aponta ainda nove pontos de intervenção do Estado, dos quais destacamos cinco: a expansão do ensino público primário, como ação fundamental do Estado; nacionalização do ensino, especialmente nas regiões coloniais; centralização administrativa e uniformização da pedagogia; controle pleno do ensino público e liberdade à iniciativa privada e a utilização

175 da escola pública para a formação da mentalidade adequada ao processo de modernização conservadora promovido pelo estado.

Dessa forma, notamos que havia bem claro um ideal a se seguir no que se referia a educação. No que tange as regiões coloniais, João Simões Lopes Neto em sua Conferência Cívica de 1904 (2009, p.316), já alertava para o perigo de não intervir com uma educação nacional nestas áreas pois, a concentração de imigrantes poderia gerar um sentimento de pequenas pátrias em tais locais, ou seja, pequenas Alemanha e Itália em solo brasileiro, levando em conta a maioria dos imigrantes que vierem para o Rio Grande do Sul naquele momento, o autor alertava ainda que estes eram povos mais fortes e disciplinados, sobretudo, os alemães. Para que isso não ocorresse e para que os brasileiros tivessem maior consciência de si, era preciso que todo um processo de “ritual à pátria” fosse criado. De acordo com Corsetti (2005, p.207), foram utilizados instrumentos e desenvolvida uma ação no sentido de conquistar o imaginário social. Neste sentido, os mitos de origem e heróis nacionais entraram em cena, bem como os rituais, ou melhor dizendo, as festas cívicas e comemorações de feriados nacionais, além da adoração dos símbolos pátrios, como a bandeira, hino e a língua materna.

Segundo Marcel Mauss (2017, p.59), uma nação procura tomar consciência de si mesma por meio de ritos, festas e manifestar-se perante o poder do Estado. Dessa forma, o que estava em jogo era a criação de todo um imaginário social de uma origem comum e de objetivos comuns enquanto seres de uma mesma nação. Era necessário que se criasse uma visão comum capaz de eliminar toda e qualquer diferença, neste sentido, o ensino da História e da Geografia pátria se tornavam mais um instrumento para a criação da consciência nacional nas escolas públicas.

De acordo com Tânia de Lucca (1999, p.86), no que tange a Geografia a vastidão do território alicerçou o ufanismo em seus diferentes matizes, ou seja, o Brasil era representado como um grande país e, apesar da grande extensão territorial configurávamos uma única nação, com uma única nacionalidade, deixando quaisquer

diferenças alheias à essa configuração193. Além disso, o Brasil era representado como

uma terra abençoada, de natureza exuberante, considerada uma dádiva divina. No que tange a História, era preciso representar o Brasil como uma nação jovem, ou seja,

193 Obviamente essa configuração não retratava a realidade de múltiplas diferenças que havia e ainda há no Brasil.

176 diferente das nações europeias que possuíam séculos de história, o Brasil era uma nação ainda jovem, com um futuro promissor. O futuro, neste sentido, se colocava como um horizonte a se perseguir. Por isso, a ideia era deixar para trás o passado no qual fomos uma colônia portuguesa, e começarmos pelo o que seria o nosso “início” enquanto nação: a Independência. Adotar a Independência como ponto de partida nos “livrava” de toda uma história de exploração, bem como das atrocidades cometidas aos povos indígenas e a abolição da escravidão nos redimia igualmente de tamanha crueldade. A República neste contexto se mostrava como o início de um período promissor de progresso e glória. Portanto, devia-se privilegiar os fatos de nossa história que nos impulsionasse para um futuro glorioso de união e prosperidade e deixar para trás o que nos separava e nos “diminuía”.

Assim, tradição e progresso travavam uma “disputa” e, por vezes sobressaía-se um, por vezes o outro. Era preciso progredir, mas não podia-se esquecer nossos grandes feitos, fatos e homens, neste sentido a tradição tinha um importante papel no caminho para o progresso. Era preciso criar uma tradição que fosse capaz de tocar todas as pessoas, das mais simples a mais requintadas, dos jovens aos idosos, homens e mulheres, enfim, toda a nação. Segundo Hobsbawm (2012, p.12)

Por ‘tradição inventada’ entende-se um conjunto de práticas, normalmente reguladas por regras tácitas ou abertamente aceitas; tais práticas, de natureza ritual ou simbólica, visam inculcar certos valores e normas de comportamento através da repetição, o que implica, automaticamente, uma continuidade em relação ao passado. Aliás, sempre que possível, tenta-se estabelecer continuidade com um passado histórico apropriado.

Portanto, era preciso que a História e a Geografia, aliadas ao ensino das massas criassem essa “ponte” entre o “passado histórico apropriado” e o presente, para dar sentido e orientação para o “futuro glorioso” que estaria no nosso horizonte. Assim, a História da pátria deveria seguir as sugestões de Von Martius (1794-1868) em Como se deve escrever a história do Brasil (1845)194, sobretudo, aquela que compreende a grandeza do território e trata das regiões e suas peculiaridades como formadoras da nacionalidade, ou melhor dizendo, o Brasil era uma federação de províncias. Essas províncias ganharam ainda mais autonomia e poder com a descentralização do Estado brasileiro desde a Independência e reforçada no período republicano.

177 Nos primeiros anos da Republica, período do qual trata essa pesquisa, os confrontos e conflitos regionais se aguçaram, houve a emergência das oligarquias regionais e os temas referentes à nação e a cidadania ficaram um pouco de lado, além do mais, o Liberalismo adotado como política no Brasil, embora contraditório, era bastante conservador (RESENDE, 2003, 98). Da mesma forma, em que o tão sonhado progresso proferido pelo PRR, também seguia uma máxima conservadora de “ordem para o progresso”, mantendo assim os privilégios das elites locais ao mesmo tempo que buscava mudanças sociais.

Dessa forma, era preciso alinhar as províncias com um único ideal que seria a união nacional, ou seja, a unidade que reconhecesse as peculiaridades regionais como pontos positivos e ao mesmo tempo exaltasse que, independente da região, todos somos brasileiros e, o “bem da nação”, o “bem comum”, deveria estar em primeiro lugar. Era preciso ressaltar como cada uma dessas regiões contribuiu para a formação nacional, seja ela geográfica (defendendo as fronteiras, por exemplo), histórica e/ou cultural. Essa era também uma forma de tentar aliviar as tensões regionais, e ao mesmo tempo educar o povo para um novo pensamento de unidade nacional a partir das peculiaridades regionais.

Logo, o ensino público seguiu essas tendências mais ufanistas e cívicas e, no Rio Grande do Sul,

A síntese concretizada entre controle e ufanismo na educação pública rio- grandense, com a finalidade de adequar a escola pública ao projeto de desenvolvimento capitalista do Estado gaúcho esteve presente [...]. Foram ingredientes fortes e contraditórios, que evidenciaram o processo complexo em que esteve inserida a escola pública rio-grandense.

O controle disciplinar imposto aos alunos e as regras a que estava submetida a atividade dos professores demonstrou o quanto o princípio da ordem foi levado às últimas consequências nas escolas públicas do Rio Grande e em todo o sistema escolar. (CORSETTI, 2005, p.215).

Traçado esse breve panorama sobre o ensino público no Brasil e, sobretudo, no Rio Grande do Sul, podemos constatar que a educação sempre foi vista e, na República, de forma mais enfática, como um “meio de controle das massas”, ou melhor dizendo, o ensino público se colocava como um instrumento de dominação, o que não quer dizer que as ideias e métodos de ensino foram aceitos sem resistência. A escola pública deveria ditar as formas de moldar a sociedade mental e fisicamente. Como foi dito, era preciso mentes e corpos são para se colocar a serviço da grandeza da pátria. Neste sentido, as escolas técnicas preparavam mão de obra eficientes e preparadas para a nova indústria

178 que representava o que havia de mais moderno, colocando o Brasil no eixo capitalista e dando passos em direção ao “futuro brilhante”. Com as mentes iluminadas pelo conhecimento de nossa língua, nossos poetas e escritores, bem como nossa história e geografia pátrias, o sentimento de orgulho nacional, de civismo, de ufanismo, brotaria na juventude que, com o corpo igualmente são, aproveitando os benefícios de uma educação física, estaria preparado para qualquer o trabalho e, por ventura, também para a vida militar.

Para finalizar essa análise, cabe levarmos em consideração o que expõe Corsetti (2005) sobre a instrução pública no Rio Grande do Sul no período que nos dedicamos a analisar. Para a autora, houve um avanço com a expansão do ensino e a diminuição do analfabetismo, representando a face progressista da ação republicana, contudo, ao mesmo tempo, a autora verifica uma negação deste avanço, que seria representado pelo conteúdo da política e da organização educacionais, que fizeram da escola pública um instrumento importante do projeto conservador modernizante, que, segundo a autora, era elitista e excludente (CORSETTI, 2005, p.216). Logo, podemos notar a tensão entre a modernidade (num sentido de modernizar, de tornar moderno) e a tradição conservadora pois, se por um lado o governo do PRR avançou expandindo a escola pública e diminuindo os níveis de analfabetismo, por outro lado o ensino público era utilizado como ferramenta política para “dominar” a população e manter os privilégios da elite local, dessa forma, pôs em prática o que Corsetti (2005, p.216) chamou de projeto conservador modernizante.