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A expressão de mesotelina no câncer e sua importância

CAPÍTULO 2 – ESTUDOS ESTRUTURAIS DA MESOTELINA DE H sapiens

2.1.3. A expressão de mesotelina no câncer e sua importância

Inicialmente, a expressão de mesotelina foi observada em células mesoteliais normais que recobrem as cavidades peritonial, pleural e pericárdica e em cânceres de tecido mesotelial, como mesoteliomas e muitos cânceres de ovário (Chang et al., 1992).

Posteriormente, a expressão do mRNA de mesotelina em mesoteliomas, adenocarcinomas de ovário, pâncreas e pulmão foi vista através de análise no banco de dados de SAGE (http://www.ncbi.nlm.nih.gov/projects/SAGE/). A expressão da proteína foi observada nesses cânceres através de imunohistoquímica usando anticorpo monoclonal (Mab) 5B2 disponível comercialmente (Tabela 4).

Tabela 4: Expressão de mesotelina em câncer*

Tumor Expressão de

mesotelina (%) Comentários

Mesotelioma 100 Presente nos mesoteliomas epiteliais e

ausente nos sarcomas

Câncer de pâncreas 100 Ausente em pâncreas normal e em

pancreatite crônica

Câncer de ovário 67-100

Principalmente em adenocarcinoma de ovário seroso, embora expressa em menor grau em outros sub-tipos

Mesotelina foi identificada por microarranjos de DNA e PCR em tempo real entre genes superexpressos em células de leucemia mielóde aguda em crianças (AML), comparando-se com células de sangue e medula de crianças saudáveis (Steinbach et al., 2006). Nesse estudo também se observou que os níveis de mRNA para mesotelina diminuíram após o tratamento em todos os pacientes que conseguiram a remissão da doença, mas continuaram elevados na maioria dos pacientes com recaída (7 de 10). Posteriormente, a expressão da proteína mesotelina também foi confirmada em células AML de pacientes, porém, não houve uma correlação direta entre os níveis de mRNA e de proteína (Steinbach et al., 2007).

Forma solúvel de mesotelina foi identificada usando anticorpos Mab OV569, feitos através de imunização de camundongos com ascite de pacientes com câncer de ovário (Scholler et al., 1999). Esse anticorpo, que não reconhece a porção MFP, detectou proteína relacionada à mesotelina (SMR, soluble mesothelin related) no soro de pacientes com câncer de ovário (23/30), de mama (11/35), de pulmão (6/9), de cólon (2/14) ou com leucemias (6/17), mas não no soro de doadores saudáveis (68), com doenças inflamatórias (3) ou tumor benigno (1). Um dos 10 clones seqüenciados de um tumor que liberava proteína reconhecida por OV569 no meio de cultura apresentou uma inserção de 82 pb na posição 1874 (S598), o que provoca uma mudança do quadro de leitura. O novo C-terminal não possui 24, mas sim 95 resíduos, e não é predito como hidrofóbico pelo programa DAS (Cserzö et al., 1997, site http://www.sbc.su.se/~miklos/DAS/) nem como possível sítio de ancoragem a GPI (PredGPI, site http://gpcr.biocomp.unibo.it/predgpi/index.htm), levando à liberação da mesotelina no meio extracelular. Embora tenha sido seqüenciado 1 clone de variante solúvel de mesotelina, a proteína correspondente não foi realmente identificada e seqüenciada. Existe a possibilidade de que a proteína relacionada à mesotelina identificada no soro de pacientes tenha sido liberada da

superfície celular por fosfolipase C, conforme já demonstrado (Chang & Pastan, 1996). A liberação da SMR poderia ainda ocorrer através de clivagem por proteases.

Outro trabalho mostrou que SMR é comumente encontrada no soro de pacientes com mesoteliomas (Robinson et al., 2003). 84% dos pacientes com mesoteliomas (37/44) tiveram elevadas concentrações de SMR no soro, enquanto apenas 2% de pacientes com outros tipos de doença pleural ou pulmonar (3/160) apresentaram SMR. Entre 40 indivíduos expostos a asbesto (também conhecido como amianto), 7 apresentaram SMR e destes, 3 desenvolveram mesotelioma e 1 desenvolveu carcinoma pulmonar dentro dos próximos 5 anos à coleta, enquanto os outros 33 não desenvolveram mesotelioma nos próximos 8 anos. Por isso, considerou-se que mesotelina pode ser um marcador para auxiliar no diagnóstico precoce de mesoteliomas (Robinson et al., 2003).

A fim de determinar se havia resposta imune humoral contra mesotelina em pacientes com cânceres expressando mesotelina, foi usado o método de ELISA para detectar a presença de anticorpos anti-mesotelina no soro desses pacientes (Ho et al., 2005). Elevados níveis de anticorpo anti-mesotelina foram detectados em 39% dos pacientes com mesotelioma (27/69) e em 42% dos pacientes com câncer de ovário epitelial (10/24). 53% dos pacientes com mesotelioma superexpressando mesotelina apresentaram anticorpos específicos no soro (26/49). Dos 13 pacientes com mesotelioma negativo para mesotelina, apenas 1 apresentou anticorpos no soro (8%), o que poderia ser explicado através da menor sensitividade da imunohistoquímica na detecção de mesotelina do que a sensitividade do ELISA na detecção dos anticorpos. Para câncer

A proteína MPF, clivada do precursor MPF/mesotelina, também foi encontrada no soro de pacientes com mesotelioma e considerada um novo marcador para esse tipo de câncer (Onda et al., 2006). Anticorpos específicos para a porção MPF do precursor MPF/mesotelina foram produzidos e usados na detecção da proteína por ELISA. 91% dos pacientes com mesotelioma avançado apresentaram níveis elevados de MPF no soro (51/56). MPF também foi quantificada antes e após cirurgia de 4 mesoteliomas, dos quais 3 apresentavam expressão de mesotelina. No mesotelioma negativo para mesotelina, MPF não foi detectada antes ou após a cirurgia. Dois pacientes positivos para mesotelina que tiveram remoção total do tumor apresentaram rápida queda nos níveis de MPF após a cirurgia. O terceiro paciente positivo para mesotelina, que teve apenas 10% do tumor removido, apresentou níveis semelhantes de MPF no soro antes ou após a cirurgia (Onda et al., 2006).

A expressão de mesotelina após tratamentos com cirurgia e quimioterapia em pacientes com câncer de ovário foi relacionada ao aumento da sobrevivência das pacientes (Yen et al., 2006). Das 105 pacientes com câncer de ovário de alto grau que passaram por cirurgia e receberam quimioterapia com paclitaxel/cisplatina, 29 apresentaram expressão difusa de mesotelina após o tratamento (mais de 50% das células tumorais expressando mesotelina; grupo A) e 76 apresentaram expressão focal ou não expressão de mesotelina (menos de 50% das células tumorais expressando mesotelina; grupo B). A sobrevivência média do grupo A foi cerca de 60 meses e do grupo B foi de cerca de 34 meses. Nesse trabalho, sugeriu-se que o tumor expressando maiores quantidades de mesotelina possa ter elicitado uma resposta imune que levou a uma diminuição da carga tumoral. Ou ainda que a interação mesotelina-MUC16 possa ter evitado o processo de metástase (esse assunto será discutido na página 70). Embora esse trabalho tenha relacionado a expressão de mesotelina a um bom prognóstico, a maioria dos trabalhos aponta uma relação oposta.

Trabalho recente mostrou que a expressão da mesotelina pode estar relacionada ao aumento da malignidade do câncer (Li et al., 2008). Nesse estudo foram utilizadas duas linhagens de câncer de pâncreas: uma com baixa expressão de mesotelina (MIA PaCa-2) e outra com alta expressão (BxPC-3). A expressão forçada de mesotelina em MIA PaCa-2 aumentou a proliferação celular em 90%, a migração celular em 30% e o volume tumoral em 4,3 vezes. Por outro lado, o silenciamento da expressão de mesotelina em BxPC-3 diminuiu o volume tumoral, a proliferação celular (50%) e a migração celular (70%).

A função biológica de mesotelina não é conhecida, mas aparentemente a sua ausência não causa anormalidades de crescimento ou reprodução (Bera & Pastan, 2000). Camundongos em que as duas cópias do gene mesotelina foram inativadas apresentaram análise histológica normal de órgãos como pulmão, fígado, rins, pâncreas. Além disso, nenhuma diferença estatística na contagem de plaquetas foi observada.

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