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A Extrafiscalidade dos Tributos Ambientais

No documento A FUNÇÃO DO TRIBUTO NA TUTELA AMBIENTAL. (páginas 53-58)

A crescente configuração da consciência ambiental no seio da sociedade brasileira, influenciada por uma, ainda incipiente, política de incentivo à educação ambiental traz, à luz de discussão, os aspectos da atuação governamental na composição e mediação dos interesses econômicos, sociais e ambientais, visando à proteção ambiental e ao desenvolvimento sustentável, por via da questão fiscal ambiental.

Neste diapasão, tem-se:

“Os tributos ambientais podem ter uma função fiscal (que corresponde ao sentido positivo do princípio poluidor-pagador) e uma função extrafiscal (que corresponde ao sentido seletivo do princípio), não obstante serem eles basicamente regulatórios, porque seu principal objetivo é a mudança de atitude dos contribuintes (empresas e consumidores); em outras palavras, preocupam-se fundamentalmente em produzir ou ensejar a conscientização ambiental”. (OLIVEIRA, 2003, pg 117).

do tributo ambiental, podendo ser definida como a instrumentalização de incentivos ou de mecanismos inibitórios para atingir um comportamento social ambientalmente desejado, por meio de ferramentas disponíveis no Sistema Tributário Nacional, cuja finalidade é o atendimento da função político-ambiental.

Extrafiscalidade, por conseqüente, é a utilização do tributo dotado de função diversa da arrecadatória, cujo fim é o estímulo a comportamentos sociais, podendo, também, ser implementada mediante instituição e graduação de tributos, concessão de isenções e benefícios, possibilitando a dedução de despesas, a título de incentivo, efetuadas pelos administrados na preservação do meio ambiente. (ARAÚJO, 2003, pg 115-116).

Em contraposição de conceitos, fiscalidade é componente indissociável do tributo em espécie e visa à arrecadação destes para custear os serviços fornecidos pelo Poder Público e para a manutenção da máquina estatal, e ainda, servir como mecanismo de intervenção na vida social do Estado, em conformidade com o art. 151, inciso I, CF/88.

Art. 151. É vedado à União:

I - instituir tributo que não seja uniforme em todo o território nacional ou que implique distinção ou preferência em relação a Estado, ao Distrito Federal ou a Município, em detrimento de outro, admitida a concessão de incentivos fiscais destinados a promover o equilíbrio do desenvolvimento sócio-econômico entre as diferentes regiões do País;

Por tais ilações, a admissão da extrafiscalidade para os “tributos verdes” constitui-se de valorosa perspectiva sócio-ambiental, pela qual, ultrapassa-se a condição da mera “arrecadação de verbas para o ente governamental”, tendo por fulcro “atingir a justiça social, bem como a preservação do meio ambiente”. (ARAÚJO, 2003, pg 29-33).

Ainda buscando uma definição para extrafiscalidade, vale-se da lição do saudoso mestre Hely Lopes MEIRELLES, litterum:

“A extrafiscalidade é a utilização do tributo como meio de fomento ou desestímulo a atividades reputadas convenientes ou inconvenientes à

comunidade. É ato de polícia fiscal, isto é, de ação do governo para o atingimento de fins sociais através da maior ou menor imposição tributária”. (1999, pg 45).

Portanto, fica evidenciado que a extrafiscalidade fornece ao tributo ambiental capacidade e habilitação suficiente para torná-lo um instrumento auxiliar do poder regulatório do Estado, em razão da ordem econômica. Esta regulação visa ao atingimento de objetivos de política econômica, que, no caso em tela, é direcionada à política ambiental.

A natureza regulatória dos tributos ecológicos incidentes sobre a propriedade particular, o consumo e as atividades produtivas, visa, em última instância, ao bem-estar social.

O poder-dever de agir para propiciar a efetiva preservação do meio ambiente é atributo tanto da função sócio-ambiental pública quanto da função sócio-ambiental privada. Neste aspecto, a extrafiscalidade ambiental, seja por meio da agravação ou do abrandamento dos efeitos da tributação, poderá determinar os rumos da política ambiental, no tocante a seus fatores econômicos, sociais, administrativos e, particularmente, os sanitários. (ARAÚJO, 2003, pg 29-33).

Reiterando, “a tributação ambiental visa a incentivar ou inibir comportamentos que possam comprometer ou melhorar o meio ambiente, isto é, visa a orientar ou a incentivar condutas não-poluidoras”. (ARAÚJO, 2003, pg 31).

Conclui-se, indubitavelmente, que os tributos ambientais são instrumentos legítimos, legalmente hábeis para coibir comportamentos, individuais e coletivos, lesivos ao meio ambiente, como também para estimular, por meio de incentivos e subsídios fiscais ou isenções, a implementação de “tecnologias limpas” em processos produtivos.

Como reflexo imediato desta questão, aponta-se para o caráter dual do instrumento tributário ambiental, onde em contraprestação à sanção às atividades degradadoras, busca-se incentivar àquelas que empregam mecanismos não-poluentes ou com baixo grau de potencial poluidor. (ARAÚJO, 2003, pg 29-33).

Em que se pese a oportunidade e a conveniência da administração pública, ressalvados seus limites constitucionais para o exercício da competência tributária, instituir incentivos fiscais, que se traduzam em medida mitigadora ou supressiva da carga tributária, o objetivo final será sempre o induzimento do comportamento dos contribuintes para a diminuição da agressão ao meio ambiente.

A Lei n° 6.938/81, que estatui a sistemática da Política Nacional do Meio Ambiente, como norma de comando-e-controle, traz intrinsecamente em seu contexto, forte natureza extrafiscal. Particularmente, seu art.13 aponta para uma destinação específica do montante dos recursos apurados com o recolhimento desses tributos, a fundo propriamente destinado à preservação ambiental. Há de se explicitar que a aludida vinculação é exigência inerente à natureza jurídica da extrafiscalidade, que sem a qual, perde sua efetividade. (ARAÚJO, 2003, pg 83-86).

A efeito de exemplo, o art. 13 da Lei n° 7.347/85, chamada de Lei da Ação Civil Pública, estabelece ordem para a criação de fundo com a finalidade de captar o quantum debeatur oriundo das sanções impostas em ações dessa natureza. O

que se pretende é vincular o quantum, devidamente apurado em condenações

que envolvem a tutela de interesses difusos, a fundo destinado, dentre outros objetivos, à preservação do meio ambiente. O referido fundo está regulamentado pelo Decreto n° 1.306/94. (COSTA, 1999, pg 25-40).

Assim, como conclusão parcial, o objetivo deste capítulo reside em apontar a característica mais importante, a qual deve ser dotado o tributo para atingir a efetiva proteção ambiental, a extrafiscalidade.

No documento A FUNÇÃO DO TRIBUTO NA TUTELA AMBIENTAL. (páginas 53-58)