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Imposto Predial Territorial Urbano

No documento A FUNÇÃO DO TRIBUTO NA TUTELA AMBIENTAL. (páginas 66-71)

CAPÍTULO IV OS TRIBUTOS AMBIENTAIS EM ESPÉCIE

4.3 Imposto Predial Territorial Urbano

Por ora, entra-se no espectro dos impostos relacionados ao uso e ao domínio da propriedade, que no caso específico do IPTU, refere-se a propriedade urbana e do ITR, a propriedade rural.

O objetivo da tributação ambiental é compor medidas de fomento à ações conservacionistas do meio ambiente, incluindo-se não só o meio ambiente natural, como também o “meio ambiente humano e artificial”, por sua vez composto de patrimônio cultural e do tombamento de paisagens urbanas. (ARAÚJO, 2003, 49).

Não pretende-se aqui traçar entendimentos sobre a questão sócio-econômica e jurídica da propriedade, e sim, apenas citar que:

“Em linhas gerais, a propriedade pode ser definida como direito de usar (jus utendi), gozar ou usufruir (jus fruendi), dispor da coisa (jus abutendi), bem como de reavê-la de quem injustamente a detém”. (ARAÚJO, 2003, pg 49). Ressalta-se, ainda, que tal instituto está regulado pelos art. 1.228 e seguintes do Novo Código Civil, além de sua salvaguarda como garantia fundamental do bojo da Constituição Federal, em seu art. 5°, inciso XXII.

Outro fundamento jurídico importante que envolve esta questão é a “função social da propriedade”, que pode ser entendida como a sua utilidade em coerência com os comando dos interesses coletivos, sendo esta propriedade rural ou urbana.

O Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana, IPTU, tem sua relevância jurídica, em face de sua competência ser privativa do Distrito Federal (sui generis) e dos municípios, consoante ao comando constitucional do art. 156, c/c. art 147, in fine.

“Art. 156. Compete aos Municípios instituir impostos sobre: I - propriedade predial e territorial urbana;

II - transmissão "inter vivos", a qualquer título, por ato oneroso, de bens imóveis, por natureza ou acessão física, e de direitos reais sobre imóveis, exceto os de garantia, bem como cessão de direitos a sua aquisição;

III - serviços de qualquer natureza, não compreendidos no art. 155, II, definidos em lei complementar.

§ 1º Sem prejuízo da progressividade no tempo a que se refere o art. 182, § 4º, inciso II, o imposto previsto no inciso I poderá:

I – ser progressivo em razão do valor do imóvel; e

II – ter alíquotas diferentes de acordo com a localização e o uso do imóvel. § 2º - O imposto previsto no inciso II:

I - não incide sobre a transmissão de bens ou direitos incorporados ao patrimônio de pessoa jurídica em realização de capital, nem sobre a transmissão de bens ou direitos decorrente de fusão, incorporação, cisão ou extinção de pessoa jurídica, salvo se, nesses casos, a atividade preponderante do adquirente for a compra e venda desses bens ou direitos, locação de bens imóveis ou arrendamento mercantil;

II - compete ao Município da situação do bem.

§ 3º Em relação ao imposto previsto no inciso III do caput deste artigo, cabe à lei complementar:

I - fixar as suas alíquotas máximas e mínimas;

II - excluir da sua incidência exportações de serviços para o exterior.

III – regular a forma e as condições como isenções, incentivos e benefícios fiscais serão concedidos e revogados”.

“Art. 147. Competem à União, em Território Federal, os impostos estaduais e, se o Território não for dividido em Municípios, cumulativamente, os impostos municipais; ao Distrito Federal cabem os impostos municipais”.

No comando oportuno do art. Artigo 182, § 4°, II do Estatuto Fundamental, capítulo afeto à política urbana, o IPTU é apontado, expressamente, como instrumento econômico extrafiscal para a realização da função social da

propriedade urbana.

“Art. 182. A política de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder Público municipal, conforme diretrizes gerais fixadas em lei, tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem- estar de seus habitantes.

§ 1º - O plano diretor, aprovado pela Câmara Municipal, obrigatório para cidades com mais de vinte mil habitantes, é o instrumento básico da política de desenvolvimento e de expansão urbana.

§ 2º - A propriedade urbana cumpre sua função social quando atende às exigências fundamentais de ordenação da cidade expressas no plano diretor. § 3º - As desapropriações de imóveis urbanos serão feitas com prévia e justa indenização em dinheiro.

§ 4º - É facultado ao Poder Público municipal, mediante lei específica para área incluída no plano diretor, exigir, nos termos da lei federal, do proprietário do solo urbano não edificado, subutilizado ou não utilizado, que promova seu adequado aproveitamento, sob pena, sucessivamente, de:

I - parcelamento ou edificação compulsórios;

II - imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana progressivo no tempo;

III - desapropriação com pagamento mediante títulos da dívida pública de emissão previamente aprovada pelo Senado Federal, com prazo de resgate de até dez anos, em parcelas anuais, iguais e sucessivas, assegurados o valor real da indenização e os juros legais”.

O argumento de assegurar o cumprimento da função social da propriedade, tendo em vista sua finalidade ambiental, encontra guarida do §1º do art. 156 da Carta Magna, que a seu comando institui a possibilidade de progressividade do imposto para os casos de descumprimento da função social da propriedade, mormente em atendimento aos quesitos de proteção ambiental.

É ler:

“É certo, portanto, que, por autorização constitucional, o IPTU pode ter importante finalidade ambiental, devido à possibilidade de sua progressividade no tempo, cujo intuito é assegurar a função social da propriedade. E é perfeitamente possível que essa função social possa, além de outros fins, visar ao atendimento da proteção ambiental”. (ARAÚJO, 2003, pg 53).

Contudo, a questão da progressividade do IPTU, assim como dos demais impostos tidos por reais, só foi admitida pelo STF, após a edição da Emenda Constitucional n° 29/2000, assim compreendida:

“(i) a progressividade para implementar o princípio de igualdade, prevista no artigo 5°, I, e artigo 150, II; (ii) a progressividade que deve atender aos

critérios da capacidade contributiva, conforme artigo 145, §1°; (iii) a progressividade em função do valor; (iv) da localização; e (v) do uso, todas conforme o artigo 156, §1°, I e II; (vi) aquela prevista no artigo 182, § 4°, II, que também é chamada progressividade no tempo”. (ARAÚJO, 2003, pg 55).

Visto o entendimento da Corte Maior, não resta dúvidas sobre a importância extrafiscal do IPTU, valendo-se de sua vocação como hábil instrumento de preservação e recuperação ambiental, no meio urbano.

De igual modo, o IPTU pode ser eficaz como instrumento econômico na preservação do patrimônio arquitetônico e cultural, pela concessão de isenções e incentivos fiscais aos proprietários de imóveis, para estimulá-los a manter o grau de conservação dos bens protegidos.

Obviamente, o IPTU traz imensos reflexos quanto à validade e eficácia, para os mandamentos instituídos pelo Estatuto da Cidade, Lei n° 10.257/01, pela possibilidade do Poder Público determinar ao particular a obrigatoriedade de adotar condutas pró-ativas com relação ao imóvel urbano, particularmente quanto à função social da propriedade urbana.

Outras medidas de regulamentação do parcelamento e edificação também podem ser implementadas com o caráter extrafiscal do IPTU.

O referido Estatuto abriga em seu art. 4°, mecanismos tributários e financeiros, que representam um considerável avanço para a proteção do meio ambiente urbano, utilizando sitema de incentivos e benefícios fiscais que podem ser concedidos com a finalidade de implementar a aplicação do princípio da função social da propriedade, onde tais instrumentos valem como elemento fomentador da política urbana. (ARAÚJO, 2003, pg 57-59).

De volta à questão da progressividade do IPTU, o art. 7° do Estatuto da Cidade publicado em 2001, vem, depois da publicação da EC nº 29/00 e do entendimento de constitucionalidade dado pelo STF, regulamentar o disposto no

inc. II do § 4° do art. 182 da Carta Maior, premiando o oredenamento pátrio com a possibilidade de aplicação da progressividade temporal do imposto, com a majoração de alíquotas pelo prazo de cinco anos consecutivos, à propriedade que não cumprir sua função social. (ARAÚJO, 2003, pg 57-59).

Contudo, a permissividade legal, concedida aos municípios, contida no art. 182, II, § 4°, da CF/88, somente figurará no campo jurídico da validade e da existência, se houver lei municipal específica para área, obrigatoriamente incluída no plano diretor, sob pena de nulidade total.

A progressividade temporal do IPTU prevista na Carta Maior e regulada pelo Estatuto da Cidade, embora de entendimento pacificado pelo STF, quanto à sua constitucionalidade, ainda figura do seio de uma polêmica, pois como demonstrado de forma inequívoca, tributo, em qualquer de suas espécies, não pode ser dotado de caráter sancionador. Porém, há concretude de efeitos no seu entendimento como sanção, uma vez que pode ser aplicada a progressividade, ao “proprietário do imóvel não edificado, subutilizado ou não utilizado que deixar de promover seu adequado aproveitamento, após ter sido regularmente notificado a fazê-lo”. (ARAÚJO, 2003, pg 58).

Adstrito da discussão jusfilosófica que cerca o tema, para que a progressividade temporal do IPTU possa ser utilizada como instrumento eficiente na consecução dos objetivos da política urbana, faz-se necessário o atendimento de alguns pressupostos, tais como: “a existência de um plano diretor; a existência de uma lei municipal específica para a área incluída no plano diretor; a existência de notificação ao particular, devidamente averbada no registro de imóveis, que fixe prazo e condições para que ele cumpra as obrigações estatuídas na lei municipal específica; e o descumprimento das obrigações pelo particular”. (ARAÚJO, 2003, pg 59).

implantação de uma política ambiental fiscal adotada pelo município de Porto Alegre. È ler:

“O IPTU ecológico de Porto Alegre surge no bojo da viabilização das RPPNs, que compõem a única categoria de unidades de conservação na qual a iniciativa de criação deve partir do particular. Todas as demais são criadas necessariamente pelo poder público. Neste sentido, a intenção principal é estimular a criação de RPPNs no âmbito municipal, oferecendo o benefício da renúncia fiscal – qual seja a isenção de cobrança do IPTU.

(...)

Mas o IPTU ecológico de Porto Alegre também isenta da cobrança, no mesmo estilo da legislação do ITR, as APPs, a reserva legal e outras áreas especialmente protegidas por ato do poder público”. (ROCCO, 2004, pg 276). A idéia do legislador municipal reside em incentivar a preservação e a conservação de ETEPs capazes de beneficiar a coletividade, desonerando, através de contrapartida pecuniária (isenção), o particular que observar a função social de sua propriedade. (ROCCO, 2004, pg 276).

Portanto, resta inequívoco que o IPTU é instrumento hábil para desempenhar função de relevância na consecução dos objetivos da política urbana nacional, observado seu requisito fundamental, qual seja, a promoção do princípio constitucional da função social da propriedade urbana.

No documento A FUNÇÃO DO TRIBUTO NA TUTELA AMBIENTAL. (páginas 66-71)