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Imposto sobre operações relativas à circulação de mercadorias e sobre

No documento A FUNÇÃO DO TRIBUTO NA TUTELA AMBIENTAL. (páginas 62-66)

CAPÍTULO IV OS TRIBUTOS AMBIENTAIS EM ESPÉCIE

4.2 Imposto sobre operações relativas à circulação de mercadorias e sobre

INTERESTADUAL E INTERMUNICIPAL E DE COMUNICAÇÃO

O imposto sobre operações relativas à circulação de mercadorias e sobre prestações de serviço de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação (ICMS), capitulado no art. 155, II, CF/88, é, sem sombra de dúvida o imposto mais complexo em sua formulação teórica, dados os aspectos material, territorial e temporal de que é dotado, e ainda, a dificultosa adequação entre as legislações dos entes federados, que acabam por propiciar a famigerada “guerra fiscal”, que tanto retarda o desenvolvimento sócio-econômico nacional.

Atinente ao objeto em questão, qual seja, o estudo de viabilidade para adequção dos mecanismos trtibutários vigentes no país às necessidades de fomento à preservação ambiental, tratra-se-á da experiência do “ICMS Ecológico”.

O Estado do Paraná, com o advento da Lei n° 56/91, põe-se em posição de vanguarda no cenário nacional quando instituiu o “ICMS Ecológico”, como via alternativa de financiamento público, disponibilizando recursos financeiros às administrações municipais, para que estas promovam ações e obras públicas de natureza sanitária e ambiental, cuja finalidade seja de proteção do meio ambiente natural. (ZEOLA, 2003, pg 179-197).

Para atingir os objetivos dispostos na lei estadual, o estado adotou a composição dos percentuais de repasse do produto de arrecadação do ICMS, determinados por critérios quantitativos e qualitativos.

Como critério quantitativo, analisou-se o percentual da superfície total da base territorial do município revertida em UCs, aí compreendidas as áreas de preservação permanente e as de reserva florestal legal, instituídas como fator “multiplicador que caracteriza o nível de restrição de uso área protegida”. (ARAÚJO, 2003, pg 39-48).

Como critério qualitativo ou subjetivo, consideram-se os aspectos da biodiversidade local, particularmente em sua qualificação física e biológica, incluindo-se neste critério, os recursos hídricos e suas fontes. O que se busca nesta avaliação é verificar o grau de conservação dos bens ambientais, bem como a “qualidade do planejamento, da implementação, da manutenção e da gestão” do meio natural, pelo Poder Público municipal. (ARAÚJO, 2003, pg 41).

Sobre esta questão, ainda, o Instituto Ambiental do Paraná, órgão normativo e regulador do estado para assuntos de meio ambiente, introduziu o conceito de “tratamento de entorno”, pelo qual procura-se considerar, também, como critério qualitativo para reppasse de receita, aqueles municípios que por ventura sejam afetados, diretamente, pelos espaços territoriais especialmente protegidos (ETEPs).

Em seguimento ao excelente exemplo legislativo ambiental dado pelo Estado do Paraná, apresenta-se o Estado de São Paulo. Este, a seu turno, promoveu intenso aperfeiçoamento legislativo, nesta ordem, criando e ampliando a gama dos critérios objetivos e subjetivos da lei.

É ler:

“No § 2º do artigo 1º, da Lei nº 8510/93 dispõe que, para os efeitos do inciso acima mencionado, a área total considerada como espaço territorial especialmente protegido em cada município será a soma das areas correspondentes às diferentes unidades de conservação presentes no município, assim consideradas as estações ecológicas, as reservas biológicas, os parques estaduais, as zonas de vida silvestre em áreas de proteção ambiental (ZVS em APAs), as reservas florestais, as áreas de

protção ambientais (APAs) e as áreas naturais tombadas, ponderadas pelos pesos atribuídos a cada uma delas”. (ARAÚJO, 2003, pg 42).

Outro aspecto relevante implementado por São Paulo fora a criação de mecanismos de compensação financeira para municípios que instituíram ETEP em suas bases territoriais, regulamentado pela Lei estadual nº 9146/95.

Desta forma, o exemplo desses dois entes federados incutiu no cenário nacional uma mentalidade de implementação de medidas operativas, que tragam consigo viabilidade economica e financeira ao fomento da preservação do meio ambiente. À reboque, vê-se um emaranhado de estruturas a serem observadas, como:

“a criação, a fiscalização, a defesa, a recuperação, a regularização fundiária e a preservação de unidades de conservação e de sua fauna e flora, bem como a implantação de programas de educação ambiental e dos planos diretores e de manejo; a especial proteção das populações nativas que vivem em unidades de conservação, (...) combate à erosão com medidas de recuperação e proteção do solo nos locais (...) instituído e implantado programas de educação ambiental, a manutenção da biodiversidade dos ecossistemas, (...) financiamento de projetos ambientais de associações civis sem fins lucrativos”. (ARAÚJO, 2003, pg 43).

Outro critério, de igual importância, reside em benefício daqueles municípios fomentadores de obras e políticas públicas, cujo objetivo visa ao tratamento de água e esgoto, coleta seletiva e disposição final do lixo com critérios de mitigação do potencial de degradação ao ambiente. Tais medidas conservacionistas têm por finalidade a manutenção das áreas protegidas e a recomposição de áreas degradadas, em especial florestas, nascentes e matas ciliares.

A seu turno, o Estado de Minas Gerais ampliou o campo de abrangência da questão, ao contemplar com benefícios fiscais aqueles municípios que além de conservar a qualidade dos mananciais de abastecimento público e promover o correto tratamento de lixo e esgoto, também proporcionem desejadas ações no tocante à matéria patrimônio cultural e incentivos a implantação de áreas de

proteção por outros entes públicos e privados.

Assim, o Estado de Minas Gerais passou a adotar dois novos parâmetros qualitativos ao repasse de verbas oriundas do “ICMS ecológico”, quais sejam, a questão sanitária e o “índice de patrimônio cultural”. Inova, ainda, ao prever a possibilidade de redução do motante devido aos municípios que descuidarem de suas obrigações, cujo reflexo seja invasões ou outros tipos de agressão aos ETEPs. (ARAÚJO, 2003, pg 45)

A relevância da matéria reveste-se do aspecto da aplicação da justiça fiscal pela conversação ambiental, onde resta categorizado que seu alcance só se dará, efetivamente, com a adoção de medidas de estímulos e incentivos fiscais e financeiros aos municípios que zelam pelo meio ambiente, conjugando o princípio da prevenção e da conservação com compensação financeira.

Por assim dizer, reforçasse o quadro ora apresentado com o fundamento do desenvolvimento sustentado, pois o ente municipal tende a gerar de trabalho e renda, conservando os bens ambientais e, ainda, estimulando, através do exemplo, outros estados e municípios a adotarem iguais medidas de gestão ambiental.

A título de exemplo, vale-se do exemplo representado pelo Estado do Paraná, para traduzir os benefícios incorporados pela materialização do “ICMS ecológico” em sua base territorial:

“(...) entre 1992 e 1997, houve um aumento de 131,12% na superfície dos espaços protegidos das várias categorias e modalidades de manejo (...), aponta que entre 1992 e 1999, a superfície das unidades de conservação no Estado cresceu na seguinte proporção: unidades federais, 19,69%; estaduais, 732,92%; municipais, 1161,09%. É fundamental observar que a implantação desse instrumento no Paraná causou efeitos positivos diretos sobre as políticas de conservação florestal no âmbito dos municípios, que fizeram crescer mais de 1000% a superfície de áreas municipais protegidas. Isto é, o grande papel do ICMS ecológico é promover uma redefinição em torno de critérios de repasse de recursos que compense o estabelecimento de restrições administrativas nas áreas protegidas”. (ROCCO, 2004, pg 272-273).

Conclui-se, por oportuno, que o instituto do “ICMS Ecológico” é via legítima, legalmente constituída, para o fomento às ações do poder municipal visando à mitigação dos problemas ambientais. Isso somente se dará pela eficácia do exercício do poder de polícia, por via de regras claras e oportunas de licenciamento ambiental. (ARAÚJO, 2003, pg 39-48).

Ademais, visualiza-se algumas aplicações subsidiárias para o ICMS na tutela ambiental, mormente no que tange à regra de seletividade das alíquotas, em função da essencialidade da mercadoria e dos serviços, tributando de acordo com a comprovação de ser, a produção e o consumo, “ecologicamente corretos” ou não. Traduz-se, então, a função repressiva e pedagógica do “ICMS Ecológico”.

No documento A FUNÇÃO DO TRIBUTO NA TUTELA AMBIENTAL. (páginas 62-66)