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A falta de família para sacerdotes católicos

1. POR UMA PRÉ-HISTÓRIA DA FAMÍLIA DO PASTOR PRESBITERIANO

1.3. A família de pastor

1.3.1. A falta de família para sacerdotes católicos

O pastor lida com os conflitos normais de uma família. Pode-se apontar, neste caso, a criação e educação de filhos, cuidados e atenção com a sua esposa. Há também a preocupação com o futuro da família como um todo, e ainda mais, sua preocupação com a velhice e aposentadoria. Já no caso do padre estas preocupações não existem. Isto se deve ao fato daquele clérigo exercer suas funções de forma e atenção exclusivas, assim ficando restrito às tarefas profissionais para as quais se dedicou. Seus votos de pobreza, castidade e obediência, por outro lado, não o dei- xam à míngua: o avançar da idade e a interrupção de suas atividades paroquiais dão a ele o direito de viver numa casa mantida pela igreja, lugar em que será amparado até o final da vida.

A preocupação que o sacerdote católico tem diz respeito às suas funções ministeriais, principalmente. Desprovido, obrigatoriamente por sua religião, de ter família, resta-lhe focar nas suas atividades e por isso não passa por conflitos de ordem familiar, nas suas mais variadas nuanças.

É de grande importância questionar se o sacerdote é de fato uma pessoa realizada, satisfeita e resolvida. Diante do fato de o celibato ser-lhe obrigatório,

poderia o padre dizer que é feliz com isto? Teria este sacerdote a necessidade de uma relação humana-afetiva? A dificuldade para estas respostas podem ser depara- das, talvez, com alguma posição ética. No entanto, Edênio Valle (2004, p. 10) aponta que “as percepções e os sentimentos vividos pelos padres não são usual- mente expressos de maneira clara e direta”. O autor aborda essa situação no intuito de se aproximar ao máximo sobre o que se passa na vida deste líder. Assim, ele aponta alguns aspectos interessantes para esta análise, mostrando que há:

Um primeiro aspecto que não depende da faixa etária do padre é o de uma maior preocupação com a subjetividade e a realização pessoal. (...) Um segundo aspecto recorrente é o que se refere aos pontos concretos que os presbíteros veem como empecilho ou ajuda em sua realização pessoal. Entre os mencionados com maior frequência estão três: o da realização afetivo-sexual, o da espiritualidade e o da colaboração e convivência no presbitério. Um terceiro problema é o da tensão entre os objetivos pessoais e os da instituição.

Vemos na história da humanidade a grande importância da família nas re- lações pessoais. Tendo como referência e base esta instituição, o indivíduo tem maior chance de ter uma vida mais estável e mais realizada em muitos aspectos. Seria o celibato obrigatório algo danoso para o exercício do sacerdócio? Ao que tudo indica, o celibato obrigatória tem trazido mais problemas para a vida sacerdotal do que mesmo se houvesse a sua espontaneidade. Referimo-nos ao caso da religião católico- romana.

É digno de nota apresentar um pouco sobre o surgimento do celibato na história e o que levou o catolicismo a optar pelo exigir de seus clérigos tal procedi- mento. Desta forma, Cláudia Souza (2016) destaca:

O celibato teve sua origem no clero romano, após 304 d.C. nos concílios de Elvira e Nicéia, que proibiam os Ministros religiosos casarem-se após a ordenação. A Igreja Católica adotou o celibato dos padres e freiras na Idade Média, para defender o seu patri- mônio, a fim de evitar que se tornasse objeto de disputas por her- deiros, tornando-se obrigatório para o clero a partir de 1073, du- rante o papado de Gregório VII, onde um sacerdote romano que se casasse incorria na excomunhão e ficava impedido de todas as funções espirituais.

Tomás Eloy Martinez (2016, p.1) adverte que a maioria dos católicos ig- nora o fato de que, para os padres e bispos não lhes era proibido contrair matrimônio durante o primeiro século da era cristã. O autor registra ainda que, Gregório VII impôs o celibato. Definiu-se que o matrimônio dos sacerdotes era herético, porque os distraía do serviço ao Senhor e contrariava o exemplo de Cristo.” Este fato fora ratificado anos depois quando, em 1123, o Concílio de Latrão decidiu proibir o ma- trimônio dos clérigos e, decisão essa confirmada 16 anos mais tarde pelo segundo Concilio de Latrão confirmou.

Percebe-se na decisão de Gregório VII, citada no texto acima, um equívoco ao comparar o exemplo de Cristo como regra para o celibato. O que intriga essa afirmativa é a falta de respaldo nas páginas da Bíblia para essa definição. Esta não deixa de ser uma alegoria ao texto Sagrado. Ou seja, querer ensinar o que o texto não ensina. E até porque há evidências de que o apóstolo Pedro, discípulo de Jesus,

por exemplo, tinha sogra. O texto Bíblico do Evangelho de Marcos 1.29-31 (Al- meida, 1999, p. 39) registra que Jesus curou a sua sogra: “E, saindo eles da sina- goga, forma, com Tiago e João, diretamente para a casa de Simão e André. A sogra de Simão achava-se acamada, com febre; e logo lhe falaram a respeito dela. Então, aproximando-se, tomou-a pela mão; e a febre a deixou, passando ela a servi-los”.

Tratando-se das instruções sobre as qualificações para a liderança na igreja, o apóstolo Paulo faz menção ao casamento para líderes eclesiásticos. De forma bem clara, ele observa (Iº Timóteo 3.2, Almeida, 1999, p. 224) que, “é ne- cessário, portanto, que o bispo seja irrepreensível, esposo de uma só mulher, tem- perante, sóbrio, modesto, hospitaleiro, apto para ensinar”. No texto bíblico fica claro que não há uma obrigatoriedade para que o pastor se case, bem como, não exige o celibatário. A grande evidência no texto diz respeito à conduta exemplar, ética espiritual e moral que deve ser aplicada em ambos os casos.

Discorrendo sobre a obrigatoriedade do celibato na igreja Católica, Rei- naldo Azevedo (2016, p. 1) sustenta que mesmo que não houvesse o celibatário obrigatório, tal regra não impediria tal instituição de passar por escândalos na área da sexualidade. Contudo, o seu entendimento se coaduna com a ideia de que as crises centradas nessa área certamente diminuiriam em muito no catolicismo, caso o celibato fosse opcional.

Já no Oriente, a Igreja Ortodoxa não exige a obrigatoriedade do celibato. Ao contrário disso, Cláudia Souza (2016, p. 1) aponta que essa igreja “incentiva a ordenação de um clero casado, acreditando que os que optam pelo celibato, o fazem de livre e espontânea vontade”.

Este quadro da vida celibatária já não é uma preocupação para o pastor protestante, como veremos a seguir. Ainda que os problemas sejam possíveis em qualquer esfera da sociedade nas relações de sexualidade, evidencia-se em menos quantidade este tipo de conflito no contexto do protestantismo.