• Nenhum resultado encontrado

Capítulo 1 A Fábrica de Fundição de Sinos de Rio Tinto

1.1. A Família Costa

Sabemos, então, que tudo terá começado com a fundação, em 1899, da Fundição de Sinos Luís Francisco Rocha e C.ª (Fig. 2), no Porto, referida como Portuense a partir de 1915.40 Com o

falecimento do fundador, por volta de 1916, a fundição terá ficado a cargo da sua esposa41 até

1919.42 Entre os anos de 192743 e 193544, os

almanaques da cidade do Porto, importantes fontes periódicas que funcionavam com diretórios de serviços, listam a empresa como L. F. da Rocha, Suc., verificando-se alterações na gerência. No ano seguinte, as mesmas fontes suprimem quaisquer referências à fundição Portuense, surgindo pela primeira vez a menção a Laurentino Martins da Costa, com a sua Fábrica já instalada no Largo da Estação em Rio Tinto.45

Pelas palavras de Albano Magalhães, ficamos a saber que a viúva de Luís F. Rocha, após a sua morte, terá cedido a sociedade a Laurentino Martins da Costa, antigo

40 Cf. COSTA, Américo (Ed. e prop.) – Almanak do Porto e seu Districto para o anno de 1915 (60.º anno

de publicação). Antigo Almanaque de José Lourenço de Sousa e A. G. Vieira Paiva; Porto: Typhographia

Artes e Lettras, p. 164.

41 Cf. COSTA, Américo (Ed. e prop.) – Almanak do Porto e seu Districto para o anno de 1916 (61.º anno

de publicação.) Antigo Almanaque de José Lourenço de Sousa e A. G. Vieira Paiva; Porto: Typhographia

Artes e Lettras, p. 128

42 Cf. LELO, Manuel Pinto de Sousa (Ed. e prop.) – Anuário Comercial do Porto e seu distrito - 1919

(15.º Ano de sua Publicação); Porto: Imprensa Moderna, p. 309.

43 Cf. JUNIOR, Inácio dos Santos Vizeu (dir.) – Anuário Comercial do Porto e seu distrito - 1927 (II da

2.ª Série de Publicação); Propriedade de Santos Vizeu, Irmãos; Porto, p. 309

44 Cf. JUNIOR, Inácio dos Santos Vizeu (dir.) – Anuário Comercial do Porto, Gaia, Matosinhos e

Restantes Concelhos - 1935 (X da II.ª Série de Publicação); Propriedade de Santos Vizeu, Irmãos; Porto,

p. 506.

45 Cf. JUNIOR, Inácio dos Santos Vizeu (dir.) – Anuário Comercial do Porto, Gaia, Matosinhos e

Restantes Concelhos - 1936 (XI da II.ª Série de Publicação); Propriedade de Santos Vizeu, Irmãos; Porto,

p. 875.

Figura 2 - Sinete da Fundição de L. F.

Rocha numa sineta de 1909 fundida para a Sé do Porto. Diana Felícia.

funcionário e homem da confiança do seu falecido marido.46 Esta

informação permite induzir que, durante os anos de 1927 e 1935, terá já sido Laurentino a assumir a administração da empresa. O anúncio publicitário da Fundição de Sinos de Rio Tinto, publicado no Anuário Comercial do Porto de 1938, onde se diz especificamente

Antiga Portuense | Casa Fundada

em 1899 | De Laurentino Martins da Costa | Sucessor de L. F, da Rocha, do Porto47

corrobora igualmente a nossa teoria. Embora possamos afirmar, com base na referência citada, que a deslocação para Rio Tinto ocorreu na década de 30, a existência de um sino, datado de 1932 e pertencente à coleção da Fundição de Sinos de Braga, e em cujo sinete pode ler-se Fundição de Sinos de Rio Tinto L. M. da Costa Porto sugere que, em 1932, (ver Fig. 3) ela já teria acontecido.

Antes de avançarmos, não podemos deixar de referir uma outra questão também levantada por Luís Sebastian, quando escreve:

Esta deslocação dos Costa para Rio Tinto, ao contrário da memória atual da família, dificilmente terá levado a uma fundação ex-nihil, uma vez que encontramos notícia da existência de uma fundição local de um Alexandre António Lemos, falida em 1897 (Viterbo, 1915:54).48

Sousa Viterbo, por sua vez, justifica a afirmação com os dados presentes na edição de 26 de janeiro de 1897, de onde diz ter colhido a informação.49 Na referida edição pode

ler-se, logo na primeira página, a seguinte notícia:

46 Cf. MAGALHÃES, Albano (1999) – Monografia de Rio Tinto - Apontamentos monográficos (...), vol. 1, p. 209.

47 Cf. JUNIOR, Inácio dos Santos Vizeu (dir.) – Anuário Comercial do Porto, Gaia, Matosinhos e

Restantes Concelhos - 1938 (XIII da II.ª Série de Publicação); Propriedade de Santos Vizeu, Irmãos; Porto,

p. 881.

48 SEBASTIAN, Luís (2008) – História da fundição sineira em Portugal (...), p. 211, nota 4.

49 Cf. SOUSA VITERBO, Francisco Marques de Sousa (1915) – Artes e indústrias metálicas em Portugal:

Sinos e Sineiros in “O Instituto: Revista Científica e Literária”, Vol. 62; N.º 4 – 1915 Abril; Coimbra: Figura 3 - Sinete de um sino datado de 1932, Coleção

da Família Jerónimo, Fundição de Sinos de Braga, [prova digital a cores], 05.2019, Diana Felícia.

Fallencias – Em sessão de hontem, o tribunal comercial portuense declarou em estado de quebra os negociantes d’esta praça Alexandre António de Lemos e Joaquim Monteiro, este como representante da firma Joaquim Monteiro & C.ª, estabelecidos: o 1.º com uma fábrica de sinos em Rio Tinto, e o 2.º com o negócio de vinhos em Vila Nova de Gaia.50

Efetivamente, existem registos de uma fundição de sinos com fábrica em Rio Tinto, propriedade de um Alexandre António Leão (e não Lemos, que assumimos como um lapso tipográfico), a partir de 1893, mantendo-se esta referência até 1897. Esta informação vai de encontro ao escrito por Sousa Viterbo em 1915, com exceção do nome do seu proprietário. No entanto, em 1910, os almanaques voltam a mencionar a fundição de Alexandre António Leão, agora juntamente com os seus Filhos, informação que se mantém inalterada até 1917 quando deixa definitivamente de ser referida nestas fontes. Uma visita realizada à Fábrica de Fundição de Sinos de Braga revelou ainda a existência de um sino datado de 1906 e fundido por Leão e Filhos, Fábrica de Rio Tinto, o que confirma que, nesta data, a empresa se mantinha em laboração.

Por outro lado, não conseguimos deixar de levantar a hipótese destas fundições terem partilhado algum tipo de relação, nomeadamente no que diz respeito às suas instalações. Embora em momento nenhum seja referido o n.º de polícia da fábrica de Alexandre António Leão, em Rio Tinto, consideramos que uma das suas possíveis localizações seria o Largo da Estação dos Caminhos de Ferro desta freguesia, onde funcionou posteriormente a Fundição de Laurentino Martins da Costa. Acreditamos nesta hipótese por ser prática, à época, adquirirem-se os negócios completos, juntamente com os seus recheios, tal como sabemos ter ocorrido com a aquisição d’A Nova Lusitânia por Serafim

Imprensa da Universidade, p. 209.

50 S./a. (1897) Fallencias – O Primeiro de Janeiro, 29.º Ano - 1897, n.º 22 – Terça-ferira, 26 de janeiro, 1.º fl.

Figura 4 - Sinete da Fundição de António

Alexandre de Leão, Coleção de Carimbos da Fundição de Sinos de Rio Tinto, N.º Inventário: FSRT.C.128; [prova digital a

Jerónimo. A nossa conjetura é suportada não só pela suposta partilha de instalações, mas também pela existência de um sinete com a inscrição Fundição António Alexandre de

Leão - Porto, patente no acervo pertencente à Fundição de Rio Tinto51 (Fig. 4).

Consideramos ainda que o contacto entre ambos os proprietários teria sido facilmente estabelecido devido ao facto de ambos terem estado, em anos diferentes, instalados na Rua do Heroísmo: Alexandre António Leão no n.º 14252 - onde tinha o seu armazém - e

L.F. Rocha, onde trabalhava L.M. da Costa, no n.º 158-164.53 Esta hipótese poderia ajudar

a justificar a transferência para Rio Tinto da fábrica portuense. Volvidos alguns anos, regista-se nova alteração das instalações da fábrica de L. M. Costa. Apesar de tanto Albano Magalhães54 como Luís Sebastian55 apontarem o

ano de 1947 para o acontecimento, a verdade é que os anuários comerciais assinalam a mudança apenas no ano de 195656, estabelecendo-se a fábrica na Rua Dr.

Guilherme Cirne, n.º 108, a sua atual morada. Entre 1947 e 1955, e embora não estivessem disponíveis para consulta exemplares relativos aos anos de 1950 e 1951, são recorrentes os anúncios da fundição que a colocam ainda no Largo da Estação do Caminho de Ferro.57 A

51 Cf. FSRT.C.128 – Carimbo com sinete de Alexandre António Leão, Apêndice 9 – Fichas de Inventário

de Carimbos e Utensílios da Fundição.

52 Cf. SILVA, J.J. Vieira da (ed.) – Almanak do Porto e seu Districto para o anno de 1897 (42.º anno de

publicação). J. J. Vieira da Silva - Sucessor de A. G. Vieira Paiva; Porto: A. G. Vieira Paiva – Editor, p.

450.

53 Cf. SILVA, J.J. Vieira da (ed.) - Almanak do Porto e seu Districto para o anno de 1900 (45.º anno de

publicação). J. J. Vieira da Silva - Sucessor de A. G. Vieira Paiva; Porto: A. G. Vieira Paiva – Editor, p.233.

54 Cf. MAGALHÃES, Albano (1999) – Monografia de Rio Tinto - Apontamentos monográficos. (...), vol. 1, p. 209.

55 Cf. SEBASTIAN, Luís (2008) – História da fundição sineira em Portugal. (...), p. 179.

56Cf. OSÓRIO, M. (dir.) – Indicador Comercial e Industrial da Cidade do Porto 1956; (Ed.) Eduardo Pinheiro Torres, p. 1008

57 Cf. OSÓRIO, M. (dir.) – Indicador Comercial e Industrial da Cidade do Porto 1947-48; (Ed.) Eduardo Pinheiro Torres, p. 898; Cf. OSÓRIO, M. (dir.) – Indicador Comercial e (...) 1949, p. 790; Cf. OSÓRIO, M. (dir.) – Indicador Comercial e (...) 1952,p.898; Cf. OSÓRIO, M. (dir.) – Indicador Comercial e (...)

1953,p. 898; Cf. OSÓRIO, M. (dir.) – Indicador Comercial e (...) 1954,p.898; Cf. OSÓRIO, M. (dir.) – Indicador Comercial e (...) 1955,p. 957;

Figura 5 - Henrique Marques da

Costa com a sua esposa, Ana Dias Vieira. Arquivo da Família

correspondência por nós estudada também confirma esta deslocação na década de 50. A 20 de agosto de 1958, Henrique Marques da Costa (Fig. 5), filho de Laurentino Martins da Costa, endereça uma carta a seus pais, propondo-lhes tomar conta do negócio da família e assegurando-lhes que as suas necessidades doravante seriam garantidas.58

Sabemos que a proposta foi bem recebida por seus pais e irmãs, Albertina Martins de Assunção e Maria Custódia Marques da Costa. Numa carta datada de 1961, indica-se que a escritura foi assinada por volta de 1959.59

Laurentino Martins da Costa faleceu no dia 03 de janeiro de 1962, poucos anos após o seu filho assumir a gerência da fundição. Henrique Marques da Costa, por sua vez, sofre um trágico acidente a 28 de novembro de 1970, que lhe custou a vida, levando a que Ana Dias Vieira (Fig. 5), sua esposa, assumisse o negócio, juntamente com os filhos Alberto Costa e Ângela Maria Costa (Fig. 6), à época menores. A situação administrativa da empresa manteve-se desta forma até ao falecimento de Ana Dias Vieira, no de dia 12 de fevereiro de 2011.

A firma continuaria em laboração por pouco tempo, encerrando em 2012. Após algumas dificuldades, Ana Zaida adquire o imóvel e o que subsistia do seu recheio em 2013. Apesar de inicialmente existir um manifesto interesse em transformar a fábrica num espaço museológico, a verdade é que até à data em que escrevemos ainda não se verificaram avanços significativos nesse sentido.

58 Cf. Figura 9 a.; 9 b. e 9 c. – Declaração que faz Henrique M. Costa a sus pais, 1957, [Fl.1] Acervo da

Fábrica de Fundição de Sinos de Rio Tinto, Anexo 4 – Documentos da Fundição.

59 Cf. COSTA, Henrique Marques da [Carta] – 1961 Mai. 05 - Almada [a] Manuel Francisco Cousinha & Filhos [Impresso]. 1961. 1 fl. Acessível na Fábrica de Fundição de Sinos de Rio Tinto, Apêndice 4 – Tabela

de Recolha e Inventariação de Correspondência, 1957-1970. Figura 6 - Ângela Maria

Costa com o seu irmão, Alberto Costa. Arquivo da