• Nenhum resultado encontrado

Capítulo 6 – Relatório de Estágio

II. Considerações finais

A história da Fundição de Sinos de Rio Tinto e o seu contributo para o panorama sineiro nacional foram assunto relativamente inexplorado até ao presente momento. Contudo, entendemos que com esta investigação trouxemos à luz novos conteúdos e documentos que permitem não só o estudo da fundição gondomarense, como também uma melhor compreensão das dinâmicas do ofício, sendo agora possível saber do modo como se processavam as encomendas e qual o papel desempenhado pelo comitente da obra no século XX. Entendemos que estas informações são particularmente pertinentes na medida em que tornam possível transpor, em parte, estas informações para o passado. Assim sendo, achamos que a validade de um estudo como o que conduzimos fica comprovada, tendo sido descobertas informações que de outro modo nunca ficariam acessíveis.

Analogamente, o mapeamento dos locais para onde foram enviados os sinos fundidos em Rio Tinto afigurou-se apenas possível pela existência da correspondência e de alguns livros de saída de mercadorias. Sendo esse um dos nossos objetivos inicialmente enunciados, lamentamos não nos ter sido possível a visita a mais locais de modo a analisar os sinos. Entendemos que esse trabalho deveria ser feito, abrindo a possibilidade para futuras investigações.

Relativamente aos métodos de fundição, tradicionais e contemporâneos, acreditamos ter conseguido realizar uma leitura diacrónica entes as diversas fontes conhecidas e a atualidade. No entanto, e devido ao notório decréscimo na produção sineira, não nos foi possível observar diretamente o processo de fabrico, tendo sido apenas viável a observação das instalações, a visualização de vídeos e os relatos dos mestres e da bibliografia. De qualquer modo, a Fundição de Sinos de Braga demonstrou já disponibilidade para nos receber durante o mês de Julho, altura em que voltarão a fundir peças.

A inventariação dos utensílios da fundição, e mais concretamente dos carimbos, foi no nosso entender bastante proveitosa, na medida em que permitiu a auscultação de tendências iconográficas no século XX, garantindo igualmente uma melhor compreensão

dos processos não só de execução destes carimbos, mas também da forma como a empresa foi aumentando a sua coleção. Numa outra perspetiva, o referido estudo permitiu igualmente a identificação de algumas práticas, como por exemplo de se aplicarem as datas iniciais dos sinos em alguns casos de refundição, o que pode provocar equívocos na análise destas peças. Apesar disso, continuam a prestar informações preciosas, já que a data de um sino colocado numa torre comprova que ele existia na referida, ainda que o sino em si tenha sido refundido e as suas inscrições copiadas do seu antecessor.

Também no que respeita as questões de afinação e sonoridade dos sinos, achamos ter trazido novos contributos, na medida em que conseguimos apurar o facto dos instrumentos fundidos em Rio Tinto serem afinados e examinados por músicos ou professores de Música do Conservatório. Sabemos, de igual modo, que eram realizados concertos e demonstrações que permitiam aferir a qualidade das peças. Ademais, e pelas informações contidas na correspondência trocada com a Fábrica de Relógios Monumentais de Manuel Cousinha, sabemos que no caso dos carrilhões a afinação era particularmente rigorosa, sendo enviados os lamirés com a afinação desejada para servirem de comparação. Ainda no que concerne as questões musicais, conseguimos demonstrar que pelo menos Henrique Marques da Costa dispunha não só de conhecimentos específicos que lhe permitiam sugerir diversos tipos de escalas para os carrilhões, dominando claramente as harmonias que dali resultariam, mas também sabia ele próprio tanger os sinos, estando encarregue de tocar o carrilhão da Igreja de Rio Tinto, peça fundida pelo seu pai, em ocasiões solenes. A possibilidade de observação do toque manual dos sinos, por ação do Sineiro Hélder Pinto garantiu, por seu lado, igualmente uma melhor compreensão destes sistemas de toque e foi essencial para que conseguíssemos explica-los e ilustrá-los.

Com relação ao papel dos sinos no imaginário coletivo das populações entendemos ter conseguido esclarecer algumas questões, nomeadamente no que respeita ao papel desempenhado pelos sinos em certo número de milagres, contribuindo desse modo para o aumento da devoção em vários locais do país. Acreditamos, assim, que a análise do Santuário Mariano se afigurou bastante profícua, tendo permitido esclarecer alguns pressupostos levantados por Carlos Alberto Ferreira de Almeida, por exemplo – que

associava o toque dos sinos pelas parturientes a determinadas evocações de Nossa Senhora - e comprovou a diversidade de usos e inovações que aos sinos estão associadas. Acerca do Estágio Curricular realizado, devemos reconhecer a sua relevância para a concretização do estudo do acervo da fundição, na medida em que tanto os contactos que permitiu estabelecer como a criação das infraestruturas que potenciou foram determinantes para o sucesso do referido trabalho. Numa outra dimensão, foi bastante enriquecedor por ter permitido o contacto com diversos públicos e o ensaio da criação dos conteúdos para a exposição da Casa Branca de Gramido, experiências que podem agora ser aplicadas à realidade da fundição de sinos.

Temos consciência que estabelecemos objetivos bastante ambiciosos e sabíamos que a presente investigação ficaria, necessariamente, condicionada por algumas opções metodológicas que surgiriam no seguimento das limitações temporais impostas para um projeto desta natureza. Pela dimensão do acervo existente em Rio Tinto, cedo compreendemos que o nosso contributo ficaria limitado à identificação e inventariação dos objetos e correspondência, assegurando assim o seu reconhecimento. Por outro lado, procuramos demonstrar, através de estudos de caso, de que modo os avanços por nós efetuados poderiam ser uteis ao estudo da fundição sineira nacional.

As comunicações apresentadas no I Colóquio Internacional O Gesto e a Crença:

percursos, transferências e intermedialidade e no Congresso Internacional Paisagens Sonoras: Património, História, Territórios artísticos e Arqueologia sonora refletem a

nossa preocupação pela disseminação do conhecimento e valorização da temática dos sinos, vontade continuada com a participação em outras iniciativas como a já agendada comunicação no II Encontro Paisagens Sonora Histórica, agendado para outubro em Évora, ou a leitura, transcrição e preparação da publicação das Tabela para uso do Fiel

da Sacristia presentes na Sé do Porto.

Pelo exposto, o presente trabalho materializa, na nossa opinião, um bom ponto de partida, sendo agora necessário dar continuidade à investigação, seja nas linhas por nós propostas, seja por caminhos completamente diferenciados.

Para terminar, e apesar de não termos conseguido concretizar medidas determinantes para a criação do espaço museológico/centro interpretativo na Fundição de Sinos de Rio

Tinto, importa referir que continuaremos a mover esforços para a dinamização e divulgação daquele local que, pelo seu estado de conservação408, os torna mais urgentes

que nunca.