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A família é uma unidade social complexa, e para reconhecer a forma de relacionar-se dos indivíduos que a compõem, é necessária uma melhor compreensão de sua realidade, seu meio, pois cada família cria o seu próprio ambiente e suas relações. De acordo com Pelzer e Fernandes (1996, p. 340),

A família é a esfera íntima da existência que une por laços consangüíneos ou por afetividades os seres humanos. Como unidade básica de relacionamentos é a fonte primária de suporte social, onde se almeja uma atmosfera afetiva comum, de aquisição de competência e de interação entre seus membros.

Nesse sentido, sabe-se que cada pessoa tem uma função em seu grupo familiar e qualquer situação que envolva os seus integrantes gera reflexos sobre os demais e toda a unidade familiar sobre interferência dos processos podendo gerar mudanças e readequações.

O idoso como um dos integrantes do grupo familiar, tem seu papel relacionado diretamente ao contexto sociocultural em que se insere, pode ser um detentor de conhecimentos para transmiti-los para as próximas gerações ou um provedor financeiro da família; ou mesmo um ser social sem papel definido na sociedade ou simplesmente um pouco de cada coisa, mas se por alguma circunstância da vida apresenta um grau de dependência certamente precisará do suporte familiar.

Segundo Lacerda e Oliniski (2004) o cuidado domiciliar é centrado no indivíduo assistido, na família, em suas respectivas inter-relações e no contexto doméstico, sendo o domicílio considerado como um “porto seguro” no qual se encontram sentimentos, desejos, aspirações, atitudes e comportamentos. O que permite caracterizá-lo como o local mais íntimo em que se vive e onde se encontra a essência do ser humano, contudo por um motivo ou outro, nem sempre se envelhece junto aos familiares.

Sabe-se da existência de instituições de longa permanência para idosos (ILPI), mas no Brasil a grande maioria dos idosos reside com suas famílias e as próprias políticas públicas estimulam para a manutenção dos idosos em seus domicílios como forma de estimular a manutenção dos laços familiares e dá suporte emocional (BRASIL, 2006).

Caldas (2003) afirma que a família e os amigos são a primeira fonte de cuidados. O maior indicador para a institucionalização e outras formas asilamento entre idosos é a falta de

suporte familiar e a inexistência de doença. E o fato de morar só, para o idoso, tem sido associado a um decréscimo na sua qualidade de vida, no agravamento da morbidade e, até mesmo, num indicador de risco de mortalidade.

Quando a família está diante de idosos com certo grau de dependência, novos rearranjos familiares são necessários, tendo em vista que os papéis dos membros da família são modificados. Os familiares necessitam desempenhar cuidados nas atividades diária do idoso como auxílio na alimentação, higiene pessoal, medicação de rotina entre outros; auxilio na recuperação e na qualidade de vida, tornando-se assim “cuidadores” ou designando um “cuidador contratado” para desempenhar este papel. Independente se será os próprios membros da família ou uma pessoa contratada, todas essas circunstâncias alteram o dia a dia do contexto domiciliar e a família por sua vez passa a imprimir aspectos sociais, culturais e emocionais na assistência ao idoso.

Além disso, não é somente a ação da prestar cuidados diretos ao idoso que leva a toda a problemática da assistência prestada no domicílio. As necessidades materiais e emocionais dos indivíduos que compõem o grupo familiar têm grande reflexo no processo, e são profundamente influenciados pelos seus valores, crenças, visão de mundo na formação das formas de cuidar (CALDAS, 2003). Um desses aspectos materiais, inclui recursos financeiros, questões de moradia, transporte e acesso a serviços de saúde. Além disso, algumas famílias são muito pobres, sem condições de fornecer as necessidades básicas ao idoso e em alguns casos a única renda da família é a do próprio idoso; outras precisam trabalhar e não tem com quem deixar o idoso que necessita de cuidados, e não possuem dinheiro suficiente para pagar um cuidador.

No Brasil, o envelhecimento populacional aumentou sua intensidade num momento de dificuldade econômica, e com isso os idosos dependentes de menor poder aquisitivo ficam desamparados e carentes, principalmente devido as políticas públicas que amparam este grupo ainda estarem sendo implementadas na prática. Assim, a família vem progressivamente se tornando a única fonte de recursos disponível para o cuidado do idoso dependente (KARSCH, 2003).

Atualmente existe todo um estímulo para que o idoso seja amparado em seu seio familiar de modo a mantê-lo no domicílio. A própria constituição federal brasileira em seu artigo 299 afirma que “os filhos maiores têm o dever de assistir e amparar os pais na velhice, carência ou enfermidade”, e afirma ainda no parágrafo I deste mesmo artigo que “os programas de amparo ao idoso serão executados preferencialmente em seus lares”.

Sabe-se que ato o de cuidar é algo voluntário do indivíduo, mas por tratar-se de seres humanos envolve sentimentos diversos e contraditórios como raiva, culpa, medo, angústia, confusão, cansaço, estresse, tristeza, nervosismo, irritação e choro. Toda essa erupção de sensações ocorre de forma natural e devem ser compreendida, pois faz parte da relação cuidador e pessoa cuidada (BRASIL, 2006).

Karsch (2003) e Santos (2003) afirmam que cuidar do idoso no domicílio é com certeza, uma situação que deve ser preservada e estimulada, porém, cuidar de um indivíduo idoso e incapacitado durante 24 horas sem pausa é humanamente contra indicado para a saúde, pois são situações de sobrecarga de tarefas e podem levar ao adoecimento do próprio cuidador. Tal fato ocorre em razão da família ser desassistida pelo poder público e assumem sozinha essa responsabilidade de forma integral.

Outra situação é a pouca compreensão sobre as informações transmitidas pelos profissionais da saúde, seja durante a alta hospitalar em caso de internação, seja pelos profissionais que realizam atendimentos na atenção básica nas unidades de saúde ou mesmo através de visita domiciliária.

Tais situações exemplificadas indicam que a assistência prestada ao idoso nem sempre seja adequada. Leal (2000) afirma que a família cuidadora necessita de orientação e suporte dos profissionais a fim de fortalecê-la e orientá-la, quando ela se encontra em processo de fragilização. Essas informações vão desde orientação de cuidados, passando pela forma de manter o ambiente domiciliar, até atingir o suporte emocional e a rede de cuidados aos serviços de apoio e meios que garantam qualidade de vida aos cuidadores.

Resta e Budó ( 2004) reiteram que:

(...) a família de forma alguma deve ser excluída do processo de cuidado, uma vez que faz parte da vida do indivíduo, é sua referência de amor, confiança, e, muitas vezes, é motivo de sua existência. Logo, é necessário perceber que a situação de doença gera ansiedade e incertezas, apontando para a necessidade de o profissional conhecer a família, seus valores, crenças, visão de mundo que influenciam suas formas de cuidar. A partir daí poderá então orientar e assistir o paciente e a família de uma maneira mais adequada e integrada às suas necessidades e à sua cultura.

Segundo a afirmação das autoras citadas, estas, além de reafirmarem a importância da família, elas reforçam a idéia da necessidade da participação dos profissionais da saúde no suporte a assistência no domicílio. Assim sendo para o desenvolvimento de uma melhor assistência é necessário que os profissionais entrem no domicílio, pois é lá o local em que será possível observar o modo como as pessoas enfrentam a situação de doença em seu seio familiar, bem como os recursos disponíveis, os problemas oriundos do cotidiano, seus valores,

crenças, forma de viver. Portanto, os profissionais que trabalham na atenção básica e integram o Programa de Saúde da Família (PSF), necessitam conhecer esta realidade, considerando que as suas atividades se desenvolvem na comunidade.

Segundo Nardi e Oliveira (2008), na prestação da assistência ao idoso, o PSF tem a função de integrar profissionais e família, contribuir e auxiliar na detecção dos recursos necessários para melhorar a qualidade da assistência e de vida do idoso e de seu cuidador dentro da realidade em que eles estão inseridos.

O instrumento utilizado pelos profissionais para conhecer essa realidade é a visita domiciliária que segundo Souza, Lopes e Barbosa (2004), é o meio que permite o reconhecimento dos indivíduos, suas famílias e a comunidade para direcionar as ações de promoção da saúde e prevenção de agravos, realizadas mediante processo racional, com objetivos definidos e pautados nos princípios de eficiência. Em relação ao idoso possibilita conhecer sua realidade e sua família in loco, permite a orientação das pessoas em sua realidade e consequentemente melhora a assistência à saúde, além de fortalecer os vínculos entre cliente, terapêutica e profissionais.

Além disso, o reconhecimento do domicílio permite a troca de experiência entre cuidadores/família e equipe, assegura momentos de troca de sentimentos e reconhecimento dos problemas e leva a reflexão e reconceituação da forma de assistir o idoso, principalmente aqueles que são dependentes da família para desenvolver suas atividades básicas de vida diária (DELLAROZA, 2005).