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As mudanças ocorridas na população devido à transição demográfica de uma população mais jovem para uma população mais idosa, gera transformações no perfil de doenças da população. As doenças crônicas e múltiplas, que são próprias do envelhecimento, estão ganhando maior expressividade.

Sabe-se que envelhecer não é necessariamente adoecer. O indivíduo pode envelhecer de forma natural, sabendo conviver com as limitações impostas, como também pode ser acometido por processos de adoecimento que levam à situação de dependência, sendo necessário o apoio da sociedade e da família. Desse modo é importante ter uma visão do envelhecimento como processo, e dos idosos como indivíduos acometidos por ele.

O envelhecimento gera um processo de alterações morfológicas, fisiológicas, bioquímicas e psicológicas que produzem uma diminuição do desempenho do sistema orgânico e, com isso uma diminuição da capacidade funcional e alterações na inserção social do idoso. A capacidade funcional é a capacidade do indivíduo realizar atividades físicas e mentais necessárias para a manutenção de suas atividades básicas e instrumentais da vida diária, ou seja: tomar banho, vestir-se, realizar higiene pessoal, transferir-se, alimentar-se, manter a continência, preparar refeições, manter controle financeiro, tomar remédios, arrumar a casa fazer compras usar o transporte coletivo, usar o telefone e caminhar uma certa distância. Quando ocorrem alterações na capacidade funcional, leva em alguns casos, a situações de dependência funcional (BRASIL, 2006).

A dependência pode ser temporária ou definitiva, mas ela torna-se mais relevante quando interfere no cotidiano das pessoas. Segundo Pavarini e Néri (2000) dependência é “a incapacidade da pessoa funcionar satisfatoriamente sem ajuda, quer devido a limitações físico-funcionais, quer devido a limitações cognitivas.”

Baltes e Silvenberg (1995) apud Mazza (2008) afirmam que a dependência funcional resulta tanto em mudança fisiológica quanto em mudança social, havendo assim interação entre fatores biológicos e ambientais. Elas afirmam ainda que os principais tipos de dependências são: dependência estruturada, dependência comportamental e dependência física.

A dependência estruturada é a perda do trabalho e/ou da aposentadoria, alterando a estrutura social. Tal processo pode gerar perda da autonomia e do direito de escolha deixando o idoso dependente do sistema social.

A dependência física é a incapacidade funcional, impedindo-o de realizar suas atividades de vida diária. Ela é resultante de transtornos degenerativos cerebrais, acidente vascular cerebral ou outra doença incapacitante. Vale salientar que a incapacidade orgânica nem sempre é condição necessária para depender de outros indivíduos, porém para a sociedade a dependência física em um idoso torna-o um indivíduo incompetente para o sistema social

A dependência comportamental é a mais temida pelo idoso, tendo em vista que ela é a socialmente induzida independente da dependência física. O ambiente onde ele vive é o ponto importante para direcionar esse tipo de dependência, ele pode ser negligente ou superprotetor. Dessa forma a cultura dos que rodeiam o idoso é preponderante para adequar a realidade. Muitas vezes a dependência comportamental é precedida da dependência física.

Sabe-se que os idosos fazem parte do contexto social e sua inserção neste faz-se necessário para que possam desenvolver suas atividades dentro de seus limites e possam manter sua qualidade de vida. Assim, o acompanhamento no domicílio por parte da atenção básica faz-se necessário para avaliar a capacidade funcional e assim identificar as condições como grau de dependência e autonomia para prestar uma melhor assistência ao identificar os cuidados necessários.

Um aspecto importante a ser avaliado e considerado são as alterações dos hábitos culturais desses idosos em relação a toda a sua vida. Ao iniciar um processo de dependência ocorrem mudanças na forma de viver. O idoso precisa alterar os seus hábitos alimentares, vestimentas, atividades diárias, e em alguns casos não pode mais desempenhar atividades que antes os levavam a sensações prazerosas, além de necessitarem passar por situações que vão de encontro à sua formação cultural, como precisar despir-se defronte de outros familiares, passar de chefe da casa à dependente daqueles que antes estavam sob seu comando.

Segundo Brasil (2006), estudos relatam que a dependência para desenvolver as atividades de vida diária (AVD) tende a aumentar ao longo dos anos. Por volta dos 60 anos 5% apresentam algum grau de dependência e entre os idosos com 90 ou mais anos esta dependência aumenta para cerca de 50%.

Desse modo, a preservação da independência, entendida como manutenção da capacidade funcional, é viver sem ajuda para as atividades instrumentais de vida diária e de auto cuidado. Em relação ao idoso ela torna-se bastante relevante, pois permite um olhar em sua saúde física e mental, sua independência na vida diária, e ainda uma integração com o social, por permitir avaliar o suporte familiar e financeiro, fatores importantes que se comprometidos, podem afetar a capacidade funcional do idoso.

Segundo o Ministério da Saúde (2006) existem várias escalas para avaliar a capacidade funcional. A mais utilizada e também a primeira que foi desenvolvida foi à escala de Katz. Esta foi planejada para medir a habilidade do indivíduo em desempenhar suas atividades cotidianas de forma independente e assim determinar as intervenções de reabilitação quando necessárias, ou seja, as atividades de vida diária (AVD). Posteriormente, Lawton desenvolveu um instrumento para avaliar as atividades instrumentais de vida diária (AIVD), ele permite avaliar atividades mais complexas cuja independência para o seu desempenho está diretamente relacionada à capacidade de vida comunitária independente. Existe também o instrumento denominado Medida de Independência Funcional (MIF), que vem sendo adotado e que procura quantificar a ajuda necessária mostrando-se, muito útil no planejamento assistencial, enquanto que os dois anteriormente citados avaliam mais a necessidade de ajuda de terceiros ou não.

Essas escalas são instrumentos importantes para avaliar a influência da capacidade funcional no dia a dia dos idosos e seus familiares. Pois se sabe que muitos idosos com limitações funcionais permanecem no domicílio e com isso necessita-se de uma estrutura de apoio para desenvolver suas necessidades básicas.

Além disso, sabe-se que quando o grau de dependência do idoso no domicílio é intenso, necessita-se de uma adequação no ambiente familiar para prestar os cuidados necessários para que o mesmo tenha a assistência adequada. O contexto sócio-cultural- econômico, em muitos casos, dificulta a busca de soluções para a manutenção do idoso em seu ambiente doméstico. Esta dependência gera alteração da dinâmica familiar, pois necessita de rearranjos financeiros, emocionais e sociais e isso pode levar a problemas familiares, dada à maior demanda por cuidados e serviços de saúde, pela complexidade do cuidado no interior dos domicílios. Dessa forma, o acompanhamento da equipe de saúde é de extrema importância para fornecer as orientações necessárias para melhorar a condição do idoso e dá suporte a família (FARO, 2001).

O acompanhamento desta realidade é uma das atribuições da equipe de saúde da família. Eles desempenham atividades que visam à vigilância à saúde, focalizando a promoção da saúde, a prevenção de agravos e a reabilitação dos indivíduos inseridos diretamente na área adscrita. Esse acompanhamento ocorre na perspectiva de realizar uma atenção integral humanizada, e para realizá-lo considera-se a realidade local e valoriza-se as diferentes necessidades dos indivíduos. Assim, a independência e a autonomia são metas, consideradas por Veras et al (2002) importantes no novo paradigma da atenção à saúde da pessoa idosa, a serem alcançadas, de modo que o apoio deve ser oferecido a população nessa

faixa etária e é uma das funções da equipe de saúde. Além disso, este trabalho deve ser desenvolvido em conjunto com o idoso e a família.