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O envelhecimento é um processo multidimensional que atinge todos os seres vivos. A velhice resulta de várias transformações tanto no indivíduo quanto nas relações por ele estabelecidas na sociedade. A atitude da sociedade para com os idosos apresenta-se com várias facetas, fato observado ao longo da história da humanidade. Segundo Lima e Viegas (1988) o envelhecimento é um processo biológico ligado à visão cultural e social do contexto no qual o individuo se insere.

Nesse sentido, para Debert (1998) o envelhecimento tem como objeto resultante, a velhice considerada como uma categoria culturalmente produzida, que está diretamente ligada às mudanças resultantes dos processos biológicos, e que levam à sociedade a refletir sobre a posição sócio-político-econômica das pessoas idosas, o tratamento a que estão submetidos e sob que aspectos precisam se adequar para identificar os problemas sociais que surgem.

Percebe-se portanto, que a velhice é algo mais do que as transformações ocorridas no corpo biológico, é também cultural e, em relação à pessoa idosa, o corpo físico com suas várias transformações coloca limites e influencia na inserção social do ser. Porém a forma de enfrentar essas transformações varia de acordo com a cultura e os valores de cada sociedade, e de acordo com os seus conceitos sobre a velhice.

Considera-se que uma abordagem antropológica contribui para um melhor entendimento e/ou interpretação das questões relativas à velhice, possibilitando a ampliação desse conhecimento, de maneira que permita a apreensão das experiências subjetivas e de sua interação com os diversos elementos de um contexto social, sendo possível observar a forma de envelhecer de uma sociedade, os seus significados, as suas experiências de vida e mesmo como vive esse idoso (UCHÔA, 2003).

Quando se identifica à posição das sociedades primitivas perante o velho percebe-se que elas variam de acordo com as relações e os papéis sociais de cada indivíduo na comunidade. Assim, entende-se que na velhice está a memória de sua cultura, com os idosos sendo instrumentos de transmissão para às novas gerações de conhecimentos e saberes acumulados mesmo que, os membros de sua comunidade os humilhassem e os maltratassem como se esses fossem um fardo a carregar, fato comum e presente ocorre principalmente nas sociedades menos favorecidas (BEAUVOIR, 1990; MAFFIOLETTI, 2005).

A história descreve que o idoso tem sido mais valorizado nas sociedades ricas do que nas pobres, tendo em vista a questão econômica sobre o seu sustento e, mais nas sociedades sedentárias do que nas nômades, que além da questão do sustento tem a questão do transporte.

Fato que muitas vezes resultavam no abandono desses idosos. Por outro lado, o valor dado a pessoa idosa também relaciona-se com a cultura, o saber e os conhecimentos ligados à magia e ou a religiosidade, possibilitando a criação de relações de autoridade e de privilégios. Tais aspectos, presentes em uma sociedade que valoriza a magia e a religiosidade e a proximidade da pessoa idosa com a morte, inspiram respeito e medo na sociedade, tendo em vista a admiração pelos longos anos vividos e crença de sua proximidade com o sobrenatural, respectivamente (BEAUVOIR, 1990).

Quando se avalia, por exemplo, que algumas sociedades mais concentradas no oriente em relação as do ocidente, percebe-se que as mesmas visualizam o velho como um ser integrante da coletividade que com o passar do tempo se aproxima dos seus ancestrais, e por isso deve ser respeitado. Contrário ao atual estágio da sociedade contemporânea na qual, o idoso é visto como um flagelo da sociedade, e a velhice é vista como um processo penoso, no qual o indivíduo enfraquece a cada dia até chegar à morte sendo essa forma de encarar o envelhecimento relacionada à forma de ver a morte. No oriente, portanto, a morte seria uma passagem na qual o indivíduo transfere-se para uma nova dimensão, sendo necessária uma preparação para tal, enquanto que no ocidente, a morte é vista de forma negativa, como finitude e assim não é um fato desejado na vida do indivíduo (MASSA, 2008).

Porém Uchôa (2003), afirma que as sociedades não ocidentais apesar de terem um respeito aos idosos, com o processo de modernização dos costumes, esses idosos têm perdido o seu papel central na sociedade oriental.

Segundo Beauvoir (1990) à medida que a sociedade vai se tornando mais avançada e/ou equilibrada, civilizada, se aproxima da cientificidade e distancia-se do misticismo, e com isso a sua relação com a velhice se modifica. O velho é valorizado não pela proximidade com o sobrenatural, mas pela cultura que acumulou e pode transmitir. Além disso, destinam-se para eles atividades dentro dos seus limites físicos e não expressam grande prestígio.

A partir dessas afirmações constata-se uma diversidade de formas de envelhecer em diferentes sociedades e sua relação com a transformação social, com isso, a velhice e o envelhecimento deixam de ser encarados como fatos naturais, para serem encarados como fenômenos sociais influenciados pela cultura. Corroborando com tais afirmações, Beauvoir (1990, p.66) afirma que,

(...) a maior parte das sociedades não deixa os velhos morrerem como bichos. Sua morte é cercada de um cerimonial para o qual se reivindica, ou se finge reivindicar, seu ‘consentimento’. Por outro ângulo, muitas sociedades respeitam as pessoas idosas enquanto estão lúcidas e robustas, mas livram-se delas quando se tornam decrépitas e senis.

De acordo com a autora citada, há evidência da forma como a sociedade relaciona-se com os idosos e retrata a questão da exclusão, enfatizando que tal situação para com esses idosos, depende da cultura.

Com isso os aspectos sociais, políticos e econômicos tanto influenciam quanto são influenciados pelo processo de envelhecimento atual da sociedade. No século passado, houve um aumento considerável de idosos, e se no passado à velhice sempre foi algo debatido e analisado, na atual conjuntura o tema tem permanecido ainda mais em evidência.

Segundo Lemos e Medeiros (2006) e o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2010), o envelhecimento da sociedade atual está relacionado ao desenvolvimento social e da ciência, que passa a desenvolver condições para prolongar a vida. Tal fato resulta numa melhoria da qualidade de vida da população, na dimunuição da taxa de fecundidade e da taxa de mortalidade, sendo o próprio envelhecimento populacional resultado desse processo.

Portanto, com essa nova realidade, à qual se depara a atual sociedade, questões relacionadas à promoção da saúde e do bem estar dos idosos, bem como sobre a integração intergeracional, a desconstrução de preconceitos em relação à idade cronológica, às preocupações econômicas acerca da aposentadoria ao final da vida, ou, a busca por um envelhecimento ativo, são questões que permeiam a velhice da sociedade contemporânea atualmente em debate principalmente, a partir de meados do século XX.

Para alguns estudiosos do envelhecimento, há uma impressão de que a sociedade contemporânea, ainda não está preparada para enfrentar essa demanda crescente de idosos resultante da transição demográfica.

Silva (2006) afirma que o fato da sociedade ocidental contemporânea se baseiar nas relações capitalistas de trabalho, os idosos passam a ser substituídos, por pessoas mais jovens nos seus postos de trabalho, o que faz com que os mesmos sejam colocados à margem da sociedade. Tal processo ocorre de forma brusca, sem que a substituição na atividade profissional ocorra de forma gradual, de modo a resultar em exclusão não só econômica, mas acima de tudo social na vida desses indivíduos.

Segundo Pinheiro Júnior (2005) essa exclusão social, também considerada um tipo de violência, muitas vezes não se manifesta de forma concreta, em vários casos elas ocorrem de forma disfarçada e simbólica, revestida por um caráter assistencialista, cujo discurso não demonstra que tais situações ocorram, porém, na realidade, um grande número de pessoas idosas estão vivendo em condições desumanas sem condições para seu auto-sustento.

No imaginário social a velhice é muitas vezes vista como uma carga econômica, seja para a família ou para a sociedade ou até mesmo para o próprio idoso, e que pode levar a

mudanças no dia a dia da família como se fosse necessariamente um problema (MINAYO; COIMBRA JR., 2002).

No Brasil, a velhice encontra-se em processo de descoberta por parte da sociedade, principalmente nas últimas décadas, devido mudanças na pirâmide demográfica, com diminuição da população jovem em relação ao número de idosos. Os indivíduos passaram a conviver com os idosos além dos limites privados, ou seja, do seio familiar, e com isso a sociedade está tendo que adequar os espaços públicos para esta nova realidade. Nessa nova conjuntura, o país necessita desenvolver políticas sociais voltadas para esse segmento da população, pois por muito tempo ele se viu como um país jovem (BARROS, 1998).

Portanto, o atual envelhecimento é um assunto do mundo atual. No Brasil, vem sendo discutido principalmente nas últimas décadas devido à transição demográfica da população ocorrida no século XX, com a mudança dos índices de mortalidade e natalidade antes elevados e com populações predominantemente jovens, para índices reduzidos. Tais fatos gerou aumento da proporção de pessoas idosas, acompanhadas pela mudança do enfoque nas doenças infecto-contagiosas para as doenças crônico-degenerativas. (KALACHE; VERA; RAMOS, 1987).