• Nenhum resultado encontrado

Existem regras especiais conferidas à Fazenda Pública, a fim de atender à sua situação na demanda, que é diferente da situação dos particulares ou das empresas privadas (CUNHA, 2011). Em razão da própria atividade de tutela do interesse público, a Fazenda Pública assume condição diferenciada das pessoas físicas ou jurídicas de direito privado (CUNHA, 2011).

O regime jurídico de Direito Público outorga prerrogativas à Fazenda Pública, mas ao mesmo tempo lhe impondo sujeições ou limitações (SUNDFELD et al., 2000).

Destarte, neste capítulo será exposto brevemente a respeito de algumas das prerrogativas conferidas à Fazenda Pública, para após, no último capítulo, discorrer especificamente da temática do estudo (prerrogativa do Reexame Necessário).

Para a Fazenda Pública, dispõe o artigo 188, do CPC que a mesma terá prazo em quádruplo para contestar (o prazo em quádruplo não guarda pertinência com o procedimento sumário) e em dobro para recorrer (CUNHA, 2011). Contudo, segundo o autor tal regra aplica-se tão somente a prazos legais, mais especificamente aos destinados à contestação e ao recurso, não colhendo prazos judiciais.

O autor menciona inclusive, com respeito ao entendimento firmado pelos tribunais superiores, que não parece que no recurso adesivo, a Fazenda Pública tenha prazo em dobro,

uma vez que o prazo para interposição do recurso adesivo é o mesmo da resposta ou das contrarrazões ao recurso principal.

Ressalta-se que não tem aplicação o artigo 188 na ação rescisória, a qual tem prazo para resposta fixado pelo relator, entre quinze e trinta dias, nos termos do artigo 491, do CPC, conforme também expõe o autor. Todavia, caso o relator determinar a aplicação do artigo 188, constando no mandado citatório, a Fazenda Pública será beneficiada pela regra, consoante firmado pelo STJ (CUNHA, 2011).

No que diz respeito ao mandado de segurança, o doutrinador ensina que quando o recurso é interposto pela autoridade e não pela pessoa jurídica da qual faz parte, não há prazo diferenciado em dobro para recorrer, de acordo com o entendimento do STJ. De outra banda, explica também que o agravo interno, quando interposto pela Fazenda Pública terá prazo em dobro, até mesmo no mandado de segurança.

Cumpre destacar que não se aplica o artigo 188, do CPC quando há regra específica fixando prazo próprio, como o prazo de 20 (vinte) dias para apresentar contestação na ação popular (Lei n° 4.717/1965, artigo 7°, IV), conforme o ensinamento de Moreira (apud CUNHA, 2011).

Consoante leciona Machado (2013), o prazo especial do artigo 188, do CPC é criado pela lei por motivo da organização burocrática que abrange o MP e a Fazenda. Sob esse olhar o autor entende que não é inconstitucional o prazo referido, uma vez que a isonomia é também tratar desigualmente os desiguais. Outrossim, ressalta que não se aplicam cumulativamente os benefícios do artigo 188 e do artigo 191.

Dentre as prerrogativas, está a prescrição em favor da fazenda pública, o que quer dizer que qualquer pretensão que seja formulada contra a Fazenda Pública está sujeita a um prazo prescricional de apenas cinco anos, sendo que deve ser conhecida de ofício pelo juiz (CUNHA, 2011). Ademais, com relação à Fazenda Pública, além das disposições encartadas no Código Civil, aplicam-se as regras contidas no Decreto n° 20.910/32 e aquelas do Decreto Lei nº 4.597/42 (CUNHA, 2011).

De acordo com Cunha (2011), qualquer pessoa dispõe do prazo prescricional de cinco anos para intentar ações condenatórias em face do ente público. O autor ensina também que em se tratando de ações anulatórias ou constitutivas, o prazo de ajuizamento também é de 5 (cinco) anos, porém nas ações anulatórias, tal prazo de cinco anos é decadencial, e não prescricional, pouco importando que a legislação aluda à prescrição, tendo em vista que antes do Código Civil de 2002, todos os prazos extintivos, seja de prescrição ou de decadência, eram denominados, pela legislação de regência de prazos de prescrição. Ainda, refere o doutrinador que sendo caso de ação declaratória não há prazo, pois esta é imprescritível.

Houve especulação jurisprudencial, surgida a partir do novo CC, mais especificamente com a redação do artigo 206, § 3º, V, que reduziu o prazo prescricional para as ações indenizatórias para três anos.

Embora isso, o atual e consolidado entendimento do STJ é da aplicação do prazo prescricional quinquenal, de acordo com o previsto no Decreto 20.910/32, tendo em vista a natureza especial do Decreto, o qual regula a prescrição, seja qual for a natureza, das pretensões formuladas contra o erário, ao contrário do que dispõe o Código Civil, norma geral que regula o tema de forma genérica, que não modifica o caráter especial da legislação e não determina a sua revogação (REsp 1251993 / PR, RECURSO ESPECIAL 2011/0100887-0, Relator(a) Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES (1141), Órgão Julgador: S1 - PRIMEIRA SEÇÃO, Data do Julgamento: 12/12/2012, Data da Publicação/Fonte: DJe 19/12/2012).

De outra banda, as custas e emolumentos, cuja natureza tributária é reconhecida pelo STF, constituem Receita Pública, não se devendo exigir da Fazenda Pública o pagamento das mesmas (CUNHA, 2011). Entretanto, a Fazenda Pública não está liberada do dispêndio com as despesas em sentido estrito, como por exemplo: os honorários do perito (CUNHA, 2011).

Importa mencionar também, que estão dispensados de preparo os recursos interpostos pelo Ministério Público, pela União, pelos Estados, Municípios e respectivas autarquias, visto que gozam, de isenção legal, nos termos do artigo 511, § 1º, do CPC (CUNHA, 2011). Outrossim, alude que a Fazenda Pública encontra-se Igualmente liberada de depósito prévio, quando exigido para a mesma finalidade (artigo 1° - A, da Lei nº 9.494/97).

Por outro lado, Cunha (2011) anota que a execução judicial em face da Fazenda Pública procede-se mediante o precatório, isto é, qualquer que seja a natureza do crédito, deverá de ser submetido à sistemática do precatório, com exceção dos créditos de pequeno valor, que serão mediante Requisição de Pequeno Valor (RPV), no caso de requisição de pagamento de valores de até sessenta salários mínimos.

A execução contra a Fazenda Pública está prevista nos artigos 730 e 731, do CPC (BRASIL, 2014).

Por essa ótica, cabe referir que quando ajuizada execução em face da Fazenda Pública, esta é citada para querendo opor embargos do devedor em trinta dias, de acordo com o artigo 1°- B, da Lei n˚ 9.494/97 (CUNHA, 2011).

Preconiza, nesse sentido, o artigo 1o-B, da Lei nº 9.494/97:

Art. 1º-B. O prazo a que se refere o caput dos arts. 730 do Código de Processo Civil, e 884 da Consolidação das Leis do Trabalho, aprovada pelo Decreto-Lei no 5.452, de 1o de maio de 1943, passa a ser de trinta dias (Incluído pela Medida provisória nº 2.180-35, de 2001) (BRASIL, 2014, grifo do autor).

Desse modo, explica Cunha (2011) que não apresentados ou rejeitados os embargos, o juiz determina a expedição de precatório ao Presidente do respectivo tribunal para restar consignado à sua ordem o valor do crédito, com requisição às autoridades administrativas para inclusão no orçamento geral, com o propósito de pagamento no exercício financeiro subsequente.

Digno de nota que, precatório é o documento que instrumentaliza a ordem de pagamento dirigida ao ente público, sendo um veículo formal de determinação do presidente do tribunal competente para que a Fazenda Pública cumpra o adimplemento da obrigação, consoante ensina Machado (2013). Por fim, frisa o autor que o pagamento pelo ente público é disciplinado no artigo 100, da CF.

Por fim, insta referir a redação do caput artigo 100, da CF, que dispõe da seguinte maneira:

Art. 100. Os pagamentos devidos pelas Fazendas Públicas Federal, Estaduais, Distrital e Municipais, em virtude de sentença judiciária, far-se-ão exclusivamente na ordem cronológica de apresentação dos precatórios e à conta dos créditos respectivos, proibida a designação de casos ou de pessoas nas dotações orçamentárias e nos créditos adicionais abertos para este fim. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 62, de 2009). (Vide Emenda Constitucional nº 62, de 2009) [...] (BRASIL, 2014, grifo do autor).

Do exposto, conforme visto no presente trabalho a Fazenda Pública, não têm as mesmas condições que o particular para defender-se. Assim, como o ente público defende o interesse público, o mesmo faz jus às prerrogativas processuais previstas na legislação, tendo em vista que tal interesse expressa os direitos da sociedade.

Documentos relacionados