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A Plataforma de Beijing contribuiu para ressaltar a importância em se considerar a relação existente entre gênero e pobreza e a consequente urgência em se implementar medidas que contemplem a condição das mulheres pobres, pois foi constatado um aumento desproporcional de indivíduos do gênero feminino, vivendo na pobreza, em relação aos homens, principalmente, nos países do Terceiro Mundo28.

Nesse sentido, o conceito de “feminização da pobreza” está associado ao processo de empobrecimento das mulheres, em decorrência do aumento na proporção de famílias pobres chefiadas por indivíduos do gênero feminino. Para entender o referido processo, é salutar investigar as consequências sociais e econômicas da mulher chefe de família (sem o apoio de um marido), em um contexto social discriminatório e excludente, visto que esse processo, muitas vezes, culmina em reduzi-la à condição de pobreza29.

Enquanto fenômeno especificamente urbano, sugere-se que a “feminização” da pobreza deve ser estudada por aspectos distintos, quais sejam: pelas fontes de renda e pelos resultados das políticas públicas de redução da pobreza. Assim, ela caracteriza as fontes de renda em salarial, em transferência privada (como a pensão alimentícia), e em transferência pública. Esta última poderá ser de duas naturezas: aquela recebida por mulheres em caso de licença ou aposentadoria, nos casos em que elas tiverem direito à seguridade social, e aquela que é recebida por mulheres pobres beneficiadas por programas de redução da pobreza que fazem parte das políticas públicas do Estado30.

No que tange à renda proveniente do próprio trabalho, observa-se que, embora o número de mulheres que participam do mercado de trabalho venha aumentando consideravelmente a cada ano, a sua renda ainda é inferior à dos homens. Outrossim, a maioria delas ocupa atividades tipicamente consideradas femininas, a quais não lhes exige qualquer capacitação ou treinamento profissional. Nesse sentido, a concentração de mulheres

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BARTKY, Sandra. Fortalecimento da Secretaria Especial de Política para Mulheres, p. 11. Disponível em:

<http://portal.mte.gov.br/data/files/FF8080812BAFFE3B012BCB0932095E3A/integra_publ_lourdes_bandeira.p df>. Acesso em: 06/06/2015.

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NOVELLINO, Maria Salet Ferreira. Os Estudos Sobre Feminização da Pobreza e Políticas Públicas para

Mulheres, p. 3. Disponível em:

<http://www.abep.nepo.unicamp.br/site_eventos_abep/PDF/ABEP2004_51.pdf>. Acesso em: 07/03/2015.

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NOVELLINO, Maria Salet Ferreira. Os Estudos Sobre Feminização da Pobreza e Políticas Públicas para

Mulheres, p. 4. Disponível em:

nessa condição apresentou-se estável durante muito tempo, pois muitas delas se ativeram a um número de ocupações de baixa remuneração.

Conforme leciona a especialista31:

Enquanto as mulheres bem como seus empregadores vejam seu trabalho como temporário/secundário, enquanto suas casas e suas famílias sejam seu compromisso principal, elas terão menor probabilidade de se engajar em atividades que representem gastos [com pagamento de benefícios ou treinamento] para seu empregador.

Com base no exposto, muitas mulheres não são valorizadas ou não recebem a capacitação profissional devida por parte do empregador, em virtude de terem seu tempo comprometido com as responsabilidades domésticas ou com seus filhos. Em decorrência dessa realidade, muitas chefes de família optam por abandonar, temporariamente, a força de trabalho, sendo mal interpretadas por seus empregadores, os quais, em certos casos, as julgam, equivocadamente, enquanto profissionais descompromissadas com o trabalho ou com a carreira.

Outro aspecto que ressalta a relação existente entre pobreza e mulheres com filhos e sem cônjuges é a transferência de renda, ou seja, a parte do salário do marido destinado à mulher, com fins a custear as despesas com os filhos e com o lar. Estudos comprovam que a possibilidade da mulher separada ou divorciada receber uma quantia referente ao mesmo valor daquela destinada pelo marido quando ambos ainda se encontravam casados ou em união estável é, consideravelmente, baixa. Além disso, existem muitas que não recebem quaisquer valores, em virtude do companheiro ou esposo não deter condições de lhes fornecer qualquer quantia, haja vista ele encontrar-se, também, em situação de pobreza32.

No que tange à transferência pública, esta engloba toda renda não-salarial recebida pelo Estado, a qual pode ser, basicamente, de dois tipos: aquela que é recebida como uma consequência da participação na força de trabalho (seguridade social: pensão, licença, seguro-desemprego) e aquela que é recebida dentro de um programa de renda mínima33.

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PEARCE, Diane. The feminization of poverty: women, work and welfare. Urban and Social Review, p. 28- 36. Ano 1978.

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NOVELLINO, Maria Salet Ferreira. Os Estudos Sobre Feminização da Pobreza e Políticas Públicas para

Mulheres, p. 3. Disponível em:

<http://www.abep.nepo.unicamp.br/site_eventos_abep/PDF/ABEP2004_51.pdf>. Acesso em: 07/03/2015.

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PEARCE, Diane. The feminization of poverty: women, work and welfare. Urban and Social Review, p. 28- 36. Ano 1978.

Segundo a autora Diane Pearce34:

(...) as mulheres estão sub-representadas entre os beneficiários da seguridade social, e estão ainda mais sub-representadas quando se trata de valor recebido. Sub- representadas estão, também, no seguro-desemprego, pois há certas ocupações que estão excluídas deste benefício e que são exercidas, majoritariamente, por mulheres,

como o trabalho doméstico”.

Conforme se pode inferir, muitas mulheres que recebem auxílio financeiro oriundo de programas governamentais estão sujeitas a um círculo vicioso, em que elas recebem um valor abaixo da estimativa do custo de vida da região em que vivem – o qual, nem sempre, corresponde à necessidade mínima da sobrevivência da família e, muitas vezes, não leva em consideração o seu tamanho – de modo que não lhes resta outra alternativa, salvo complementar os benefícios recebidos com empregos. Contudo, observa-se que, na maioria dos casos, a remuneração estipulada por esses empregos é muito baixa, de modo que as mulheres sujeitas a essa situação não conseguem deixar de solicitar auxílio financeiro em programas governamentais. Nesse sentido, constata-se, pois, a deficiência desses programas, visto que eles não incluem qualquer iniciativa que viabilize a essas beneficiárias a possibilidade de sobrepujar a condição de extrema pobreza35.

Com fulcro nas considerações supramencionadas, pode-se inferir que a pobreza masculina e a pobreza feminina requerem soluções distintas, em virtude de se tratarem de problemas distintos, pois, de acordo com seu entendimento, vários estudos comprovam que o número de filhos nas famílias lideradas por indivíduos do gênero masculino é maior do que nas famílias de chefia feminina, o que atribui aos homens uma maior carga de dependência. Quanto às mulheres, o maior desafio se reflete em relação às dificuldades por elas enfrentadas no mercado de trabalho36.

Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), ressaltam-se as seguintes informações: quase metade das mulheres chefes de família têm cinquenta anos ou mais; o nível de instrução dessas mulheres é mais baixo que o dos homens; menos da metade das mulheres chefes de família são economicamente ativas; menos de 20%

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PEARCE, Diane. The feminization of poverty: women, work and welfare. Urban and Social Review, p. 28- 36. Ano 1978.

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NOVELLINO, Maria Salet Ferreira. Os Estudos Sobre Feminização da Pobreza e Políticas Públicas para

Mulheres, p. 5. Disponível em:

<http://www.abep.nepo.unicamp.br/site_eventos_abep/PDF/ABEP2004_51.pdf>. Acesso em: 07/03/2015.

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NOVELLINO, Maria Salet Ferreira. Os Estudos Sobre Feminização da Pobreza e Políticas Públicas para

Mulheres, p. 5. Disponível em:

recebem pensão ou aposentadoria; e os rendimentos das mulheres são muito mais baixos do que os dos homens37. Assim, presume-se que as dificuldades vividas por mulheres pobres que se separam de seus maridos ou companheiros ou que nunca os tiveram, em manterem a si mesmas e a seus filhos, encontram raízes na menor ou na pior participação feminina na força de trabalho.

Conforme dados do IBGE, no Brasil, o percentual de famílias chefiadas por mulheres (reconhecidas como responsáveis pelo lar) progrediu de 22,2% para 37,3%, entre 2000 e 201038. Nesse sentido, “os domicílios chefiados por mulheres estão sobrerepresentados entre os pobres, fato que é atribuído à discrepância de renda entre esses domicílios e os de chefia masculina, visto que conta, em geral, com a renda de apenas um adulto, cujo capital humano é menos qualificado” 39. Embora tenha havido uma maior iniciativa feminina pela inserção no mercado de trabalho, ainda assim, dados do IBGE comprovam que os níveis de atividade ainda se apresentaram mais elevados para os homens

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. Desta feita, os aludidos autores constataram que a situação das crianças nos domicílios de chefia feminina é pior do que em outros tipos de domicílio, apesar de existir entendimento diverso, no sentido de inferir que as famílias lideradas por homens pobres e sem cônjuge sofreriam maior desvantagem em relação às demais categorias familiares, embora o número de domicílios pobres com chefia masculina sem cônjuge seja considerado muito pequeno41.

A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD), em um levantamento demográfico realizado no primeiro trimestre de 2014, constatou que as mulheres permaneceram enquanto maioria entre as pessoas em idade de trabalhar. No 4º trimestre de

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NOVELLINO, Maria Salet Ferreira. Os Estudos Sobre Feminização da Pobreza e Políticas Públicas para

Mulheres, p. 5. Disponível em:

<http://www.abep.nepo.unicamp.br/site_eventos_abep/PDF/ABEP2004_51.pdf>. Acesso em: 07/03/2015.

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Dados divulgados pelo sítio eletrônico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, disponível em: http://www.dhescbrasil.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=692:dados-estatisticos- revelam-mudancas-na-situacao-socio-economica-das-mulheres-no-brasil&catid=69:antiga-rok-stories. Acesso em: 19.12.2014.

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NOVELLINO, Maria Salet Ferreira. Os Estudos Sobre Feminização da Pobreza e Políticas Públicas para

Mulheres, p. 7.

Disponível em: <http://www.abep.nepo.unicamp.br/site_eventos_abep/PDF/ABEP2004_51.pdf>. Acesso em: 07/03/2015.

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Dados disponíveis em:

http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/mapa_mercado_trabalho/comentarios.pdf, p. 51.. Acesso em: 07/03/2015.

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NOVELLINO, Maria Salet Ferreira. Os Estudos Sobre Feminização da Pobreza e Políticas Públicas para

Mulheres, p. 7 e 8.

Disponível em: <http://www.abep.nepo.unicamp.br/site_eventos_abep/PDF/ABEP2004_51.pdf>. Acesso em: 07/03/2015.

2014, elas representavam 52,4% da população brasileira. Ressalta-se que este resultado foi similar nos demais trimestres observados pela PNAD42.

A análise dos dados coletados pelo aludido instituto confirmou um contingente maior de mulheres em idade de trabalhar em todas as Grandes Regiões, conforme ilustra o gráfico a seguir.

Os dados do PNAD comprovam que, mesmo sendo consideradas as mulheres a maioria na população em idade de trabalhar, todavia, entre as pessoas ocupadas, verificou-se a predominância de homens (57,0%). Este fato foi observado em todas as regiões, sobretudo na Norte, onde os homens representavam 61,1% dos trabalhadores no 4º trimestre de 2014, conforme ilustra o quadro a seguir. Segundo o instituto, ao longo da série histórica da pesquisa, este quadro não se alterou significativamente43.

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Dados divulgados no sítio eletrônico do IBGE, disponível em:

ftp://ftp.ibge.gov.br/Trabalho_e_Rendimento/Pesquisa_Nacional_por_Amostra_de_Domicilios_continua/Comen tarios/pnadc_201404_trimestre_comentarios.pdf, p. 6. Acesso em: 23.12.2014.

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Dados divulgados no sítio eletrônico do IBGE, disponível em:

ftp://ftp.ibge.gov.br/Trabalho_e_Rendimento/Pesquisa_Nacional_por_Amostra_de_Domicilios_continua/Comen tarios/pnadc_201404_trimestre_comentarios.pdf , p. 10. Acesso em: 23.12.2014.

Ainda segundo os dados coletados, as análises refletiram diferenças no nível da ocupação entre homens e mulheres, ou seja, a proporção de homens com 14 anos ou mais de idade trabalhando era superior ao de mulheres deste mesmo grupo etário também trabalhando. Desta feita, o nível da ocupação dos homens, no Brasil, foi estimado em 68,2% e o das mulheres, em 46,7%. O comportamento diferenciado deste indicador entre homens e mulheres foi verificado nas cinco Grandes Regiões da Federação, com destaque para a região Norte, onde a diferença entre homens e mulheres foi a maior (cerca de 27 pontos percentuais), e a Sul com a menor diferença (cerca de 19 pontos percentuais), conforme demonstra o gráfico a seguir44:

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Dados disponíveis no sítio eletrônico do IBGE, cujo endereço é:

ftp://ftp.ibge.gov.br/Trabalho_e_Rendimento/Pesquisa_Nacional_por_Amostra_de_Domicilios_continua/Comen tarios/pnadc_201404_trimestre_comentarios.pdf, p. 18.

Diferentemente do que foi observado para as pessoas ocupadas, o percentual de mulheres na população desocupada foi superior ao de homens. No 4º trimestre de 2014, elas representavam 51,7% dessa população. Em quase todas as regiões, o percentual de mulheres na população desocupada era superior ao de homens, exceto na Nordeste (49,8%). Na Região Norte, a participação das mulheres era ainda maior, elas representavam 55,3% das pessoas desocupadas, conforme ilustra o gráfico abaixo45:

Em relação às taxas de desocupação, as análises demonstraram que a taxa de desocupação feminina se sobrepôs à taxa de desocupação masculina de maneira significativa,

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Dados divulgados no sítio eletrônico do IBGE, disponível em:

ftp://ftp.ibge.gov.br/Trabalho_e_Rendimento/Pesquisa_Nacional_por_Amostra_de_Domicilios_continua/Comen tarios/pnadc_201404_trimestre_comentarios.pdf, p. 22.

e esse comportamento foi verificado nas cinco Grandes Regiões da Federação. Assim, a taxa foi estimada em 5,6% para os homens e em 7,7% para as mulheres. A taxa total para este período ficou em 6,5%, ou seja, a taxa de desocupação feminina se sobrepôs à taxa total de desocupação, segundo expõe o gráfico abaixo:

Por fim, a população fora da força de trabalho, segundo o levantamento realizado pela PNAD, era composta, em sua maioria, por mulheres. No 4º trimestre de 2014, elas representavam 66,2%. Em todas as regiões, o comportamento foi similar e, conforme os dados coletados pelo aludido instituto, essa configuração também não se alterou significativamente ao longo da História brasileira. Segue abaixo o gráfico que disponibiliza essas informações:

Em relação às formas de inserção no mercado de trabalho, em janeiro de 2008, entre as mulheres ocupadas, apenas 37,8% delas tinham trabalho com Carteira Assinada no Setor Privado. Em relação aos homens, esse percentual foi de 48,6%. Na forma de Trabalhador Doméstico, a participação feminina foi de 16,5% e a masculina, de 0,7%. Nas demais formas de inserção, as mulheres ocupadas estavam distribuídas da seguinte forma: Empregados sem Carteira Assinada, 12,1%; Conta Própria, 16,9% e Empregador, 3,0%. Em termos regionais, a maior concentração de mulheres ocupadas com carteira assinada foi na região metropolitana de Porto Alegre (42,4%); e na região metropolitana de Salvador, o maior percentual das mulheres ocupadas em trabalhos domésticos (18,9%) em janeiro de 200846.

Segundo dados disponibilizados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no que tange à distribuição entre as atividades econômicas, em janeiro de 2008, das mulheres ocupadas, verifica-se que 16,5% delas estavam nos Serviços Domésticos; 22,0%, na Administração Pública, Educação, Defesa, Segurança, Saúde; 13,3%, nos Serviços prestados à Empresa; 13,1%, na Indústria; 0,6%, na Construção, 17,4%, no Comércio e 17,0%, em Outros Serviços e Outras Atividades47. Em relação aos homens ocupados, predomina a participação, na indústria, com um percentual de 20,0%, e, diferentemente das

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Dados divulgados no sítio eletrônico do IBGE, disponível em:

http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/indicadores/trabalhoerendimento/pme_mulher/Suplemento_Mulher_200 8.pdf, p. 7. Acesso em 27.12.2014.

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Dados divulgados no sítio eletrônico do IBGE, disponível em:

http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/indicadores/trabalhoerendimento/pme_mulher/Suplemento_Mulher_200 8.pdf, p. 8. Acesso em 27.12.2014.

mulheres, eles têm um maior percentual de ocupação na construção, no caso, de 12,0%, e presença reduzida nos Serviços Domésticos, 0,7% 48.

Ainda segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o rendimento de trabalho das mulheres, em maio de 2010, estava estimado em R$ 1.097,93, e este valor continua sendo inferior ao dos homens (R$ 1.518,31). Em 2009, comparando a média anual dos rendimentos dos homens e das mulheres, verificou-se que, em média, as mulheres ganham em torno de 72,3% do rendimento recebido pelos homens. Em 2003, esse percentual era 70,8%. Essa diferença entre os rendimentos permanece, mesmo se for levado em consideração um grupo mais homogêneo, com a mesma escolaridade e do mesmo grupamento de atividade. Segundo as informações do Instituto, tanto para as pessoas que possuíam 11 anos ou mais de estudo quanto para as que tinham curso superior completo, os rendimentos da população masculina eram superiores aos da feminina. Verificou-se, também, que nos diversos grupamentos de atividade econômica, a graduação superior não se constituiu em um fator de aproximação dos rendimentos recebidos por homens e mulheres. Na verdade, percebe-se que a diferença acentua-se ao se levar em consideração a graduação superior enquanto fator de análise. No caso do Comércio, por exemplo, a diferença de rendimentos para a escolaridade de 11 anos ou mais de estudo é de R$ 616,80 a mais para os homens. Quando a comparação é feita para o nível superior, ela é de R$ 1.653,70 para eles49.

Ao analisar os dados anteriores com o critério de nível de escolaridade, percebe-se a contradição que assola o mercado de trabalho brasileiro: enquanto 61,2% das trabalhadoras tinham 11 anos ou mais de estudo, ou seja, pelo menos o ensino médio completo, para os homens, este percentual era de 53,2%. Destaca-se, ainda, que a parcela de mulheres ocupadas com curso de nível superior completo era de 19,6%, superior ao dos homens, 14,2%. Por outro lado, nos grupos de anos de estudos com menos escolaridade, a participação dos homens era superior a das mulheres50.

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Dados divulgados no sítio eletrônico do IBGE, disponível em: http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/indicadores/trabalhoerendimento/pme_mulher/Suplemento_Mulher_200 8.pdf, p. 10. Acesso em 27.12.2014.

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Dados divulgados no sítio eletrônico do IBGE, disponível em:

http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/indicadores/trabalhoerendimento/pme_nova/Mulher_Mercado_Trabalho _Perg_Resp.pdf, p. 12. Acesso em 27.12.2014.

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Dados divulgados no sítio eletrônico do IBGE, disponível em:

http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/indicadores/trabalhoerendimento/pme_nova/Mulher_Mercado_Trabalho _Perg_Resp.pdf, p. 5. Acesso em 28.12.2014.

Como se pode constatar, no Brasil, as mulheres constituem, evidentemente, um grupo em considerável desvantagem, seja no mercado de trabalho, nas instâncias de decisão ou no acúmulo de atividades não-remuneradas51. Conforme os dados disponibilizados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), consideráveis avanços da taxa de participação feminina, no mercado de trabalho, foram perceptíveis nas últimas décadas, mas ela permanece, ainda assim, inferior à taxa de participação masculina. Além disso, esta se concentra, muitas vezes, em trabalhos mal remunerados e precários, os quais, em sua maioria, pertencem à economia informal. Constata-se, também, que são maiores, entre as mulheres, as taxas de emprego informal e menor a presença sindical52. Assim explana o entendimento dos indicadores sociais de 201453

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Embora a taxa de formalização entre homens e mulheres seja bastante próxima, as mulheres recebem em média menos que os homens em todas as formas de trabalho, seja formal ou informal. No entanto, a relação de desigualdade de rendimentos entre homens e mulheres é maior nos trabalhos informais. Em 2013, o rendimento médio das mulheres em trabalhos informais era equivalente a 65% do rendimento médio dos homens nesses trabalhos. Nos trabalhos formais essa relação era de 75%. Vale ressaltar que essa desigualdade de rendimento segundo o sexo era maior em 2004, cuja redução foi possível em virtude de um maior crescimento do rendimento das mulheres em trabalhos informais no período (56,8%) (...). Logo, os resultados indicam que uma maior formalização no mercado de trabalho implica não somente o acesso a direitos trabalhistas e de proteção social, mas o acesso a postos de trabalhos que oferecem condições de rendimento melhores.

Diante do exposto, pode-se afirmar que os domicílios chefiados por mulheres são considerados um dos grupos mais vulneráveis à pobreza, e essa categoria social, nas duas últimas décadas, teve um crescimento considerável, sobretudo, na América Latina, especialmente, em regiões urbanas. No que tange ao Brasil, ao se analisarem as estatísticas de gênero divulgadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), constata-se que,