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A FLEXIBILIZAÇÃO DOS DIREITOS TRABALHISTAS NO PERU E OS

5 FLEXIBILIZAÇÃO DAS NORMAS TRABALHISTAS E O IDEÁRIO DE

5.2 A FLEXIBILIZAÇÃO DOS DIREITOS TRABALHISTAS NO PERU E OS

Assim como na maioria dos países da América Latina, até a década de 90, o Peru possuía um mercado de trabalho muito regulado, com rígida normatização do Direito do Trabalho, vigendo, em matéria de emprego, a lei da estabilidade laboral (Ley de estabilidad laboral) e, em matéria de

93 Vale ressaltar que isso não foi o que aconteceu no Brasil, que saltou da relação de escravidão para a relação de

direitos coletivos, a ampla liberdade sindical para negociação coletiva no âmbito de cada ramo de atividade.94

A partir da década de 90 teve início um processo de mudança na legislação laboral peruana que levou aquele país a ser um dos que mais flexibilizou seu mercado de trabalho. As reformas ali operadas permitiram, em síntese, redução dos custos da rescisão dos contratos de emprego; o fim do direito à estabilidade no emprego por despedida arbitrária; a criação de numerosas modalidades de contratos temporários (Decreto Supremo 077-90-TR, que regulamentou o Decreto-Lei 18.138), assim como regimes especiais dirigidos a jovens, os quais reduziam os custos salariais; e permissão de cortes salariais para os empregados em greve.95

Em compasso com essas reformas flexibilizadoras dos direitos trabalhistas, em 1993, foi promulgada a nova Carta Política do Peru, que cuidou de contemplar no texto constitucional uma nova fórmula de direito à estabilidade laboral que limita a outorgar ao trabalhador o direito a uma adequada proteção legal frente à despedida arbitrária, submetendo à lei as formas concretas de proteção.96

Essas diversas medidas, desestimularam o trabalhador a manterem-se associados aos sindicatos profissionais, razão pela qual a taxa de sindicalização dos assalariados privados, em Lima, caiu de, uma média, de 19,6% entre 1989 e 1991 para 6,5% entre 1995 e 1997.97

Não é demais registrar que o período compreendido entre 28 de julho de 1990 e 22 de novembro de 2000 foi o do governo Alberto Fujimori, conhecido mundialmente pela implantação do programa alcunhado por “Fujichoque”, pacote de medidas econômicas que visavam à estabilizar a economia daquele país.

94 ROJAS, Zoila Margarita Romero. La Cuestión Sindical de los Regímenes Laborales Especiales en el

Ordenamento Jurídico Peruano. 263 f. Monografia (Graduação em Direito). Pontifícia Universidade Católica do Peru, Lima, 2017, p. 31. Disponível em: <http://tesis.pucp.edu.pe/repositorio/handle/123456789/8314>. Acesso em: 10 mar. 2019.

95 ROJAS, Zoila Margarita Romero. La Cuestión Sindical de los Regímenes Laborales Especiales en el

Ordenamento Jurídico Peruano. 263 f. Monografia (Graduação em Direito). Pontifícia Universidade Católica do Peru, Lima, 2017, p. 32. Disponível em: <http://tesis.pucp.edu.pe/repositorio/handle/123456789/8314>. Acesso em: 10 mar. 2019.

96 ROJAS, Zoila Margarita Romero. La Cuestión Sindical de los Regímenes Laborales Especiales en el

Ordenamento Jurídico Peruano. 263 f. Monografia (Graduação em Direito). Pontifícia Universidade Católica do Peru, Lima, 2017, p. 35. Disponível em: <http://tesis.pucp.edu.pe/repositorio/handle/123456789/8314>. Acesso em: 10 mar. 2019.

97 ROJAS, Zoila Margarita Romero. La Cuestión Sindical de los Regímenes Laborales Especiales en el

Ordenamento Jurídico Peruano. 263 f. Monografia (Graduação em Direito). Pontifícia Universidade Católica do Peru, Lima, 2017, p. 34. Disponível em: <http://tesis.pucp.edu.pe/repositorio/handle/123456789/8314>. Acesso em: 10 mar. 2019.

Como forma de levar à frente todas as suas pretensões de transformação econômica do país, Fujimori implantou a ditadura no Peru, fechando o Congresso, suspendendo as garantias constitucionais e submetendo o Judiciário ao Executivo Federal.

Importante afirmar, ainda, que as medidas intentadas pelo governo Fujimori, que coincidiram com a retração de direitos trabalhistas somente tiveram lugar pela crise econômica, sem precedentes, que assolava o Peru até a década de 90. Naquela oportunidade, o país vivia um contexto de hiperinflação de 7000% ao ano, considerada a maior do mundo, de forma que o arrocho imposto aos direitos trabalhistas tinha base na lógica do necessário crescimento econômico.

O Peru da década de 90 investiu numa política econômica, comandada “a ferro e fogo”, em detrimento de uma política social. Foi a época do milagre econômico peruano, que não representou, na mesma medida, porém, melhoria nas condições de vida e trabalho da população, que, em sua maioria, vivia na informalidade ou em empregos temporários.

Os governos posteriores ao de Fujimori (Toledo, García e Humala) não mudaram a lógica de recrudescimento dos direitos trabalhistas, ao contrário, mantiveram-se no rumo da flexibilização desses direitos como forma de vencer, inclusive, as novas crises econômicas enfrentadas em decorrência, principalmente, da crise norte-americana de 2008 e 2009, por ser este o principal mercado consumidor de suas matérias-primas.

Não obstante a opção pela manutenção de uma política neoliberal, o governo Ollanta Humala perseguiu um maior equilíbrio entre a política econômica e a política social, buscando equacionar a lógica do capital à do mercado de trabalho.

No campo do Direito Coletivo do Trabalho, o Peru editou a Lei de Relações Coletivas de Trabalho (LRCT), instituída pelo Decreto Supremo nº. 010-2003-TR. Este instrumento legal regula a liberdade de associação, negociação coletiva e greves, direitos consagrados no artigo 28 da Constituição Política do Estado do Peru e, não obstante as alterações implementadas em relação a legislação anterior, também em termos de negociação coletiva, este novo regulamento sindical peruano faz parte das diretrizes predominantes da legislação latino-americana mais tradicional sobre o tema: intervencionismo estatal, procedimentalização e estrutura empresarial descentralizada por empresa.

En línea con lo visto, se ha afirmado, con innegable autoridad, que, también en materia de negociación colectiva, la nueva reglamentación sindical peruana se inscribe en los lineamientos predominantes de la legislación latinoamericana más tradicional sobre el punto: intervencionismo estatal, aguda procedimentalización y estructura negocial descentralizada por empresa (Ermida Uriarte, 1994, p. 6). A partir de lo dicho, se avizora claramente que el peso de la autonomía colectiva resulta poco significativo. Esta no es una novedad en la historia peruana, sino más bien un evidente signo de continuismo, que, si bien ha sufrido algunos retoques cosméticos en la Ley de Relaciones Colectivas de Trabajo (LRCT) vigente (Poder Ejecutivo, 2003), muestra sin dificultad los principales rasgos fisonómicos intervencionistas de nuestro modelo de relaciones laborales.98

Como se vê, a liberdade de regulamentação ou autonomia sindical normativa não foi prestigiada com altivez na legislação peruana, que disciplinou a matéria coletiva de forma parcimoniosa, sem conferir amplos poderes às entidades sindicais para representação da vontade coletiva.

Na contramão, portanto, da legislação internacional, onde a liberdade sindical ganhava contornos cada vez mais amplos, sob os auspícios das Convenções Internacionais da OIT, sendo as principais delas, nesse campo, as de nos. 87 e 98, a LRCT restringiu o espaço de atuação da autonomia negocial coletiva.

Ao tratar dessas restrições da LRCT Alfredo Villavicencio Ríos lecionou:

La normativa nacional ha recogido el principio de que las organizaciones sindicales se rigen por lo establecido en sus propias normas, sin que seencuentre ni en la LRCT, ni en su reglamento, ninguna estipulación dedicada expresa y sistemáticamente a la forma y contenido que deban tener estas normas. Sinembargo, una lectura atenta de su texto va a arrojar como resultado que, sin referencia alguna a este derecho, ambas disposiciones regulan materias que caen directamente en su ámbito de acción. Así, encontramos que se establece, en todos loscasos con clara vocación restrictiva, regulaciones de fondo sobre fines y funciones de las organizaciones sindicales (artículo 8 de la LRCT), obligaciones (artículo 10 dela LRCT), restricciones a sus actividades (artículo 11 de la LRCT), requisitos paraser miembro (artículo 12 de la LRCT), órganos y sus atribuciones (artículos 7 y 21-23 de la LRCT y artículos 9-11 del DS 011), requisitos para ser miembro de la JuntaDirectiva (artículo 24 de la LRCT), condicionamientos para separar o expulsar a susmiembros (artículo 26 de la LRCT), patrimonio sindical (artículos 27 y 33 de laLRCT), y disolución (artículo 33). Esta relación, que tiene prácticamente las mismas estipulaciones en el ámbito de las organizaciones sindicales de funcionarios públicos, pone en evidencia el casi insignificante espacio que la regulación legal ha dejado a la autonomía normativa (y a la que se

98 RÍOS, Alfredo Villavivencio. La Negociación Colectiva en el Perú: la hiperdescentralización y sus

múltiplesinconvenientes. Derecho Pontificia Universidad Católica del Perú, n. 75, julio/diciembre, 2015, p. 339. Disponível em: <http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=533656134015>. Acesso em: 10 mar. 2019.

adscriben materialmente tales normas),configurando una transgresión del derecho que resulta a todas luces muy grave.99

De tudo o quanto exposto, nota-se que o sistema de direito sindical peruano não prestigiou a autonomia privada coletiva, seguindo caminho bem diverso do que tem sido a tendência das legislações trabalhistas em todo o mundo, sob o influxo das regras da livre iniciativa do mercado e da liberdade sindical, seja para autorregulação interna das entidades sindicais, seja de autodeterminação das normas a reger as relações coletivas de trabalho.

5.3 A REESTRUTURAÇÃO DO DIREITO DO TRABALHO NA ARGENTINA NEOLIBERAL