• Nenhum resultado encontrado

A formação de atitude em relação ao módulo de prescrição de enfermagem adotado no

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES

4.2. A aplicabilidade do framework teórico na perspectiva de gestores hospitalares

4.2.3. A formação de atitude em relação ao módulo de prescrição de enfermagem adotado no

Conhecer uma inovação e seus requisitos é diferente do reconhecimento de sua utilidade, que é o que ocorre na fase de persuasão, quando uma unidade de decisão forma uma atitude favorável ou desfavorável em relação à inovação (ROGERS, 1983). Este estudo revelou a atitude mais favorável dos gestores em relação ao módulo. Dentre os 13 gestores entrevistados, 11 explanaram sobre os atributos relativos ao módulo de prescrição de enfermagem considerados na etapa de persuasão.

76 Primeiramente, verificou-se que o módulo incorporava processos de enfermagem maduros aperfeiçoados no dia-a-dia do hospital de referência – o Hospital de Clínicas de Porto Alegre – demonstrando, a incorporação de expertise externa, categoria proposta por Marsan e Paré (2013). Além disso, dois gestores reconheceram que a tecnologia podia ser acessada via

web, demonstrando que a tecnologia pode transmitir comunicação para os indivíduos para

executar várias funções, independentemente do paradeiro dos usuários – isso remete à categoria ubiquidade proposta por Lai, Lin e Tseng (2014) – pois conforme declarou o GUE4:

“(...) ‘aonde’ eu estiver, com um computador, eu posso visualizar a questão daquele determinado paciente, ‘né’?”.

Os gestores mencionaram a compatibilidade do módulo com as necessidades do HUB, do ponto de vista da prescrição de enfermagem. Esta tecnologia foi percebida como consistente com as necessidades dos adotantes, proporcionando um impulso para o cumprimento da Resolução COFEN nº 358, de 15 de outubro de 2009, e atendendo aos interesses da comunidade de enfermagem. Nesse caso, observou-se uma categoria a posteriori, que se denominou normas e resoluções dos conselhos profissionais que podem impactar a adoção de tecnologias da informação em gestão e assistência hospitalar.

Ademais, os gestores perceberam que este módulo possibilitaria o desenvolvimento de um movimento nacional, formando uma rede de cooperação entre os HUFs. Nesse caso, os HUFs progressivamente estão adotando módulos idênticos, possibilitando o compartilhamento de informações em um sistema de gestão interoperável. As condições de interoperabilidade foram destacadas por Gagnon et al. (2010). A interoperabilidade é a capacidade dos sistemas de computador ou software para trocar e fazer uso de informações (Oxford Dictionary of

English, 2016). Demonstrando isso, o GUE2 afirmou:

“(...) se a gente trabalha na rede (...), então, há essa necessidade, porque se eu estou aqui (...), eu preciso saber da prescrição do paciente lá na maternidade, eu acesso aqui e eu consigo visualizar, ‘né’? (...) Então, eu acho que [ ] ele vem ‘pra’ essa necessidade [ ], desse trabalho em equipe, desse trabalho em rede mesmo”.

Tendo em vista que, antes da adoção do módulo, quando formalizada, a prescrição de enfermagem era registrada no papel, os gestores do hospital perceberam vantagens com a adoção do módulo de prescrição de enfermagem, o que remete ao atributo vantagem relativa proposto por Rogers (1983), na visão dos gestores, porque esta tecnologia da informação foi percebida como melhor do que a tecnologia anterior em termos de segurança da informação, proporcionando também maior qualidade do serviço prestado, facilitando o registro dos dados coletados durante as rotinas de enfermagem, e demonstrando sua utilidade.

77 A complexidade, de acordo com Rogers (1983) representa o grau em que uma inovação é percebida como relativamente difícil de entender e usar. Moore e Benbasat (1991) renomearam tal variável a partir da influência de Davis (1989) como facilidade de uso percebida. Neste estudo de caso, o módulo foi caracterizado como uma ferramenta bastante intuitiva, didática e rápida. Sobre a baixa complexidade, o GUE6 afirmou:

“É bem simples, ele traz uma facilidade de fazer (...). Talvez, se fosse um módulo mais complexo ele não ia”.

Além disso, o módulo de prescrição de enfermagem adotado é percebido como uma forma de valorização das rotinas de enfermagem, conduzindo à melhoria da qualidade assistencial e proporcionando maior enfoque no paciente. O Quadro 9 sintetiza as declarações dos gestores sobre a etapa a formação de atitude em relação ao módulo, relacionando-as às categorias definidas aprioristicamente e a posteriori.

Quadro 9 - Categorização das declarações sobre a etapa de persuasão

Declarações sobre a etapa de persuasão

Quais entrevistados citaram? Categorias definidas a priori Categorias definidas a posteriori Referências

Módulo com funcionamento via web GE1, GUE4 Ubiquidade Lai, Lin e Tseng

(2014) Baixo grau de complexidade do módulo GUE6, GUE9 Complexidade Rogers (1983) Forma de valorização do processo de

enfermagem GUE2, GUE3 GUE4, GUE5, GUE7, GUE9 Vantagem relativa Rogers (1983) Vantagem relativa em relação à tecnologia

anterior

Compatibilidade do módulo com as

necessidades da prescrição de enfermagem GE1, GTI1 Compatibilidade Rogers (1983) Desenvolvimento de trabalho em rede entre os

HUFs GE1, GE2

Condições de interoperabilidade

Gagnon et al. (2010) Módulo incorpora processos de enfermagem

maduros GE1, GUE9 Expertise externa

Marsan e Paré (2013) Resolução do COFEN nº 358, de 15 de outubro

de 2009 GUE2 Normas e resoluções dos conselhos profissionais

Resumidamente, 10 dos 13 entrevistados falaram sobre a etapa de persuasão. Foram evidenciadas seis categorias definidas aprioristicamente no framework, a saber: compatibilidade, complexidade, condições de interoperabilidade, expertise externa, ubiquidade e vantagem relativa. Seis gestores destacaram a categoria vantagem relativa. No framework teórico, a categoria expertise externa constava das condições prévias, e as condições de interoperabilidade e a ubiquidade estavam presentes na etapa de conhecimento. Estas quatro categorias foram incorporadas à etapa de persuasão, neste estudo. Além disso, uma nova categoria foi criada – normas e resoluções dos conselhos profissionais – sendo que não havia

78 nenhuma categoria pré-definida adequada para representar o depoimento sobre a Resolução do COFEN.

Por fim, é fundamental destacar que, a partir da análise dos estágios de conhecimento e persuasão, verificou-se uma inversão na ordem das etapas do processo decisório de difusão, visto que a decisão de adoção do sistema já estava tomada. As etapas de conhecimento e persuasão apresentaram uma sobreposição entre si e com a etapa de implementação, que será apresentada mais adiante, tendo em vista dificuldade evidenciada nos depoimentos dos gestores para separação destes estágios. Por isso, foi necessário um processo analítico profundo para compreender as etapas do processo individualmente, comprovando-se que, na prática, não há um sequenciamento claro das etapas. Com isso, é possível perceber o caráter de iteratividade contido neste processo.

Ao todo, foram identificadas sete categorias para a formação de atitude em relação ao módulo de prescrição de enfermagem adotado, reforçando a tomada de decisão de adoção do módulo, que antecedeu o conhecimento e a persuasão como será discutido na seção seguinte.

4.2.4. A decisão para adoção ou rejeição do módulo de prescrição de enfermagem adotado