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A formação do espaço

No documento 2012Alexandre Pena Matos (páginas 70-72)

uma “vila no Porto dos Casais onde se havia iniciado o corte das madeiras para a construção das casas” e, “apesar da morosidade do governo, o povo organizara-se sozinho”, com a “plantação de trigo”. Para o autor, “documentos apresentam a existência de um estaleiro na região que hoje corresponderia ao local da Praça Rui Barbosa”.

3.2 A formação do espaço

Nesse espaço em franco desenvolvimento, em 1772, é criada a Freguesia de São Francisco do Porto dos Casais, ficando responsável, a partir daí, pelos registros de nascimentos, casamentos e óbitos, independente de Viamão. Tal fato aponta para o crescimento populacional do povoado e suas necessidades decorrentes. Em janeiro de 1773, a freguesia é denominada Nossa Senhora Madre de Deus de Porto Alegre. Em razão dos ataques espanhóis, José Marcelino de Figueiredo21, então governador da Capitania, transfere a sede do governo de Viamão para a nova freguesia. A cidade estaria definida, nesse momento, pelos alinhamentos das atuais Ruas Demétrio Ribeiro, ao sul, e Marechal Floriano, ao leste. Tal fato justifica-se por sua situação portuária e localização estratégica junto ao Guaíba, possibilitando melhores condições de defesa e acesso mais rápido a localidades como Rio Pardo e São José do Norte, fronteiras na disputa posterior ao fracasso do Tratado de Madri. Sua localização também permitia que fossem barrados avanços pelo Guaíba até Rio Pardo, pois, na ponta da península, fica o canal mais estreito de navegação para o Rio Jacuí, “justificando ali a presença dos arsenais” (MACEDO, 1993, p. 52).

Em 1774, começa a construção do Arsenal e do Palácio do Governo, além de outras edificações públicas. No ano de 1778, foi estabelecida uma linha de fortificação, delimitando a zona urbana da freguesia e orientando o crescimento da mesma. Havia, então, portões; sendo o mais importante aquele localizado no final da Rua da Ponte (atual Rua Riachuelo), espaço conhecido como Praça do Portão. “À frente deste portão, em 1807, é definida uma área pública que fica conhecida como Várzea (que deu origem ao atual Parque Farroupilha)” (MACEDO, 1968, p. 60-62).

O abastecimento de água era feito diretamente do lago, mas, com a concentração da população nos locais mais distantes, em 1779 foram construídas duas fontes. As casas eram

21 Nome de batismo Manuel Jorge Gomes de Sepúlveda, nascido em Bragança, 1735. Mudou seu nome quando veio para a colônia (Brasil).

simples, rústicas, construídas de taipa ou somente madeira, cobertas de capim ou folhas de jerivá. Em torno de 1780, surgem diversas olarias na área do atual bairro Cidade Baixa. Até então, telhas e tijolos vinham de Laguna, geralmente para edifícios públicos, ou eram comprados do povoado da Aldeia dos Anjos. Desse modo, em 1784, têm início as obras do novo Palácio do Governo, ao lado da praça e igreja Matriz e, em 1790, conclui-se a Casa da Junta ao lado desse (ainda existente); em 1794, decide-se a construção da Cadeia e a Casa da Comédia, posteriormente Casa da Ópera (na atual Rua Uruguai). Em 1803, é iniciada a edificação da Santa Casa de Misericórdia, inaugurada em 1826, juntamente com a Capela, com as funções de hospital e de proteção de crianças abandonadas (MACEDO, 1968, p. 62).

Conforme Oliveira (2005, p. 55), “a implantação do novo povoado seguiu a concepção tradicional portuguesa de cidade alta e cidade baixa”. Na parte baixa, entre o lago e o morro de granito, “existia o Largo da Quitanda (atual Praça da Alfândega), onde se localizavam as atividades ligadas ao comércio e ao porto”. Na parte alta, situavam-se o Palácio e a Igreja Matriz, “ao redor da praça principal, concentrando, assim, as atividades administrativas e religiosas, junto com as residências mais abastadas”. No lado norte da elevada, concentraram- se as melhores construções, enquanto que na parte sul, as simples e pobres. “O traçado das ruas seguia uma orientação ortogonal, definindo ruas com acentuado declive que cortavam a elevação. Durante muito tempo, o crescimento urbano se refletiu no acréscimo de ruas transversais, enquanto apenas três ruas longitudinais permaneciam” (OLIVEIRA, 2005, p. 55).

Os becos tinham um percurso acidentado, estreito e sujo, através das ladeiras que subiam a colina no centro da península. Não tinham a mesma infraestrutura das ruas principais, caracterizavam-se pelas edificações simples de taipa e palha, onde residia a população pobre. De forma geral, na cidade, as ruas tinham caimento para o centro, formando uma canaleta, que servia de sarjeta para as águas pluviais, que levavam o lixo ali jogado. Assim, a implantação das ruas seguiam uma preocupação conforme o escoamento das águas (MONTEIRO, 1995, p. 25).

Porto Alegre tinha importância fluvial e também ligava-se com as demais vilas através de diversos caminhos como: Estrada de Baixo, Caminho do Meio, Estrada da Azenha, entre outros. Esses, posteriormente, transformaram-se nas principais vias do município. Os colonos açorianos empenharam-se, principalmente, no plantio do trigo, chegando a produzir grandes quantidades na região do Vale do Jacuí, por onde foram se espalhando. O comércio, em meados de 1814, se fazia constante no cais do porto, visto pela presença de muitos navios. O

movimento da alfândega era grande e no seu entorno foram se estabelecendo as casas de comércio, atacados e de cambio (MACEDO, 1993, p. 73-74).

A partir de 1824, explica Monteiro (1995, p. 29) “inicia-se a imigração alemã para as terras onde funcionara a Real Feitoria do Linho-Cânhamo, posteriormente São Leopoldo. Os colonos alemães tinham que esperar o transporte de barco, difícil e demorado, de Porto Alegre, onde chegavam, para seu lugar de destino”. Após o declínio do trigo, Porto Alegre será o porto escoador dos produtos coloniais por eles produzidos. Os alemães também se instalam na cidade ou na proximidade, como artesãos, comerciantes, entre outros serviços, principalmente ao norte na região, no Caminho Novo (atual Avenida Voluntários da Pátria).

Existiam diversos “largos que consistiam em espaços de reunião e de atualização das sociabilidades públicas e que, posteriormente, deram origem às praças da cidade. Como os largos da Quitanda, dos Ferreiros, do Pelourinho, do Paraíso e do Arsenal” (MACEDO, 1993, p. 53). Os espaços abertos vão ganhando vida e, a partir da Independência do Brasil, vão ganhar normas e códigos de postura; a vida social cada vez mais será normatizada.

No documento 2012Alexandre Pena Matos (páginas 70-72)