• Nenhum resultado encontrado

Da Independência à proclamação da República

No documento 2012Alexandre Pena Matos (páginas 72-76)

Com a Independência do Brasil, a então vila é elevada à categoria de cidade e, em 1829, ganha seu primeiro Código de Posturas. Nele, são estabelecidos os limites urbanos, delimitados aproximadamente pelo alinhamento que formam as atuais Ruas Barros Cassal, Independência, Sarmento Leite, Lima e Silva e República, até o Riacho Ipiranga (MACEDO, 1993, p. 84-85).

Em setembro de 1835, Porto Alegre é tomada por rebelados, iniciando a Revolução Farroupilha. Entretanto, “o domínio da cidade foi curto, pois, em junho de 1836, há uma reação dos legalistas, que a retomam”. A partir desse momento, “a capital da Província é sitiada pelos revoltosos. Esse cerco não é ininterrupto e ocorre em três períodos, de 1836 a 1840” (MACEDO, 1993, p. 87).

O sítio imposto à cidade, “durante o conflito farroupilha, resultou em dificuldades para o seu abastecimento, mas não o impediu completamente”. Com o isolamento das áreas produtivas mais distantes, houve o fortalecimento da produção colonial alemã, comercializada via Rio dos Sinos. Os maiores problemas parecem ter se relacionado às condições de salubridade que obrigaram mudanças nas posturas policiais. Uma das atitudes tomadas foi instalar o matadouro na Praça do Estaleiro, no Caminho Novo (atual Rua Senhor dos Passos),

até então, no Potreiro da Várzea (imediações da Rua Avaí com Avenida João Pessoa). Também, determinava os lugares à beira do lago onde era permitido despejar o lixo. Além disso, durante o período do cerco farroupilha, estagnou-se a atividade construtiva e a expansão da estrutura urbana. Observa-se, que o litoral permanece não domesticado, apesar de ter sido adaptado a alguns usos localizados, como o Trapiche da Alfândega. Somente na década de 1840, quando da construção de uma doca para o primitivo mercado, houve um avanço sobre o Guaíba. Em 1844, são concluídas as obras de um mercado, localizado próximo à atual Praça XV de Novembro (MACEDO, 1993, p. 88; MONTEIRO, 1995, p. 30-31).

Com o fim do conflito farroupilha, em 1845, as fortificações são demolidas em razão do crescimento que começa a ocorrer extramuros, com a formação dos arraiais. Em 1848, a nova Ponte de Pedra entra em funcionamento, ligando a cidade à margem esquerda do Riacho Ipiranga. Os cemitérios não comportavam mais enterramentos e temendo-se pela saúde pública, em 1850, proíbem-se os enterramentos dentro do núcleo urbano, sendo designados os altos da Azenha como nova necrópole. O novo mercado é construído entre 1864 e 1870, inicialmente, de um andar. A nova cadeia é utilizada já em 1855, na área do antigo Largo do Arsenal. Em 1858, é inaugurado o Teatro São Pedro e, em 1870, a nova Câmara, ao lado deste. Em 1866, é concluído o Arsenal de Guerra ao lado da Igreja das Dores; inaugura-se o primeiro banco, Banco da Província, em 1858. Em 1865, concluem-se as obras da Igreja Luterana, na Rua Senhor dos Passos; em 1885, é terminado o edifício Malakoff, com quatro pavimentos, o mais alto da época. Em 1867, inicia o funcionamento do telégrafo, sendo seu prédio inaugurado em 1871, junto à Praça da Matriz (SPALDING, 1967, p. 103; MONTEIRO, 1995, p. 31; OLIVEIRA, 2005, p. 60-62; FRANCO, 2006, p. 75-77).

No governo da Província, o então presidente Luís Alves de Lima e Silva (Barão de Caxias), tratou de munir a capital com calçamentos na parte final da Rua da Praia, a Rua da Graça (trecho atual da Andradas), atuais Duque de Caxias, General Câmara, João Manoel, Uruguai, Demétrio Ribeiro, entre outras. “Procedeu-se a numeração das casas e também foi determinada a realização dos despejos de imundices em trapiches, e não às margens do rio. Contudo, isto provavelmente continuou ocorrendo” (OLIVEIRA, 2005, p. 65).

Oliveira (2005, p. 65) comenta que “as casas coloniais eram construídas em lotes estreitos e profundos, ocupando o terreno sem recuos lateral e frontal”. Dessa forma, era definido o alinhamento da rua. As casas térreas tinham “cômodos encarreirados, havia uma peça na frente, utilizada como sala, comércio ou oficina; seguida pelas alcovas, com a varanda ao fundo, ligada por um corredor lateral”. Possuíam uma área íntima proibida a estranhos, ficando a cozinha afastada do edifício. “As diferenças entre casas ricas e pobres estavam no

tamanho e número de peças”. Os sobrados se caracterizavam pelo uso do pavimento térreo para lojas, depósitos, acomodações de escravos ou animais, ficando a área residencial limitada aos andares superiores.

A expansão econômica, no final da década de 1850 era estimulada, principalmente, pelo comércio com a região de colonização alemã. Houve o aumento na valorização do transporte fluvial e, no final da década, já havia dez vapores em circulação. “Isto foi de grande significado comercial para Porto Alegre, aumentando a importância do porto e da parte norte da cidade, dando início a uma expansão sobre o rio”. Nesse período, também é realizado o aterro para a atual Voluntários da Pátria. Forma-se uma linha entre as Praças da Alfândega e Harmonia, constituída por um cais ao longo da Rua Sete de Setembro (SPALDING, 1967, p. 142).

De 1850 as primeiras décadas do XX, “a cidade foi assolada por várias epidemias que resultaram em muitas vítimas, principalmente entre a população mais pobre, assim como, entre os escravos”. Tal fato se deve ao crescimento populacional, em descompasso com a infraestrutura, principalmente nas questões de saneamento (OLIVEIRA, 2005, p. 67).

Em 1864, foi executada a implementação do serviço de água, que era trazida das cabeceiras do arroio Dilúvio, em encanamentos, por meio de gravidade, até um reservatório junto à Praça da Matriz. Com isso, “proibiu-se a venda de água tirada do riacho e do Guaíba, existindo em 1869, além dos chafarizes, mais de mil ligações domiciliares, que apesar disso eram insuficientes” (MAUCH, 1992, p. 151-153). Segundo Spalding (1967, p. 143), “o reservatório, junto à praça, aproveitou-se de galerias subterrâneas feitas no final do século XVIII, que faziam a ligação de distintos prédios da cidade”.

No ano de 1873, é inaugurada a Companhia Carris de Ferro Porto-Alegrense, com linhas de bondes de tração animal, uma vez que as distâncias aumentavam. Esse transporte tinha como objetivo principal ligar a cidade aos arraiais, dado o crescente desenvolvimento destes e o seu valor para o centro urbano. Contudo, ficava limitado às planícies, devido à dificuldade de transpor fortes inclinações (OVADIA, 1980, p. 43).

Igualmente, vê-se parte do percurso da estrada de ferro ligando o centro com o Arraial de Navegantes e a zona de colonização alemã (São Leopoldo, em 1874 e a Novo Hamburgo, em 1876). Após 12 anos, a estrada era ampliada até as cidades de Santa Maria e Uruguaiana (OLIVEIRA, 2005, p. 60).

A iluminação na cidade era feita com lampiões a óleo de peixe e, posteriormente, trocados por lampiões a querosene, contemporâneos da iluminação a gás. A usina de geração de gás hidrogênio-carbonado, conhecida como gasômetro, que funcionou a partir de 1874 na

Praia do Riacho, fornecia gás para iluminação pública através de lampiões e para residências particulares (GUIMARÃES, 2002, p. 25).

Para Pesavento (1996, p. 38), “as ruas antigas davam um sentido à cidade, de uma época em que todos se conheciam e em que os nomes eram um ponto de referência explícita”. Os arraiais são cada vez mais importantes, e os mapas da cidade já não podem mais ignorá- los; as vias de transporte a esses assumem a forma de um leque, partindo do centro em diversas direções (Mapa 2).

Por volta de 1877, vários logradouros foram rebatizados com nomes relacionados à Guerra do Paraguai, como as atuais Ruas Pinto Bandeira e Coronel Vicente, nos terrenos da Chácara da Brigadeira, onde, desde 1845, já havia a Rua Conceição cortando esse sítio. Outro exemplo, a antiga várzea, que era denominada Campos do Bonfim em virtude do movimento abolicionista em 1884, e que passa a ser chamada de Campos da Redenção, reafirma uma perspectiva de mudança, a partir da qual novos atores estão se apropriando do espaço urbano (SPALDING, 1967, p. 140-142).

No ano de 1896, foi realizado um levantamento predial que apresentou 5.996 prédios dentro da área urbana, classificados como assobradados, sobrados, cortiços e casas térreas, predominando estas últimas. Havia, também, diversos estabelecimentos manufatureiros pequenos, inclusive com motores a gás, que produziam calçados, móveis, chapéus, roupas, entre outros (OLIVEIRA, 1993, p. 183).

Conforme Oliveira (2005, p. 70), “com o processo de desagregação da escravidão, aumentará o número de libertos, que irão morar no centro, em cortiços ou porões, e trabalhar de biscates, pois o imigrante alemão ou italiano eram mãos de obra valorizadas”. O autor contempla que, “na área central, espaços de vivências desiguais”, misturavam-se residências; e para Symanski (1998, p. 56), as “ricas mansões junto a cortiços abarrotados, elegantes casas de comércio e prédios públicos, vizinhos de prostíbulos e botequins. Os últimos momentos de coexistência de redutos do povo e espaços burgueses”.

Para Pesavento (1996, p. 29-31), “ao aproximar-se o final do século XIX, o crescimento econômico de Porto Alegre, a diversificação social e a incorporação de novos espaços ao meio urbano haviam mudado a fisionomia da cidade”. Era o momento de renovação dos equipamentos comunitários ligados à concentração da população, mudando a paisagem urbana. Iniciava-se um período de transição capitalista no Brasil, centrado na produção de café e caracterizado pela mudança da mão de obra escrava para a livre. Nesse processo, outra Porto Alegre surgirá, norteada por valores burgueses e perpassada pela ideia do progresso, ligada às transformações econômicas, sociais e políticas.

No documento 2012Alexandre Pena Matos (páginas 72-76)