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A geografia e os primeiros habitantes

No documento 2012Alexandre Pena Matos (páginas 67-70)

Porto Alegre está localizada dentro de uma extensa bacia sedimentar, nos limites da Bacia do Paraná e Uruguai, sendo que seus primeiros sedimentos foram depositados no Paleozoico. “O relevo da cidade é dominado pelo maciço de Porto Alegre, parte do cinturão Dom Feliciano, formado entre 2 e 2,4 bilhões de anos atrás e responsável pela existência da cadeia de morros que circunda a cidade”. Os morros que se destacam são: Morro Santana, Morro da Polícia e Morro Pelado. “O centro da cidade, assim como os morros, está assentado sobre um extenso batólito20 granitoide que, no século XIX, foi amplamente explorado pelas pedreiras” (IBGE).

Na hidrografia, a formação mais importante é o Lago Guaíba, o qual é formado pelos Rios Jacuí, Sinos, Gravataí e Caí. A acumulação de seus sedimentos formou a planície aluvial (planícies da cidade). O clima da cidade se classifica como subtropical úmido. No meio ambiente, “a região está localizada na zona limítrofe entre os biomas da Mata Atlântida, do Chaco e da Patagônia” (FEPAM).

Os cronistas Augusto Porto Alegre (1996, p. 04) e Sebastião Leão (1943, p. 217) descrevem em seus textos que, no século XVIII, houve contato entre os indígenas habitantes do local e os colonizadores (Mapa 1).

A ocupação europeia no atual Rio Grande do Sul está diretamente relacionada à ocupação mais ampla do território sul do Brasil. Essa região constituía uma fronteira em disputa entre os reinos de Portugal e Espanha. No início do século XVII, jesuítas espanhóis fundaram reduções indígenas na região norte desse espaço. Com uma série de constantes ataques realizados pelos bandeirantes portugueses, com a intenção de aprisionar mão de obra indígena, os missionários transferem-se à outra margem do Rio Uruguai. O gado abandonado reproduziu-se, formou grandes rebanhos e constituiu-se em uma riqueza a ser explorada. “Em 1680, o governo português cria a Colônia de Sacramento, na margem oriental do Rio da Prata, em frente a Buenos Aires, protetorado dos espanhóis, com a intenção de comércio, advindo do escoamento da produção de metais preciosos que desciam o rio para a metrópole”. Por volta de 1682, os jesuítas espanhóis retornam ao Rio Grande e criam o que ficou conhecido como “os Sete Povos das Missões”. Em seguida, em torno de 1686, funda-se Laguna, como ponto de apoio para a Colônia de Sacramento e a expansão portuguesa para o sul. Nesse processo,

20 O batólito ou plutonito é uma grande massa de rocha ígnea intrusiva com área superior a 100 km², formado por arrefecimento de magma à grande profundidade na crosta. Os batólitos são quase sempre constituídos por rochas félsicas ou intermédias, como o granito, quartzo, monzonito ou diorito.

devido ao vazio existente entre esses dois pontos, “cria-se também Rio Grande e, além disso, tem início a exploração do gado xucro existente, ao mesmo tempo, são criados os caminhos ligando por terra estas duas localidades” (SANTO, 2006, p. 23-35; MAESTRI, 2010, p. 13- 77).

Mapa 1: Mapeamento dos primeiros assentamentos humanos na atual região de Porto Alegre. Imagem: COSTA, 1997, p. 11.

A partir de 1730, foram concedidas as primeiras sesmarias no litoral norte e no Estreito – Torres e Tramandaí (1732), Osório e campos de Viamão (1740), Gravataí e outros. Em 1734, assinalavam-se 27 estâncias entre Tramandaí e Rio Grande. “Habitualmente, a sesmaria consistia de três léguas em quadrado, ou seja, pouco mais de treze mil hectares, constituindo doação gratuita e plena, sem qualquer ônus, a não ser o dízimo de Cristo, sob a obrigação dos sesmeiros de ocupá-las e explorá-las.” (SANTO, 2006, p. 23-35; MAESTRI,

2010, p. 13-77). Era comum que os sesmeiros explorassem a terra por alguns anos antes de a requererem à Coroa.

O futuro núcleo urbano de Porto Alegre fazia parte da sesmaria de Jerônimo de Ornellas Menezes e Vasconcelos que, em torno de 1732, já tinha instalado sua sede no morro Santana. O local era conhecido como Porto de Viamão, em virtude de sua utilização pelos estancieiros dos Campos de Viamão e, com a acomodação do sesmeiro, também é chamado de Porto do Dornelles. Conforme Spalding (1967, p. 33-34), “Jerônimo de O. M. e Vasconcelos, homem de visão que, ocupando com seu pouso e, depois, estância de criar, as terras que constituem, hoje, o município de Pôrto Alegre, deu início ao povoamento e fundação da mais tarde capital do Rio Grande do Sul”. Com o Tratado de Madri, firmado em 1750 por Portugal e Espanha, procurando solucionar as disputas territoriais da região, fica estabelecida a troca da Colônia de Sacramento pelos Sete Povos das Missões e, com o objetivo de povoar a região missioneira, “o governo português promove a vinda de casais das ilhas dos Açores”. No entanto, eclode a Guerra Guaranítica (1754-1756) quando os indígenas reduzidos rebelam-se, recusando-se a abandonar a região. Durante esse período, o Rio Jacuí torna-se relevante como via de transporte para penetração no território ocidental. Surge Rio Pardo como porto fluvial mais interiorizado possível e, como ponto de apoio, cresce em importância o então Porto do Dornelles.

Em 1752, instala-se, nessa península, a futura Porto Alegre. Conforme Oliveira (1993, p. 40), em terras públicas e provisoriamente, na expectativa do fim do conflito, “60 paulistas, com o objetivo de construir canoas para transporte via Jacuí até as Missões; um padre, frei Faustino, para servir de capelão e em torno de 60 famílias de colonos açorianos somaram-se às pessoas ali existentes”. Existe, porém, controvérsias quanto ao local onde ficaram arranchados os açorianos, podendo estar em terras públicas, junto ao Porto de Viamão, na foz do Riacho Dilúvio. Spalding (1967, p. 33-34) ressalta que, no primeiro momento, “os colonos se estabeleceram em área previamente preparada no morro Santana, mas desgostosos do local, mudaram-se para o entorno da península, seguindo pelo riacho”.

Durante esse período, realiza-se a desapropriação da sesmaria, vendida em 1762 por Jerônimo de Ornellas Menezes e Vasconcelos a Inácio Francisco de Melo. Nesse mesmo momento, o capitão Alexandre José Montanha fica responsável por demarcar, na área da sesmaria desapropriada, “60 meias datas para os açorianos e marinheiros ali existentes e, também, definir o local da nova praça para logradouro da vila, organizando a área urbana”. Iniciada a edificação da matriz, no topo da colina, e localizada a praça onde havia antes o cemitério (MACEDO, 1993, p. 52).

De 1765 a 1770, de acordo com Oliveira (1993, p. 43), já havia a ideia de constituir uma “vila no Porto dos Casais onde se havia iniciado o corte das madeiras para a construção das casas” e, “apesar da morosidade do governo, o povo organizara-se sozinho”, com a “plantação de trigo”. Para o autor, “documentos apresentam a existência de um estaleiro na região que hoje corresponderia ao local da Praça Rui Barbosa”.

3.2 A formação do espaço

Nesse espaço em franco desenvolvimento, em 1772, é criada a Freguesia de São Francisco do Porto dos Casais, ficando responsável, a partir daí, pelos registros de nascimentos, casamentos e óbitos, independente de Viamão. Tal fato aponta para o crescimento populacional do povoado e suas necessidades decorrentes. Em janeiro de 1773, a freguesia é denominada Nossa Senhora Madre de Deus de Porto Alegre. Em razão dos ataques espanhóis, José Marcelino de Figueiredo21, então governador da Capitania, transfere a sede do governo de Viamão para a nova freguesia. A cidade estaria definida, nesse momento, pelos alinhamentos das atuais Ruas Demétrio Ribeiro, ao sul, e Marechal Floriano, ao leste. Tal fato justifica-se por sua situação portuária e localização estratégica junto ao Guaíba, possibilitando melhores condições de defesa e acesso mais rápido a localidades como Rio Pardo e São José do Norte, fronteiras na disputa posterior ao fracasso do Tratado de Madri. Sua localização também permitia que fossem barrados avanços pelo Guaíba até Rio Pardo, pois, na ponta da península, fica o canal mais estreito de navegação para o Rio Jacuí, “justificando ali a presença dos arsenais” (MACEDO, 1993, p. 52).

Em 1774, começa a construção do Arsenal e do Palácio do Governo, além de outras edificações públicas. No ano de 1778, foi estabelecida uma linha de fortificação, delimitando a zona urbana da freguesia e orientando o crescimento da mesma. Havia, então, portões; sendo o mais importante aquele localizado no final da Rua da Ponte (atual Rua Riachuelo), espaço conhecido como Praça do Portão. “À frente deste portão, em 1807, é definida uma área pública que fica conhecida como Várzea (que deu origem ao atual Parque Farroupilha)” (MACEDO, 1968, p. 60-62).

O abastecimento de água era feito diretamente do lago, mas, com a concentração da população nos locais mais distantes, em 1779 foram construídas duas fontes. As casas eram

21 Nome de batismo Manuel Jorge Gomes de Sepúlveda, nascido em Bragança, 1735. Mudou seu nome quando veio para a colônia (Brasil).

No documento 2012Alexandre Pena Matos (páginas 67-70)