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“O trabalho social de todo indivíduo está

mediatizado pelo princípio do eu na economia burguesa; a um ele deve restituir o capital aumentado, a outro a força para um excedente de trabalho. Mas quanto mais o processo da autoconservação é assegurado pela divisão burguesa do trabalho, tanto mais ele força a auto-alienação dos indivíduos, que têm que se formar no corpo e na alma segundo a aparelhagem técnica”.

(Horkheimer & Adorno, 1985, p. 41).

Neste capítulo, dividido em três partes, são enfocados os temas concernentes ao processo da relação entre formação e trabalho. Na primeira parte, com o título “Trabalho e Pseudoformação”, o objetivo é discutir conceitualmente esses temas, sem deixar de considerar os significados em relação à vida do trabalhador, tendo por referência estudos dos autores frankfurtianos.

Na segunda parte, intitulada “Adaptação de Corpos Juvenis ao Trabalho”, o objetivo é mostrar a contradição entre o aumento da produção, decorrente do desenvolvimento da tecnologia, e as conseqüências à vida do trabalhador. Assim, sem a preocupação em, até mesmo, ser redundante, mas com interesse em analisar o movimento histórico do capital para a formação de jovens (e crianças), recorre-se a alguns relatórios e estudos apresentados por Karl Marx, em O Capital, com a finalidade de melhor ilustrar essa questão.

Na terceira parte, denominada “Trabalho e Alienação”, o propósito é refletir, tanto à luz dos estudiosos da Escola de Frankfurt quanto de Karl Marx, sobre as contradições impostas pela lógica da racionalidade tecnológica que tem dominado a formação para o trabalho.

2.1- Trabalho e Pseudoformação

Ao pensar a relação entre formação e trabalho, tema norteador desta pesquisa, os interesses atêm-se em desvelar o que essa relação representa à vida do homem na sociedade atual, com fins de apreender as conexões em relação à vida dos jovens trabalhadores e estudantes do IMCG. Para tratar dessa questão, pauta-se na importância em entendê-la no movimento das transformações que fazem parte da sociedade, com todas as contradições que há nesse movimento. Refletir sobre essas contradições significa compreender as experiências concretas vividas pelo homem em suas relações de trabalho.

Vê-se que, na sociedade atual, tem prevalecido a lógica utilitária no que diz respeito às questões pertinentes ao mundo do trabalho. Assim são focalizadas as configurações ocupacionais, as novas práticas de emprego, as diferentes formas de organização das relações industriais e os novos padrões de produção. Todos esses interesses sempre são abalizados pelos agentes reguladores do poder público. Por sua vez, os monopólios acadêmicos atêm-se, preferencialmente, às necessidades funcionais, ao interesse do mercado e tratam, com desdém, o que isso significa à constituição do trabalhador, um sujeito que pensa, sente, tem desejos, sonhos. Mas, para o mercado de trabalho, não há interesse em saber aspectos concernentes à subjetividade do trabalhador que não sejam direcionados às necessidades de produção e consumo, ou seja, em como administrar a vida do trabalhador para atender aos ditames do capital.

Desse modo, a formação do indivíduo tem sido direcionada para atender ao competitivo mercado de trabalho. Resta ao indivíduo, para ter sua subsistência garantida, entrar no time do mercado e participar de seu jogo. Por outro lado, com certeza, existem muitos estudos que anunciam a defesa do trabalhador, mas, muitas vezes, acabam por consagrar seus valores numa linha de raciocínio atrelada a princípios

que não deixam de afirmar a ordem existente na sociedade, mesmo ao anunciarem discordância em relação a essa ordem.10

Por isso, a idéia de trabalho, do fazer do trabalhador, acaba por fundamentar-se, particularmente, na necessidade de manutenção da sobrevivência. Isso significa que a força de trabalho deve subsistir para garantir a vigência dos modos de produção. Pensar o trabalho dessa forma significa estabelecer distância do que pode dar prazer ao homem ao produzir sua vida. O trabalho fica categorizado como algo que deve exigir esforço, sacrifício. Por conseguinte, o que precisa ser feito não carece de sentido para quem o faz, mas deve ter sentido – valor de mercado – para quem administra esse fazer.

Num artigo da revista Psicologia Atual, Malvezzi (s/d) relata a experiência de um estagiário de Psicologia, na área de Recursos Humanos, que ajuda a esclarecer a afirmação feita:

Na primeira semana de meu estágio, meu chefe, o Gerente de Recursos Humanos, pediu-me que conhecesse a fábrica e preparasse os instrumentos para a descrição e avaliação de cargos. Visitando vários setores, vi que ninguém parecia interessado em conversar. Tentei sorrir. Não fui correspondido. Até que, ao sorrir para um operário, percebi que ele queria me dizer alguma coisa. Ficou perturbado quando me aproximei; respondeu gaguejando ao meu “bom dia”. Disse que era psicólogo estagiário, um novo técnico para cuidar dos problemas do pessoal da empresa, e que meu papel era auxiliar os empregados no trabalho. “O Sr. não leva a mal uma pergunta?” gaguejou. Respondi que não, estava ali para ele perguntar o que quisesse. “É que meu supervisor não gosta de conversa. O caso é que estou para casar daqui a quatro meses; minha noiva e os pais dela me perguntam no que eu trabalho. “E eu não sei lhes dizer o que esta fábrica fabrica”. Respondi, e ele me agradeceu como se lhe tivesse prestado um favor enorme.

Esse homem trabalhava há dois meses numa fábrica do ramo metalúrgico, com cerca de 3 mil operários, na região de Santo André (Malvezzi, s/d, p. 28).

Esse caso é um exemplo de situações constrangedoras e degradantes sobre as condições de trabalho, que cristalizam a alienação do trabalhador e a coisificação de sua consciência e que fazem parte do modos operandi do capital. Assim, a negligência aos elementos destrutivos à constituição da autonomia do indivíduo é organizada tendo

10 Em sua tese de doutorado, A formação do Indivíduo no Capitalismo Tardio: uma análise dos estudos

que vinculam a esfera subjetiva ao mundo do trabalho, Imbrizi (2001), ao analisar as categorias de Codo e Dejours (autores identificados com a linha de uma psicologia crítica), mostra as distorções

como referência os discursos altissonantes da liberdade administrada pelo capital. Na formação do indivíduo, as relações valorizadas na experiência de trabalho atrelam-se a princípios da necessidade e de obediência para cumprir determinações, mesmo que absurdas, como o exemplo citado. O que fica evidente para o trabalhador, o que é aprendido, sem resvalo para dúvidas, é a obrigação de continuar trabalhando.

Nos dias atuais, a obrigação de ter o trabalho administrado para a obediência ganha proporções tão grandes que o trabalhador se sente privilegiado só por ter a carteira de trabalho assinada, sendo formalizada, legalizada, a exploração com registro. Burocracia que lhe garante os privilégios do que é considerado ser cidadão. E tal situação acaba por virar motivo de status social.

Essa situação é evidente para os adolescentes vinculados ao IMCG, onde se podia constatar, durante o período que se manteve contato com esses jovens, o orgulho de muitos deles em viver a experiência do primeiro emprego, com a carteira de trabalho assinada. Alimentava-se fortemente a ilusão de que o histórico de dois anos de trabalho era como um passaporte para adentrar e permanecer no competitivo mercado de trabalho. De certa forma, não deixava de ser um fator diferenciador para o preparo dos jovens, até por contarem com o respaldo do IMCG em lhes garantir o emprego temporário.

Mas, por outro lado, situações como essas mostravam que a subserviência imperava nas atitudes daquele grande contingente de jovens trabalhadores. Os espaços de constituição de possíveis atitudes de autonomia – moratória – ficavam subjugados ao poder da Instituição em orientar suas vidas, embora essa orientação não pudesse deixar de atender às exigências do mercado de trabalho, o que implicava em um processo formativo com forte caráter de adaptação à ordem vigente, ainda que houvesse o interesse, por uma parte da equipe técnica, em superar o processo de formação institucionalizado.

Verificava-se ainda que muitos jovens sequer podiam pensar nas diferentes situações de emprego oferecidas, que não eram muitas, pois precisavam escolher seus empregos em decorrência das necessidades de sobrevivência. Mesmo quando

desses autores ao legado marxiano e freudiano e, principalmente, aponta as contradições que expressam referentes ao mundo do trabalho.

demonstravam habilidades ou interesse por diferentes áreas de conhecimento, eram “obrigados” a ser empacotadores, almoxarifes, recepcionistas ou fazer outras atividades de pura rotina, porque dependiam da vaga oferecida, no momento em que completavam dezesseis anos de idade. Os sonhos e desejos de muitos desses jovens acabavam na expectativa de conseguirem se manter no emprego, independente da atividade desenvolvida. Assim sendo, o fato de conquistar a continuidade do contrato de trabalho representava uma grande conquista, pois acabava por ser o fato diferenciador para a experiência de trabalhador.

Ao ter interesse em apenas manter um posto de trabalho – com carteira assinada – o objeto de desejo para muitos trabalhadores nos dias atuais, torna evidente o sentimento de impotência frente à ordem existente. Obviamente, esse desejo, como já observado, alia-se à submissão exigida e, dessa forma, torna inacessível a capacidade de reflexão para desvelar que as novas técnicas exigidas para formar o indivíduo – profissionalizar - vêm com a velha fórmula da dominação travestida de roupagem nova. Por isso, verifica-se ser preciso desvelar o que têm impedido o indivíduo de iluminar- lhe a razão, que outrora pôde sonhar com uma sociedade justa e fraterna. Essa sociedade parecia ser conseqüência do desenvolvimento das relações de produção burguesas. Porém, o que tem resultado, das relações de trabalho instituídas, tem sido a impossibilidade de o indivíduo poder se diferenciar e consolidar o que seria a liberdade. Uma liberdade em que todos os indivíduos da sociedade pudessem participar: liberdade de escolher, de pensar, para além do já existente.

No entanto, constata-se que o avanço das forças produtivas não deixou de oferecer aos homens possibilidades concretas de modificar, de transformar a desigualdade social existente, mas, diferente disso, esse avanço ainda continua aumentando a divisão entre os homens, a liberdade em apenas ter, em possuir o que é administrado pela ordem vigente. O poder da ciência, da técnica, tem mantido a história da dominação subjacente ao caminho traçado para a vida dos homens. Todavia, a técnica não é o elemento funesto, conforme afirmou Adorno (1986 a), mas sim o seu enredamento nas relações sociais, nas quais ela se encontra envolvida. “Basta lembrar que os interesses do lucro e da dominação têm canalizado e norteado o desenvolvimento técnico: este coincide, por enquanto, de modo fatal com necessidades de controle”. (Adorno, 1986 a, p. 69). Tal controle pode-se acrescentar, fica instalado na formação do indivíduo.

Sem dúvida, ao pensar na amplitude que pode tomar o significado da formação do homem, a partir do trabalho, necessariamente se pensaria em uma sociedade sem a divisão social do trabalho e sem a necessidade da existência de comando entre os homens. Dessa forma, o trabalho não estaria aliado ao mesquinho caráter da utilidade, que não diferencia homens e coisas.

Para a reflexão dessas questões, como diz Matos (1993, p. 64), “é preciso uma racionalidade capaz de nos inserir nas contingências das coisas”. Isso exige, segundo a autora, a modalidade de ser memorioso, lembrando o sofrimento do passado para que a barbárie, a degradação, deixe de ser uma constante na vida dos homens. Não é possível se esquecer de que, quando o cientificismo permitiu ao homem dominar as forças da natureza, deu-lhe também as mais terríveis armas de destruição, como está marcado em nossa história. Uma história em que os dominantes monopolizam a formação do trabalhador e apenas garantem-lhe a pseudoformação. Não é sem razão, que nos portões de entrada do campo de concentração de Auschwitz, tinha, em destaque, o slogan Arbeit macht frei (O trabalho liberta) (apud Koltai, s/d, p. 93).

O que se observa é que o trabalho tem se constituído sem sentido e sem significado para o trabalhador e, ao mesmo tempo, o tem tornado conivente com os ditames do poder, impedindo-o de tomar consciência de que a ordem social instituída podia ter sido (e pode ser) uma história sem exploração.

Como se sabe, o homem, outrora, quando conseguiu conservar o fogo, por exemplo, fê-lo para garantir sua autopreservação, planejou suas necessidades. Ao construir os instrumentos de caça, de pesca, armazenar e produzir bens, criou os instrumentos de trabalho e modificou-os. Ao mesmo tempo, planejou e organizou as relações de trabalho com seus pares e foi rompendo a naturalidade de sua vida.

Todavia, tem-se ciência que o homem é natureza e mais que natureza, mas precisou negar essa naturalidade. Negou-a porque, sendo apenas natureza, sua existência seria voltada a produzir apenas sob o domínio da necessidade, tal como o animal que produz unilateralmente. Diversamente dos animais, o homem trabalhou, usou a razão e transformou a natureza em algo para si na luta para libertar-se da repetição. Nesse embate, foi superando as necessidades apenas orgânicas de origem e transformando sua existência. Ao defrontar-se com a natureza e apropriar de seus

recursos, imprimindo-lhes forma útil, o homem não deixou de desenvolver, ao mesmo tempo, potencialidades que o permitiu dominar as forças naturais, as formas instintivas animais de trabalho. “Quando o trabalhador chega ao mercado para vender sua força de trabalho, é imensa a distância histórica que medeia entre sua condição e a do homem primitivo com sua forma ainda instintiva de trabalho. Pressupomos o trabalho sob forma exclusivamente humana” (Marx, 1980, p. 202).

Ao prover seu espaço vital, o homem transformou os recursos disponíveis existentes, modificou suas necessidades e suas relações de trabalho. Mas tais mudanças não foram relacionadas apenas à produção e reprodução material de bens e à presença das motivações e coações econômicas, pois, na objetivação de sua vida, pelo trabalho, o homem se torna acto histórico, como esclarece Marcuse (1988, p. 32): “Na medida em que o homem se insere pela via do trabalho no objeto de seu trabalho, no objeto trabalhado, elaborado, ele se torna permanente, presente, ‘objetivamente’ real e efetivo em meio ao campo histórico e também ao tempo de vida histórico”.

O trabalho, ao se unir ao seu objeto, diz Marx (apud Marcuse, 1981), objetiva-se, ou seja, o objeto é transformado pelo trabalho e o trabalhador se reconhece no resultado de seu fazer. O sentido social da objetivação é explicado por Marcuse ao afirmar que

o campo dos objetos do trabalho é um campo de atividade vital conjunta; nos objetos de trabalho o Outro se torna visível para o homem em sua realidade. (...) Todo trabalho é trabalho com, para e contra outros, de tal forma que somente aí os homens se mostram uns aos outros e entre si o que realmente são. Assim, todo objeto em que o homem atua, em sua individualidade, é, “ao mesmo tempo, sua própria existência para os outros homens, a existência desses outros essa mesma existência para ele” (Marcuse, 1981, p. 30-31).

Entretanto, ao objetivar a vida, no acontecer da existência, o homem estruturou a sociedade em diferentes camadas sociais e, no mesmo espaço de convivência, organizando-a sob o peso da dominação. Hierarquizou, dessa forma, a relação de trabalho em diferentes classes sociais, dividindo o trabalho entre material e espiritual. Essa divisão estabeleceu, entre os homens, a relação entre dominador e dominado. O resultado do trabalho humano tornou-se estranho ao próprio homem, pois a condição de dominado bloqueou-lhe a possibilidade de formação que poderia tê-lo conduzido ao

“reino da liberdade” e o tornado sujeito de sua própria efetivação, porque, conforme Adorno e Horkheimer (1971), os mecanismos da formação têm se ajustado sobre a base dos mecanismos do mercado. Assim, esses mecanismos têm modelado a vida, até as últimas ramificações, pelo princípio da equivalência, esgotando-se em si mesma, na reiteração do sistema. Dizem, ainda, os pensadores frankfurtianos, que as exigências impostas, pelos elementos presentes na pseudoformação, incidem sobre os indivíduos tão dura e despoticamente, que eles não podem manterem-se firme contra elas, como condutores de si mesmos, de sua própria vida.

O processo dialético de formação do homem no mundo deveria levá-lo à realização de suas potencialidades, reforçando sua autoconsciência e, por essa via, também o seu eu. Atualmente a sociedade, diz Adorno (1995 a), premia em geral uma não individuação; uma atitude colaboracionista. O ideal formativo corresponderia, nesses termos, a um processo de trabalho social que levaria à emancipação do sujeito, fá-lo-ia romper com as forças opressivas existentes. No entanto, a ordem burguesa tornou o homem livre para vender sua força de trabalho, sem romper com o sacrifício dos homens. Assim, esclarece Adorno (1996), as relações de poder instituídas na divisão do trabalho expressam a opção feita pelos homens de manterem o comando da sociedade estabelecendo diferenças sociais, normatizando a relação entre os que detêm bens e poder, do qual usufruem, e os desapropriados do poder, que vivem de acordo com o interesse daqueles. Os homens têm se conformado com essa relação e, ainda, permanecem adaptados ao esquema do progresso atrelado ao da dominação.

A presença da dominação nas relações de trabalho, de acordo com a razão esclarecida, foi necessária em seus primórdios, pois os homens temiam as forças da natureza, sentiam-se ameaçados por elas. Depois, a natureza deixou de ameaçá-los e passou a sofrer, devido à falta de preservação, as conseqüências de ações destruidoras, dos efeitos da dominação. Para romper com o medo, com a opressão das esmagadoras forças da natureza, os homens buscaram a autonomia de seu desenvolvimento. Nesse processo, foram substituindo formas de produção ultrapassadas por outras diferenciadas, mais condizentes às necessidades humanas.

Desse modo, desde os simples e essenciais instrumentos de caça à primeira máquina a vapor, que levou à revolução industrial e às atuais máquinas robotizadas, a história da vida humana tem sido marcada pela força imperativa da contradição: ao

mesmo tempo em que se convive com o avanço das forças produtivas, há a convivência com os danos causados aos trabalhadores11. Em contrapartida, o magnífico avanço tecnológico decorrente do poder da ciência beneficiou o capitalista, porque aumentou extraordinariamente a produção de bens e não deixou de beneficiar os homens. Porém, os donos desses bens monopolizaram a formação cultural e o proletariado, classe que deveria suplantar a burguesia, de acordo com os prognósticos marxianos, e transformar a ordem vigente para instaurar uma sociedade igualitária, mas que nunca realizou sua responsabilidade histórica12. Segundo Adorno (1996, p.392), “o proletariado não se encontrava, de maneira alguma mais avançado subjetivamente que a burguesia”. Por isso, os donos do poder monopolizaram a formação cultural numa sociedade formalmente vazia, diz o pensador frankfurtiano. As conseqüências dessa formação para a vida do trabalhador não legitimou o poder da classe operária. Os trabalhadores do mundo não se uniram ao chamado da razão emancipadora - “Proletários de todos os países, uni-vos!” (Marx & Engels, s/d, p. 47), rumo à libertação do modo de produção vigente. Adorno (1996) afirma ainda que

a desumanização implantada pelo processo capitalista de produção negou aos trabalhadores todos os pressupostos para a formação e, acima de tudo, ócio. As tentativas pedagógicas de remediar a situação transformaram-se em caricaturas. Toda a chamada “educação popular” – escolha dessa expressão demandou muito cuidado – nutriu-se da ilusão de que a formação, por si mesma e isolada, poderia revogar a exclusão do proletariado, que sabemos ser realidade socialmente constituída (Adorno, 1996, p.393).

11 A respeito do que o advento da produção industrial faz com a vida do trabalho e de sua família, ver O

Capital, de Karl Marx (1980).

12 Adorno (1986, p. 65-66) observa “que, nos países capitalistas dominantes, não se possa falar de uma consciência proletária de classe não refuta de per se, ao contrário da opinião comum, a existência de classes: a classe é definida pela posição quanto aos meios de produção, e não pela consciência de seus membros. Não faltam, nesses países, razões bastante plausíveis para a inexistência de consciência de classe: não era de se prever que os trabalhadores não continuassem mais na miséria, que eles viessem a ser cada vez mais integrados na sociedade burguesa e em sua visão de mundo, ao contrário do que ocorria durante e logo após a revolução industrial, quando proletariado industrial era recrutado entre os miseráveis e se situava, de certo modo, na periferia da sociedade. A existência social não gera de modo imediato, consciência social. Sem que essas massas – e isso exatamente por causa de sua integração social

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