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3.3 Os trabalhadores das Experiências Associativa de Trabalho em Chapecó

3.3.3 Relações de produção

3.3.3.3 A forma de gestão da experiência

As concepções e expectativas dos associados solidificam as bases internas de cada Experiência projetam o modelo de gestão a ser seguido. A forma de gestão refere-se, entre outros aspectos, à forma como são definas as normas, como é a participação dos trabalhadores nas tomadas de decisões. Estes são alguns dos fatores que precisam ser observados. As Experiências pesquisadas são formadas pelos trabalhadores que realizam a atividade principal, elas contam com auxilio de serviços contábeis. Nas duas primeiras Experiências a seguir a forma de gestão empregada se aproxima do que Guimarães (2004, p. 6) entende por autogestão

Um “modelo ideal” de democracia industrial: expressão que significa um compartilhamento ou investidura de poder por parte dos trabalhadores. Isto aconteceria de tal forma que as decisões, em todos os níveis, o controle sobre o processo de trabalho, a gestão do empreendimento, a propriedade e os resultados econômico-financeiros não seriam privilégios da direção da empresa.

Na Cooper CASA NOVA os trabalhadores são todos cooperados e participam de todo o processo de gestão da cooperativa, a partir do momento que o serviço é contratado, os trabalhadores participam do planejamento a execução. A concepção do trabalho a ser realizado não se reserva a determinações da administração, mas a todos os envolvidos com a

execução.

Na ora que a gente começa o serviço na obra, a gente tem todo um roteiro que a gente se programa, nesse mês agora que vem, vai entrar mais três obra, então a gente vai trocando nas obra que já tão terminando a gente tira 1 ou 2 pessoas, porque cada núcleo tem que ter 1 ou 2, meio-oficial e servente, então vai jogando, um profissional numa obra outra na outra e o servente (Cooper CASA NOVA 1).

Da mesma forma, são os trabalhadores a partir da realização do trabalho que definem em qual função cada um permanece e como é o processo para a ascensão aos cargos.

É, nós temos um processo assim, eu que sou servente, a hora que eles acham que eu posso ser meio oficial, o núcleo que eu estou trabalhando vai indicar vai indicar pra ser meio-oficial, ela faz de tudo. Então às vezes se o pessoal de outro núcleo não tem conhecimento, e você vai pra outra obra, o outro profissional vai ver você na obra que já sabe fazer de tudo daí é assim, vai pra diretoria e vai mudando de núcleo pra ter outro parecer, porque se não as vezes é meio parentesco assim eles podem achar que tem discriminação e não pode ter discriminação, porque se você é amigo ali dentro da obra, porque eu estou trabalhando ali e começa a falar com meu colega, você pode me passar a oficial, mas daí eu vou pra outra obra e tenho que assentar tijolo e eu não sei e daí (Cooper CASA NOVA 1).

Na AGD Confecções há uma trabalhadora contratada para a função de secretária e serviços bancários, entretanto a administração e as decisões do processo de trabalho são definidas pelas associadas. Conforme a entrevista AGD Confecções 3, as decisões administrativas são definidas pelas associadas “nos compramos duas máquinas, sempre falam com o grupo todo, se pode se tem alguma outra coisa pra fazer que não pode colocar cota. Daí quando a gente pode, fala com o grupo se quer comprar ou não”. Da mesma forma, na fala que segue vê-se a participação de todos nas definições financeiras.

Nós reunimos o grupo. É feito uma solicitação, um orçamento. Também quando ela faz um o orçamento, depois reúne o grupo vê se todas estão de acordo, não, sempre quando é decisão assim reúne o grupo. Uma vez quando era só nós três a gente fazia o orçamento junto, mas agora o grupo esta maior e não tem porque parar todo o grupo para fazer um orçamento, então ela faz e consulta o grupo (AGD Confecções, 2).

Na COOPERVIDA a gestão não está diretamente sobre responsabilidade dos associados, tem uma pessoa voluntária (tesoureiro) que junto com a presidente assumem como função a direção da cooperativa. Essa atribuição ficou evidenciada nas três entrevistas dessa Experiência, pois os associados que tinham funções de diretoria não estavam mais

nesses cargos e no seu lugar nenhum outro associado se dispôs a assumir. O conselho fiscal ainda que existe formalmente parece não exercer o controle social com assiduidade.

Só tem a presidente e a tesoureiro [como foram escolhidas estas pessoas] Definido assim porque cada um sabe o que tem que fazer, é que não tem serviço é só prestar conta e fazer o pagamento. Sabe o que, a coordenação, cada grupo tem coordenadora então é isso. [...]. [Ninguém quer ser presidente?] Não, é que não tem serviço [...], só prestar contas e fazer pagamento. [...]. Foi ela eleita e está funcionando. [...]. [se quiser mudar o presidente, também pode] Não pode, porque é ela que fala com a prefeitura [Como são definidas as equipes de trabalho] Isso aí [...], a chefe pegou e montou a equipe, cada cinco vai pra um lugar. E cada um sabe o que fazer(COOPERVIDA 3).

As reuniões não são freqüentes e se resumem em torno de definições sobre os recursos humanos - conflitos de trabalho ou ajuste de normas para o trabalho, ficando as decisões gerenciais uma questão administrativa e as reuniões tornam-se espaços de consulta de opinião sobre as coisas pré-definidas. Mesmo que as informações sejam disseminação para todos os membros, estes não participam das tomadas de decisões e assumem como modelo a co- gestão79. Percebe-se que há a oportunidade de generalização dos cargos e funções para serem comuns a todos, mas não se percebe a relevância dada pelos associados a esses papéis.

[quanto às reuniões] Não, só quando tem algum problema. [...]. Só quando dá problema nas equipes, alguma discussão, daí vai a pessoa do outro grupo e troca aquela pessoa. [...], [presidente] decide e troca um por outro... Se tiver alguma desunião, alguma palavra demais, fazemos uma reunião aqui pra decidir o que está certo ou errado (COOPERVIDA 1).

O motivo e a periodicidade das reuniões é um fator importante para se caracterizar a autogestão, percebe-se que nessa Experiência ela se resume em não ter cobrança no trabalho. Também a uma interferência na gestão da Prefeitura Municipal, a qual prestam serviço com exclusividade.

Às vezes é mensal, às vezes de 2 em 2 meses, agora dia 20 tem assembléia de prestação de contas, eles cobram muito, algumas pessoas cobram a prestação de contas, uma acham que tem coisa errada, tem acusação sempre das mesmas pessoas, um ou dois, vamos fazer a prestação de contas e colar na parede dia 20 (COOPERVIDA 2).

79

“Processos de participação e de co-gestão já que, nos primeiros, a participação dos empregados resume-se ao fornecimento de insumos para decisão e o recebimento de resultados do trabalho coletivo, e na co-gestão, a divisão interna do trabalho entre empregados e a gerência, bem como a escolha das diretrizes é anterior a definição de critérios de participação e de responsabilidade compartilhada” (SOUTO, 1997 apud GUIMARÃES, 2004, p. 6).

Bastante, aqui na cooperativa tem bastante liberdade pra tudo, não existe: tu vai fazer, não, existe o regimento interno pra ser cumprido, o contrato com a prefeitura, a prefeitura é bem séria se a pessoa ficou 48h sem trabalhar e não avisou ela vai ser dispensada, se bebeu não pode vir trabalhar (COOPERVIDA 2).

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