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3.3 Os trabalhadores das Experiências Associativa de Trabalho em Chapecó

3.3.3 Relações de produção

3.3.3.1 O trabalho como capital

As Experiências Associativas de Trabalho basicamente se concentram em atividades econômicas consideradas periféricas, são quase inexistentes no ramo da produção as que se projetam em atividades consideradas de ponta ou que mobilize alta tecnologia. Tomando como as Experiências AGD Confecções no ramo da produção têxtil, o que se evidência é que não dispõem de tecnologia para concorrerem com as grandes indústrias, mesmo que concorram, suas taxas de lucratividade serão muito inferiores às alcançadas por aquela, devido à tecnologia, o capital de giro, entre outros elementos econômicos, e continuam a submeter os trabalhadores a baixas remunerações. Se, mesmo assim, as experiências

conseguem se manter no mercado, suas dificuldades são inúmeras e acabam obrigadas a recorrerem ao trabalho terceirizado. Esta dinâmica parece estar viva nas Experiências Associativas em Chapecó, fato este que as posicionam em coexistência coadjuvante, com o que coexistem com as empresas capitalistas, e pouco ofensivas ao modo de produção capitalista. Esta percepção é aguçada quando se percebe na agenda dessas Experiências, a necessidade de buscar redes com nítidos objetivos para melhorar competição no mercado. Todavia que, a defesa deste posicionamento centra-se na idéia de que esse tipo de organizar- se é uma estratégia apropriada para que os empreendimentos possam avançar o status de economia periférica e encontrar uma forma mais justa e ampliada, de produção e apropriação da riqueza social. Parece reafirmar a conduta de coexistência com os moldes do processo de trabalho e distribuição capitalista, a cada um o esforço do seu trabalho, seja por horas trabalhadas ou pelo montante da sobra.

A gente também está fazendo outra coisa, que a gente está tentando organizar Núcleos nos bairros, o que seria os núcleos, se você faz compras sozinha é uma coisa, se faz com o conjunto é outra coisa, você sempre paga mais cara a mercadoria, se você pudesse fazer compra conjunta, você pode baixar custo e ter um pouquinho mais de retorno, porque quando você compra um, dois Kg, você compra de fornecedor e é mais caro. Uma coisa é isso, a segunda coisa, é que por exemplo assim: eu entrei na internet no início do ano e tinha uma licitação do correio pra fazer 180 mil camisetas, nunca nós vamos ter condições de fazer tudo isso, esses dias conversando com um senhor do Banco do Brasil, a gente conversa para participar das licitações da Fundação Banco do Brasil, mas é assim, suponhamos que a gente vença as licitações, mas a gente não tem como fazer ou a gente estrutura e distribui trabalho e renda, você participa de coisas maiores e isso é que é bom, porque se você faz uma pequena escala é mais cara, porque demora mais tempo pra fazer e assim numa perspectiva solidária de fato, não só gerar trabalho e renda, mas é para politizar, é pra gente compreender que existem muitas formas, não é explorar ninguém, ninguém pode ser explorado, eu digo para grupos assim, a gente nunca quer ser explorado [...] Os grupos, não é pra competir entre si, junta tudo, paga tudo e o que sobra distribui de forma igual, essa é a proposta (AGD Confecções 1).

Esta reflexão, entre outras coisas, indica a relevância da inovação tecnológica para a materialização das Experiências, esta percepção empírica retoma uma das questões teóricas desse trabalho, as inovações empreendidas no mundo do trabalho como forma de apropriar-se do capital trabalho. É desse modo, que por meio do trabalho cooperado o capital promove mudanças significativas no interior do processo produtivo, ao tempo em que as mantêm numa estrutura enfraquecida sem muitas possibilidades de afirmação social, daí a origem de uma das mais marcantes características das Experiências Associativas de Trabalho, a pré- determinação da vida efêmera. Quanto ao isolamento produtivo e mercantil é fato que

isoladas elas se tornam quase que insignificantes. No entanto, a cooperação via trabalho em cooperativas, pode vir a representar significativas mudanças na vida dos trabalhadores, conforme Marx “a coincidência da modificação das circunstâncias e da atividade humana só pode ser apreendida e racionalmente compreendida como prática transformadora” (apud MÉSZÁROS, 2005b, p. 24, grifo no original). Nesse sentido, quando se indaga aos trabalhadores pesquisados sobre os motivos da opção pela cooperativa e não outra forma de organização resulta-se da cooperação.

Entretanto, o que se percebe é que a noção de cooperação nas Experiências pesquisados, está intimamente ligada à necessidade de crescimento material (conquista de mercado de trabalho), isto faz com que as relações pessoais tornem-se reféns de uma dinâmica individualizadora, a qual afasta a possibilidade da construção coletiva de um entendimento sobre a superação do trabalho, o que estabeleceria uma dimensão transformadora.

Eu tenho parentes que são pedreiros, então eles são um só, quando você é um só, você não consegue muita coisa, então vamos supor 20 pessoas, se você disser é uma cooperativa, já tem que ser mais de 20 , se você só falar é uma cooperativa, o pessoal vê diferente, então a gente conseguiu serviço que antes a gente não conseguia, e hoje a gente está conseguindo por ser uma cooperativa, então é mais fácil você conseguir trabalho (Cooper CASA NOVA 1).

Desde o trabalho, porque no começo tinha poucas mulheres, não tinha trabalho. Daí entrando mais mulheres a gente consegue procurar mais trabalho, porque tinha mais mulheres, porque assim a gente ia ter condições de fazer até o dia do pedido, de entrega a gente conseguiu mais trabalho... [vocês querem ampliar o grupo para ter mais serviço] porque não podemos pegar um serviço se só nós que estamos aqui não podemos dar conta. Só a gente não dá conta(AGD Confecções 3).

A divisão do trabalho não possibilita ao trabalhador uma prática transformadora ao realizar seu trabalho, a máquina também, o mercado impõe seus ritmos e favorecem a ausência do sentimento de pertença. A cultura do trabalho como valorização do homem é uma das questões que se observa com muita freqüência. Nas Experiências Associativas estudadas aparece como questões presente a singularidade do homem trabalhador e o reconhecimento do trabalho como elemento socializador.

Cada uma chega, e vê o que precisa fazer, aquela que tem mais experiência numa coisa faz. Não tem uma coisa só, o que precisa fazer a gente faz, exemplo: colocar ribana, fazer uma barra. Não tem assim uma coisa que é só você que tem que fazer. Não tem isso de chegar e é aquilo. [...]É rotativo, no geral todo mundo faz tudo (AGD Confecções 3).

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