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A gestão participativa e o projeto político pedagógico

A gestão escolar responsabiliza-se pelo direcionamento da escola, observa aspectos administrativos, pedagógicos, políticos, afinamento dos planos nacionais, estaduais, municipais, escolares, planeja, envolve os segmentos da escola. Considerando as ênfases da gestão, o planejamento destaca-se no sentido de reunir o grupo para pensar finalidades

comuns e afinar com as esferas superiores, bem como reconhecer o grupo, a identidade e os objetivos que norteiam o ensino. Planejar é uma possibilidade de participar, dialogar, atuar de forma democrática.

O planejamento escolar relaciona-se, especificamente, com a proposta da escola, ela interliga-se às esferas superiores fazendo uma mediação entre o pensamento, finalidades externas e internas. Para Menegolla e Sant’Anna (2014, p. 39) “o planejamento deve atender a problemática em nível nacional, regional, comunitário escolar.” Desta maneira, contempla o todo buscando estreitar a relação com os sujeitos que estão mais diretamente relacionados a estes planos. Saviani (2014, p. 82) afirma que “o plano educacional é exatamente o instrumento que visa introduzir racionalidade na prática educativa como condição para superar o espontaneísmo e as improvisações que são o oposto da educação sistematizada e da sua organização.” Assim, há uma organização sistemática do que se almeja, do que se busca com a educação, desta forma, as intencionalidades perpassam esferas e potencializam finalidades educativas.

Nesta perspectiva, os planos estão contextualizados em âmbitos, perpassando cada uma das esferas e desencadeando no planejamento escolar papel primordial ao pensar o conjunto e elaborar seus planos, que deem conta do todo, mas empenha-se na sua função, no que lhes compete. O quadro a seguir ilustra, segundo Menegolla e Sant’Anna (2014), três níveis do planejamento que organizam a educação:

QUADRO 5 – NÍVEIS DO PLANEJAMENTO

Percebe-se que cada nível, esfera está relacionada ao ensino, planeja e contempla seus âmbitos. Como já destacado anteriormente, o plano nacional de educação, pensa a educação do Brasil como um todo, elencando metas, estratégias que perpassam Estados, Municípios, escolas e implicam no que se pensa e desenvolve nela, bem como a Base Nacional Comum Curricular que engendra a concepção, a formulação, implementação, avaliação e das propostas pedagógicas escolares. Além disso, prevê a revisão dos currículos e as aprendizagens essenciais aos alunos em cada nível de ensino, que infere nos planos regionais, escolares. No nível escolar, o projeto político pedagógico revela-se como possibilidade de pensar a escola, pois, a partir da elaboração é possível engendrar o pensamento dos sujeitos, relacionar as metas e planos de outras esferas, potencializando uma proposta que considere tanto o externo quanto e, essencialmente, o que se pensa na comunidade, na escola, especificando finalidades e objetivos.

A elaboração, execução e avaliação do projeto político pedagógico é uma das atribuições da gestão. Requer olhar as vivências sociais, as crenças de cada sujeito, dialogar e proporcionar a participação para pensar coletivamente a escola que se quer. A elaboração do projeto político pedagógico une cada sujeito e possibilita expressar desejos, anseios e considerações com relação à escola, ao ensino. Pode ser usado como uma das estratégias da gestão escolar democrática e participava, uma vez que, esta requer participação e envolvimento para atribuir sentido e clarear a marca, a identidade da escola. De acordo com Marques (2006, p. 146) “a ação educativa constitui-se prática social, porque distinta do comportamento natural, constrói-se e orienta-se com intencionalidade manifesta. Essa tomada de consciência e esse direcionamento explícito é o que denominamos projeto pedagógico.” O foco, os objetivos e intenções da escola constituem- se no coletivo, de modo que, cada sujeito, segmento, expresse o que pensa, e, contribua para construir um projeto político pedagógico que representa a escola, em que se explicite metas, estratégias e caracterizações da escola, pois isto não é algo natural, pronto, finalizado, faz parte de uma construção que requer planejamento.

O projeto político ao ser um documento pensado e construído pelo coletivo define os referenciais básicos indicando os rumos da escola. Ele tem a intencionalidade de envolver a todos os sujeitos da comunidade escolar para pensar suas metas, estratégias e construir a identidade da escola. Assim, não se direciona a uma pessoa, a um grupo, mas é elaborado pelo grupo, para o grupo, caracterizando-o, dando direção, expressando posicionamentos, desejos, utopias do coletivo escolar. Segundo a Leino9394/96:

Art. 14. Os sistemas de ensino definirão as normas da gestão democrática do ensino público na educação básica, de acordo com as peculiaridades, e conforme os seguintes princípios:

I- Participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto político pedagógico da escola;

II- Participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares e equivalentes.

Este artigo evidencia a busca por participação e construção coletiva da escola que, a partir da gestão democrática possibilita espaços para discussão e planejamento da escola e dos sujeitos que se quer formar, construindo o projeto político pedagógico, que além de constar as intencionalidades da escola é um documento que prima por participação e construção coletiva. De acordo com Marques (2006, p. 147) “o projeto político pedagógico institucional valida-se não pelo seu conteúdo intrínseco, mas pela forma consensual com que se constrói e expressa”, a construção e planejamento do projeto compõem de momento em que todos os segmentos da escola podem dialogar, expressar desejos, intenções e expectativas em relação à formação dos sujeitos, das ações da instituição.

O projeto político pedagógico integra uma das maneiras de efetivar a gestão participativa, pois, à medida que é construído, revisado emerge a premissa de envolver cada segmento da escola, dialogar, compreender o que pensam, como agem, bem como, o que esperam, suas finalidades em relação à formação escolar e à sociedade em si. Expressa a visão, os objetivos da escola, mas também impulsiona a participação e envolvimento coletivo. O projeto político pedagógico da escola pesquisada aponta a educação escolar pautada nos princípios de Paulo Freire (1979, 1987, 1998, 2001, 2001a), enfatizando a autonomia, participação, diálogo e emancipação. Revela a intrínseca relação democrática, possibilitando a partir da gestão escolar participativa, reuniões que visem à inclusão de todos os segmentos da escola, para que se expressem e participem das decisões, de escolhas e, em casos eventuais do planejamento. A opção da escola, lócus do campo empírico, baseia-se nestas fundamentações e remete a uma concepção libertadora, democrática, que considera os sujeitos, suas realidades e instiga-os a participar e exercer sua cidadania.

Os sujeitos são os responsáveis pela identidade da escola, a partir de suas concepções o ambiente escolar organiza-se, tem características e ações, assim como a escola influencia na vida dos sujeitos, pode-se constatar que há formação ambígua. Isto pode ser visto, no projeto político pedagógico, em que fica evidente a visão, pensamento e possíveis atitudes dos sujeitos. Para Marques (2006, p. 150), “a intencionalidade expressa

no projeto pedagógico da escola não é descritiva ou constatativa, mas constitutiva”, quer dizer, é um documento construído e reconstruído, que revela as ponderações dos sujeitos, das práticas que compõem a escola, não é uma escrita rígida, regrada e consumada, pelo contrário, necessita de revisão, reflexão.

A gestão ao potencializar a interação entre as diferentes esferas, pensamentos e propostas, possibilita através do planejamento e das formações o alinhamento de políticas públicas e efetivação de ações, sejam elas na organização do sistema educacional ou das representações que compõem a escola. Segundo Lück (2015, p. 111) “gestão corresponde ao processo de gerir a dinâmica do sistema de ensino como um todo e de coordenação de escolas em específico, afinando com as diretrizes e políticas educacionais públicas e projetos pedagógicos das escolas.” Analisando a intrínseca relação entre a gestão com diferentes âmbitos e o planejamento é notável a complexidade que perpassa desde a esfera federal, municipal, até chegar na sala de aula, bem como estes planejamentos podem implicar nas ações que se efetivam.

Assim sendo, neste primeiro capítulo caracteriza-se a gestão participativa da escola, bem como seus princípios: autonomia, participação, democracia, diálogo e planejamento. Apontam-se os aspectos legais que envolvem a gestão, o planejamento, enfatizando o que a Constituição Federal de 1988, a Lei no9394/96 e o PNE/2014 destacam. O planejamento discorre como princípio e possibilidade de pensar as práticas didático-pedagógicas participativas da escola, destacando o projeto político pedagógico que tem papel primordial tanto no planejamento quanto no pensar a prática.

No capítulo seguinte, situam-se o campo empírico da pesquisa, a escola, a gestão escolar, os sujeitos e a experiência que integra este estudo. As questões metodológicas serão evidenciadas para que o leitor possa compreender os caminhos percorridos, entendendo como a pesquisa participante e a sistematização de experiências, contribuem para a produção dos dados obtidos.

2 CONTEXTUALIZAÇÃO DA GESTÃO ESCOLAR: O CAMPO EMPÍRICO DA