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A Governança na Conjuntura Nacional

No documento MESTRADO EM SERVIÇO SOCIAL (páginas 41-47)

1. Sustentabilidade

1.3 A Governança na Conjuntura Nacional

Falar sobre o conceito de Governança e a complexidade que o envolve, seria com certeza material para outra Dissertação de Mestrado ou Tese de Doutorado; especialmente no que se refere à Governança da sustentabilidade no cenário brasileiro, que obviamente não é o foco desta pesquisa. Porém faz- se necessário, ainda de maneira breve, situar aqui a gênese deste conceito; apenas a título de compreensão para o entendimento deste na conjuntura nacional. Neste trabalho apresentamos apenas um breve levantamento sobre as ações existentes, buscando compreendê-las dentro do âmbito mais conceitual da sustentabilidade.

De acordo com o Banco Mundial, em seu documento intitulado Governance and Development, de 1992; a definição geral de governança é “o exercício da autoridade, controle, administração, poder de governo. É a maneira pela qual o poder é exercido na administração dos recursos sociais e

econômicos de um país visando o desenvolvimento”, implicando ainda a capacidade dos governos de planejar, formular e implementar políticas e cumprir funções”.

SANTOS (1997), afirma que a ideia de uma ―boa‖ governança é requisito fundamental para um desenvolvimento sustentado, que incorpora ao crescimento econômico equidade social e também direitos humanos.

Lançando um olhar para o cenário brasileiro, a década de 1980 foi um período de redemocratização do Brasil em que se estabeleceram novos paradigmas para a dinâmica social brasileira; o que compreende também a sustentabilidade. Com grande foco no meio ambiente, o Congresso Nacional promulgou uma série de leis. É possível destacar algumas importantes normas que em maior ou menor grau traziam menções à sustentabilidade:

 Princípio da informação e da notificação ambiental (art. 6o, 3,

Lei da Política Nacional do Meio Ambiente);

 Princípio da prevenção e da precaução (art. 225, 1o. III,

Constituição Federal);

 Princípio da responsabilidade da pessoa física e jurídica ( Lei

n. 9.605/ 98);

 Resolução no. 01/ 86 - dispõe sobre a Avaliação de Impacto

Ambiental);

 Princípio da educação ambiental (art. 225, 1, VI, Constituição

 Princípio da obrigatoriedade da intervenção estatal (art. 225,

1, Constituição Federal);

 Princípio da participação popular e atuação dos órgãos

colegiados (Resolução 1/86 do CONAMA para Avaliação de Impacto Ambiental na fase de comentários e audiência pública);

 Princípio do desenvolvimento sustentado (art. 225, caput,

Constituição Federal);

 Princípio da supremacia do interesse público na proteção do

meio ambiente em relação ao direito privado (art. 5, XXIII, 170, III, VI, 186, II, da Constituição Federal);

 Princípio da indisponibilidade do interesse público na proteção

do meio ambiente (art. 225, Constituição Federal).

Entretanto, até hoje não houve evolução significativa. Sabe-se que os três âmbitos da sustentabilidade devem caminhar juntos, mas institucionalmente o espaço de destaque nos governos municipais, estaduais e federal; é do aspecto ambiental do conceito.

É inegável, por exemplo, que o desafio institucional brasileiro de demarcar áreas ambientais, áreas indígenas, quilombolas e extrativistas, amplia a discussão para a sustentabilidade econômica e cultural dessas comunidades; mas o que se percebe é que não há a formalização desses processos como política pública.

Em artigo, publicado pela Revista Internacional Interdisciplina Interthesis, em 2006; os autores Agripa Faria Alexandre e Paulo José Krischke defendem que não há evolução democrática sem o desenvolvimento sustentável:

“democracia está imbricada com a busca da sustentabilidade porque esta impõe obstáculos aos seus valores, notadamente à economia de mercado, ao individualismo, às regras jurídicas de direitos de propriedade (como as leis ambientais), enfim, a todas as regras do jogo democrático, tornando eventualmente a governança nacional e internacional condicionadas aos critérios de sustentabilidade‖.

Mesmo em profunda pesquisa pelas atividades e organograma dos Ministérios Brasileiros, fica clara a deficiência de iniciativas que promovam os três pilares da sustentabilidade. Os poucos movimentos que validam a importância dessa discussão, ainda estão ancorados na visão ambiental; exatamente como ocorre desde a década de 80.

Não apenas a excelência do ideal democrático fica comprometida, mas a vanguarda na criação de uma sociedade sustentável pode ser um grande diferencial para o Brasil destacar-se entre os países integrantes do BRICs – Bloco de países em desenvolvimento composto por Brasil, Rússia, India e China. Uma tímida tentativa de desenvolvimento dos aspectos social e econômico da sustentabilidade ocorreu da última gestão, comandada pelo ex presidente Luiz Inácio Lula da Silva; iniciando com o Bolsa Família, baseado no projeto Renda de Cidadania. Porém a vantagem competitiva referida, dentro do BRICs e junto à comunidade internacional, dar-se-á apenas quando as políticas

governamentais simultaneamente, considerarem os três aspectos da sustentabilidade.

As conquistas ambientais - berço da sustentabilidade no Brasil - de três décadas, são vistas hoje como retrógadas. Há uma nova realidade em curso, que requer uma revisão de legislação, de princípios norteadores, de valores. Mesmo as iniciativas mais recentes, despertam preocupação; ao exemplo do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, que não deixou claro até o presente, a inclusão da veia ambiental em sua essência de trabalho. Está manisfesto que o único caminho factível e eficaz para uma sociedade sustentável e próspera está na interlocução entre todas as esferas do governo. Continuar agindo isoladamente e mais além, fragmentando um conceito que intrinsecamente é complexo, continuará resultando em grandes esforços, para poucos resultados.

A iniciativa encontrada no âmbito governamental mais integrada foi o Projeto Ambientes Verdes e Saudáveis (PAVS), que foi criado para fortalecer a gestão intersetorial de saúde e ambiente. O projeto vai de encontro à filosofia que fundamentou o Sistema Único de Saúde. Foi proposto em 2005 pela Secretaria Municipal de Verde e Meio Ambiente (SVMA) e também contou com a adesão da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social (SMADS). Capacitou 5 mil agentes comunitários através da parceria de mais de 20 instituições parceiras, visando a integração das ações ambientais, de saúde e sociais.

O Ministério do Planejamento, em 2010 lançou o portal de Contratações Públicas Sustentáveis, com a seguinte definição sobre o trabalho desenvolvido:

“Contratações públicas sustentáveis são as que consideram critérios ambientais, econômicos e sociais, em todos os estágios do processo de contratação, transformando o poder de compra do Estado em um instrumento de proteção ao meio ambiente e de desenvolvimento econômico e social.

A Secretaria de Logística e Tecnologia da Informação – SLTI, do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão tem priorizado a sustentabilidade nas contratações públicas. Primeiramente, desenvolveu um sistema de compras que comporta o cadastro de todos os atores envolvidos bem como um catálogo de bens e serviços, informatizou todo o processo e desenvolveu modalidades executadas na forma eletrônica. Ou seja, organizou um sistema de compras transparente e funcional, diminuindo não só os custos operacionais das compras públicas, como o dos bens e serviços adquiridos.

Posteriormente, foi desenvolvida uma política voltada para as micro e pequenas empresas (MPE´s) usando o poder de compra do Estado para incentivar a sua participação nas licitações, fortalecendo o setor, gerando emprego, distribuindo renda e consolidando o mercado.

No momento, a SLTI está potencializando o Programa de Contratações Públicas Sustentáveis para que possa incluir critérios ambientais nas compras públicas. O Estado não pode ser só mais um ator nos esforços da sociedade, para criar um modelo justo de desenvolvimento sustentável, mas deve promover uma cultura institucional que sirva de exemplo para a sociedade.”

Diante de todo o exposto sobre as bases constitutivas de uma nação sustentável, fica claro que não é tarefa simples. Inegavelmente é preciso uma ―revolução na mentalidade‖ dos agentes envolvidos. Se o universo empresarial, ao que nos parece, está evoluindo mais rapidamente nesse aspecto, é porque ―está ouvindo‖ as novas necessidades de seus consumidores que a cada dia valorizam ética, justiça e transparência em conjunto com as qualidades técnicas de produtos e serviços.

É possível, que ao estender esse olhar para os governos municipais, estaduais e federais; um esforço para a convergência de ações entre as diferentes esferas possa ser sentido.

No documento MESTRADO EM SERVIÇO SOCIAL (páginas 41-47)

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