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3 GOVERNANÇA SOCIETAL: UMA NOVA ABORDAGEM DE GESTÃO

3.1 A GOVERNANÇA SOCIETAL E O FORTALECIMENTO DO CONTROLE

Na Governança Societal, a base para a interlocução entre poder público e sociedade civil deve ser a transparência, mas não apenas nos processos de auditorias financeiras e orçamentárias, mas também nos atos e na Administração Pública. Um dos fatores relevantes para o fortalecimento da informação, do processo de transparência e do controle social na contemporaneidade foi a evolução no campo da Tecnologia de Informação e Comunicação (TIC). Neste sentido, o Estado vem dedicando atenção, para disponibilizar aos cidadãos, informações adequadas de maneira tempestiva, o que favorece tanto o controle por parte dos Poderes Legislativos e Judiciário como o controle social (MATIAS-PEREIRA, 2010).

Para Gomes (2015, p. 904), o controle social refere-se a "um controle ascendente, associado à responsividade e à responsabilização do governo em uma relação constante e não eleitoral com a sociedade". Tem por objetivo garantir que o poder público atue conforme os princípios estabelecidos pelo ordenamento jurídico, especialmente: legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência (MATIAS-PEREIRA, 2010). Acrescente-se que,

[...] todo controle social requer participação, e que toda participação só é possível em estados que mais do que se intitularem democráticos, recebem e desenvolvem em seu meio pressupostos culturais, sociais, políticos e educacionais que privilegiam a existência de cenários de interlocução das demandas públicas, permitindo uma verdadeira atuação da sociedade sobre ela mesma. (BITENCOURT; PASE, 2015, p. 294).

A ausência ou deficiência no controle causam prejuízos acentuados para a sociedade, pois impactam de maneira negativa na eficiência, eficácia e efetividade da gestão pública. Direito do cidadão, o controle social pode ser realizado tanto para a defesa de interesses individuais do cidadão como na proteção de interesses coletivos, sendo o resultado da evolução do Estado e do conceito de democracia (MATIAS-PEREIRA, 2010).

Do ponto de vista da legislação, o Brasil possui algumas ferramentas que auxiliam no controle das ações governamentais. Na CF/1988 consta que o controle estatal é um direito do cidadão e aparece em diversas passagens, entre elas: (1) o Inciso XXXIII do Artigo 5º discorre sobre o direito que todos possuem ao acesso à informação pública; (2) o Inciso XXXIV do mesmo artigo trata do direito à petição; (3) ainda neste artigo, o Inciso LXXIII aborda a ação popular; (4) no Artigo 74, § 2º, consta o direito de denunciar irregularidades aos Tribunais de Contas (MATIAS- PEREIRA, 2010).

No entanto, para que o direito ao acesso à informação seja concretizado são necessárias duas situações: contar com a participação ativa do setor público, do setor privado e da sociedade, além de publicar legislações que garantam esse acesso. Em maio de 2000 foi publicada a Lei Complementar nº 101, que regulamenta, entre outros, o Inciso XXXIII do Artigo 5º da CF/1988. Também conhecida como Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), estabelece, entre outros aspectos, normas de finanças públicas voltadas para a responsabilidade na gestão fiscal (BRASIL, 2000). Alterando esta lei, em 2009 foi publicada a Lei Complementar nº 131, denominada Lei Capiberibe e Lei da Transparência, a qual determina a disponibilização de informações detalhadas sobre a execução orçamentária e financeira nas três esferas de governo, em tempo real (BRASIL, 2009). Todavia, esta refere-se apenas à transparência orçamentária; era necessário algo mais abrangente, que envolvesse todos os documentos e registros mantidos por qualquer autoridade pública, não apenas dados relacionados ao orçamento.

Então, foi instituída a Lei de Acesso à Informação (LAI), Lei nº 12.527/2011 com o objetivo de regulamentar as previsões constitucionais referentes ao acesso à informação sobre as ações governamentais. O Artigo 8º da LAI dispõe que os órgãos e entidades públicas devem promover a divulgação de informações de interesse coletivo, em local de fácil acesso no âmbito de suas competências,

independentemente de requerimentos (BRASIL, 2011). Fundamental para a Governança Societal e de acordo com Matias-Pereira (2010):

O controle, ao orientar a conduta dos gestores ao interesse público, cria as condições básicas para elevar o nível de transparência da Administração Pública. O sistema de controle apresenta-se como um dos elementos essenciais para a Administração Pública, na medida em que, além de verificador da legalidade, passou a realizar um controle de resultados, transformando-se em um instrumento de gerenciamento para a Administração e de garantia, para a população, de uma prestação de serviços eficiente, com o mínimo de recursos, sem desvios ou desperdícios. (MATIAS-PEREIRA, 2010, p.173).

Em Curitiba, complementarmente às legislações supracitadas, está em vigor a Lei Municipal nº 14.182/2012 que "dispõe sobre a transparência e publicidade dos objetivos e realizações dos conselhos de políticas públicas municipais" (CURITIBA, 2012), temática diretamente envolvida com esta pesquisa.

Para este estudo, adota-se a definição de controle social como:

[...] um controle ascendente, associado à responsividade e à responsabilização do governo em uma relação constante e não eleitoral com a sociedade. Isso implica para a sociedade, como nas eleições, o direito de exigir a prestação de contas no uso dos recursos, influenciar ou decidir sobre escolha das políticas públicas, fiscalizar o cumprimento de suas deliberações e sancionar, entre outras prerrogativas. Tal controle pode ser empreendido de forma direta ou por meio de instâncias de representação distintas da representação parlamentar, como os conselhos gestores deliberativos. (GOMES, 2015 p.904-905).

A efetivação do controle social é favorecida pelo engajamento do cidadão em todas as etapas do processo de formulação das políticas públicas. Para tanto, o controle deve ser realizado via acompanhamento e verificação das ações do poder público, pela avaliação dos processos e resultados dos programas de governo, bem como a partir da execução das políticas públicas em favor do interesse coletivo. Na Governança Societal essa apropriação do cidadão em relação ao compartilhamento de poder e ao controle das ações estatais passa a ser essencial, uma vez que é esta uma das formas de garantir que as proposições coletivas sejam consideradas na decisão final desta agenda (MARTINS et al., 2008; DIEGUES, 2013; SABIONI et al., 2016).

Kleba, Comerlatto e Frozza (2015) identificam como desafio à gestão de políticas públicas, além da inclusão efetiva da sociedade civil no processo de tomada de decisão, a utilização de mecanismos e instrumentos, para a atuação

governamental, que potencializem os fluxos participativos, decisórios e de controle social perante as ações executadas nos espaços públicos. Além disso, as autoras assumem como principais instrumentos de controle social as legislações básicas, os documentos de planejamento (Plano Plurianual - PPA) e orçamentos governamentais e setoriais (Lei de Diretrizes Orçamentárias - LDO e Lei Orçamentária Anual - LOA). Desta forma, a atuação da sociedade civil, assim como dos conselhos gestores, deve estar fundamentada e norteada por estes instrumentos.

O controle social precisa acontecer no nível accountability para maior efetividade, podendo ocorrer em áreas que envolvem a questões administrativas, financeiras, profissionais, legais, morais, constitucionais e de implementação de políticas públicas, cada qual dispondo de diferentes mecanismos para o exercício do controle. A combinação destas áreas de responsabilização torna-se fundamental para o exercício do controle governamental, o qual exige uma sociedade civil organizada capaz de influenciar o sistema político viabilizando a democracia participativa. Neste contexto, os conceitos de democracia e eficiência estão estreitamente inter-relacionados, necessitando um novo modelo de gestão pública onde o Estado será mais eficiente quanto mais democrática for sua gestão (MARTINS et al., 2008).

Alinhando-se à temática da Governança Societal está a accountability societal: sua matriz teórica enfatiza a dicotomia Estado e sociedade civil, a qual preconiza que a vigilância da sociedade sobre o governo trata-se de uma especificidade na consolidação das diretrizes democráticas tanto na soberania popular como no controle da ação governamental. Defende-se que os conselhos gestores podem tornar-se uma forma de accountability societal, ocorrendo num ambiente de discussão e deliberação composto por representantes governamentais e não governamentais (MARTINS et al., 2008).

Percebe-se então o potencial dos conselhos gestores como responsáveis por promover os controles político e social da Administração Pública, acompanhando e analisando se as ações da administração estão pautadas legalmente e se atendem ao interesse coletivo e para o bem comum (DIEGUES, 2013; KLEBA, COMERLATTO; FROZZA, 2015). Gomes (2015) acrescenta ainda que, tendo por objetivo identificar os erros e as faltas no processo de gestão pública, cometidas por pessoas, em atos ou a coisas, para que possam ser retificadas e evitadas

futuramente, o acompanhamento do cumprimento das deliberações e das políticas públicas formuladas pelo conselho torna-se uma questão de controle social.

3.2 OS CONSELHOS GESTORES DE POLÍTICAS PÚBLICAS E SUA