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1.3 O PROFESSOR E A INTERNET

1.3.1 A História do Professor

Voltando um pouco no tempo para fazer algumas considerações históricas que julgamos relevantes, vale mencionar que, segundo RIPPER (1996, p. 59-60), pode-se caracterizar a Escola Socrática como o primeiro método de ensino-aprendizagem e o primeiro modelo de professor. Inovador para a sua época, por volta do ano 400 a.C., tinha o mestre o papel de induzir o aluno a tirar suas próprias conclusões, fazendo com que nascesse do aluno a sua própria verdade.

Este método, entretanto, não criou raízes. O que se cristalizou como modelo de escola no mundo cristão tinha uma proposta bastante diversa. Na Idade Média, em consonância com as crenças da comunidade da época, a escola estava ligada ao poder religioso e era um privilégio de poucos. A prática pedagógica hegemônica foi o papel do professor como transmissor do conhecimento pronto e acabado, que deveria ser assim recebido pelos seus pupilos. Esta transmissão revestia-se de um caráter autoritário e dogmático, tal qual a sociedade em que se inseria.

Com a Revolução Industrial no século XVIII, houve também uma Revolução Educacional, em que “Aquela colocou a máquina no centro do processo produtivo; esta erigiu a escola em forma principal e dominante da educação.” (SAVIANI, 1994, p. 163)

Os pensadores desse período, como SMITH, por exemplo, percebiam a necessidade da educação básica. Daí a famosa frase a ele atribuída: “Instrução para os trabalhadores, porém, em

doses homeopáticas.” (SAVIANI, 1994, p. 160) E SAVIANI (1994, p. 160) explica: “[...] é

preciso um mínimo de instrução para os trabalhadores e este mínimo é positivo para a ordem capitalista, mas, ultrapassando esse mínimo, entra-se em contradição com essa ordem social.”

A partir do século XIX, em virtude da emergente industrialização e da necessidade social de atender-se à demanda de uma mão-de-obra especializada, a escola se seculariza neste papel autoritário e dogmático. Muda-se, entretanto, o objeto de conhecimento. Enquanto na Idade Média tinha-se como dogma a religião, neste modelo de sociedade a ciência passa a ser o objeto de conhecimento. A incorporação da ciência no processo produtivo envolve a disseminação da escrita, o que supõe e cria a necessidade da expansão escolar. Porém, essa expansão escolar não pode ser entendida como um processo de total avanço.

Nessa sociedade, entretanto, assim como na sociedade da Idade Média, o papel do professor continua sendo o mesmo - transmitir o conhecimento como algo pronto, sem permitir ao aluno vislumbrar como este conhecimento foi construído ou construí-lo por si mesmo.

Já no século XX, os sistemas taylorista e fordista aportaram organizações de trabalho também autoritárias. Estes tinham como base da organização de trabalho a automação, com a implementação do fluxo contínuo da produção, a introdução de uma racionalização sistêmica e o fracionamento do trabalho, com a atribuição a grupos pequenos da responsabilidade por tarefas específicas.

Segundo MACHADO (1994, p. 174):

A fragmentação do trabalho taylorista-fordista levou ao máximo a parcelização e a especialização como formas de intensificação do trabalho na produção seriada. A gerência se reservava o monopólio do conhecimento e toda a organização pressupunha um adestramento prático do trabalhador nas tarefas mecânicas e padronizadas, de tal maneira que habilidade tornou-se sinônimo de repetição rápida e com margem mínima de erros de um pequeno número de gestos predeterminados e fixos.

O fordismo, voltado para a produção padronizada e para o consumo em massa com custos cada vez mais reduzidos, representa a adaptação do taylorismo à linha de montagem.

A escola também foi influenciada por estes sistemas. De acordo com TOFFLER12,

citado por RIPPER (1996, p. 61): “O produto desta escola [...] é um indivíduo capaz de seguir ordens com atenção, não questionador, capaz de fazer algo sem se preocupar/interrogar por que é feito desse modo e não de outro, sempre confiante em que há alguém que já pensou por ele como fazer, e capaz de se esforçar para fazer o melhor em seu posto na linha de montagem.”

Ao professor, nesta “escola linha de montagem”, também não é dada a oportunidade de inventar, ousar, mudar. Nela, entram em campo orientadores pedagógicos, coordenadores e outros profissionais, os quais treinam os professores em como agir em suas práticas. O professor acaba sendo um mero transmissor de informações, que segue um script previamente estabelecido, em série, por outros especialistas. E ainda conforme RIPPER (1996, p. 62): “Os poucos que ousam são logo postos de lado pela cultura hegemônica que não admite diversidade.”

Entretanto, em meados do século XX, já se começou a observar alguns sinais de mudanças. Segundo RIPPER (1996, p. 62), “[...] na fábrica, os princípios do taylorismo- fordismo, o modelo da produção em massa, começaram a dar sinais de esgotamento já na década de 1950.” Porém, não podemos deixar de mencionar que, em alguns setores da sociedade, ele ainda está presente até os dias atuais. Estes sinais de esgotamento se traduzem na postura do operário que passa a assumir certas responsabilidades na fábrica, como o controle da qualidade, a autonomia para parar a produção, sugerir mudanças para melhorar o processo de fabricação, etc. Este novo operário tem que saber pensar. E a escola até então estabelecida não preparava o indivíduo para tal.

VALENTE (1998b, p. 31) sustenta esta idéia, quando diz que “Hoje, as mudanças do sistema de produção e dos serviços, as mudanças tecnológicas e sociais exigem um sujeito que saiba pensar, que seja crítico e que seja capaz de se adaptar às mudanças da sociedade.”

É hora de uma mudança, portanto, na concepção da escola e do professor, pois os atuais sistemas de produção, provenientes das mudanças ocorridas na sociedade, buscam um cidadão que tenha visão crítica para enfrentar as situações-problema, com competência para a tomada de decisões.