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A I NALAÇÃO

No documento PEDRO MANUEL DA FONSECA ANTUNES (páginas 98-101)

2.3. I MPORTÂNCIA A MBIENTAL DOS PCDD/F S E PCB S

2.3.1. A E XPOSIÇÃO H UMANA A PCDD/F S E PCB S

2.3.1.2. A I NALAÇÃO

A inalação de ar/partículas de pó contaminadas é outra forma de assimilação de PCDD/Fs e PCBs com atividade de dioxina. Assim, verifica-se que esta via pode contribuir com cerca de 5 a 10% da carga total assimilada.

Tal como se referiu, uma das principais fontes de produção de congéneres de PCDD/Fs são os processos térmicos, pelo que, a assimilação destas substâncias via inalação de ar/partículas de pó contaminadas pode assumir alguma relevância, em particular, nas áreas próximas de grandes unidades industriais.

Uma boa forma de conhecer melhor os riscos inerentes à assimilação de PCDD/Fs e PCBs pelas vias aéreas consiste em realizar inventários nacionais. Assim, verifica-se que já existem diversos inventários sobre as emissões destes poluentes em vários países da UE. Embora em Portugal os dados ainda sejam escassos, já é possível encontrar estimativas dos valores de congéneres de PCDD/Fs e PCBs que são emitidos anualmente.

Na figura 2.36 apresentam-se os resultados estimados para as emissões de congéneres de PCDD/Fs e PCBs, em Portugal, durante o período de 1990 a 2009.

Figura 2.36. – Valores estimados das emissões de PCDD/Fs e PCBs em Portugal, durante o período de 1990 a 2009. [56]

Os valores apresentados na figura 2.36 são os que se reportam no Inventário Nacional de Emissões de Poluentes Atmosféricos e, que resultam das obrigações de Portugal, no âmbito Convenção sobre Poluição Atmosférica Transfronteira de Longo Alcance (CLRTAP - Convention on Long-range Transboundary Air Pollution). Em termos gerais, a metodologia aplicada para o cálculo da estimativa das emissões apresentadas na figura 2.36, baseia-se na multiplicação de um fator de emissão de referência, obtido através de consulta bibliográfica, por um valor de atividade caraterístico do funcionamento da fonte/indústria em causa. Salienta-se também, que as estimativas da figura 2.36 têm por base os dados recolhidos nos seguintes setores de atividade:

1. Produção Pública de Eletricidade e Calor; 2. Combustão na Indústria do Ferro e Aço;

3. Combustão na Indústria dos Metais não-Ferrosos; 4. Combustão na Indústria Química;

5. Combustão na Indústria da Pasta, Papel e Impressões;

6. Combustão na Indústria de Processamento de Alimentos, Bebidas e Tabaco; 7. Setor Ferroviário;

8. Setor Marítimo;

9. Combustão Comercial e Institucional; 10. Combustão Residencial;

11. Combustão na Agricultura, Floresta e Pescas; 12. Deposição de Resíduos Sólidos em Terra; 13. Incineração de Resíduos.

Finalmente refere-se, que os dados apresentados devem ser encarados com prudência, atendendo à elevada incerteza associada a qualquer primeira estimativa de emissões. Por outro lado, existe também a necessidade de melhorar a informação de base que está disponível, bem como a metodologia aplicada nas estimativas. Deste modo, por forma a minorar as incertezas foram recolhidas informações em diversas fontes de literatura científica internacional, nomeadamente: – AP-42 (USEPA, 1996; USEPA, 1996b; USEPA, 1998; USEPA, 1998b; USEPA, 1998c);

– EMEP/CORINAIR Emission Factor Handbook (EEA, 2002);

– Stockholm Convention Toolkit (UNEP) for Dioxins/Furan and PAH.

Relativamente aos dados apresentados na figura 2.36, constata-se os níveis estimados de PCDD/Fs têm vindo a diminuir, tendo-se registado um valor máximo de emissão no ano de 1997 (valor registado 16,1 g I-TEQ). No que respeita aos PCBs (este grupo contempla também os PCBs com atividade de dioxina para além dos PCBs usuais), verifica-se que contrariamente ao que sucede com os congéneres de PCDD/Fs, os seus níveis têm registado um aumento. Neste caso, deve ter-se em atenção que até ao ano de 1998, apenas foram incluídas nas estimativas as emissões hospitalares, tendo a partir de 1999, sido também incluídas as estimativas referentes aos restantes setores de atividade referidos. Assim, verifica-se que o aumento dos níveis de PCBs emitidos não resulta de um real e significativo incremento da sua emissão, mas sim da inclusão de dados estimados por outros setores de atividades.

No que respeita às estimativas de emissão atmosférica dos congéneres de PCDD/Fs em Portugal por sector de atividade, verifica-se o seguinte.

Figura 2.37. – Emissões atmosféricas PCDD/Fs em Portugal por setor de atividade, durante o ano de 2009. [56]

Verifica-se portanto, que segundo alguns estudos, os níveis de PCDD/Fs e PCBs com atividade de dioxina no ar atmosférico podem oscilar entre 0,1 a 2 pg I-TEQ/m3 de ar [6]. Se considerarmos o caso

das zonas próximas de fontes de emissão, os valores podem ainda ser superiores, podendo

alcançar níveis de 200 pg I-TEQ/m3. Neste sentido, e assumindo que um ser humano inala em

média 20 m3 de ar por dia, verifica-se que a inalação diária de PCDD/Fs e PCBs com atividade de

dioxina, pode oscilar entre 2 e 40 pg I-TEQ/dia. Considerando os pesos médios anteriormente referidos (70 kg no caso dos homens e 55 kg para as mulheres), verifica-se que a dose diária assimilada, via processo de inalação, pode variar entre 0,03 e 0,57 pg I-TEQ/m.c./dia para os homens e entre 0,04 e 0,73 pg I-TEQ/m.c./dia para as mulheres. Com base no referido pela FAO e pelo JECFA, que estabeleceram o valor provisório tolerável para a assimilação diária em 70 pg OMS-TEQ/kg m.c./mês, para os congéneres de PCDD/Fs e PCBs com atividade de dioxina [55]. E convertendo os valores determinados para a unidade de um mês, verifica-se que os respetivos valores, variam entre 0,9 e 17 pg I-TEQ/m.c./mês para os homens e entre 1,1 e 22 pg I-TEQ/m.c./mês para as mulheres. Assim, tal como anteriormente referido, embora os resultados apresentados sobre os teores de congéneres de PCDD/Fs e PCBs com atividade de dioxina estejam em I-TEQ e o valor estabelecido pela OMS esteja em OMS-TEQ, para o propósito da comparação, não é relevante a diferença de sistemas, dado que, os TEF atribuídos pelos distintos organismos não são significativamente diferentes (valores apresentados na tabela 2.12). Constata-se portanto, que os valores estimados para a exposição via inalação, podem representar no seu máximo respetivamente 24 e 31% do valor recomendado pela OMS, sendo que em áreas próximas de importantes fontes de emissão, os valores podem mesmo alcançar ou ultrapassar o valor de referência. Deste modo, novos estudos sobre o teor destes contaminantes no ar atmosférico, bem como nas emissões de importantes unidades industriais são recomendáveis, por forma, a permitir esclarecer com maior detalhe os verdadeiros níveis de assimilação diária e mensal destes poluentes em Portugal, via processo de inalação.

No documento PEDRO MANUEL DA FONSECA ANTUNES (páginas 98-101)