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CAPÍTULO II O Sábado Santo no Coração do Ano Liturgico e do Mistério Pascal

3. A Implementação da reforma do Breviário de 1970

Visto que a Vigília Pascal celebrada na noite de Sábado Santo, mesmo depois dos três anos em experimentação, ganhou raízes, será a liturgia das horas, o códex litúrgico subjacente ao dia de Sábado Santo propriamente dito é a Liturgia das horas e será sobre ela que se irá debruçar. É importante aqui referir-se que a reforma do breviário tem em conta que a celebração do Oficio divino, não é apenas um dever do clero, mas é a oração do povo e para o povo de Deus. Assim

416 PAULUS VI,«Misteriis Paschalis»,AAS 61 (1969) 222-224.

417 PAULUS VI,«Misteriis Paschalis»,AAS 61 (1969) 224: «Huius modi ergo causis diligentissime coram Domino perpensis, novum Calendarium Romanum generale a Consilio ad exsequendam Constitutionem de Sacra Liturgia compositum, itemque normas universales ad ordinationem anni liturgici spectantes, Apostolica Nostra auctoritate approbamus, ut a die I mensis Ianuarii proximi anni MCMLXX vigere incipiant, iuxta decreta, quae Sacra Rituum Congregatio coniuncte cum Consilio, de quo mox diximus, fecerit, usque ad illud tempus valitura, quo Missale et Breviarium rite instaurata edita erunt»».

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se entende pela Constituição Apostólica, que promulga o Ofício divino reformado segundo o decreto do Concílio Vaticano II, em 1 de Novembro de 1970, Laudis Canticum418:

«Conforme os vivos desejos da Constituição Sacrosanctum Concilium foram tidas em conta as condições em que se encontram actualmente os sacerdotes comprometidos no apostolado. Sendo o Ofício a oração do povo de Deus, foi ele disposto e preparado de tal sorte que possam participar nele não somente os clérigos, mas também os religiosos e os próprios leigos. Ao introduzir diferentes formas de celebração, pretende-se dar uma resposta às exigências específicas de pessoas, de ordens e condições diversas. A oração pode assim adaptar-se às diversas comunidades que celebram a Liturgia das Horas, de harmonia com a sua condição e vocação»419.

Ao alcance de todos, a Liturgia das horas, é então, hoje, a celebração primaz do dia de Sábado Santo, enquanto Igreja que espera ansiosa a ressurreição, mas que até então repousa, com Cristo no sepulcro. E tendo esta como objectivo principal a santificação do Homem: «Na Liturgia das Horas, opera-se a santificação do homem e presta-se culto a Deus, por forma a estabelecer uma espécie de intercâmbio, um diálogo entre Deus e o homem: «Deus fala ao seu povo, ... e o povo responde a Deus no canto e na oração. Aqueles que tomam parte na Liturgia das Horas podem colher dela abundantíssimos frutos de santificação, em virtude da palavra de Deus que nela ocupa lugar importantíssimo. Efectivamente, é da Escritura Sagrada que são tiradas as leituras; aos salmos se vão buscar as palavras de Deus cantadas na sua presença; duma forte inspiração bíblica estão repassadas todas as preces, orações e cânticos. Não só quando se lê «aquilo que foi escrito para nossa edificação» (Rom 15,4), mas também quando a Igreja ora e canta, é alimentada a fé dos participantes e os seus corações elevam-se para Deus, a fim de Lhe oferecerem a homenagem espiritual e d’Ele receberem a graça em maior abundância»420

418 PAULUS IV,«Laudis Canticum», AAS 63 (1971) 527-535.

419 PAULUS IV,«Laudis Canticum 1», AAS 63 (1971) 529: ««Quemadmodum Constitutione a verbis Sacrosanctum Concilium incipiente postulatur, ratio est habita condicionum, in quibus hac aetate sacerdotes operibus apostolicis addicti versantur.

Ita autem Officium est concinnatum et instructum, ut idem, cum sit oratio totius populi Dei, partecipare possint non solum clerici, sed etiam religiosi, quin etiam laici. Diversi ordinis et gradus hominibus ac peculiaribus eorum postulatis eo consultum est, quod variae formae celebrationis sunt inductae, quibus oratio accommodari potest variis coetibus ad Horarum Liturgiam incumbentibus, secundum eorum condicionem atque vocationem». 420 «Instrução geral sobre a liturgia das horas 1», in Ofício Divino reformado segundo os decretos do Concílio Vaticano II e promulgado por Paulo IV, Liturgia das Horas segundo o rito romano 1, Gráfica de Coimbra,

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A Liturgia das Horas adquire então, dentro da teologia do Sábado Santo, em que o Redentor, solidário com o Homem, redime-o levando-o à comunhão com o Pai, numa visão trinitária deste mistério, grande importância e torna-se a celebração litúrgica por excelência deste dia.

Sem dúvida que a liturgia das horas, ou Oficio divino, desde o Concílio de Trento tem vindo a ser reestruturado consoante as necessidades de cada época, melhor ou pior concebido:

«O Concílio Tridentino, por falta de tempo, não conseguiu terminar a reforma do Breviário, confiando esse encargo à Sé Apostólica. O Breviário Romano, promulgado pelo Nosso Predecessor S. Pio V, em 1568, preocupou-se sobretudo, como ardentemente se pedia, com a uniformidade da oração canónica, então em decadência na Igreja latina.

Nos séculos posteriores, foram introduzidas diversas inovações pelos Sumos Pontífices Sisto V, Clemente VIII, Urbano VIII, Clemente XI e outros. S. Pio X, em 1911, mandou publicar o novo Breviário preparado por sua determinação. Restabelecido o uso antigo de recitar, em cada semana, os cento e cinquenta salmos, foi totalmente renovada a disposição do Saltério, foi suprimida toda e qualquer repetição, e houve a possibilidade de adaptar o Saltério ferial e o ciclo da liturgia bíblica com o Ofício dos Santos (…). Todo o trabalho da reforma litúrgica foi de novo reassumido por Pio XII. (…) Os frutos de trabalho tão cuidadoso começaram a aparecer com o Decreto sobre a simplificação das rubricas, de 23 de Março de 1955, assim como com as normas sobre o Breviário que João XXIII publicou no Código de Rubricas, em 1960.

No entanto, bem convicto de que só atendera a uma parte da reforma litúrgica, o mesmo Sumo Pontífice João XXIII compreendia que os grandes princípios postos como fundamento da Liturgia tinham necessidade de um estudo mais profundo. Por isso confiou tal compromisso ao Concílio Vaticano II, que então por ele fora convocado. O Concílio tratou da Liturgia em geral e da oração das Horas em particular, dum modo tão abundante e desenvolvido, tão espiritual e vigoroso, que dificilmente se encontra algo de semelhante em toda a história da Igreja»421.

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4. Os Furmulários Litúrgicos do Ofício Divino de Sábado Santo depois da Reforma de