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CAPÍTULO II O Sábado Santo no Coração do Ano Liturgico e do Mistério Pascal

5. O Mistério de Sábado Santo

5.1. O Sábado Santo na Antiguidade Cristã

Na antiguidade cristã a vivencia dos dias que precediam a pascoa, apresentaria muitas divergências nas diversas comunidades cristãs espalhadas pela Asia Menor e Europa. Porém, a prática do jejum, o jejum pascal331, em contexto litúrgico da celebração do Tríduo Pascal, dilatando e avivando a esperança daquele que espera a ressurreição, pareci ser ponto aceite e de grande importância. Assim o foca Santo Ireneu e transmitido na Historia Ecclesiatica de Eusébio de Cesareia: «Uns pensam que devem jejuar um só dia, outros dois, e outros mais um. Alguns contam quarenta horas do dia e da noite para o seu jejum»332. Certamente que parece dúbio afirmar que este excerto remete para o tempo de repouso de Cristo na sepultura. Porém, é o próprio Santo Agostinho que dá a informação das quarenta horas entre a morte de Jesus na Cruz e a manhã da ressurreição333.

329 A. VERHEUL, «El Misterio del Sabado Santo», 53.

330 Expressão usada em maior parte dos manuais de litúrgica ao referir se ao dia de Sábado Santo. No entanto, mais

adiante trabalhar-se-á este aspecto em concreto, procurando reafirmar o dia de Sábado Santo como dia litúrgico, ainda que na ausência de celebração de Eucaristia. Cf. A. VERHEUL, «El Misterio del Sabado Santo», 53.

331 Cf. A. FERNÁNDEZ CARRANZA, Ecce Lignum Crucis, 428.

332 EUSÉBE DE CÉSARÉE, Histoire Ecclésiatique V, 24, 12. In SChr 41, ed. Gustave Bardy, Cerf. Paris 1955, 70. 333 Cf. AUGUSTINUS HIPONENSIS, De Trinitatae IV, 6. In Corpus Christianorum Series Latina 50, ed. W. J.

Mountain; Fr. Glorie, Brepols, Turnholti 1968, 174: «Ab hora ergo mortis usque ad diluculum resurrectionis horae

quadraginta ut et ipsa nona connumeretur, cui numero congruit etiam uita super terram post resurrectionem in quadraginta diebus».

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Já nos séculos II e III, o sábado que antecede a noite pascal já seria de facto um dia de jejum. Para Tertuliano, todos os sábados, assim como todas as sextas são dias de Jejum334, o que não acontecia com as Igrejas de África que parecem não conhecer o jejum ao sábado, senão no sábado que precede a páscoa, uma vez que mais tarde Santo Agostinho apelará ao jejum sabático, tal como as Igrejas de Roma, em memória do repouso do Corpo de Cristo no sepulcro335.

Pode-se testemunhar o jejum sabático que antece a celebração da ressurreição na Tradição Apostólica de Hipólito336, o Papa Inocêncio I, numa carta a Decêncio de Gúbio337, nos relatos

da Peregrina Egéria, que descreve as celebrações da semana santa em Jerusalem, no século IV. Após a celebração de Sexta-feira, havia o costume de orar na Igreja da Ressurreição pela noite dentro, tendo em atenção as condições de cada um338. No entanto o dia de Sábado Santo em

Jerusalém nos relatos da Peregrina Egéria apresenta-se como um dia a-liturgico, sem qualquer celebração da «descida de Cristo aos Infernos»339, em vista a preparação da Vígilia Pascal.

O jejum tem como função a honrar o repouso e a «situação humilhante do sepulcro»340, em que Cristo desce á mansão dos mortos.

O Sábado Santo, no conjunto dos dias litúrgicos da semana santa em Jerusalém um dia de repouso e de espera341.

Egéria relata-nos um ofício breve á hora de tercia e sexta. A reunião de hora de noa, não acontece como o normal, mas todos preparam-se para a Vigília Pascal.

334 Cf. TERTULIANUS, De ieiuniis 2, ed. J. P. Migne (PL 2), Brepols, Turnhout 1844, 955-957.

335 Cf. AUGUSTINUS HIPONENSIS, Epistula 36 [a Casulano], 13.31, PL 33, 136: «Sequitur sabbatum, quo die caro Christi in monumento requieuit, sicut in primis operibus mundi requievit deus illo die ab omnibus operibus suis (Gn 2, 2-3). Hinc exorta est ista in regia illa veste varietas, ut alli sicut máxime populi orientis propter requiem significandam mallent relaxare ieiunium, alli propter humilitatem mortis domini ieiunare sicut Romana et nonnulle occidentis ecclesiae».

336 HIPPOLITE DE ROME,Traditio Apostolica, 33. SChr 11, 116.

337 INNOCENTIUS I, Epistula ex Dionysio Exiguo 25, 4, PL 20, 555-556; Cf. Adrien NOCENT, – «Panorâmica

histórica da evolução do ano litúrgico, 41.

338 AETHERIA, Itinerarium aetheriae II, 37, SChr 21, 241.

339 Cf. Raniero CANTALAMESSA, La Pasqua nella Chiesa antica, Società Editrice Internazionale, Torino 1978, 177 340 A. VERHEUL, «O Misterio del Sabado Santo», 55.

341 Cf. Sebastiá JANERAS, «La Settimana Santa nell’antica Liturgia di Gerusaleme», in AntonyKOLLAMPARAMPIL, Hebdomadae Sanctae celebrativo. Conspectos historicus comparativus. L’antica celebrazione della Settimana Santa a Gerusalemme e il suo sviluppo nei riti dell’Oriente e dell’Ocidente, C.L.V.-Edizioni Lithurgiche, Roma

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Apesar de Egéria não apresentar qualquer leitura Evangélica, Janeras, apresenta a partir de um Lecionário Armeno (Lec. Arm.), do amanhecer de Sábado, e a partir de um Lecionário Georgiano (Lec. Geo.) , do fim do oficio matutino342:

Lec. Arm Lec. Geo.

Sap 2, 12-23 (moste turpissima condemnemus eum)

Is 33, 2-10 (Nunc consurgam, dicit Dominus)

Na Anastasi (sepulcro)

Mt 27, 62343-66 Mt 27, 62-66 (O guardar do sepulcro)

Esta celebração remete para a comemoração de Cristo no sepulcro, feita, in situ, no sepulcro de Jesus, designado por Anastasis.

Charles Renoux é muito parco nas informações sobre os textos do Rito Armeno, no que se refere ao Sábado Santo, afirmando que Ofício Nocturno de Sábado toma a sua estrutura habitual, a mesma do Ofício de manhã, onde é lida a perícope Mt 27, 62-66344.

Na liturgia Siríaca o Grande Sábado é uma continuação da solenidade Ramša de Sexta-feira Santa, constituída por três elementos: A liturgia da Palavra345, uma Procissão com a Cruz, depois da proclamação do Evangelho. Uma segunda unidade da celebração acontece durante a noite, já no Sábado Santo, assemelha-se a um Rito fúnebre.

342 Sebastiá JANERAS, «La Settimana Santa nell’antica Liturgia di Gerusaleme», 45.

343 Apesar do autor apresentar Mt 27, 6-66, por analogia entendemos que não se trata do v. 6, mas do v. 62. Não

se trata apenas da comparação com o Lec. Geo. Mas também graças ao autor Charles Renoux que aborda este lecionário remetendo, para o v. 62: cf. Charles RENOUX, «La Grande Semaine dnas les textes du rite Armenien», in A.KOLLAMPARAMPIL, Hebdomadae Sanctae celebrativo, 64.

344 C. RENOUX, «La Grande Semaine dans les textes du rite Armenien», 64.

345 São lidas algumas leituras: Is 52, 13-53, 12; Dan 9, 20-27; Gal 2, 17-3, 14 e uma junção de vários Evangelhos

(Lc 22, 63-23, 12+Mt 27, 19 + Lc 23, 13-23 + Mt 27, 24-25 + Lc 23, 24-25 + Mt 27, 51-54 + Jo 19, 23-42): cf. Cf. A. KOLLAMPARAMPIL, «Week of the victorius paschal lamb», in A.KOLLAMPARAMPIL, Hebdomadae Sanctae

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Em pleno século IV, Anfilochio de Iconio (Amphilochius Iconiensis (+394) apresenta-nos uma oração em dia de Sábado Santo, referindo-se à festa do sepulcro do Senhor346.