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A importância da mediação em questões familiares

2 A MEDIAÇÃO NO DIREITO DE FAMÍLIA: VIA ALTERNATIVA À

2.2 A importância da mediação em questões familiares

A mediação, instituto proeminentemente apto para o trato dos conflitos na área de família, surge como um meio capaz de efetivar, de forma qualitativa, a resolução dos conflitos. Os conflitos familiares são os mais sensíveis, essencialmente afetivos, e por isso, exigem uma forma especializada de tratamento. Silvio de Salvo Venosa (2007, p. 12) afirma que

mais do que em qualquer outro campo do processo, os conflitos de família podem compor-se tecnicamente pela sentença, mas com ela não se solucionam. Pelo contrário, com frequência o comando judicial, muitas vezes, agrava um problema sem resolvê-lo. Avulta a importância nesse campo do mediador e da mediação, do juiz conciliador e dos corpos profissionais auxiliares das cortes, pedagogos, psicólogos, sociólogos e assistentes sociais.

Lia Santos (apud CACHAPUZ, 2011, p. 133) manifesta-se nesse sentido:

A vitória no processo judicial significa, não raro, e mesmo frequentemente, o nada. A ação teve uma decisão procedente, mas a pretensão deduzida n ão se viu satisfeita. O conflito permanece e, muitas vezes, recrudesce, surgindo sob outras formas e novas ações judiciais.

A mediação, portanto, apresenta-se como a melhor forma para transformar os conflitos, principalmente nas questões familiares. Porém, cabe primeiramente esclarecer alguns aspectos sobre a família.

Cachapuz (2011, p. 96) entende que

a família sempre existiu e, diversamente das sociedades, não tem um fim, havendo uma imortalização na sua essência, pois ela é o centro emocional e social de formação do ser humano. Uma vez estabelecida, ela permanecerá, rompendo -se somente em situações emergenciais, tais como, a morte ou separações. No entanto, o que vai ocorrer é apenas uma mudança estrutural, mas a organização familiar persiste. Até porque o homem não nasceu para viver só, ele é eminentemente gregário.

A família é a base do ser humano e não há quem consiga viver isolado. Por isso dizer que todos possuem uma família, porém, cada uma a seu modo e com suas características particulares. A referida autora define família como sendo o

berço estruturador do ser humano, no qual há um lugar definido para cada membro, com o intuito de desenvolver a sua personalidade, seus aspectos emocionais, sua segurança, para que possa utilizar suas aptidões, como verdadeiro cidadão. E é na família bem estruturada que se formam as pessoas mais equilibradas, com uma grande possibilidade de obter sucesso na vida. (CACHAPUZ, 2011, p. 97).

Giovani Guareschi (apud CACHAPUZ, 2011, p. 97) compreende que toda família é diferenciada, e porque não dizer, única, porém, há situações familiares em que existem muito aspectos em comum:

Existe uma centena de variedades diferentes de uva, desde a branca até a preta, da doce à acida, da pequena à grande. Mas se você espreme uma centena de cachos de uvas de diferentes variedades, o sumo será sempre o vinho. Se você esmaga uvas, jamais obtém gasolina, leite ou limonada. E é o sumo que se leva em conta, em tudo. E o sumo de minha família é igual ao de milhões de famílias “comuns”, porque os problemas básicos de minha família são os mesmos que os de milhões de famílias: resultam, de uma situação familiar, baseada na necessidade de se manter fiel aos princípios que constituem o fundamento de todos os lares comuns

Verônica A. da Motta Cezar-Ferreira (2007, p. 49), ao introduzir o tema dos conflitos familiares, lembra que:

a belicosidade que se expressa nas causas de família torna -se cada vez mais preocupante, pois a dor que gera nos filhos do casal que se separa não traduz apenas um sofrimento momentâneo, mas tem a possibilidade de provocar prejuízos emocionais que podem se estender pela vida toda.

Para a referida autora, o direito de família é a “pré-escola da vida”, pois

é no grupo familiar que a pessoa vai receber a transmissão de valores, crenças e mitos, desenvolver uma visão de mundo e começar a adquirir seu conhecimento tácito. E esse conhecimento advindo da infância e mesclado, mais tarde, a outros conhecimentos adquiridos pelo indivíduo, terá peso significativo nas ações e relações de sua vida. (FERREIRA, 2007, p. 50).

Atualmente em nosso país, seguindo uma visão jurídica, a Constituição Federal de 1988 dispõe sobre duas possibilidades de se constituir família, através do casamento ou pela união estável. Ferreira (2007, p. 52) lembra que:

a sétima Constituição Brasileira, promulgada em 5 de outubro de 1988, consagrou algumas importantes transformações sociais: equiparou homem e mulher (art. 226, § 5º.) e ampliou o conceito de família (art. 226, § 6º.) Dois pequenos parágra fos, dentre outros, provocaram uma autêntica revolução no direito de família, com reflexos no casamento, na separação e nas relações concubinárias.

Porém, o que nos importa aqui, não é a forma como ela foi constituída, mas sim, família “em sentido lato, pois todas têm o fundamento principal que as originou, que é o aspecto emocional-afetivo”. Nesse sentido, Giselda Hironaka (apud CACHAPUZ, 2011, p. 98) se manifesta:

biológica ou não, oriunda do casamento ou não, matrilinear ou patrilinear, monogâmica ou poligâmica, monoparental ou poliparental, não importa. Nem importa o lugar que o indivíduo ocupe no seu âmago, se o de pai se o de mãe, se o de filho; o que importa é pertencer ao seu âmago é estar naquele idealizado lugar onde é possível integrar sentimentos, esperanças, valores, e se sentir, por isso, a caminho da realização de seu projeto de felicidade pessoal.

No mesmo sentido aduz Lilia Maia de Morais Sales (2008):

A família, nos últimos anos, vivenciou inúmeras transformações. O conceito tradicional de família restrito ao conjunto de pai, mãe e filhos já não mais se sustenta diante das mudanças ocorridas no seio familiar e na sociedade como um todo. Vários novos enlaces familiares foram sendo estabelecidos exigindo o reconhecimento e respeito s ociais. O princípio da dignidade da pessoa humana exposto constitucionalmente e em documentos internacionais garantidores da efetividade dos direitos humanos serviram de paradigma para a defesa dessas novas relações. Mães ou pais solteiros, uniões estáveis , produções independentes, uniões entre casais do mesmo sexo, pessoas casadas mas que não dividem o mesmo lar, indivíduos vivenciando o segundo matrimônio com filhos de uniões anteriores, enfim inúmeras são as novas situações existentes que também podem co nfigurar uma família.

A questão está no rompimento das relações familiares quando surgem os conflitos, que normalmente geram as separações e o divórcio. Segundo Cachapuz (2011, p. 113)

No mundo estamos sujeitos a situações e circunstâncias que nos envolv em e, muitas vezes, nos impulsionam a comportamentos errados. Nas relações conjugais, isso se manifesta em proporções significantes, fazendo com que haja choques de opiniões e o sistema emocional seja reciprocamente atingido. Aqui as ações são oriundas especialmente dos instintos que, se agredidos, tendem a contra -atacar, sem a interferência da razão.

Cachapuz (2011, p. 114) lembra que atualmente, observa-se um aumento no desequilíbrio emocional das pessoas, gerando depressão, guerras, homicídios, adolescentes agredindo e matando com armas nas escolas e etc. E adverte: “a principal vítima de toda essa situação é a família que começa a se desconstituir, apossando-se dos conflitos e utilizando-se da fuga ou do rompimento em vez de buscar as soluções mais adequadas, sem perceber que a solução de uma dificuldade é uma descoberta.”

A referida autora compreende muitos fatores responsáveis pelos conflitos familiares, os quais, principalmente ela aponta: a impaciência; a depressão; dificuldade de adaptação ao novo ambiente familiar; a ansiedade; o medo do novo, da rejeição, da perda, da dor emocional, que pode levar a outro fator importante, a mentira; o estresse gerado pela agitação do cotidiano; a violência dentro do lar; a culpa, a qual representa o medo de reconhecer o próprio erro produzindo autopunição; e por fim, a ausência de comunicação entre o casal. (CACHAPUZ, 2011, p. 114-129).

Constata-se que um dos principais fatores apontados pela autora é a falta de comunicação, já que “quando um casal entra em conflito esse é o primeiro ponto a ser atingido. A natureza humana tem mais medo de enfrentar os problemas emocionais do que os físicos, e para pessoas em litígio o diálogo se torna fonte de sofrimento.” (CACHAPUZ, 2011, p. 129).

Segundo Cachapuz (2011, p. 129) “a grande tarefa do mediador é trazer de volta o diálogo, através das técnicas de comunicação que irá facilitar aos mediandos ouvirem novamente suas vozes.”

Porém, o que normalmente acontece, devido a cultura adversarial instaurada na sociedade, é a briga, o rompimento familiar e o que era pra ser uma exceção - tempo houve, inclusive, em que vigorava a indissolubilidade absoluta do vínculo conjugal (GAGLIANO, 2010, p. 33) – torna as dissoluções matrimonias cada vez mais presentes.

Em relação a cultura adversarial:

somos oriundos de uma cultura que privilegiou o paradigma ganhar-perder. O ser humano se vê encurralado entre as impossibilidades legais na resolução de seus conflitos, e sua atitude natural é autodefesa, geralmente agressiva. Vê seu problema como uma batalha em que deve ser o vencedor e se perde nas derrotas, empobrecendo, assim, o espectro de soluções possíveis, o que leva ao ônus de geração de custos econômicos, afetivos e relacionais.

A nossa Carta Magna traz em seu preâmbulo a resolução de conflitos por formas conciliatórias e também se propõe a delimitar normas que possibilitem uma sociedade em harmonia. Como já relatado anteriormente, o Estado responsabiliza -se pela resolução dos conflitos, pela pacificação social, no entanto, observa -se que a solução tem se voltado mais para a letra fria da lei do que para o próprio ser. É por essa razão a necessidade da mudança cultural social. (CACHAPUZ, 2011, 131).

Quanto à separação, ela surge pelas desavenças/conflitos familiares e “é considerada como um fracasso pessoal, levando a uma desorganização emocional que pode causar danos irreparáveis.” (CACHAPUZ, 2011, p. 102).

Ainda, conforme a referida autora, esses conflitos

não surgem de um momento para outro, eles vão se solidificando no decorre r da vida e das experiências relacionais. Na grande maioria das situações elas são o conjunto de frustrações pessoais, desejos não expressos, declarações não feitas, traições. É geralmente consequência da comunicação interrompida ou interpretada erroneamente ou, ainda, simplesmente a constatação de que o ser idealizado não é o ser real. (CACHAPUZ, 2011, p. 101-102)

Cachapuz (2011, p. 103) observa que as separações muitas vezes advém de motivos insignificantes, e por isso, como já mencionado, a falta de comunicação entre o casal é um dos fatores de maior relevância nesses casos, e lembra: “nossa sociedade vive um momento em que é mais fácil fugir dos problemas do que enfrenta-los.”

Segundo Ferreira (2007, p. 63),

numa separação, uns familiares podem reagir com mais tranquilidade, outros podem desesperar-se; um pode ficar deprimido, outro pode ficar enraivecido; uma criança pode começar a ter problemas escolares; um adolescente pode mostrar-se revoltado em circunstâncias que, aparentemente, não guardam nen huma proximidade com a situação. O sistema de significados da família começa a ser questionado. Tudo precisará ser reorganizado.

A separação, especialmente numa família com filhos, não é uma crise tão simples de ser superada. O sofrimento é muito grande para todos e a possibilidade de se chegar a uma solução razoável fica mais difícil.

Porém, o que Ferreira (2007, p. 65) adverte é que

o fato da a família desestruturar-se momentaneamente, todavia, não significa que vá ficar destruída ou seriamente prejudicada. A separação também pode representar desafio e oportunidade para crescimento pessoal de seus elementos. Nem sempre, porém, isso é possível sem ajuda externa; frequentemente, não o é.

Quando um casal se separa ou divorcia, deve ter em mente, sempre, a preocupação maior com os filhos, pois o poder familiar permanece. Segundo Ferreira (2007, p. 115), “os deveres e poderes dos pais em relação à pessoas dos filhos e aos bens destes são mantidos e devem ser dirigidos à formação integral dos menores, conforme reza o art. 3º do ECA.”

O art. 3º do Estatuto da Criança e do Adolescente reza:

A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando - se-lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade. (FERREIRA, 2007, p.115).

Outro fator importante lembrado por Ferreira (2007, p. 118) é o emocional, que por vezes, comanda a ação, quando ajuizada por pais despreparados psicologicamente, deixando a razão e a possibilidade de acordo fora de cogitação. Em relação a guarda e visita aos filhos, estabelecidas em juízo, o referido autor leciona:

A relação “guarda=poder” e “visita=lazer”, comumente, é estabelecida em prejuízo dos filhos. Agravando o quadro, vê-se, com frequência, o genitor detentor da guarda tentar dificultar a execução do regime de visitas e o genitor visitador, que em geral é o alimentante, abster-se do cumprimento da obrigação do pagamento da pensão alimentícia e/ou ir-se afastando dos filhos. Essa cadeia de comportamentos não é linear e pode iniciar-se concretamente por qualquer dos comportamentos. A causalidade é circular e os comportamentos são recursivos. (FERREIRA, 2007, p. 118).

Conforme aduza a referida autora:

A rigor, a detenção da guarda não imprime privilégio nem define, em princípio que um dos pais seja melhor que o outro ou ame mais seus filhos. Deter a guarda do menor não representa ganhar um troféu. O que importa para a criança é ter pais que a ajudem a construir uma imagem edificante do outro. A guarda vivida de maneira amorosa, complementada pela execução serena do regime de visitas, é qu e proporciona equilíbrio emocional aos filhos. (FERREIRA, 2007, p. 119)

Porém, o que ocorre na maioria das vezes, são desentendimentos que acarretam na maneira como os pais lidam com seus filhos, e, por consequência, causam-lhes males, por vezes, irreparáveis. Segundo Ferreira (2007, p. 121),

o que acarreta prejuízos emocionais à criança, vindo, por vezes, a afetar sua vida adulta afetiva e relacional, é o desentendimento entre os pais e o fato de usá -la como “arma de combate”. Suas diferenças, mágoas e ressentimentos é que geram no filho sentimento de insegurança e culpa pela escolha de amor que lhe é imposta, implantando assim, conflitos de lealdade.

É nesse sentido que a mediação surge como de extrema utilidade. Para Cachapuz (2011, p. 103):

Na mediação são enfocados os aspectos emocionais, legais, individualizando cada situação, levando as partes a resgatarem a comunicação, modificando, através de

técnicas específicas, adversários em cooperadores, pois os vínculos familiares não se rompem e sim, se transformam.

O enfoque na separação não se fixa somente na obtenção de um acordo, mas sim, em levar os litigantes a entender como deve ser realizada a convivência, pois é investigado o passado para resolver o presente com o intuito de permitir um futuro promissor. O vínculo conjugal pode terminar, mas o vínculo parental deve permanecer pelo próprio bem dos filhos.

Cachapuz (2011, p. 132) salienta que:

Em nossos dias vivencia-se uma nova releitura do direito em que o “ser” começa a ser visto como em sua integralidade, física, emocional e espiritual e é através da compreensão de seus sentimentos que se vai encontrar a solução, ou melhor, a transformação do conflito para um novo equilíbrio de convivência.

A mediação, como já dito em outros momentos, possui características as quais favorecem a reaproximação das partes, auxiliando-as, através do diálogo direto, a encontrarem a melhor solução para o conflito, focando sempre para o futuro. Para Ferreira (2007, p. 159):

Genericamente, já se pode dizer que há uma certa concordância em que essa prática admite a existência de diferenças, respeita as individualidades e ajuda as pessoas em conflito, ou outras entidades sociais, a encontrarem soluções para seus problemas, sem que se resolva o passado. Ela põe o foco no presente com vistas a um melhor relacionamento futuro. O acordo será uma decorrência do processo mediativo, o qual deverá ter produzido mudanças efetivas na qualidade da relação, de forma a evitar que o conflito seja reeditado.

A referida autora (2007, p. 163) ainda manifesta-se:

Não é função do mediador levar as partes a um acordo, mas é função da mediação cooperativa-transformativa propiciar espaço psicorrelacional para construção de uma nova realidade pelas partes, realidade essa que permitirá que ch eguem a um consenso sobre a questão conflitiva.

Na separação, utiliza-se a mediação como uma forma de tentar evitar uma guerra desnecessária, evitando sofrimento e angustias. Segundo Ferreira (2007, p. 165)

Cabe ao casal decidir se essa é a melhor forma para a dissolução e a solução de seus conflitos. E será, se os oponentes realmente estiverem em busca de paz, na relação, principalmente no que concerne aos filhos. Estatísticas de países que utilizam a mediação com regularidade apontam para um percentu al superior a oitenta porcento de casos bem sucedidos.

Nos conflitos familiares, a mediação apresenta algumas vantagens, em relação ao litígio:

A mediação é menos dispendiosa e menos desgastante, emocionalmente. Na família, as pessoas é que tomam as decisões sobre seu futuro e o dos dependentes. Elas é que estabelecem as normas que regerão a vida dos filhos, dividem o patrimônio e resolvem o que é mais justo a respeito das próprias necessidades.

Na mediação, as pessoas são levadas a agir cooperativamente, diante de opções realistas, e não a fazer acusações desmedidas ou pleitos baseados unicamente em seu posicionamento pessoal.

A mediação favorece a flexibilidade e a criatividade. Além disso, é efetivamente privada, de modo que o casal não precisa levar ao s autos do processo os problemas do casamento. Só leva as soluções. (FERREI1RA, 2007, p. 164).

A mediação é indicada, praticamente, a todos os tipos de conflitos, porém, Ferreira (2007, p. 165) adverte que, no que tange aos conflitos familiares, quando há violência conjugal ou dificuldade na aceitação a mesma é contraindicada:

Casos em que tenham envolvido violência conjugal podem não ser mediáveis. Por exemplo, se o marido era violento, física ou psiquicamente, e a mulher se tornou tão atemorizada que não consegue expor suas opiniões ou cuidar de seus interesses [...] Pessoas que sempre sentem que não estão sendo atendidos em suas reivindicações ou que se enraivecem e perdem o controle emocional quando não são atendidas em todos os seus desejos, também não podem ser mediadas. É, ainda, o caso de pessoas que depois de chegar a um acordo, não o confirmam, e querem mudar tudo. Esses casos acabam em litígio judicial é preciso que um terceiro – o juiz – o decida.

Além desses casos, Ferreira (2007, p. 165) ainda adverte:

Uma defasagem emocional acentuada também contra-indica a mediação. Essa também é contra indicada para pessoas que, por qualquer razão, estejam impossibilitadas de tomar decisões.

Assim, percebe-se que nem sempre os conflitantes estão aptos para dirimir seus conflitos pela via da mediação, uma vez que podem se encontrar em situações emocionais precárias. Além disso, há situações em que as partes objetivam a via judicial para que assim, mesmo que de forma equivocada, haja um vínculo entre ambos. Nesse sentido manifesta-se Rosely Berno (apud TRATUCE, 2008, p. 285)

Muitas vezes, as pessoas não conseguiram resolver seus problemas com seus próprios recursos ou com os da comunidade. Em geral, desejam soluções rápidas, mesmo que extremadas, para eliminar o sofrimento ou não querem a intervenção, tendo a intenção de manter a situação como se encontra e não a reconhece como problemática. Podem, também, provocar brigas judicias intermináveis, não aceitando acordos, pois a solução não é o objeto da ação, mas questões emocionais, gerando atuações. Portanto, nenhum acordo pode satisfazê -las, o desejo pode ser vingança pelo abandono, pela frustração do sonho arruinado, pelo sentimento de fracasso em um projeto de vida, uma indenização do afeto investido, e o próprio processo pode ser uma forma de manter o vínculo com o outro.

Deste modo, cabe ressaltar mais uma vez a característica fundamental da mediação, qual seja, a voluntariedade das partes, ou seja, se não houver espontânea e livre vontade de participar de um processo de mediação, a mesma nunca resultará exitosa. Cachapuz (2011, p. 137) lembra que “é na soberania da vontade das partes que se encontra a principal vantagem da mediação, pois, estando as partes dispostas a buscar um consenso, já se pode vislumbrar, ao nível emocional, a resolução do conflito.”

Compreende-se que família é uma relação duradoura, que perdura no tempo, mesmo após a sua dissolução, já que os vínculos, muitas vezes não deixam de existir. Segundo Tartuce (2008, p. 282)

a relação familiar, afinal, é perene: ainda que haja desconstituição da sociedade conjugal pela separação, remanesce ainda o vínculo (e alguns dos efeitos do casamento, especialmente o da mútua assistência) até a decretação do divórcio. Após a realização deste, ainda assim pode haver relação continuativa no que se refere à obrigação alimentar. Caso esta não exista e não haja mais nenhum tipo de contato, de qualquer forma, é recomendável que haja paz entre os ex-cônjuges, razão pela qual a mediação sempre tem pertinência como método consensual de abordagem do conflito.

Diferentemente, caso haja filhos, a ligação entre os cônjuges será eterna. Afinal, ainda que rompido o elo conjugal, remanesce o vínculo paterno-filial. A criança não divorcia de seus pais, e como ela tem direito à convivência familiar em um espectro

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