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CAPÍTULO IV O OLHAR DO PEDAGOGO NA ELABORAÇÃO DO

4.1 A importância da parceria: pedagogo e produtores culturais de

No Brasil, assim como em grande parte dos países, percebe-se atualmente uma maior atenção à área da educação infantil. As pesquisas e estudos caracterizam-se pela efervescência de ideias e propostas para se pensar a formação das crianças. Observam-se inúmeras mudanças no cenário educacional quanto ao lugar da infância e como essa deve ser tratada na contemporaneidade. É comum perceber crianças totalmente familiarizadas com a tecnologia, em que essa passa a ser parte atuante nas suas vidas. Assim, um dos aspectos da cultura da infância contemporânea é a presença da tecnologia principalmente nos produtos culturais audiovisuais, por exemplo.

A infância contemporânea difere e muito das infâncias de outros tempos. A criança contemporânea tem muita facilidade para a apreensão da tecnologia e em muitos casos a tecnologia substituiu a presença de outra criança, como nas brincadeiras e em momentos de estudo. Diante dessa configuração se torna urgente se questionar qual o papel da educação para um público de nativos

digitas3 que estão imersos e submersos na tecnologia. No caso da nossa

pesquisa, vale ressaltar, nos detivemos apenas na importância do pedagogo para a elaboração e criação de produtos audiovisuais.

A partir da concepção de criança como ser social, histórico e produtor cultural ativo e da observação da diversidade de culturas da infância, percebe- se que a noção de uma única infância contemporânea não atende ao momento histórico atual marcado pela multirreferencialidade. Nesse sentido dialogamos com Sarmento quando afirma que:

[...] as crianças são também seres sociais e, como tais, distribuem-se pelos diversos modos de estratificação social: a classe social, a etnia a que pertencem, a raça, o gênero, a região do globo onde vivem. Os diferentes espaços estruturais diferenciam profundamente as crianças[...]. (SARMENTO, 2004, p.10)

Diante dessas considerações percebe-se um movimento crescente de renovação do cotidiano das creches e escolas de educação infantil que reflete na prática dos professores.

Nesta conjuntura, é necessário a que o professor revisite suas práticas educativas e ofereça experiências significativas às crianças, no ambiente escolar deve levar em conta a cultua da infância contemporânea. Nesta perspectiva o pedagogo deve considerar a criança como o centro de seu planejamento, dando atenção a realidade que ela está inserida e as formas de aprendizagem que fazem parte de seu cotidiano, dando voz a ela, acreditando em seu potencial, respeitando seu desenvolvimento singular, seus ritmos, seu saber e criando oportunidades para que ela se manifeste das mais variadas formas e linguagens. Para que possa assim, em um processo de troca constante, ampliar o conhecimento de mundo e de si mesma. Segundo o artigo 4º das DCNEIS, a prática pedagógica na Educação Infantil deve considerar que a criança:

É sujeito histórico e de direitos que, nas interações, relações e práticas cotidianas que vivencia, constrói sua identidade pessoal e coletiva, brinca, imagina, fantasia, deseja, aprende, observa, experimenta, narra, questiona e constrói sentidos sobre a

3Marc Prensky chama de nativos digitais as pessoas nascidas em meio ao crescimento da tecnologia. Percebe-se a facilidade no manuseio, compreensão rápida dos sistemas e facilidade em realizar tarefas utilizando-os.

natureza e a sociedade, produzindo cultura. (Art.4º das DCNEI Brasil, 2009)

O profissional de educação, o pedagogo tem como pressuposto de sua prática observar as crianças e criar ambientes de aprendizagem que as possibilitem, por meio das interações e brincadeiras, mostrar suas competências, habilidades, desejos, gostos e necessidades.

Com essa reflexão, percebe-se que o pedagogo, diariamente, brinca e interage com a criança e presta atenção no que elas sabem, como aprendem, quais recursos utilizam para demonstrar o que sabem sobre a vida social, como expressam sua singularidade. Enfim, o pedagogo possui conhecimento da criança em sua essência, na sua forma mais pura de expressão e considera atentamente a sua fala, suas ações, necessidades, devendo sempre considerar a noção de tempo de cada criança e incentivar o seu protagonismo individual mesmo estando em um meio coletivo.

Tendo em vista a nova configuração social e familiar abordada no capítulo III deste trabalho, podemos considerar o pedagogo como o adulto que dispõe de mais tempo direto de observação e de interação com a criança da primeira infância contemporânea. Criança essa que é tecnológica e conectada, que tem como uma fonte de divertimento potente o audiovisual infantil.

Neste sentido, ao se analisar a produção audiovisual contemporânea para a primeira infância, percebe-se a necessidade de uma reformulação dos objetivos e direcionamentos, no momento de elaboração dessas produções. Na fase da elaboração desses produtos audiovisuais há de se considerar a inteligência das crianças contemporâneas e não produzir produtos não condizentes com as competências e habilidades dessa infância em questão.

A produção audiovisual infantil deveria deixar de lado as propostas pensadas para uma criança sem identidade, genérica, imatura, que não leva em consideração o seu nível de desenvolvimento, assim como deixar no ostracismo a ideia de que a criança pequena pouco sabe. A esse respeito concordamos com Tonucci quando explicita que:

Contudo, trata-se de um pressuposto errôneo. Vários estudos de psicologia genética e de psicologia evolutiva sustentam e demonstram que, pelo contrário, a criança sabe, começa, a saber, a partir do momento de seu nascimento, e que seu conhecimento desenvolve-se

nos primeiros dias, nos primeiros meses, e nos primeiros anos mais do que ela se desenvolverá pelo resto de sua vida. Nesse primeiro período, portanto, a criança vive experiências decisivas e fundamenta toda a construção posterior, seja social, cognitiva ou emotiva. (TONUCCI, 2005, p. 17)

Assim, acredita-se que neste período da vida, a criança desenvolve-se muito e importantes conquistas são alcançadas. Ela desenvolve o tônus muscular, as noções de lateralidade que possibilitam a exploração de forma autônoma, ela estabelece a fala, forma-se a imaginação e a capacidade de formular o jogo simbólico e de representar por meio de diversas linguagens.

Percebemos uma riqueza de possibilidades ao juntarmos o conhecimento do pedagogo e os produtores do audiovisual infantil. Trabalhando em conjunto com o professor pedagogo a produção audiovisual infantil potencializa o desenvolvimento de produtos que evidenciem o papel protagonista da criança, sua riqueza de saberes e sua energia para explorar e fazer novas descobertas. Também se fazem necessário e urgente que haja uma atualização do pedagogo quanto às tecnologias contemporâneas e uma maior familiaridade com elas. Mas, esse é um assunto complexo que pode desenvolvido em uma próxima pesquisa, não cabendo aqui uma abordagem mais aprofundada sobre essa temática pela escassez do tempo.

4.2 Características da linguagem audiovisuais infantil e o diálogo com a

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