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CAPÍTULO IV O OLHAR DO PEDAGOGO NA ELABORAÇÃO DO

4.2 Características da linguagem audiovisuais infantil e o diálogo com a

Conforme explicitado no item anterior, utilizar a expertise do pedagogo em observar as crianças com atenção, brincar com elas, escutá-las dialogar, conhecer como sentem e como pensam, num ambiente propício para o seu desenvolvimento natural ajuda a entender quem elas são.

Em sua prática cotidiana o pedagogo identifica o conjunto de características que constitui a criança. Uma das características mais latentes relativa à criança é a imaginação. As crianças durante a primeira infância têm a capacidade de transitar entre o real e o imaginário, real e o simbólico naturalmente. Nesta fase, elas possuem suas expressões corporais e sensoriais

indissociáveis. Onde, não identificamos a separação entre o ato de pensar, de sentir e de fazer.

Para Vygotsky os processos de criação na infância ocorrem desde a mais tenra idade, quando a criança copia a realidade e os modelos dos adultos e da cultura em que está inserida, pelo processo de imitação ela cria e recria a sua realidade, as suas situações, a fim de satisfazer suas vontades.

Todos conhecemos o grande papel que nos jogos da criança desempenha a imitação, com muita frequência estes jogos são apenas um eco do que as crianças viram e escutaram dos adultos, experiência anterior nunca se reproduzem de forma exatamente igual e como acontecem na realidade. O jogo da criança não é a simples recordação do vivido, mas sim a transformação criadora das impressões para a transformação de uma nova realidade que responda às exigências e às inclinações da própria criança. (1979, p.12)

Nessa etapa, as crianças possuem uma maneira de pensar que é intuitiva. Através da brincadeira elas iniciam o processo de organização de seu pensamento, iniciando uma lógica formal para entender o universo complexo em que estão inseridas e a entender as exigências e comandos dos adultos. Muitas vezes as solicitações apresentadas pelos adultos são incompreensíveis por elas, visto que seu interior é um misto de sentimentos e emoções. Assim, não é incomum o mundo interior das crianças se chocar com a lógica formal do mundo adulto.

Para superar este paradoxo entre seu mundo interior e o mundo exterior, o mundo do adulto, com a imaginação e brincadeiras elas aprendem a olhar o mundo e constroem conhecimento para compreendê-lo, a partir das suas experiências. Conforme afirma Oliveira:

O brincar, por ser uma atividade livre que não inibe a fantasia,favorece o fortalecimento da autonomia da criança e contribui para a não formação e até quebra de estruturas defensivas. Ao brincar de que é a mãe da boneca, por exemplo, a menina não apenas imita e se identifica com a figura materna, mas realmente vive intensamente a situação de poder gerar filhos, e de ser uma mãe boa, forte e confiável.(2000, p. 19)

Retomando Vigotsky (1979), o começo da imaginação criativa se manifesta na vida infantil. Nesta fase da vida a brincadeira é o canal facilitador das experiências que alimentam essa criatividade.

Para além da imaginação expressiva e do jogo simbólico, a criança em fase da primeira infância pode ser descrita como curiosa. Seus interesses são variados, pergunta sobre o mundo que a rodeia, acredita-se que muitas vezes na expectativa de entender o funcionamento das coisas, uma vez que não entendem, ainda, a causalidade dos fenômenos.

Nessa etapa, o mundo é percebido através dos sentidos e o seu corpo se transforma em ferramentas de um laboratório chamado brincadeiras.

Em geral, demonstram interesse por alguns temas como os dinossauros, os piratas, os dragões, os monstros, as princesas, os castelos, os super-heróis. Temas que transcendem a realidade. São mundos à parte, que se vinculam com os sentimentos e os mundos imaginários.

O audiovisual infantil potencializa essas curiosidades sobre o mundo e temas de seu conhecimento e geradores de interesse transformando-os em histórias imagéticas com movimento que despertam o fascínio nas crianças.

O roteirista, produtor e diretor de audiovisuais infantis Nicolás Zalcman4,

sobre a elaboração de um roteiro para desenvolver um projeto audiovisual infantil, indica que

[...] convém pensar qual seria o modo mais atrativo de contar aquilo que queremos contar. Em geral, tratando-se de um projeto de televisão, assim como para a maioria das outras janelas (cinema, web, ou os apps, por exemplo), não se trata apenas de escolher um bom tema, e nem de propor um formato interessante, uma estética inovadora, um conteúdo adequado ou um personagem rico em gags ou tonalidades. Todos esses elementos ajudam a desenvolver um bom projeto, mas, desde a nossa perspectiva, o mais importante é ver que, para a atenção das crianças, é essencial a existência de uma boa história. O conflito deverá afrontar o protagonista, a sua personalidade deverá mostrar que ele é apto para vencê-lo, chegando ao desfecho, no final de sua aventura. (2015, s/p)

Concorda-se que a história deve ser o ponto mais importante para atrair atenção das crianças, no entanto deve-se considerar a pertinência dessa história a partir do mundo da criança e de seu imaginário. Ouvir a criança sobre o que ela gosta é necessário para a criação de um texto condizente com a cultura da infância contemporânea. Também é necessário ouvir quem convive diariamente

com crianças e conhece melhor seu universo, como os pais, os cuidadores e outros. Nesse trabalho a ênfase é para o pedagogo.

Ainda sobre o lugar da história é importante se entender que anteriormente a definição da história que será contada, precisa-se fazer a pergunta: para quem vamos contar essa história? Assim a definição do público- alvo é o ponto de partida para a seleção dos recursos condizentes para a elaboração do produto audiovisual para uma determinada faixa etária.

De acordo com Nicolás Zalcman:

[...] um dos objetivos mais difíceis na hora de se escolher um tema é o ato de colocar-se na perspectiva de nossa audiência, das crianças. Por isso, é importante não só escolher temas que elas gostam e que as interessam, mas, além disso, fazê-lo com personagens e situações com os quais elas possam se identificar. (2015, s/p)

Tomando por base a experiência e a visão deste roteirista, produtor e diretor audiovisual, a respeito da necessidade de conhecer profundamente a criança para que seja possível o desenvolvimento de um produto audiovisual no qual ela se identifique, retoma-se a ideia central deste estudo, a possível contribuição do pedagogo no processo de elaboração de produtos culturais audiovisuais infantis.

Além da história, outras características para a elaboração de um áudio visual infantil devem ser consideradas. Elas estão destacadas no quadro abaixo e foram elaboradas por profissionais do meio audiovisual.

Quadro 1- Características da Linguagem Audiovisual Infantil Personagens Os mais atraentes são os que vão

gerar pontos de conexão com as crianças, envolvidos em sua própria identidade.

Temas Abordagens sobre o crescimento são

fundamentais nessa etapa: ser pequenos e tudo o que os faz crescer. Nesse período, aparecem as grandes perguntas sobre a origem, o nascimento, a morte.

Narrativa Adequada ao tempo da criança para entender o que acontece na tela.

Humor O humor é fundamental. Utilização do

recurso da piada visual5²²² (do

inglês, visual gag)

Ação Diálogo apoiado nas ações. Pouca

ação aborrece as crianças.

Clareza Clareza do que está acontecendo,

não há espaço pra ambiguidades ou abordagens que destoem do universo do público-alvo.

Personagens crianças Para eles é atraente ver crianças na tela. Fazendo as coisas que eles fazem, encarando desafios.

Som O uso do som nas produções é

extremamente importante.

Acompanha o relato, o acentua um

5piada visual (do inglês, visual gag) é qualquer coisa que transmita seu humor visualmente,

muitas vezes sem o uso de palavras. A piada pode envolver uma impossibilidade física ou uma ocorrência inesperada.[1] O humor é causado por interpretações alternativas dos acontecimentos.[2] Piadas visuais são usadas em mágica, peças de teatro e em atuação na televisão ou em filmes

ruído pode ser algo divertido, um som pode ser algo estranho que monopoliza a atenção.

Música A música é um ponto de conexão

fundamental e a sensibilidade musical é grande nesta etapa de vida. A sonoridade das palavras, o ritmo e a linguagem que se faz música, têm poder mágico nesse despertar poético.

Personagens adultos Adultos falando os aborrecem às crianças.

Fonte: Curso Produção audiovisual infantil de qualidade “da inspiração à realização”, 2015, COMKIDS.

Destaca-se que nesse trabalho não será aprofundada a reflexão das características apresentadas no quadro acima, embora se reconheça a importância dessa análise e desse conhecimento para o pedagogo. Mais uma vez ressalta-se a escassez do tempo para esse desdobramento, mas é imprescindível pontuar, como já mencionado, que o pedagogo precisa conhecer com atenção a área da produção cultural dos audiovisuais para qualquer interferência pedagógica.

4.3 Uma sucinta possibilidade de contribuição do pedagogo para

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