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2 ORIGEM DA TRAÇÃO ANIMAL E USO NA AGRICULTURA

2.1 A importância da tração animal na agricultura

O uso da tração animal teve início na pré-história, substituindo o processo anterior de abertura de sulcos no solo, que era manual. A terra era aberta com auxílio de pedras, ossos ou ganchos de pontas agudas. A tração animal representou uma evolução e um estágio intermediário entre a enxada e o trator. Com o passar do tempo o homem das cavernas domesticou um animal exótico e o atrelou a ele um toco de madeira com ramificações pontiagudas, preso com o auxilio de cipós. Ao fustigar o animal, esse toco se deslocava sulcando a terra para que o agricultor pudesse lançar ali as sementes daquilo que desejava produzir (BERETTA, 1988). Assim, surgiu a tração animal na agricultura, considerada a primeira tecnologia usada pelo homem para produzir alimentos.

A tração animal se refere ao uso de animais para arar, gradear a terra, plantar, adubar, entre outras atividades. Essa técnica foi e ainda é, em menor escala, utilizada por pequenos produtores, sem acesso a grandes maquinários ou empregada em propriedades, cujo declive do terreno não oferece condições para a entrada de máquinas agrícolas de grande porte (JUNQUEIRA, CRISCUOLO e PINO, 1982). O uso de animais domésticos como fonte de potência na agricultura pode ser utilizado para desenvolver esforço de tração e para transporte

de cargas. Por muito tempo a tração animal foi à única fonte de força1 utilizada para realizar trabalho, considerando que a introdução do trator na agricultura data de menos de cem anos.

Para Mialhe (1980), a preocupação com os tipos de fontes de potência utilizadas nas atividades agrícolas brasileiras já vêm de 1823, quando José Bonifácio de Andrada e Silva afirmava na Assembleia Constituinte que a rentabilidade das propriedades agrícolas não dependia da extensão e do valor das terras, nem dos braços escravos que as cultivavam, mas sim da “mera indústria e inteligência dos lavradores”. Mialhe (1980) aponta cinco tipos principais de potência2 usados para as atividades agrícolas: animais domésticos; a energia dos ventos; as quedas d’água; a energia elétrica e os motores de combustão. O próprio homem teve que empregar a sua força para mover instrumentos agrícolas. Recentemente, os búfalos também têm sido empregados.

No contexto deste trabalho, serão priorizadas duas fontes de energia3, animal doméstico para tração e motores de combustão - trator.

Os animais são empregados em trabalhos agrícolas de diversas formas. Para Saad (1983), algumas delas são: o transporte de carga no dorso e o desenvolvimento de esforço tratório, utilizado para tração de máquinas, implementos e veículos de transporte. O desenvolvimento de esforço tratório é convertido em torque4, por meio de atafonas. Beretta (1988) afirma que o primeiro arado de tração animal surgiu na China, por volta de 2.800 anos a.C. Para ele, o homem vem extraindo seu sustento do solo por meio de trabalho animal ou humano há cerca de 4.700 anos. Já Gentil (1984) relata que o exemplar mais antigo foi encontrado em escavações na Itália e tinha origem hitita, com mais de 4 mil anos de existência. O autor descreve que o aradinho, também chamado de ferro ou folha de caipira, de tração animal, foi durante muitos séculos considerado o símbolo da agricultura e até hoje

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Força. Conforme Mialhe (1980) é geralmente definida como a ação que um corpo exerce sobre outro, tendendo a mudar ou modificar seus movimentos, posições, tamanho ou forma. Quando um corpo se movimenta, pára ou se deforma, a causa é uma força. Assim, o conceito de força é compreendido pela manifestação de seus efeitos.

2Potência

, de acordo com Mialhe (1980), a quantidade de trabalho realizada por uma máquina motora na unidade

de tempo denomina-se potência do motor. A potência é comumente designada por força, como na expressão vulgar: “a força do motor”, na realidade a força é apenas um de seus componentes. Para determinar a potência na barra de tração do trator ou tracionar uma plantadora, é preciso conhecer três elementos: a força da tração, a

distância percorrida e o tempo durante o qual a força agiu em seu percurso. 3

Energia. Ainda conforme Mialhe (1980), o conceito de energia tem passado por metamorfoses à medida que se desenvolvem novos ramos do saber. A energia é comumente definida como a “capacidade de produzir trabalho”, mas nem sempre é possível obter trabalho a partir de uma forma qualquer de energia, tornando confuso o termo “capacidade”. Energia deve ser considerada como aquilo que se reduz em proporção e à medida que o trabalho estiver sendo realizado.

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Torque. Mialhe (1980) define torque como um momento, conjugado ou binário, que tende a produzir ou que produz rotação; é o produto de uma força por um raio comumente denominado braço de torque.

cumpre a mesma função, a de afofar a terra para permitir a penetração das raízes da semente que germina e a de acumular água das chuvas favorecendo, assim, a vida da flora e a fauna.

A Revista Dirigente Rural (1981) relata que o manejo do solo à base de tração animal é de uso tradicional em várias partes do mundo, principalmente na Europa, que não abandonou o uso da técnica nem mesmo na fase em que o petróleo era farto e barato. Portanto, o uso da tração animal não é privilégio de produtores brasileiros. Em Londres, veículos puxados por animais eram comuns nas ruas até a década de 80, enquanto na Alemanha ainda perdura a tradição no emprego da tração por bois (BORGES, 1988).

No Brasil, muitas das primeiras máquinas e implementos à tração animal introduzidas no meio rural foram importadas ou vieram junto com os primeiros imigrantes. Ao longo do tempo sofreram acentuada simplificação no processo de fabricação no país. Para melhorar a eficiência e a funcionalidade, o Sistema Brasileiro de Assistência Técnica e Extensão Rural, com o apoio dos próprios agricultores, aperfeiçoou os equipamentos (SILVA, 1982). O tradicional aradinho de tração animal, importado originalmente dos Estados Unidos no fim do século passado pela John Deere, ganhou um novo design e, ainda pode ser visto em alguns museus, entre eles, o Museu do Café, localizado em Ribeirão Preto, interior de São Paulo. O equipamento em sua nova versão é mais leve, com relha7 endurecida para suportar maior abrasão em terrenos arenosos fabricados com rabiças8 leves de madeira, resistentes e duráveis,

com boa versatilidade, sendo até reversível, o que permite trabalhar terrenos mais acidentados (GENTIL 1984).

A modernização dos implementos ocorreu de forma gradativa, desde sua introdução a partir da metade do século passado pelos imigrantes europeus e americanos, até ganhar um grande impulso nos últimos tempos, com o racionamento da energia combustível. Mas, o Brasil que possui um dos maiores rebanhos mundiais, ainda pouco utiliza desse potencial de trabalho (REVISTA BRASIL AGRÍCOLA, 1987).