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4 ORIGEM E EVOLUÇÃO DO TRATOR

6 A MECANIZAÇÃO DA AGRICULTURA BRASILEIRA

6.2 Fatores da modernização da agricultura

O Brasil da era da enxada e da atração animal levou mais de quatro séculos para dar início ao processo de modernização de sua agricultura e conquistar mercados internacionais com a exportação de grãos, carnes, frutas, produzidos antes apenas para o consumo interno. Ainda assim, Martine (1987) afirma que, numa comparação internacional, o Brasil se destaca como um dos países onde a modernização agrícola ocorreu de forma mais acelerada e profunda e que, dependendo da visão de quem o analisa, o Brasil é apontado como um modelo a seguir ou um exemplo a ser evitado.

As máquinas motorizadas no país antes e após a II Guerra Mundial eram de origem americana e europeia e causavam grandes transtornos aos produtores, que não conheciam adequadamente a operação do equipamento, produzido de forma precária e sem levar em consideração as características brasileiras. Em 1959, por exemplo, existiam 150 modelos de tratores estrangeiros no país, de diversas marcas. Os agricultores enfrentavam grandes dificuldades para fazer adaptações nos poucos implementos que existiam e driblar a falta de

peças de reposição importadas e cara, aliadas à longa demora do transporte que, às vezes, levava até quatro meses para entregar a mercadoria. O agricultor recorria, então, ao velho método tradicional usado nas lavouras, a tração animal (ODR, 1972).

Ao contrário do Brasil, os agricultores americanos dispunham de uma quantidade expressiva de informações, devido à existência numerosa de jornais agrícolas, periódicos, programas de rádio e televisão, que transmitiam regularmente todo tipo de notícia técnica e econômica. Schultz (1965) lembra que os serviços dos fornecedores de informações podiam ser contratados, ou seja, uma empresa que distribuísse um novo produto poderia anunciar e pagar espaço em rádio e televisão para informar os agricultores sobre particularidades do produto oferecido. Mas, para isso, o nível de instrução dos agricultores deve ser de tal forma que permita a ele compreender as informações transmitidas, uma vez que dados científicos e tecnológicos sobre propriedades técnicas de um novo fator e o modo de usá-lo exige nível de conhecimento mais elevado. Mas para Schultz (1965), imaginar que os agricultores possam esquecer seus hábitos e exigir novos fatores de produção seria um absurdo.

O modelo de modernização brasileiro caracterizou-se, principalmente, pela expansão de crédito, estímulos à mecanização e indução ao uso de fertilizantes e agrotóxicos (SILVA, 1984). Ferraro et al. (2007) reconhece que a demanda pela modernização da agricultura era apenas um dos aspectos de um projeto mais amplo, a noção de que a ciência poderia promover o controle do homem sobre a natureza. Mas a mecanização da agricultura brasileira não foi fácil e enfrentou diversas dificuldades durante o processo de transição entre o uso de técnicas tradicionais e a mecânica. Nojimoto (1997) aponta alguns fatores, como:

• Estrutura agrária: como a mecanização agrícola ocorreu primeiramente em países onde existiam propriedades relativamente grandes e distribuídas equitativamente, como os Estados Unidos, no Brasil ela tem dificuldade de ocorrer, porque existe grande quantidade de pequenas propriedades de baixa renda e grandes propriedades não exploradas. Assim, as pequenas propriedades não tinham condições técnicas e econômicas de transformar sua produção intensiva em mão-de-obra para uma produção mecanizada, enquanto as grandes propriedades tinham áreas pequenas de lavouras.

• Atuação do Estado: as políticas implantadas nos Estados Unidos, voltadas à manutenção de preços e renda para o setor rural, ou no Japão, onde, além de sustentar a renda, o Estado apoiou o desenvolvimento tecnológico do setor, tiveram grande influência no sucesso da mecanização desses países. No Brasil, essa atuação esteve

limitada: à política de produção de máquinas agrícolas para substituir importações, que gerou uma mecanização parcial (somente em algumas etapas produtivas, como no preparo do solo); ao crédito subsidiado para incentivar a mecanização, oferecido aos produtores que pudessem dar garantias, o que limitou a concessão aos grandes produtores, incapazes de absorver toda a capacidade instalada das indústrias; e à insignificante participação no desenvolvimento tecnológico, com baixos investimentos e falta de atuação na área de fiscalização da qualidade das máquinas agrícolas.

• Baixos salários: embora a remuneração se tenha elevado nas últimas décadas, o autor afirma que ela se encontra muito aquém da dos países desenvolvidos, como os Estados Unidos, onde seria 14 vezes maior do que a do trabalhador de São Paulo, um dos mais bem remunerados do país.

• Produtividade: o desenvolvimento tecnológico na agricultura geralmente provoca a evolução de tecnologias poupadoras de terra (fertilizantes, defensivos e sementes) e de mão-de-obra (mecanização), por serem complementares. Como a produtividade em muitas culturas ainda é baixa no Brasil, há dificuldades na implantação da mecanização.

Paiva (1975) corrobora as dificuldades da modernização da agricultura levando a entender que ela não acontece por si só, mas é dependente de muitos elementos, como o fato de existir agricultores com espírito empresarial; a disponibilidade de conhecimentos técnicos embasados em pesquisas locais ou importados; a presença de serviços eficientes de assistência técnica e financeira que permitam aos agricultores ter conhecimentos e créditos necessários ao uso de técnicas modernas. O desenvolvimento do produto nacional só ocorreu devido à instalação de empresas estrangeiras e ao alto custo do equipamento importado. O autor ainda acrescenta outras duas condições para que a modernização ocorresse e se difundisse como o fato dos agricultores poderem trabalhar em áreas apropriadas, ou seja, com condições de solo e clima favoráveis ao uso de técnicas modernas. A segunda condição apontada por ele se refere ao setor não-agrícola do país, em manter o desenvolvimento capaz de absorver o acréscimo de produção e o excedente de mão-de-obra da agricultura que se moderniza.

Alguns fatores determinam se o agricultor vai aceitar ou não a inserção de algo novo, na visão de Schultz (1965), como o grau de rentabilidade, entendido aqui não só como transações de mercado, mas também de rendimento; componentes que determinam a rentabilidade.