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3 O USO DA TRAÇÃO ANIMAL NO ESTADO DE SÃO PAULO

3.1 Tração animal, zonas e culturas

No Estado de São Paulo, o processo no qual é empregada a tração animal é chamado de burromecanização, por ser este o animal mais usado nas operações rurais (GENTIL, 1984). O Censo Agrícola do IBGE (1950) mostra que dos 221.611 estabelecimentos rurais recenseados no Estado, 53,23% empregavam a força animal, enquanto apenas 0,13% utilizavam força mecânica e 1,07% empregavam a força animal e mecânica. O percentual que não utilizava nenhuma força chegava a 45,57%. Com base nesses dados, Hoffmann (1967) observou que:

• a porcentagem dos estabelecimentos que empregavam apenas força animal era pequena nas propriedades com menos de 5 ha; chegavam ao máximo a 83,60% nas propriedades com 20 a 50 ha, diminuindo lentamente à medida que a área média cresce;

• a porcentagem dos estabelecimentos que empregavam a força mecânica cresce com a área média, o mesmo ocorrendo com a porcentagem dos estabelecimentos que usavam ambas as forças, animal e mecânica;

• na grande maioria das pequenas propriedades – com menos de 5 ha – não se empregava nenhuma das forças;

• a porcentagem de estabelecimentos que empregava força animal era maior para propriedades de médio porte;

• a força mecânica é utilizada significativamente só nas grandes propriedades – com mais de mil ha.

O censo agrícola do IBGE (1960) apontou o uso de força de acordo com as 33 zonas estabelecidas no Estado de São Paulo. A Zona de Marília, que compreendia 32 cidades, foi a

que mais se destacou no emprego da força animal. Dos 38.071 estabelecimentos do município, 21.583 faziam uso da tração animal, seguida por Presidente Prudente com 25.452 estabelecimentos, dos quais 18.265 usavam a técnica. Em terceiro, está a zona de Pereira Barreto com 23.981 estabelecimentos, sendo que 14.971 destes faziam uso da tração animal. O município que menos empregou a tração animal foi o litoral de São Sebastião. Dos 855 estabelecimentos, apenas 4 fizeram uso da técnica. Em Marília, assim como em Presidente Prudente, Pereira Barretos e São Sebastião, a atividade econômica predominante era a agricultura e a agropecuária, seguida da pecuária e da horticultura e floricultura. É possível observar nos Apêndices A e B, os estabelecimentos que empregavam a tração animal, de acordo com a zona agrícola do estado de São Paulo, em 1960. O número total de estabelecimentos no estado era de 317.374, dos quais 162.264 usavam a tração animal. Havia 156.890 veículos a tração animal no estado. A área total era de 19.303.948, sendo que a atividade predominante era a agricultura.

O levantamento censitário de unidades de produção agrícola do estado de São Paulo de 2007/2208 apontou o município paulista de Guapiara como o maior usuário de implementos para tração

animal com 1.875 unidades. Com um implemento apenas foram registrados 43 municípios (SÃO PAUlO, 2008).

Schmidt (1985) relata que a tração mecânica, motorizada, nos anos de 1960 e 1970, no Estado de São Paulo, passou de 2 para 9,4%, enquanto a tração animal foi de 51,1 para 50%. A combinação de tração animal e mecânica passou de 4,5 para 16,2%. A tração motorizada era empregada em operações mais pesadas, como a aração e gradeação e, a tração animal para semeação e cultivo, reduzindo o uso da enxada. No mesmo período, o emprego da força humana caiu de 42,7 para 25%. O trabalho mostra que a proporção de forças utilizadas variava de região para região e de acordo com as condições, como topografia, culturas exploradas e ainda, tamanhos das propriedades.

Na região de Ribeirão Preto, a motomecanização aumentou significativamente, enquanto em Presidente Prudente, a tração animal diminuiu. Um dos motivos para o avanço de uma técnica e a queda da outra pode ser explicado pelo tipo de topografia da região, considerada boa, aliado às culturas predominantes, como o café, cana-de-açúcar, soja, algodão e grandes áreas de arroz de sequeiro. Nas duas últimas culturas, a motomecanização aumentou, enquanto a tração animal diminuiu, mas a combinação das duas técnicas cresceu bastante e o uso da força humana reduziu. Já a região de Presidente Prudente contrasta com a de Ribeirão Preto, pela topografia bastante acidentada e com predominância de culturas com

espaçamentos mais fechados, entre elas, o amendoim e o algodão. A utilização da motomecanização não foi expressiva, ao contrário do emprego da tração animal que aumentou ainda mais. Nessa região, a força humana também foi reduzida (SILVA, 1984). De 2000 a 2006, o número de pessoas ocupadas na agropecuária paulista oscilou do máximo de 1.289,9 mil pessoas em 2000 para o mínimo de 1.049,3 mil em 2004.

Dados do Censo Agropecuário do IBGE (1980) concluíram que no estado de São Paulo, 52% dos estabelecimentos rurais faziam uso da tração animal e 80% apresentavam áreas menores de 50 ha, enquanto que no Paraná, 53% utilizavam a tração animal e 70% das unidades produtivas eram menores que 20 ha. O levantamento ainda constatou que quanto maior o tamanho do estabelecimento agropecuário maior a tendência para consumir óleo diesel e gasolina. Em 1980, o uso de cavalos na região Sudeste era bastante expressivo, chegando a 741.444 cabeças contra 697.661 no Nordeste, 572.918 no Sul e 407.859 no Centro-Oeste do país. O número de muares empregados no Estado de São Paulo era de 161.911 animais, ficando atrás apenas de Minas Gerais, com 203.617 cabeças.

Levantamento realizado por Daniel et al. (1986) por meio de questionários, e respondidos por 472 Casas da Agricultura da CATI, pertencentes à Divisão Regional Agrícola de dez cidades do Estado de São Paulo, mostrou que 7,0% - 21,081 – das propriedades existentes utilizam força animal como fonte exclusiva de força na mecanização agrícola. Os agricultores utilizavam a técnica na preparação do solo para a lavoura. A área de 164.285 hectares, correspondente a 2,7% de toda área cultivada no território paulista, era mecanizada por 41.702 animais, sendo que o número médio utilizado por propriedade é de cerca de dois animais, enquanto a área média trabalhada por propriedade é de 5,6 hectares. Na principal região produtora de feijão do Estado, Itararé, 80% dos proprietários dependiam exclusivamente de máquinas de tração animal (BORGES, 1988). De acordo com os autores, os dados confirmam a importância da tração animal na produção agrícola do Estado de São Paulo.

Já na cultura do café, na qual podem ser empregadas as operações manual, tração animal e até a mecanização quase total, dependendo do tamanho do cafezal e da declividade do terreno, na safra de 2004/05 a colheita manual representou 75,% da área total colhida no estado de São Paulo, enquanto que para o mesmo período, a utilização de tração animal na aração e gradeação da terra representou 24,1%, apenas 15 pontos percentuais abaixo comparado aos anos de 1997/98. Em 2005, a área cultivada com café era de 237,9 mil hectares, com produção de 3,4 milhões de sacas de 60 kg de café beneficiado contra os 314,6 mil hectares de 1998, quando a produção chegou a 4,1 milhões de sacas (VICENTE et al.,

2007). Conforme os autores, as capinas nos cafezais paulistas ainda eram realizadas em 30,1% com o uso da enxada e com animal, 5,7%, nos anos de 2004/05. Vicente et al. (2010) relata que a área com soja no estado de São Paulo foi praticamente toda colhida mecanicamente em 2003/04, enquanto a de milho passou para 83,9%. A colheita manual era realizada em 23,5% dos imóveis até 20,0 ha. Para o arroz, o crescimento da mecanização também foi marcante, atingindo 70,9%.

A área de cultivo de importantes culturas anuais da agricultura paulista ainda teve a área de cultivo bastante reduzida entre 1991/92 e 2003/04, sendo em maior proporção para algodão, arroz, feijão e milho e, em menor para amendoim. A soja apresentou pequeno crescimento na área cultivada. Associada às reduções dos cultivos, intensificou-se a mecanização de todas as etapas do processo produtivo, com destaque na colheita, principal operação geradora de emprego. As operações de plantio para as culturas de algodão e soja foram efetuadas, em sua totalidade, por meio de plantadoras motorizadas, enquanto na área com amendoim foi de 98,4% e na área de milho, 92,6%. As culturas de arroz e feijão apresentaram índices menores de mecanização, 68,0% e de 85,0%, respectivamente. Porém, ainda é possível observar o uso de tração animal em imóveis com até 500 ha (VICENTE, et al., 2010).

Na citricultura observou-se que a utilização de tração animal é menos empregada, sendo que o sistema mais usado é a motomecanização, mas depende da região, mão-de-obra disponível, área cultivada, entre outros fatores. No processo utilizado nas operações de capina e coroação no chamado “cinturão citrícola”, que compreende os municípios de Campinas, Ribeirão Preto e São José do Rio Preto, por apresentarem boas condições de clima e solo, que contribuem com o aumento da produtividade, o emprego da tração animal foi bastante reduzido, não ultrapassando 2% nos anos de 1974/75, atingindo 4% no período de 1985 a 1989 e não registrando nada em 1991/92. Já o emprego de tratores e implementos registrou percentuais bem mais altos, sendo de 52% para 74/75, 214% para os anos de 85 a 89 e 63% para o biênio 91/92 (BAPTISTELLA, 1994).

3.2 A intensidade de uso da tração animal, por tamanho de propriedade, no Estado de