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A importância das diferentes formas de leitura no cotidiano escolar

Saber ler e produzir textos de diferentes formatos, com diferentes objetivos e registros da língua é um ato de cidadania. Saber transitar entre as variações linguísticas é um dos passos necessários para viver em sociedade: se você precisa encaminhar um e-mail para seu chefe, mandar um recado de condolências, conversar com um amigo em um ambiente descontraído ou analisar um edital de um concurso, todas essas diferentes modalidades exigem uma adaptação do discurso. Às vezes, é requerido que utilizemos uma variante mais formal da língua; às vezes, uma mais informal. (Flach, 2018).

Portanto, ensinar aos nossos alunos os diferentes registros de uma mesma língua e como ou quando utilizá-los faz parte de um trabalho maior de formação de um cidadão consciente e capaz de atuar com propriedade em sociedade. Esse trabalho inclui proporcionar aos estudantes a possibilidade de tomar contato e de ler diferentes textos em sala de aula. Depois de ler e de estudar o gênero, os estudantes podem ser convidados a produzir os seus próprios textos. Se esse trabalho puder ser construído da forma mais significativa possível, melhor ainda. Por exemplo, quando os alunos estiverem aprendendo como se escreve cartas ou e-mails, por que não os enviar, de fato? Ou, se o gênero for notícia de jornal, por que não construir um jornal da turma com as informações sobre o cotidiano deles e sobre a escola? Tudo para que os estudantes consigam enxergar como esses diferentes gêneros funcionam na prática. Sobre a importância da leitura em sala de aula, encontramos a seguinte informação nos Parâmetros Curriculares Nacionais:

33 A leitura é um processo no qual o leitor realiza um trabalho ativo de compreensão e interpretação do texto, a partir de seus objetivos, de seu conhecimento sobre o assunto, sobre o autor, de tudo o que sabe sobre a linguagem, etc. Não se trata de extrair informação, decodificando letra por letra, palavra por palavra. Trata-se de uma atividade que implica estratégias de seleção, antecipação, inferência e verificação, sem as quais não é possível proficiência. É o uso desses procedimentos que possibilita controlar o que vai sendo lido, permitindo tomar decisões diante de dificuldades de compreensão, avançar na busca de esclarecimentos, validar no texto suposições feitas (BRASIL, 1988, p. 69–70).

Você pode perceber, portanto, a riqueza que é o trabalho com a leitura, que mobiliza muito mais competências e conhecimentos do que simplesmente os de decodificar letras, formando palavras. Fica evidente, dessa forma, a importância de se trabalhar rotineiramente com a leitura em sala de aula.

A leitura pode ocorrer de diferentes formas e modalidades: a leitura realizada pelo professor para os alunos; a leitura realizada pelos alunos de forma silenciosa ou em voz alta; a leitura compartilhada; a leitura realizada para apresentar para os colegas. Cada vez mais, a leitura tem ocupado um local privilegiado nos planejamentos dos professores e nas aulas, servindo como base para inúmeros tipos de atividades.

Isso porque a leitura pode oferecer inúmeras possibilidades: a leitura para que o próprio aluno reflita e critique, atribuindo um sentido a ela; para que debata um assunto junto com os colegas e com o professor; para que releia e compare as conclusões da primeira leitura com a segunda leitura; ler para ouvir o que os outros têm a dizer sobre o texto; ler para comparar essa leitura com a leitura de outros textos; ler para apreciar. (Flach, 2018).

Nesse sentido, é importante que o conceito de fluência leitora esteja claro, visto que essa é uma das grandes reclamações dos professores: os alunos não leem ou raramente leem; os alunos não leem com atenção; os alunos não compreendem o que leem. Para definirmos a fluência leitora, devemos, ainda, discutir a questão do letramento. Letramento, ao contrário da alfabetização, não pressupõe apenas um sujeito capaz de decodificar letras e de, consequentemente, desvendar as palavras que formam um texto; pressupõe um sujeito capaz de decodificar um texto, mas também de interpretá-lo, de fazer inferências a partir dele e de perceber esse texto dentro do seu contexto.

34 Todo texto é produzido por um autor em uma determinada circunstância, e entender e perceber como essas informações se relacionam com o conteúdo do texto é tarefa de um leitor competente. Além disso, o leitor deve ser capaz de saber quando utilizar determinados tipos ou gêneros de texto de acordo com as diferentes situações e modalidades da língua e deve saber quais são as suas funções. Um leitor fluente deve conseguir realizar todas essas etapas de leitura.

Agora, é importante que você perceba quais são os fatores que determinam a compreensão da leitura de um texto. Koch e Elias (2006) apontam dois elementos fundamentais para refletirmos sobre o sucesso ou não de uma leitura: o autor/leitor e o próprio texto. Primeiramente, o aspecto leitor/autor está relacionado ao “[...] conhecimento dos elementos linguísticos (uso de determinadas expressões, léxico antigo etc.), esquemas cognitivos, bagagem cultural, circunstâncias em que o texto foi produzido [...]” (KOCH; ELIAS, 2006, p. 24). Leia o texto a seguir para perceber como isso funciona na prática:

VIDE BULA

[...]. Muito se tem tentado com drogas tradicionais, ou novidades, porém até agora nenhum teve o tão almejado efeito de curar este pobre enfermo. Há bem pouco tempo foi tentada uma droga novíssima, quase não testada, mas que prometia sucesso total, a “Collorcaína”, que, infelizmente, na prática de nada serviu, seus efeitos colaterais extremamente deletérios (como a liberação da “Pecelidona”) quase acaba com o doente. Porém, para o ano que vem, novos medicamentos poderão ser usados. Enquanto isso não acontece, o doente consegue se manter com doses de “Itamarina” que é uma espécie de emplastro que, se não cura, também não mata [...] (KOCH; ELIAS, 2006, p. 25).

Para que o leitor compreenda o texto, ele precisa lançar mão de conhecimentos de mundo específicos, precisa conhecer a história recente do Brasil, principalmente no que diz respeito à política e às eleições presidenciais. O autor inventou palavras, como “Collocaína” e “Itamarina”, a partir de nomes de presidentes ao brincar com outro gênero textual: a bula de remédio. O doente, no caso, é o Brasil, e os políticos são possíveis remédios receitados para a cura do paciente. Dessa forma, o leitor deve levar em

35 consideração esses conhecimentos (sobre história e política no Brasil do século XX e sobre o gênero textual bula) para compreender, de fato, o texto. Assim, as autoras concluem:

[...] podemos dizer que os conhecimentos selecionados pelo autor na e para a constituição do texto ‘criam’ um leitor-modelo. Desse modo, o texto, pela forma como é produzido, pode exigir mais ou exigir menos conhecimento prévio de seus leitores [...] (KOCH; ELIAS, 2006, p. 28–29).

O segundo elemento que determina a leitura é o próprio texto e a sua legibilidade. Podemos pensar em aspectos materiais, linguísticos e de conteúdo. Dentre os materiais, podemos citar: tamanho, fonte e clareza das letras, cor e textura do papel, comprimento das linhas, tamanho das frases e dos parágrafos, qualidade da tela, etc. Já os linguísticos abrangem um número extenso de aspectos, como o léxico, o excesso de orações subordinadas, ausência de nexos para marcar a relação entre orações e frases, ausência ou inadequação do uso de pontuação, etc. Por último, a questão do conteúdo, que pode ser mais técnico ou não, mais complexo ou mais simples.

Pensando em todas essas características do texto e da leitura de texto, o professor deve estar sempre atento para realizar um trabalho diversificado: trabalhar não apenas com diferentes tipos e gêneros textuais, mas também com atividades que privilegiem vários aspectos, capacidades, conhecimentos e habilidades que devem ser levados em

36 consideração e mobilizados durante a leitura de um texto. Dessa forma, o aluno começará a realizar leituras cada vez mais conscientes e efetivas.