• Nenhum resultado encontrado

Gêneros literários são um conjunto de obras que possuem características similares tanto na sua forma quanto no seu conteúdo. Existem três grandes gêneros literários: o

65 gênero narrativo, o gênero lírico e o gênero dramático. Os gêneros literários se diferenciam pelos seus gêneros discursivos/textuais. Isto é, cada gênero literário é um tipo de texto diferente. Os gêneros textuais, segundo Bakhtin (1992), são gêneros do discurso, são tipos relativamente estáveis de enunciados produzidos nas diferentes esferas da atividade humana.

Os gêneros do discurso são variados e ilimitados, pois representam as infinitas situações comunicativas presentes nas relações humanas. São exemplos de gêneros textuais: cartas, e-mails, receitas culinárias, romances, reportagem, contos, horóscopo, cardápios, sermão, entre muitos outros. Ou seja, quanto mais situações de linguagem, tanto orais quanto escritas, forem criadas pelas relações humanas, mais gêneros textuais existirão. Segundo Marcuschi (2002), os gêneros textuais surgem de acordo com as necessidades e atividades socioculturais e também na relação com as inovações tecnológicas. A tecnologia e os novos aparelhos, como tablets e smartphones, interferem nas situações comunicativas diárias das pessoas. Assim, temos uma explosão de novos gêneros textuais, devido a essas novas formas de comunicação, tanto faladas quanto escritas, influenciadas pela tecnologia.

Os gêneros literários são gêneros do discurso que tem a literariedade como característica, como, por exemplo, a narrativa literária. Assim, são normalmente escritos e tem uma estética definida. A literariedade é um termo cunhado por Roman Jacobson para distinguir textos não literários, comuns, de textos pertencentes à literatura. Os textos literários se servem da realidade para criar mundos fictícios, fantásticos, utilizando-se da linguagem literária para criar outras formas de ver a experiência humana.

Assim, a ficcionalidade é uma das características principais do texto literário (ainda que nem toda a literatura seja ficcional), além da linguagem literária. A linguagem literária é aquela cuidadosamente selecionada pelo autor, uma linguagem estética, que pode utilizar metáforas e tem como um de seus objetivos a fruição do texto pelo leitor. Apesar de poderem ser de ficção, ou sobre mundos alternativos, inventados, as obras literárias precisam ter verossimilhança. Não necessariamente o que está sendo contado, declamado ou lido necessita existir no mundo real, mas a história inventada necessita de verossimilhança, isto é, lógica interna, o que ocorre no interior da história deve fazer sentido naquele mundo interno ao texto. Em resumo, a narrativa literária é um tipo de

66 texto específico que constitui o gênero literário narrativo. A narrativa literária é, portanto, um gênero do discurso e difere de outros gêneros literários quanto às suas características formais. A narrativa possui elementos indispensáveis para a sua caracterização e técnicas discursivas próprias. (Ceia, 2009)

O Quadro 1 nos ajuda a visualizar e a entender a diferença entre gêneros do discurso e gêneros literários.

67 O gênero narrativo literário tem características discursivas bem marcantes. A sua tipologia textual é narrativa. Nas narrativas, necessariamente, se transmite uma mensagem, que está inserida em um tempo específico, escrita de modo que o receptor consiga entendê-la. Essa mensagem começa no estado inicial e termina no desfecho. A mensagem é emitida pelo narrador, que conta a história, e captada pelo receptor do texto, o narratário, mas só é compreendida e interpretada pelo leitor real, que faz a interpretação dessa mensagem olhando o todo: o que foi enunciado e como foi enunciado. Entre o que é enunciado, por quem e para quem e como, temos os níveis do discurso.

Émile Benveniste é o primeiro linguista, cientista da linguagem, a distinguir a língua em si do emprego da língua. Benveniste introduz uma visão enunciativa da linguagem com a Teoria da Enunciação, trazendo para análise o discurso, que é a língua posta em ação pelo sujeito. Segundo Benveniste (1995), há dois tipos de signos, códigos utilizados na linguagem: os que pertencem à sintaxe da língua e os que são característicos das “instâncias do discurso”. Segundo o autor, “Instâncias do discurso” são “[...] atos discretos e cada vez únicos pelos quais a língua é atualizada em palavra por um locutor” (BENVENISTE, 1995, p. 277).

Os signos que são característicos às instâncias do discurso são os pronomes pessoais eu e tu, que só existem na rede de indivíduos que a enunciação cria e se produzem na e pela enunciação do locutor. Enunciação, para Benveniste, é o ato de se apropriar da língua e colocá-la em prática no discurso. Cada eu tem sua referência própria e corresponde cada vez a um ser único. Eu é o “[...] indivíduo que enuncia a presente instância de discurso que contém a instância linguística ‘eu’” e tu é o “[...] indivíduo alocutado na presente instância de discurso contendo a instância linguística ‘tu’” (BENVENISTE, 1995, p. 279, grifo nosso).

Eu e tu não existem como signos virtuais, pois só existem à medida que são atualizados nas instâncias de discursos, e são eles que marcam o processo de apropriação do discurso pelo locutor. Benveniste ressalta que eles não remetem à realidade nem a posições objetivas no espaço ou no tempo, mas remetem à enunciação, cada vez única, que os contém.

68 Aqui, vemos que Benveniste amplia a visão de linguagem para uma linguagem que é assumida como exercício pelo indivíduo, em contrapartida a uma linguagem vista como um sistema de signo, códigos escritos, sem interação com o mundo. Dessa maneira, é possível perceber a preocupação de Benveniste com o discurso, com a enunciação e o sujeito, ressaltando a presença do homem na língua.

A comunicação intersubjetiva proposta por Benveniste se realiza no discurso. E “[...] é no discurso atualizado em frases que a língua se forma e se configura. Aí começa a linguagem” (BENVENISTE, 1995, p. 140), ou seja, “[...] o discurso como a linguagem posta em ação e necessariamente entre parceiros” (BENVENISTE, 1995, p. 284). Para Benveniste, o discurso é a língua assumida pelo homem que fala, sob a condição de intersubjetividade, isto é, entre sujeitos, o que torna possível a comunicação linguística.