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Os profissionais que atuam direta ou indiretamente com a saúde bucal, como cirurgiões-dentistas e fonoaudiólogos, deverão trabalhar cientes de que os problemas na mastigação não se restringem aos danos bucais localizados, mas afetam também o convívio social e a qualidade de vida dos indivíduos (84). E com o aumento da população idosa, os profissionais da saúde precisam estar preparados para atuar com essa faixa etária (27), entendendo que as alterações no SE são frequentes no idoso e podem trazer consequências que interferem na melhoria das condições de vida desses indivíduos (85).

Um fator primordial nas atividades de saúde é a prevenção, realizada através de ação conjunta e interdisciplinar (85). Para definir ações de prevenção específicas é importante conhecer o perfil epidemiológico da população (52) e para tal, o desenvolvimento de instrumentos – como de rastreamento – específicos para a condição e população a ser pesquisada, válidos e confiáveis, são fundamentais (20– 23).

No “Caderno de Atenção Básica - Envelhecimento e Saúde da Pessoa Idosa”, publicado pelo Ministério da Saúde em 2006, existem instrumentos de avaliação específicos para compor a “Avaliação Global do Idoso” (86). No entanto, no âmbito fonoaudiológico, apenas a acuidade auditiva surge mais explicitamente. Existem

alguns comentários sobre voz e linguagem, porém, ambas aparecem de forma coadjuvante, provavelmente pela inexistência de instrumentos de rastreamento confiáveis e aplicáveis na lógica da Atenção Básica; e as funções de deglutição e mastigação não são abordadas.

Nesse contexto, buscando preencher a lacuna de instrumentos específicos fonoaudiológicos para a população idosa, Pernambuco (21,87–89) apresentou o instrumento de rastreamento para alterações vocais em idosos (RAVI) e Magalhães (22) o instrumento de rastreamento para disfagia em idosos (RaDI), ambos desenvolvidos e validados especificamente para a população idosa, de acordo com as diretrizes do SEPT.

Rastreamento significa a utilização de instrumentos para identificar precocemente características sugestivas de risco para uma provável doença, condição ou agravo em qualquer indivíduo, independente de seu estado de saúde, seguido de encaminhamento para confirmação diagnóstica e tratamento (52,90,91). Protocolos de rastreamento devem ser de fácil aplicação, rápidos, com risco reduzido, baixo custo e sensíveis. A sensibilidade é a característica mais importante de um instrumento de rastreio, para produzir uma baixa taxa de falso-negativos. A especificidade é mais importante no momento do teste de confirmação diagnóstica, que é considerado o segundo passo de um programa de rastreamento (52,92).

Ressalta-se que instrumentos de rastreamento podem ser exames instrumentais ou laboratoriais, como também instrumentos de autoavaliação que abordem um conjunto de sinais e sintomas do agravo a ser rastreado na população (93). Embora seja uma avaliação subjetiva da própria população alvo sobre a sua condição de saúde, tem sido utilizada em inquéritos populacionais e considerada confiável para rastrear condições de saúde na população (94).

Na literatura não encontramos instrumentos de rastreamento para alterações mastigatórias em idosos. Alguns estudos que apresentam a frequência de alterações mastigatórias em idosos aplicam questionários autorreferidos que abordam a mastigação, como o OHIP (24) e o GOHAI (25), no entanto, são instrumentos utilizados para medir o impacto da OHRQoL e não de rastreamento de distúrbios mastigatórios.

O OHIP foi desenvolvido com o objetivo de fornecer uma medida abrangente de disfunção, desconforto e incapacidade autorreferidos atribuídos às condições bucais. Começando com 49 perguntas, versões reduzidas com 14 itens e 5 itens

foram posteriormente criadas e validadas, tornando-se ferramentas mais práticas e atraentes para a medição eficiente da OHRQoL. O questionário contém cinco itens considerando a mastigação, mas não relacionam dificuldades ou alterações da própria função mastigatória; são questões gerais de mastigação em três das sete dimensões conceituais do impacto: limitação funcional (dificuldade de mastigação), dor física (desconfortável para comer) e incapacidade física (evitar comer, dieta insatisfatória e incapaz de comer - próteses) (24,95,96).

O GOHAI foi desenvolvido para medir os impactos psicossociais associados a doenças bucais em adultos mais velhos e foi posteriormente validado para adultos. Ele contém 12 perguntas de três dimensões: função física, função psicossocial e dor e desconforto. As perguntas contêm itens negativos e positivos, o que pode induzir em erro os respondentes. O índice contém três itens considerando a mastigação, em duas das três dimensões de impacto: função física (limite alimentar devido a problemas dentários e problemas de morder e mastigar) e dor ou desconforto (comer sem sentir desconforto) (25).

Encontra-se na literatura um instrumento que propõe medir os impactos da função mastigatória prejudicada em pacientes usuários de prótese dentária, o CFQ (26). Foi desenvolvido com 10 itens que avaliam a dificuldade em mastigar diferentes tipos de alimentos (maçãs ou cenouras, carne ou bacon, biscoitos ou bolachas, pão fresco, nozes diferentes, alface ou repolho cru, goma de mascar), dificuldade em morder diferentes alimentos, sobre se sentir inseguro durante a mastigação, se o alimento grudar ou pegar nos dentes ou dentaduras (26). O CFQ é um questionário destinado a avaliar a função mastigatória e não o impacto psicossocial do distúrbio mastigatório ou sua influência na qualidade de vida, no entanto, também não é um instrumento de rastreio, nem validado para a população idosa.

Diante deste panorama e da necessidade de rastrear alterações mastigatórias em idosos frente à alta prevalência encontrada na literatura, foi proposto o desenvolvimento do RAMI. Com o objetivo de garantir um instrumento válido e confiável, que meça o construto de alterações mastigatórias em idosos, apresente consistência dos itens no tempo e espaço, reprodutibilidade e controle dos erros de mensuração como preconiza a literatura (20,97), o RAMI foi desenvolvido de acordo com as premissas do SEPT, por serem consideradas robustas e tradicionais do ponto de vista psicométrico. (20,28).

2.4 DIRETRIZES PARA O DESENVOLVIMENTO E VALIDAÇÃO DE

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