• Nenhum resultado encontrado

3 GESTAO DE DESTINOS TURÍSTICOS

3.1 A IMPORTÂNCIA DO PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

No mundo contemporâneo, pós-moderno, de relações dinâmicas e acelerado avanço tecnológico, as transformações são constantes frente aos desafios da globalização; a sociedade cria mecanismos para prever, estimar e controlar possíveis problemas através de estratégias, onde o planejamento passa ser fundamental para encarar as mudanças apresentadas nesse cenário.

O peculiar perfil rural do Engenho do Mato, estando localizado próximo de grandes centros urbanos como o do Rio de Janeiro e de Niterói, faz com que seja ainda mais complexo o entendimento sobre as dinâmicas das mudanças nas relações e no território, tendo em vista o acelerado avanço da expansão urbana. Assim, o planejamento estratégico do destino turístico torna-se ainda mais importante para garantir a sustentabilidade e a competitividade, a partir da identificação das características socioculturais do território e dos interesses dos envolvidos. A figura a seguir ilustra a ruralidade na paisagem local.

Fonte: Arquivo pessoal

Para Vignati (2008, p.43) “o objetivo do planejamento de destinos turísticos é transformar recursos em produtos turísticos e produtos em ofertas competitivas”. Segundo o autor, os recursos são os atrativos do território, podendo ser seu povo e as riquezas materiais e imateriais. Quando um recurso passa a ter acessibilidade, está à disposição do público, transforma-se em produto, e este quando é vendido fora da localidade, comercializado no mercado, converte-se em oferta. O Engenho do Mato pode ser entendido como um produto turístico, mas que ainda tem muito recurso disponível para aumentar em número e qualidade este produto. Assim sendo, entende-se que o bairro poderá ser um diferencial de oferta da cidade de Niterói no mercado do turismo.

Para Petrocchi (1998, p.31-34) a estratégia “é um conjunto harmonioso e integrado de objetivos que são de importância fundamental para a sobrevivência satisfatória e a longo prazo de uma organização” e no planejamento turístico deve gerar inovação, diversificação e planejamento financeiro com objetivos de longo prazo. Portanto, um bom planejamento estratégico não se baseia em criar ações para atingir resultados esperados o mais rápido possível, de acordo com a opinião de alguns especialistas. O autor ainda afirma ter um ceticismo sobre os planos de longo prazo no setor turístico, na administração pública e privada, sendo nesta última devido à pressão de certas empresas por lucros imediatos, mas, principalmente nas estratégias criadas pelo poder público, que costumam durar o tempo de um mandato político.

Neste sentido, destaca-se o histórico das políticas praticadas, no Engenho do Mato, as quais não levavam em consideração as características sociespaciais do bairro, uma vez que as propostas de desenvolvimento se alteravam de acordo com o interesse de cada grupo político que assumia a administração local. No entanto, hoje percebe-se um maior interesse político no desenvolvimento de diretrizes alinhadas com os princípios de sustentabilidade, o que sugere continuidade nos projetos deliberados pela administração. Estes fatos podem ser comprovados pelo teor da Lei 2699/2010, sancionada pela Câmara dos Vereadores, que reconhece o Circuito Turístico Caminho de Darwin dentro do Parque Estadual da Serra da Tiririca, situado em parte dentro do Engenho do Mato.

O avanço dos estudos do turismo no Brasil levou à mudança de paradigmas na gestão de destinos turísticos, que passa a ter uma política de continuidade com perspectivas de médio e longo prazos, como no caso do Plano Aquarela de marketing turístico internacional do Brasil, elaborado pelo Instituto Brasileiro de Turismo

(Embratur) e Ministério do Turismo (MTur) inicialmente para o período de 2003-2006, tendo continuidade em 2007-2010 e atualmente, estendendo-se para 2010-20203.

Todo produto ao virar oferta tem um tempo de duração no mercado. Uma estratégia de venda não é suficiente para se manter competitivo, é necessário analisar a opinião do mercado, da sociedade civil, do setor empresarial, do terceiro setor e dos gestores públicos para ampliar as possibilidades de aceitação do produto e o tempo de duração. Um exemplo de mudança de cenário no país foi com a constituição do Plano Nacional de Turismo formulado pelo MTur com a participação de trinta e seis organizações representativas do comércio, do Estado, da indústria e da sociedade civil4.

Os planos de turismo citados não devem ser confundidos, pois há uma notável diferença entre políticas de desenvolvimento e políticas de marketing de destinos turísticos. As políticas de marketing são estratégias de promoção da oferta turística de formação da imagem do destino. Neste trabalho o foco é no planejamento estratégico de desenvolvimento turístico de base local, ou seja, um meio para facilitar a organização do desenvolvimento sustentável do turismo (econômico, social e ambiental), a partir do diagnóstico do território com a participação da comunidade local.

O planejamento turístico para Hall (2004, p.30-31), portanto,

Ocorre de várias maneiras (desenvolvimento, infra-estrutura, uso do solo e de recursos, organização, recursos humanos, divulgação e marketing); estruturas (outro governo, organizações quase governamentais e não-governamentais); escalas (internacionais, transnacionais, nacionais, regionais, locais e setoriais) e em diferentes escalas de tempo (para desenvolvimento, implementação, avaliação e realização satisfatória dos objetivos de planejamento). [...] o planejamento turístico costuma ser uma combinação de considerações econômicas, sociais e ambientais que refletem a diversidade dos agentes que influenciam o desenvolvimento turístico.

O planejamento estratégico, para Vignati (2008, p.100), é importante na gestão de destinos turísticos, pois exerce múltiplas funções, entre elas:

3http://www.turismo.gov.br/turismo/o_ministerio/publicacoes/cadernos_publicacoes/06planos_m

kt

É o principal instrumento da política de turismo; orienta e define políticas de crédito e incentivo; dá segurança a investidores, empresários e população, revelando um verdadeiro interesse do município pelo turismo; facilita a integração dos esforços públicos aos privados; direciona os destinos pelos caminhos da sustentabilidade e da competitividade turística; melhora a eficácia do destino turístico.

O plano de desenvolvimento turístico é um processo complexo e deve estar em sinergia com todos os demais setores da economia, respeitando a existência dos programas e projetos no território e alinhado com seus objetivos, como do Plano Nacional de Turismo, Plano Diretor de Turismo do Estado e do Município e Plano Urbanístico da Região.

A competitividade do destino turístico está mais relacionada à capacidade de organização de processos e estruturas de uma economia criativa do que à quantidade de recursos naturais e socioculturais do território. É importante fazer uma análise macroambiental, mesmo se o planejamento proposto for de base local, como no caso do Engenho do Mato, para estimular as vantagens comparativas com a região, município ou pólo do entorno; a competitividade vai do local ao global, buscando forças nas diferenças e semelhanças com a oferta do mercado onde está inserido.

Não existe uma fórmula perfeita para o planejamento de destinos turísticos. A metodologia escolhida vai de acordo com o objetivo do plano e das características do território, sendo uma ferramenta para minimizar os impactos negativos e aumentar a competitividade do destino, mas não garante a resolução de todos os problemas locais. O primeiro passo é investigar o território em questão para identificar suas peculiaridades, proposta desenvolvida neste trabalho, e classificá-lo como um novo destino, analisando se está se reposicionando, ou se possui agentes específicos que impeçam ou dificultem o desenvolvimento de um tipo de atividade turística. No caso do Engenho do Mato, as características rurais são bem perceptíveis no comércio local, como pode ser visto na figura seguinte:

Fonte: Arquivo pessoal.

Figura 04: Selaria – Trabalho Artesanal.

Segundo Vignati (2008, p.102-103) “a metodologia não é um instrumento estático e precisa adaptar-se às condições do destino que se pretende desenvolver”, o mesmo autor apresenta uma alternativa de metodologia baseada em quatro fases: delimitação do âmbito territorial, diagnóstico, estratégias e ações e indicadores de controle e sustentabilidade.

Já Petrocchi (2008, p.51) aponta dez etapas que devem ser observadas no planejamento: “análise macroambiental; elaboração de diagnóstico; definir os objetivos; determinar as prioridades; identificar os obstáculos, as dificuldades; criar os meios, os mecanismos; dimensionar os recursos necessários; estabelecer responsabilidades; projetar cronograma; estabelecer pontos de controle.” No caso do planejamento turístico a análise macroambiental pode ser externa e interna, a primeira significa fazer uma análise de mercado, definir ameaças e oportunidades, e a interna é composta pelo inventário e pontos fortes e fracos do destino turístico. A criação de meios e mecanismos resulta na formulação de estratégias de marketing e de

comunicação e, quando definidas as responsabilidades dos agentes sociais, devem ser criados planos setoriais para desenvolvimento socioeconômico de destino turístico.

Hall (2004) chama atenção para as formas de participação no planejamento turístico, o preparo da comunidade, os arranjos de poder e interesses criados para administrar o destino e se as estruturas de governo públicas estão realmente abertas a intervenções; e o considera como produto de um conjunto de relacionamentos, ao publicar que:

A escolha das técnicas empregadas no planejamento turístico, na identificação de indicadores, na seleção de objetivos e na produção de resultados (que convencionalmente é reconhecido como um plano na forma de um documento) é determinada pelo conjunto de relacionamentos que existem entre as várias partes interessadas e pelo grau em que são inclusivos ou exclusivos. (2004, p.92-93)

Documentos relacionados