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Ruralidade e expansão urbana em análise pra o desenvolvimento do turismo de base local no Engenho do Mato, Niterói

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

FACULDADE DE ADMINISTRAÇÃO, CIÊNCIAS CONTÁBEIS E TURISMO CURSO DE TURISMO

DEPARTAMENTO DE TURISMO

EDUARDO CAMACHO DIAS

RURALIDADE E EXPANSÃO URBANA EM ANÁLISE PARA O DESENVOLVIMENTO DO TURISMO DE BASE LOCAL NO ENGENHO DO

MATO, NITERÓI (RJ)

NITERÓI 2011

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EDUARDO CAMACHO DIAS

RURALIDADE E EXPANSÃO URBANA EM ANÁLISE PARA O DESENVOLVIMENTO DO TURISMO DE BASE LOCAL NO ENGENHO DO

MATO, NITERÓI (RJ)

Trabalho de Conclusão de curso apresentado ao Curso de Graduação em Turismo na Universidade Federal Fluminense para obtenção do grau de Bacharel em Turismo.

Orientador: Prof. Dr. Marcello de Barros Tomé Machado

Niterói

2011

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RURALIDADE E EXPANSÃO URBANA EM ANÁLISE PARA O DESENVOLVIMENTO DO TURISMO DE BASE LOCAL NO ENGENHO DO

MATO, NITERÓI (RJ)

POR

EDUARDO CAMACHO DIAS

Trabalho de Conclusão de curso apresentado ao Curso de Graduação em Turismo da Universidade Federal Fluminense como requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Turismo

BANCA EXAMINADORA

________________________________________________________________ Prof. Dr.– Orientador Marcello de Barros Tomé Machado

________________________________________________________________ Prof. Ms.– Bernardo Lazary Cheibub

________________________________________________________________ Prof.– Rodrigo Tadini

(4)

A

GRADECIMENTOS

A todos os amigos que fiz nestes anos de convivência na Universidade Federal Fluminense, servidores, colegas de turma e professores. Cada um destes amigos foi de extrema importância nesta jornada.

Um agradecimento especial à minha família que sempre me apoiou em qualquer projeto de minha escolha. Não foi diferente quanto escolhi cursar turismo. O apoio e investimentos dos meus familiares foram o maior combustível para minha chegada até aqui.

Agradeço a minha namorada por me incentivar e ajudar das mais diversas formas na conclusão deste trabalho e em tudo mais em minha vida.

Agradeço fortemente a todos os mestres com os quais tive a oportunidade de conviver e trocar experiências na universidade. Alguns com maior afinidade, mas que não cabe aqui citar quais, pois cada um dos professores é indispensável para o sucesso deste curso.

Finalmente, agradeço em memória de meu pai por todas as maravilhas e ensinamentos deixados e por carregar até o fim da vida o sonho de ver seu filho formado pela UFF, sonho este que não fui capaz de realizar a tempo.

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RESUMO

O tema escolhido para investigação versa sobre a identidade cultural e peculiaridades do bairro Engenho do Mato, em Niterói (RJ), e a importância da contribuição dos empreendedores locais para o desenvolvimento do turismo. O objetivo é diagnosticar o potencial turístico do bairro tendo como referência o planejamento turístico de base local. No Engenho do Mato, situam-se haras, ranchos, além de parte do Parque Estadual da Serra da Tiririca o que dá condições para realização de atividades de ecoturismo e do turismo rural, em uma localidade considerada oficialmente urbana, mas com características fortemente rurais. Com o desenvolvimento de um turismo responsável, outros problemas podem ser solucionados como: a degradação do meio ambiente, o processo de aculturação da comunidade e a desigualdade social. A visão empreendedora do comércio local pode ser uma das saídas para a consolidação do Engenho do Mato como um destino turístico. A metodologia de pesquisa é descritivo-exploratória composta por uma pesquisa bibliográfica referente á literatura pertinente ao tema e ao lugar e uma pesquisa de campo de amostragem intencional com os empreendedores locais, em que foram aplicados onze questionários na área do bairro, nos estabelecimentos de maior relevância para o turismo. A base da reflexão da análise das pesquisas foi numa perspectiva integradora, das características do território, aspectos geográficos, históricos, legais da região e opinião dos empreendedores locais que valorizam a tradição rural local e a conservação ambiental, favorecendo o desenvolvimento das modalidades de ecoturismo e turismo rural, ou a tipologia adotada neste trabalho de turismo ecorrural.

PALAVRAS-CHAVE:. Turismo rural. Ecoturismo. Turismo ecorrural. Engenho do Mato / Niterói. Planejamento turístico de base local.

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ABSTRACT

The theme chosen for investigation focuses on cultural identity and peculiarities of the neighborhood's Engenho do Mato, in Niterói (RJ), and the importance of the contribution of local entrepreneurs to develop tourism. The goal is to diagnose the district's tourism potential with reference to the location-based tourism planning. In Engenho do Mato, lie farms and ranches, part of the Parque Estadual da Serra Tiririca which gives conditions for the activities of ecotourism and rural tourism in an urban area considered officially, but with strong rural characteristics. With the development of responsible tourism, other problems can be solved as: environmental degradation, the process of acculturation of the community and social inequality. The entrepreneurial vision of local trade can be an escape route to the consolidation of Engenho do Mato as a tourist destination. The research methodology is descriptive-exploratory consists of a bibliographic review the literature relevant to the theme and place, and a field survey of intentional sampling with local entrepreneurs in eleven questionnaires that were applied in the area of the district, in institutions of higher relevance to tourism. The basis reflection of the analysis research was an integrative perspective, the characteristics of the territory, geography, history, legal aspects about the region, and the opinion of local entrepreneurs who value tradition and environmental conservation, rural location, encouraging the development of arrangements for ecotourism and rural tourism, or the typology used in this work ecorrural tourism.

KEYWORDS: Rural tourism. Ecotourism. Ecorrural Tourism. Engenho do Mato / Niterói. Location-based tourism planning.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 01 Rancho do Quilombo. 11

Figura 02 Curral no Haras São Francisco de Assis. 12 Figura 03 Parque Rural do Engenho do Mato 32

Figura 04 Selaria – Trabalho Artesanal 36

Figura 05 Quadro - Situação Cooperativa e Situação Competitiva. 38 Figura 06 Gráfico - Evolução da População Residente na Região Oceânica. 47

Figura 07 Mapa das Regiões de Niterói. 47

Figura 08 Mapa de Uso e Gabarito Propostos: sub-regiões Engenho do Mato e Maravista 50 Figura 09 Gráfico – Local de residência. 55 Figura 10 Gráfico - Tempo de Existência do Comércio. 55 Figura 11 Gráfico – Tipo de Estabelecimento. 56 Figura 12 Gráfico – Dias em que o Estabelecimento Funciona. 57 Figura 13 Gráfico – Meios de Comunicação Utilizados para Divulgação. 58 Figura 14 Gráfico – Perfil do Público do Estabelecimento. 59 Figura 15 Gráfico – Principais Atrativos da Área. 59 Figura 16 Gráfico – Tipo de Turismo mais Adequado para o Engenho do Mato. 60 Figura 17 Baias no Haras São Francisco de Assis. 61 Figura 18 Gráfico – Perfil do Turista que Gostaria de Receber. 61 Figura 19 Gráfico – Interesse na Participação em Atividades para Desenvolvimento do

Turismo Responsável.

62

Figura 20 Gráfico – Apoio a Algum Projeto no Engenho do Mato. 63 Figura 21 Gráfico – Parceria com outra Organização para Promoção da Marca. 63 Figura 22 Gráfico – Conhecimento sobre a Condição da Área como de Especial

Interesse Turístico.

63

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Figura 24 Gráfico – Percepção Classificação do Bairro Engenho do Mato. 65 Figura 25 Rua de Terra Batida

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO... 10

2 TURISMO: CONTEXTO E CONCEITOS... 16

2.1 CONCEITOS... 17

2.2 SISTEMA DE TURISMO... 20

2.3 AS DIMENSÕES DO PLANEJAMENTO TURÍSTICO DE BASE LOCAL... 22

2.3.1 Elemento Geográfico: território urbano ou rural... 22

2.3.2 Turismo Rural, Ecoturismo e Turismo Ecorrural... 25

3 GESTAO DE DESTINOS TURÍSTICOS... 31

3.1 A IMPORTÂNCIA DO PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO... 32

3.2 A COOPERAÇÃO DOS AGENTES NO DESENVOLVIMENTO DE BASE LOCAL... 37

3.2.1 O Terceiro Setor... 39 3.2.2 Os Empreendedores Locais... 40 3.3 CLUSTER TURÍSTICO... 43 4 4.1 4.1.1 4.1.2 4.2 4.2.1 4.3 TURISMO NO ENGENHO DO MATO... PESQUISA DOCUMENTAL... Caracterização Geral da Área... Aspectos Legais da Região... CARACTERÍSTICAS SÓCIO-CULTURAIS DO TERRITÓRIO ESTUDADO... Identificação dos programas, projetos e ações... PESQUISA COM OS EMPREENDEDORES LOCAIS... 44 44 44 48 48 51 53 4.3.1 Apresentação da Proposta... 53 4.3.2 Metodologia de Pesquisa... 54

(10)

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS... 68 REFERÊNCIAS... 71 ANEXO A – Modelo de Questionário Utilizado para Realização da Pesquisa de

Campo

74

ANEXO B – Senso Turístico do Engenho do Mato... 77 ANEXO C – Ampliação do Mapa de Uso e Gabarito Propostos: sub-regiões

Engenho do Mato e Maravista

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1 INTRODUÇÃO

O tema escolhido para investigação versa sobre a identidade cultural e peculiaridades do bairro Engenho do Mato, em Niterói, Estado do Rio de Janeiro, e a importância da contribuição dos empreendedores locais para o desenvolvimento do turismo.

O bairro se diferencia do restante da cidade pela manutenção do ambiente rural, comparando a urbanização do entorno. Esta foi a última área do município a ser delimitada como perímetro urbano pela prefeitura de Niterói.

O Engenho do Mato originou-se do loteamento da antiga Fazenda do Engenho do Mato. As atividades rurais foram mantidas e a produção de hortifrutigranjeiros abasteceu a cidade de Niterói por alguns anos, mas hoje têm pouca representatividade no mercado. A identidade rural do bairro é mantida pela presença de haras e pequenas propriedades rurais, tendo os equinos um papel fundamental na ambientação da paisagem, além das vias sem asfalto com chão de terra batida, constituindo visualmente uma paisagem semelhante às de localidades rurais do interior do estado do Rio de Janeiro.

O Plano Diretor de Niterói, Lei nº 1.157 de 1992, alterada pela Lei 2123 de 2004, principal instrumento de intervenção urbana e ambiental do município, que estabelece diretrizes urbanísticas para o desenvolvimento urbano e econômico, divide

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o município em cinco regiões de planejamento: Região Norte, Região Praias da Baía, Região Pendotiba, Região Oceânica e Região Leste.

A Região Oceânica é composta pelos bairros do Cafubá, Camboinhas, Engenho do Mato, Jardim Imbuí, Itacoatiara, Itaipu, Jacaré, Maravista, Santo Antônio, Piratininga e Serra Grande. Esta Região faz limite com o município de Maricá e com as Regiões Leste, Pendotiba e Praias da Baía.

O Engenho do Mato possui atrativos naturais e culturais de relevância municipal, estadual, federal e internacional. Como exemplo, destaca-se o Parque Estadual da Serra da Tiririca (PESET), o circuito turístico Caminho de Darwin, o projeto Caminhos Geológicos em Niterói e ainda a comunidade quilombola remanescente dos tempos de fazendas antigas do século XVIII. Outro forte atrativo é a presença de ranchos e haras, os quais são os maiores responsáveis pelo alto número de equinos no bairro.

Fonte: arquivo pessoal

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Fonte: arquivo pessoal

Figura 02: Curral no Haras São Francisco de Assis

Além da ocorrência de equinos, foi identificada na pesquisa no Engenho do Mato a existência de organizações da sociedade civil e instituições com interesse em realizar eventos culturais a fim de reforçar a característica rural local e promover um turismo responsável. O fato de o PESET ser fruto da reivindicação do movimento socioambiental da região e das demandas locais e possuir um Conselho Gestor, mesmo que consultivo, contribuiu para a organização comunitária e envolvimento de órgãos responsáveis por projetos, pesquisas e ações nesta área.

A ONG Estação Ambiental Charles Darwin, além de outros agentes da sociedade civil, organiza projetos de preservação ambiental e desenvolvimento do turismo responsável, apesar de a prefeitura não ser a responsável por estes projetos na Área de Especial Interesse Turístico (AEIT) da Região Oceânica de Niterói (Lei 1968/2002), na qual o bairro do Engenho do Mato está localizado, entretanto a Câmara de Vereadores reconhece o Circuito Turístico Caminho de Darwin (lei

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2699/2010) dentro do Parque Estadual da Serra da Tiririca. A trilha de acesso ao circuito é pelo Engenho do Mato.

A visão empreendedora do comércio local pode ser uma das saídas para a consolidação do Engenho do Mato como um destino turístico. A questão é se o ecoturismo e o turismo rural são modalidades de turismo viáveis para o desenvolvimento turístico de base local no Engenho do Mato, de acordo com as características do território e a opinião dos empreendedores locais.

Supõe-se que as atividades de ecoturismo do Parque Estadual da Serra da Tiririca e o ambiente rural do Engenho do Mato, a predisposição do poder público para promoção do turismo na área, somado ao interesse privado, percebido pela existência de empreendimentos de lazer e gastronomia, condicionam o desenvolvimento do destino turístico. A escolha pelas modalidades de turismo rural e ecoturismo para esta localidade é uma tentativa de aliar a preservação da cultura campestre local e a conservação do meio ambiente.

O objetivo geral deste estudo é diagnosticar o potencial turístico do Engenho do Mato a partir da opinião dos empreendedores locais, de acordo com o planejamento turístico de base local.

Para chegar à conclusão de quais são as potencialidades turísticas do Engenho do Mato e sobre a viabilidade dessas atividades segundo o planejamento turístico de base local, foram traçados os seguintes objetivos específicos: mapear os potenciais atrativos turísticos do território; aplicar questionários para os empreendedores locais com maior relevância para o turismo; analisar o discurso dos empreendedores locais com ênfase na cooperação para consolidação do destino turístico; e diagnosticar se o turismo rural e ecoturismo são modalidades de turismo adequadas de acordo com as características sócio-espaciais da comunidade e a opinião dos empreendedores locais.

O potencial de Niterói para o turismo é reconhecido pela prefeitura e por empreendedores do setor turístico. A cidade já conta com infra-estrutura de apoio turístico, operadores de mercado, atrativos culturais e naturais e possui um plano de turismo coordenado pela Niterói Empresa de Lazer e Turismo (Neltur).

Como já foi destacado, no Engenho do Mato situam-se haras, sítios, ranchos além de parte do Parque Estadual da Serra da Tiririca, o que dá condições para realização de atividades de ecoturismo e de turismo rural em uma localidade

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considerada oficialmente urbana pela prefeitura de Niterói, mesmo possuindo características rurais. Com o desenvolvimento do turismo responsável, outros problemas podem ser amenizados ou mesmo solucionados, como: a degradação do meio ambiente, a evasão da comunidade de origem local, o abandono de práticas culturais tradicionais e a desigualdade social.

O Engenho do Mato sofreu historicamente com a evasão das famílias que trabalhavam em atividades agrícolas devido aos conflitos por terra e especulação imobiliária, mas há famílias antigas que permaneceram no movimento de resistência ao processo de urbanização, conservando a tradição da vida no campo. O turismo rural contribui para resgatar a cultura local e mitigar a descaracterização da cultura rural, com a consequente internalização da noção de valor deste patrimônio intangível e coletivo.

A atividade turística é garantida pelo interesse do homem em desfrutar de recursos naturais, tecnologias e experiências socioculturais para seu lazer e desenvolvimento pessoal ou social. Entende-se que a responsabilidade do profissional do turismo é viabilizar a satisfação da demanda e pensar o desenvolvimento do turismo pelos princípios da sustentabilidade econômica, ambiental e sociocultural, incluindo os interesses da comunidade receptora no planejamento do turismo, visando assim diminuir a desigualdade existente entre empreendedores, população e governos.

No bairro Engenho do Mato acontecem atividades de lazer ligadas ao ambiente do campo que somadas à presença da União dos Amigos Cavaleiros e Amazonas de Niterói (UACAN) reforçam ainda mais o clima bucólico do bairro com a realização de eventos envolvendo equinos. O estudo sobre essa região torna-se relevante, pois através dele será possível diagnosticar as potencialidades do Engenho do Mato e as melhores condições de se desenvolver atividades turísticas nessa região de Niterói, contribuindo para sua consolidação em um destino turístico.

A metodologia de pesquisa é descritivo-exploratória composta de duas etapas. Sendo que a primeira refere-se à pesquisa bibliográfica com consultas às fontes impressas e eletrônicas, referentes à literatura pertinente ao tema, a fim de estabelecer o quadro teórico. A segunda compõe-se de uma pesquisa de campo de amostragem intencional, com uso de questionários, respondidos por onze empreendedores locais, envolvidos com objeto desta investigação, responsáveis pelos

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estabelecimentos comerciais mais relevantes para o desenvolvimento turístico do bairro, de acordo com as indicações da Estação Ambiental Charles Darwin, responsável pela operacionalização do senso turístico do Engenho do Mato1, em abril

de 2009.

O questionário aplicado apresenta um total de quinze questões objetivas e de produção de respostas. As respostas objetivas, uma vez tabuladas, foram tratadas em termos percentuais e as respostas dissertativas foram analisadas qualitativamente.

O presente trabalho compõe-se de cinco capítulos.

O capítulo introdutório apresenta o tema, a delimitação do problema, os objetivos e a justificativa para esta monografia, além da metodologia e da hipótese para a realização da pesquisa sobre as peculiaridades do Engenho do Mato, inserido na área de especial interesse turístico da Região Oceânica de Niterói.

No segundo capítulo, procura-se verificar a configuração do turismo: os conceitos mais usados de turismo, uma noção do sistema turístico e classificações; uma passagem pelas dimensões do planejamento turístico de base local; uma breve discussão sobre a definição de território rural e urbano; e a relação e diferença do turismo rural e ecoturismo.

No terceiro, apresenta-se a pesquisa documental com características gerais da região e socioculturais do território estudado, além da apresentação da pesquisa de campo desenvolvida no Engenho do Mato por meio de questionários aplicados com os empreendedores locais como agentes sociais importantes para impulsionar o desenvolvimento turístico de base local no bairro.

O quarto capítulo é dirigido à concepção da gestão de destinos turísticos; uma análise da importância do planejamento estratégico e da cultura da cooperação para gerar vantagens competitivas com foco na função social do terceiro setor e dos empreendedores locais e à conscientização da importância da participação efetiva destes agentes sociais organizados em clusters turísticos.

O quinto e último capítulo traz as conclusões a respeito da pesquisa bibliográfica e da pesquisa de campo com os empreendedores locais, retomando a hipótese do trabalho e construindo sugestões alternativas que considerem as

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possibilidades de turismo para a área do Engenho do Mato, pautadas no planejamento estratégico de desenvolvimento turístico de base local.

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2 TURISMO: CONTEXTO E CONCEITOS

Neste capítulo procura-se apresentar o embasamento teórico para o campo científico do turismo, destacando as diferentes definições e conceitos relativos ao turismo e ruralidade. Longe de tentar findar em conceitos, a intenção é colocar as possibilidades e a importância da continuação dessas discussões acadêmicas.

No ano de 2004, segundo dados da OMT (2005), o turismo teve uma evolução surpreendente, atingindo 10% de crescimento global e chegando a ocupar o primeiro lugar entre todos os segmentos da economia mundial.

No Brasil, o setor de turismo envolve cerca de seis milhões de pessoas que aplicam seus esforços aos quatrocentos mil empreendimentos, em sua maioria micro, pequenas e médias empresas. Segundo o Ministério do Turismo, o turismo movimenta cinquenta e dois segmentos diferentes da economia, com a versatilidade de agregar pessoas de todos os níveis de escolaridade, no trabalho formal e informal, despontando como um dos mais importantes setores de geração de ocupação e renda, conforme apontado no Plano Nacional de Turismo (PNT, 2003),

O turismo é uma das atividades mais significativas em todo o mundo e de grandes impactos. Segundo a Organização Mundial do Turismo (OMT, 2001) esses impactos estão classificados da seguinte forma: impactos econômicos, impactos socioculturais e impactos sobre o meio ambiente. Todos esses impactos possuem aspectos positivos e negativos. Portanto, o trabalho do profissional de turismo consiste

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em não só multiplicar os efeitos positivos, como também evitar ou minimizar os negativos, a partir do planejamento turístico com base local, que pressupõe uma gestão participativa que respeite o meio ambiente e correlacione o crescimento sociocultural e econômico da localidade receptora.

2.1 CONCEITOS

O turismo como campo de estudo é considerado novo, se comparado à outras áreas do conhecimento como matemática, filosofia e biologia. Consolidou-se como fenômeno da sociedade contemporânea no início do século XX e por esse motivo, a discussão sobre conceitos e terminologias ainda está longe de se esgotar.

O surgimento de novos autores que pesquisam o fenômeno do turismo enriquece antigas definições de importantes estudiosos no período entre as duas grandes guerras mundiais (1918-1938), por vezes restritivas e outras por demais abrangentes, com conotação de viagem. Além disso, o turismo está vinculado a pessoas e lugares, sendo um fenômeno eminentemente socioespacial.

Uma definição importante no estudo do turismo, que ocorreu no período das duas grandes guerras, foi a de Hunziker e Krapf (1942), tendo sido a mesma adotada pela Association Internationale dês Experts Scientificques Du Tourisme (AIEST), que destacava ser o turismo “a soma de fenômenos e de relações que surgem das viagens e das estâncias dos não residentes, desde que não estejam ligados a uma residência permanente nem a uma atividade remunerada” (OMT, 2001. p. 37). Outros relevantes pesquisadores analisaram e debateram essa temática, como os economistas Gluksmann, Schwinck e Bormann, da Escola de Berlim (1919-1938). Também a fizeram, mais adiante e com uma conotação de viagem, Burkart e Medlik (1981) e Mathieson e Wall (1982) destacaram o caráter temporário da atividade, segundo Machado (2007, p. 67-71).

O resultado dessas pesquisas, em consonância com a Conferência sobre Viagens e Estatísticas de Turismo (Conferência de Otawa), organizada pelas Nações Unidas (ONU), Organização Mundial de Turismo (OMT) e Governo do Canadá (1991) para debater os sistemas de estatísticas e adotar uma série de recomendações internacionais sobre as estatísticas de turismo, contribuiu para aprovação de

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definições e classificações oficialmente adotadas pela ONU, que foram publicadas pela OMT (1995) no livro Introdução ao Turismo2.

O livro formalizou os aspectos da atividade turística e adotou a seguinte definição: “o turismo compreende as atividades realizadas pelas pessoas durante suas viagens e estadas em lugares diferentes do seu entorno habitual, por um período consecutivo inferior a um ano, por lazer, negócios ou outros”.

Devido ao caráter multidisciplinar do turismo, há uma busca por novas definições por parte de vários setores econômicos e disciplinas acadêmicas, portanto esse conceito não deve ser entendido como absoluto. A própria OMT reviu a definição e na seguinte edição inseriu no final do conceito “e outros motivos que não estejam relacionados com o exercício de uma atividade remunerada no lugar visitado” (OMT, 2005). O importante para a OMT é saber que os seguintes elementos devem compor a compreensão de turismo:

• Os turistas se deslocam para fora do seu entorno habitual;

• A estada no destino não é permanente (pelo menos um pernoite e inferior a um ano);

• Compreende as atividades realizadas durante a viagem e na estada; • Inclui os serviços e produtos criados para satisfazer as necessidades

dos turistas;

• Não pode haver ganhos diretos do turista no destino turístico.

No entanto, pesquisadores com uma formação mais humanista não concordam com a definição atribuída para turismo pela OMT, devido ao viés economicista que não considera os aspectos geográficos de maneira destacada para compreensão de um fenômeno de caráter socioespacial e sugerem outros conceitos como norteador da compreensão de Turismo, tais como Tomé Machado (1997) que afirma ser o turismo:

Um fenômeno de caráter socioespacial que consiste no deslocamento espacial, temporário e voluntário, realizado de forma individual ou coletiva que apresenta como fator motivador fundamental a alteridade, alcançada na busca pela satisfação pessoal, podendo esta ser motivada pelo lazer, recreação, descanso, cultura e em casos específicos a saúde. Para isso, usufrui-se de uma localidade que apresenta em seus elementos espaciais condições de satisfazer seus desejos pessoais e alcançar a alteridade almejada, não exercendo

2 No Brasil o livro foi publicado pela editora Roca, São Paulo. Com direção e redação de

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nenhuma atividade lucrativa, nem remunerada, gerando múltiplas inter-relações nas esferas social, econômica, cultural e ambiental no espaço onde o turismo se insere, seja o espaço emissor ou receptivo. (MACHADO, 2007, p. 73-74)

Para Beni existem três tendências para a conceituação de turismo: a econômica, a técnica e a holística. O autor expressa sua opinião a respeito quando diz:

Tenho conceituado turismo com um elaborado e complexo processo de decisão sobre o que visitar, onde, como e a que preço. Nesse processo intervêm inúmeros agentes de realização pessoal e social, de natureza motivacional, econômica, cultural, ecológica e científica que ditam a escolha dos destinos, a permanência, os meios de transporte e o alojamento, bem como o objetivo da viagem em si para a fruição tanto material como subjetivas dos conteúdos de sonhos, desejos, de imaginação projetiva, de enriquecimento existencial histórico-humanístico, profissional, e de expansão de negócios. Esse consumo é feito por meio de roteiros interativos espontâneos ou dirigidos, compreendendo a compra de bens e serviços da oferta original e diferencial das atrações e dos equipamentos a ela agregados em mercados globais com produtos de qualidades e competitivos. (BENI, 2004, p. 37).

Segundo a pesquisadora Marutschka Moesch, em sua dissertação de mestrado, tese de doutorado e no livro sobre a produção do saber turístico:

O turismo constitui-se num fenômeno sociocultural de profundo valor simbólico para os sujeitos que o praticam. O sujeito turístico consome o turismo, por intermédio de um processo tribal, de comunhão, de realização, de testemunho, em um espaço tempo tanto virtual quanto real, desde que possível de convivência, de presenteísmo. O valor simbólico perpassado pela comunicação táctil desse fenômeno, reproduz-se, ideologicamente, quando os turistas comungam de sentimentos, reproduzidos pela diversão, e quando há a possibilidade de materialização do imaginário, por vezes individual em societal. (MOESCH, 2000 apud BENI, 2004, p. 41).

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O fato de o turismo estar ligado a cinquenta e seis atividades econômicas e muitas atividades sociais humanas é um dos motivos para a existência de tantos conceitos. Por conseguinte, não se pode limitar a visão de uma área de conhecimento, sendo o mais importante a contextualização de acordo com a realidade apresentada.

2.2 SISTEMA DE TURISMO

Para se ter uma visão holística de turismo é importante estar atento à lógica do seu funcionamento, sendo esta um conjunto complexo de inter-relações diferentes que estão inseridas no que chamamos de sistema turístico.

Sistema porque é um conjunto de combinações complexas que formam um todo integral. O pensamento sistêmico é imprescindível para organizar todos os agentes que influenciam o turismo, que não podem passar despercebidos no planejamento de um destino turístico, como o ambiente externo, atividades econômicas relacionadas, políticas de governo, mercado interno, mercado externo e organizações da sociedade civil. Estar preparado para as influências que cada uma dessas relações pode aferir nos resultados do plano de turismo é ter um pensamento sistêmico sobre o turismo.

Para Beni o objetivo do Sistema de Turismo (Sistur) é:

Organizar o plano de estudo da atividade de turismo, levando em consideração a necessidade [...] de fundamentar as hipóteses de trabalho, justificar posturas e princípios científicos, aperfeiçoar e padronizar conceitos e definições, e consolidar condutas de investigação para instrumentar análises e ampliar a pesquisa, com a conseqüente descoberta e desenvolvimento de novas áreas de conhecimento em turismo (BENI, 2004. p. 45)

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Dentro da teoria geral dos sistemas, têm-se dois tipos: sistemas fechados e sistemas abertos.

O sistema fechado não dialoga com o ambiente externo, pois se esgota dentro dos seus processos internos que não dependem de nada mais. Mas o turismo, como visto anteriormente, é um fenômeno socioespacial. Não só o sistema turístico depende das variantes externas para se nutrir, como os seus subsistemas agregados e correlacionados interagem de forma contínua com o ambiente.

Para Petrocchi (1998, p. 57) “o sistema turístico, na condição de sistema social, configura um processo contínuo de reciclagem”, ou seja, é um sistema inter-dependente, que não consegue ser auto-suficiente.

A partir desse contexto fica mais fácil entender que o Sistur nos permite visualizar três grandes conjuntos, como explica Beni (2004. p. 45): “o das relações ambientais, o da organização estrutural e o das ações operacionais, bem como seus componentes básicos e as funções primárias atuantes em cada um dos conjuntos”.

Segundo a OMT (2001) a atividade turística é composta por um conjunto de elementos básicos: demanda, oferta, operadores de mercado e espaço geográfico.

No turismo denomina-se demanda os consumidores ou possíveis clientes que compram os serviços ou produtos turísticos. Existem diferentes termos técnicos para definir a demanda turística. Os mais utilizados são: turistas, excursionistas, visitantes e viajantes. Essas definições variam de acordo com a motivação da viagem, o deslocamento da sua residência habitual e o tempo de permanência no destino ou atrativo turístico.

Segundo a OMT (2001) o excursionista é um turista que não pernoita no destino visitado. O viajante é todo aquele que se desloca para fora do seu entorno habitual, sendo o visitante uma classificação generalizada para viajantes.

Para melhor compreensão do destino turístico é necessário identificar quais são as ofertas turísticas do lugar. Para isso existe uma ferramenta de planejamento conhecida como inventário da oferta turística, um registro das informações pertinentes de cada estabelecimento relacionado. Para a OMT (2001. p. 43) oferta turística se define como: “o conjunto de produtos turísticos e serviços postos a disposição do usuário turístico num determinado destino, para seu desfrute e consumo”. A oferta

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turística é toda a forma de gastos da demanda no destino turístico, com alojamento, alimentação, transporte, lazer, cultura, compras e etc.

As agências de viagens não estão incluídas no conceito de oferta turística, pois são mediadoras entre a oferta e a demanda turística; estas estão inseridas no grupo dos operadores de mercado, que a OMT define como:

Aqueles agentes que participam da atividade turística, geralmente, na qualidade de intermediários entre o consumidor final e o produto turístico, ainda que possam estender sua ação mediadora ao resto da oferta complementar. (OMT, 2001. p. 43)

O espaço geográfico no turismo é essencial, pois o deslocamento constitui um dos elementos determinantes, é o lugar onde ocorre a experiência turística. Para definir esse espaço, vários termos técnicos são utilizados por diferentes autores. Os mais recorrentes são: espaço turístico e destino turístico.

O espaço turístico é o lugar onde as atividades turísticas são oferecidas e de onde flui a demanda, que pode englobar unidades menores como zona turística, área turística, complexo turístico, atrativos turísticos.

O destino turístico é o lugar para onde se dirige a demanda turística, onde estão concentrados serviços e produtos planejados para atender principalmente as necessidades dos turistas. Para a OMT (2001) o mais importante nas definições atribuídas ao termo é especificar que esse destino constitui o objetivo do turista.

O destino turístico e seu entorno regional podem configurar um espaço turístico, pois o turismo aparece como função de especialização econômica relevante. A produção e o consumo turístico são predominantes nesse espaço, não que seja a única atividade da cadeia produtiva, ao contrário, a ideia é que seja importante para as relações de complementaridade e concorrência com outros setores produtivos. Entretanto, no planejamento do desenvolvimento turístico de um espaço geográfico, não se deve privilegiar apenas os aspectos funcionais envolvidos.

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Este trabalho de conclusão de curso se baseia no conceito de turismo como um fenômeno socioespacial, caracterizado por ser uma atividade fortemente territorializada, sendo relevante analisar a dimensão territorial do desenvolvimento turístico, tomando-se o planejamento de base local como objeto de estudo.

2.3.1 Elemento Geográfico: território urbano ou rural

A noção de território deve se constituir no elemento norteador para o planejamento do desenvolvimento turístico com base local. É importante analisar o conjunto dos recursos localizados que compõe o território no qual se efetiva a consumação turística, como os agentes sociais, o capital físico, institucional e social e a estrutura produtiva do espaço.

O território é definido por múltiplas relações de poder, tanto de poder material (econômico-político), no sentido de dominação, manifestando-se em muitas escalas relacionais, do local ao global; quanto de poder simbólico (sócio-cultural), no sentido de apropriação. (RODRIGUES, 2001. p. 17)

Segundo o Manual de Ecoturismo de Base Comunitária (WWF Brasil, 2003) “planejamento é um processo dinâmico e contínuo de definição de objetivos, metas e ações, de forma integrada entre os diversos agentes sociais de interesse.” Consideram os seguintes elementos: “temporal (curto, médio e longo); político (regulador, incentivador, financiador, integrado); administrativo (público ou privado); social (participativo ou de gabinete); geográfico (internacional, nacional, regional, local ou sítio).”

A intenção de conceituar os espaços geográficos, com foco no território, se dá pela impossibilidade de planejar a atividade turística sem entender a ordenação territorial do destino turístico, uma vez que o território constitui um recurso essencial para a gestão do turismo. O território engloba a noção de espaço, mas não se confunde com ela.

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O território é um conjunto dinâmico, delimitado por uma fronteira, na qual se combinam e reacionam os elementos físicos e humanos [...]. A diferenciação territorial é o resultado de um processo que conduz os agentes sociais a organizar, administrar e apropriar-se do espaço. [...] A noção de território manifesta, explicitamente, a existência de uma organização social, política e econômica que organiza e ordena o espaço. (CUNHA, 1998, apud Revista Turismo em Análise, 2006. nº17)

O território é abordado por uma perspectiva integradora como base da reflexão que norteia este trabalho, pois é fundamental insistir, de acordo com RODRIGUES, que “o território não é apenas espaço físico, palco das atividades humanas, tampouco é inerte. A sociedade ao atuar no espaço, incorpora-o à sua própria dinâmica [...] através de um processo contínuo e dialético”. (2001. p. 17)

O planejamento territorial ou de base local é uma atividade endógena, pois é pensado a partir das necessidades da comunidade e persegue continuidades históricas. Busca uma melhoria geral na qualidade de vida para toda a população da zona e está baseada no desenvolvimento completo do seu potencial produtivo, necessitando-se de visão sistêmica e multidisciplinar sobre o território.

Para Vasquez Barquero (1998, 2000) pode-se definir o desenvolvimento com base local como um processo de crescimento e transformação estrutural que, mediante a utilização de um potencial de desenvolvimento existente no território, conduz a uma melhora do bem-estar da população local e ou regional. Quando a comunidade é capaz de liderar este processo de transformação estrutural, diz-se que está em curso o desenvolvimento local ou endógeno. (RODRIGUES, 2001. p. 20)

Do ponto de vista da autonomia e da endogenia do desenvolvimento local, Aguiar estabeleceu os seguintes pressupostos:

a) dimensionar as potencialidades internas do território; b) promover processos de inclusão social a partir do crescimento dos níveis de empregabilidade e de renda; c) promover, capacitar e treinar os recursos humanos com vistas à mobilização de suas virtualidades e habilidades para relações empreendedoras; d) trabalhar para seu

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próprio desenvolvimento a partir de um esforço endógeno e autônomo de organização social; e) dimensionar a ociosidade dos recursos humanos e naturais e do capital social básico ou economias externas existentes. (2001, p. 104)

Os territórios no Brasil são administrados de acordo com três esferas do governo: federal, estadual e municipal. As características sócio-políticas são importantes para analisarmos os limites geográficos, a legislação que incide na área, a sobreposição das leis e as políticas desenvolvidas e incentivadas pelo poder público.

Outro fator importante é identificar as características culturais e sociais do território para definir se está localizado em espaço urbano ou rural.

No Brasil, de acordo com o aspecto político, urbano é quem habita o perímetro urbano do município, delimitado segundo a legislação municipal. Mas a cobrança de impostos (IPTU) a preços diferenciados para as zonas rurais e urbanas pode ter contribuído para o crescimento das zonas urbanas, mesmo estas tendo fortes características rurais. Deste modo, considerar apenas o elemento político como representativo de um estudo de planejamento territorial seria uma maneira simples de definir um contexto que é complexo pelas inúmeras relações sociais e culturais inseridas no espaço.

Para entender as modalidades de turismo, como ecoturismo e turismo rural, faz-se necessário estabelecer a distinção entre urbano e rural, uma vez que a delimitação dessas zonas constitui assunto complexo, mas de fundamental importância. A confusão que existe no mercado e no meio acadêmico quanto ao uso adequado desses termos demonstrou a importância em esclarecer as suas diferenças, semelhanças e abranger as suas possibilidades.

A zona rural deve ser entendida dentro do contexto socioespacial, analisando todas as relações que existem numa dinâmica contemporânea. Pois muitos lugares deixaram de ser rurais com o avanço acelerado do planejamento urbanístico, ficando espaços intermediários, com características rurais que permanecem no espaço urbano e vice-versa; esta área de transição do rural para o urbano é conhecida como franja urbana.

Uma questão interessante levantada por Rodrigues (2001. p.106-107) é “qual é a relação do proprietário ou do empreendimento com o entorno onde a atividade se realiza?”. O autor defende que essa relação ajudará a definir se existe uma ligação

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histórica / afetiva ou meramente comercial com o lugar. O mesmo autor sugere o uso do termo periurbano quando, por exemplo, as instalações de lazer, antes de cunho rural, tenham sofrido modificações no uso, como antigos haras que, mudando de função, hoje são adaptados e alugados para festas de casamento.

2.3.2 Turismo Rural, Ecoturismo e Turismo Ecorrural

O turismo rural é uma atividade nova no Brasil, portanto as análises não são conclusivas quanto ao seu conceito. Entende-se que este conceito não incorpora qualquer manifestação de turismo em espaços rurais.

Uma das maiores dificuldades encontradas para definir se a atividade que ocorre no espaço rural é turismo rural, é a falta de consenso na sua conceituação, até mesmo pela confusão em torno da concepção contemporânea dos qualificativos rural e urbano.

Para Tulik (2003. p. 13) existem algumas questões que merecem ser consideradas para avaliar o turismo rural, como: “o uso de termos como área, espaço, zona e meio; critérios para delimitar o urbano e o rural; características e transformações do espaço rural.”

Há quem considere as atividades e funções urbanas (industriais e serviços) e as rurais (agropecuária) para definir turismo rural, ressaltando a dualidade entre os espaços, sem pensar nos pontos convergentes com as mudanças que ocorrem nesse espaço.

Outra forma de analisar é pelo tamanho e características demográficas da região. O mais comum é a utilização da delimitação do perímetro urbano, por ser um critério político-administrativo.

Trabalhar com essas classificações não pode ser algo simplista, apesar de termos indicadores que apontem para uma determinada definição. Cada caso é único, com características peculiares que devem ser analisadas de forma endógena e considerando uma análise macroambiental da área.

Os modelos europeus nem sempre possibilitam sua aplicação em outras localidades, por este motivo não serão utilizadas referências de casos na Europa. Será

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estudado, neste trabalho, um espaço localizado no Brasil, uma vez que este possui outra conjuntura político-econômica, com a dimensão territorial de um continente, tendo recebido imigrantes de várias culturas.

Cunha observa que a definição da zona rural deve, preferivelmente, respeitar suas características sociais, culturais e ambientais. Percebe-se, claramente, a idéia, que é consenso entre os especialistas, de zona rural englobando áreas de produção e áreas naturais. Já outros autores como Silva defendem a idéia de que não é a ocupação de cunho agrícola que vai delimitar se é rural, pois o meio rural no Brasil ganhou novas funções e novos tipos de ocupações. (TULIK, 2003. p. 23-24)

São muitas as definições adotadas para turismo rural e surgem novas nomenclaturas para adequar melhor essas atividades, como: turismo em espaço rural, agroturismo e ecoturismo. Os diferentes termos são usados de acordo com a origem e o referencial teórico de cada autor. Todos são pertinentes, se complementam, mas não esgotam as possibilidades para chegar a um consenso. Essas definições têm em comum três características, segundo Graça (2001. p. 40): “conservação do patrimônio natural e cultural; atividades baseadas nas potencialidades humanas e ambientais locais; pequena dimensão das infra-estruturas de apoio às atividades turísticas.”

Segundo Graziano da Silva, Vilarinho e Dale (1998. p. 11-47), “o turismo rural é composto por atividades que se identificam com as especificidades da vida rural, ou seja, atividades que valorizam o ambiente rural, a economia e a cultura local.”

Os conceitos de agroturismo e ecoturismo se diferenciam pelos seguintes fatos: o agroturismo desenvolve atividades internas à propriedade, que geram ocupações complementares às atividades agrícolas e o ecoturismo baseia-se em atividades realizadas em áreas naturais preservadas, com o objetivo de estudar, admirar e desfrutar a flora e a fauna, assim como qualquer manifestação cultural (passada ou presente) que ocorra nessas áreas. (CAMANHOLA e GRAZIANO da SILVA, 1999, p. 09-47).

Entendendo o Turismo em Espaço Rural (TER) na sua forma mais institucionalizada, de acordo com o Decreto Lei nº 256/86, o turismo rural, o agroturismo e o turismo de habitação são apresentados como modalidades do TER.

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Posteriormente, o Decreto Lei nº 169/97 revoga a legislação anterior e cria novas modalidades de turismo, passando a considerar as atividades que visam à divulgação das características e tradições regionais, designadamente o seu patrimônio, os itinerários temáticos, o folclore etc. Neste contexto:

O turismo rural assume a forma de aproveitamento turístico em casas rústicas com características próprias do meio rural onde se insere, situando-se em aglomerado populacional ou não longe dele. E o agroturismo corresponde à utilização de casas de habitação integrados em explorações agrícolas ou em formas de animação complementares. (GRAÇA, 2001. p. 38)

Uma das dificuldades encontradas deve-se ao fato de esta atividade ocorrer na maioria das vezes em propriedades privadas, sujeitas a diversos interesses. No Brasil, apesar da grande inovação expressa pelo novo rural, não há políticas públicas que incentivem o setor do turismo e do lazer, essas iniciativas estão a cargo, principalmente, dos empreendedores privados. Para Aguiar (2007. p.111) “há que se desburocratizar e democratizar todo processo de gestão, de crédito, de incentivo e de assistência técnica às atividades da agricultura familiar e turística, assim como, de produção e circulação dos bens por elas produzidos.”

Outra possibilidade é através da existência de um Parque Natural no espaço rural como facilitador no processo de gestão do turismo, formatando-se produtos alternativos e atraindo incentivos governamentais e financiamentos privados.

Apesar das várias definições, o turismo rural aparece fortemente ligado à natureza, na busca pela diversidade de recursos naturais, levando-se em conta o lugar, considerando suas características rurais. Como o ecoturismo e o turismo rural muitas vezes ocorrem no mesmo espaço, a confusão é ainda maior.

Autores brasileiros, como Silva, Carlyle e Dale, julgam ser mais apropriado referir-se à totalidade dos movimentos turísticos que se desenvolvem no meio rural com as expressões Turismo no Espaço Rural ou Turismo nas Áreas Rurais. Propõem que a expressão Turismo Rural seja reservada para aquelas atividades que, em maior ou menor grau, se identificam com as especificidades da vida rural, seu hábitat, sua economia e sua cultura. (TULIK, 2003. p. 42)

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Para Rodrigues (2001. p. 103) é fundamental considerar os seguintes fatores:

Processo histórico de ocupação territorial; a estrutura fundiária; características paisagísticas regionais; estrutura agrária com destaque para as relações de trabalho desenvolvidas; atividades econômicas atuais; características da demanda; e, tipos de empreendimentos.

A expressão turismo rural deve estar ligada, além do espaço, ao estilo de vida e à cultura rural. A comercialização do típico se constitui como reinvenção do rural para formatação de novos produtos turísticos. No Brasil, observa-se marcante a influência européia, relativa a qualquer manifestação de turismo no espaço rural, como mostra o Manual Operacional do Turismo Rural:

O Brasil adotou para o Turismo Rural um conceito múltiplo – um turismo diferente, turismo interior, turismo doméstico, turismo integrado, turismo endógeno, turismo alternativo, agroturismo e turismo verde. O Turismo Rural em todas as suas formas. (EMBRATUR, 2001, s.p.)

No entanto, os modelos de implantação, organização e desenvolvimento do turismo rural apresentam diferenças significativas entre Portugal e Brasil, por exemplo. O pesquisador português Sirgado, em visita ao Brasil, constata a diferença na imagem de turismo rural e a dificuldade de dissociá-la do ecoturismo:

O próprio conceito de turismo rural tem no Brasil um sentido mais abrangente, envolvendo a fruição dos recursos rurais e as atividades desportivas e ecológicas, bem como a dimensão relativamente intangível da cultura e do modo de vida das comunidades rurais e/ou da montanha. (SIRGADO, 1999 apud RODRIGUES, 2001. p. 104)

Assim, tomando-se como ponto de referência a escala municipal, no Brasil torna-se bastante difícil distinguir o turismo rural do ecoturismo. Quando o hibridismo é

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muito acentuado, Rodrigues (1998) propõe a denominação de turismo ecorrural, como é o caso da região sudeste, cujo patrimônio cultural é muito rico devido aos ciclos do ouro, do diamante e do café. Os roteiros turísticos são explorados com base em eixos temáticos de difícil classificação por modalidades. (RODRIGUES, 2001. p.103-104)

A ideia de turismo ecorrural proposta por Rodrigues (1998, p. 94 apud PORTUGUEZ, 1999, p. 77) consiste:

Numa prática de turismo alternativo ao turismo de massa, que atende aos interesses de pequenos grupos que se deslocam por “áreas naturais” protegidas, bem como pelos espaços ditos rurais, cujas características fujam ao “fenômeno urbano”.

Independentemente do sentido utilizado, o turismo rural possibilita o aumento de renda para os moradores da região, ajuda a evitar o êxodo rural e promove a valorização da cultura local. Segundo Aguiar (2007. p. 110) “há que se dar ênfase à associação de pessoas em vez da associação de capitais na economia em tela”.

O ecoturismo é fortemente caracterizado por atividades que ocorrem em áreas naturais, não dependendo se em zona urbana ou rural. A atividade do ecoturismo deve abranger, em sua conceituação, a dimensão do conhecimento da natureza, a experiência educacional interpretativa, a valorização das culturas tradicionais locais e a promoção do desenvolvimento sustentável. Dessa forma, segundo as diretrizes para a política nacional de ecoturismo, conceitua-se ecoturismo como:

Um segmento da atividade turística que utiliza, de forma sustentável, o patrimônio natural e cultural, incentiva sua conservação e busca a formação de uma consciência ambientalista através da interpretação do ambiente, promovendo o bem-estar das populações envolvidas. (Ministério da Indústria do Comércio e do Turismo e Ministério do Meio Ambiente, dos Recursos Hídricos e da Amazônia Legal, 1994. p.4)

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Para Beni (2004. p. 427) ecoturismo é a “denominação dada ao deslocamento de pessoas para espaços naturais delimitados e protegidos pelo Estado ou controlados em parceria com associações locais e ONGs.”

O ecoturismo, por ocorrer em ambientes naturais, pode ser confundido com turismo ecológico ou turismo verde. A diferença desses segmentos para o de ecoturismo é a existência de uma infra-estrutura básica para atendimento dos visitantes e a preocupação em envolver a comunidade, fazendo um trabalho de conscientização ambiental. O turismo ecológico é compreendido como:

Denominação dada ao deslocamento de pessoas para espaços naturais, com ou sem equipamentos receptivos, motivadas pelo desejo/necessidade de fruição da natureza, observação passiva da flora e da fauna, da paisagem e dos aspectos cênicos do entorno. Nesse sentido pode-se chamar de Turismo de natureza, ou Turismo verde. (BENI, 2004. p. 428)

Em 1989, o turismo de natureza gerou aproximadamente 7% de todos os gastos com viagens internacionais, segundo estimativas da Organização Mundial de Turismo (WTO, 1992). Segundo o Guia de Planejamento de Gestão do Ecoturismo (2001) “as áreas naturais juntamente com os elementos culturais existentes constituem grandes atrações, tanto para os habitantes dos países aos quais as áreas pertencem como para turistas de todo o mundo.”

Em contrapartida aos riscos ambientais e comunitários, o ecoturismo apresenta significativos benefícios econômicos, sociais e ambientais, segundo o estudo das diretrizes para a política nacional de ecoturismo, tais como:

Geração local de empregos; fixação da população no interior; diversificação da economia regional, através da indução do estabelecimento de micros e pequenos negócios; melhoramento das infra-estruturas de transporte, comunicações e saneamento; criação de alternativas de arrecadação para as Unidades de Conservação; diminuição do impacto sobre o patrimônio natural e cultural; diminuição do impacto no plano estético-paisagístico; e, melhoria nos equipamentos das áreas protegidas. (Ministério da Indústria do Comércio e do Turismo e Ministério do Meio Ambiente, dos Recursos Hídricos e da Amazônia Legal, 1994. p.17)

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O ecoturismo é capaz de salvaguardar o patrimônio cultural e natural dos destinos, se for feito um planejamento de desenvolvimento turístico responsável de médio a longo prazo. Devem estar envolvidas uma equipe multidisciplinar e a comunidade local, estando o planejamento alinhado às diretrizes e regulamentos do plano de manejo da área, com ações contínuas que garantam um funcionamento harmônico.

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3 GESTÃO DE DESTINOS TURÍSTICOS

O planejamento turístico é uma atividade com alta dependência político-institucional e de grande importância para o desenvolvimento e promoção do território para gerar impactos positivos.

O turismo mobiliza diferentes atividades econômicas, por isso é comum ocorrer divergências de interesses entre os empresários, os agentes sociais envolvidos no sistema de turismo, como o poder público (primeiro setor) e os representantes da sociedade civil organizada (terceiro setor), que têm o papel de mediar os interesses da comunidade e gerir as intervenções necessárias para desenvolver o destino turístico. A pesquisa exposta no capítulo seguinte expressa as divergências de interesses e a falta de definições no sentido de estipular as responsabilidades de cada agente envolvido no desenvolvimento da atividade turística no Engenho do Mato. Segundo um estudo realizado pelo Sebrae em 2004, o turismo estimula cinquenta e seis atividades produtivas, e a maioria delas é realizada por pequenas empresas.

O maior desafio no desenvolvimento turístico de base local é aliar todas as forças para convergirem em uma mesma direção, ou seja, a cooperação intergovernamental, interempresarial e público-privada; mas para isso é necessária a compreensão do papel dos profissionais, gestores, empresários e cidadãos e a participação efetiva de todos no planejamento.

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3.1 A IMPORTÂNCIA DO PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

No mundo contemporâneo, pós-moderno, de relações dinâmicas e acelerado avanço tecnológico, as transformações são constantes frente aos desafios da globalização; a sociedade cria mecanismos para prever, estimar e controlar possíveis problemas através de estratégias, onde o planejamento passa ser fundamental para encarar as mudanças apresentadas nesse cenário.

O peculiar perfil rural do Engenho do Mato, estando localizado próximo de grandes centros urbanos como o do Rio de Janeiro e de Niterói, faz com que seja ainda mais complexo o entendimento sobre as dinâmicas das mudanças nas relações e no território, tendo em vista o acelerado avanço da expansão urbana. Assim, o planejamento estratégico do destino turístico torna-se ainda mais importante para garantir a sustentabilidade e a competitividade, a partir da identificação das características socioculturais do território e dos interesses dos envolvidos. A figura a seguir ilustra a ruralidade na paisagem local.

Fonte: Arquivo pessoal

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Para Vignati (2008, p.43) “o objetivo do planejamento de destinos turísticos é transformar recursos em produtos turísticos e produtos em ofertas competitivas”. Segundo o autor, os recursos são os atrativos do território, podendo ser seu povo e as riquezas materiais e imateriais. Quando um recurso passa a ter acessibilidade, está à disposição do público, transforma-se em produto, e este quando é vendido fora da localidade, comercializado no mercado, converte-se em oferta. O Engenho do Mato pode ser entendido como um produto turístico, mas que ainda tem muito recurso disponível para aumentar em número e qualidade este produto. Assim sendo, entende-se que o bairro poderá ser um diferencial de oferta da cidade de Niterói no mercado do turismo.

Para Petrocchi (1998, p.31-34) a estratégia “é um conjunto harmonioso e integrado de objetivos que são de importância fundamental para a sobrevivência satisfatória e a longo prazo de uma organização” e no planejamento turístico deve gerar inovação, diversificação e planejamento financeiro com objetivos de longo prazo. Portanto, um bom planejamento estratégico não se baseia em criar ações para atingir resultados esperados o mais rápido possível, de acordo com a opinião de alguns especialistas. O autor ainda afirma ter um ceticismo sobre os planos de longo prazo no setor turístico, na administração pública e privada, sendo nesta última devido à pressão de certas empresas por lucros imediatos, mas, principalmente nas estratégias criadas pelo poder público, que costumam durar o tempo de um mandato político.

Neste sentido, destaca-se o histórico das políticas praticadas, no Engenho do Mato, as quais não levavam em consideração as características sociespaciais do bairro, uma vez que as propostas de desenvolvimento se alteravam de acordo com o interesse de cada grupo político que assumia a administração local. No entanto, hoje percebe-se um maior interesse político no desenvolvimento de diretrizes alinhadas com os princípios de sustentabilidade, o que sugere continuidade nos projetos deliberados pela administração. Estes fatos podem ser comprovados pelo teor da Lei 2699/2010, sancionada pela Câmara dos Vereadores, que reconhece o Circuito Turístico Caminho de Darwin dentro do Parque Estadual da Serra da Tiririca, situado em parte dentro do Engenho do Mato.

O avanço dos estudos do turismo no Brasil levou à mudança de paradigmas na gestão de destinos turísticos, que passa a ter uma política de continuidade com perspectivas de médio e longo prazos, como no caso do Plano Aquarela de marketing turístico internacional do Brasil, elaborado pelo Instituto Brasileiro de Turismo

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(Embratur) e Ministério do Turismo (MTur) inicialmente para o período de 2003-2006, tendo continuidade em 2007-2010 e atualmente, estendendo-se para 2010-20203.

Todo produto ao virar oferta tem um tempo de duração no mercado. Uma estratégia de venda não é suficiente para se manter competitivo, é necessário analisar a opinião do mercado, da sociedade civil, do setor empresarial, do terceiro setor e dos gestores públicos para ampliar as possibilidades de aceitação do produto e o tempo de duração. Um exemplo de mudança de cenário no país foi com a constituição do Plano Nacional de Turismo formulado pelo MTur com a participação de trinta e seis organizações representativas do comércio, do Estado, da indústria e da sociedade civil4.

Os planos de turismo citados não devem ser confundidos, pois há uma notável diferença entre políticas de desenvolvimento e políticas de marketing de destinos turísticos. As políticas de marketing são estratégias de promoção da oferta turística de formação da imagem do destino. Neste trabalho o foco é no planejamento estratégico de desenvolvimento turístico de base local, ou seja, um meio para facilitar a organização do desenvolvimento sustentável do turismo (econômico, social e ambiental), a partir do diagnóstico do território com a participação da comunidade local.

O planejamento turístico para Hall (2004, p.30-31), portanto,

Ocorre de várias maneiras (desenvolvimento, infra-estrutura, uso do solo e de recursos, organização, recursos humanos, divulgação e marketing); estruturas (outro governo, organizações quase governamentais e não-governamentais); escalas (internacionais, transnacionais, nacionais, regionais, locais e setoriais) e em diferentes escalas de tempo (para desenvolvimento, implementação, avaliação e realização satisfatória dos objetivos de planejamento). [...] o planejamento turístico costuma ser uma combinação de considerações econômicas, sociais e ambientais que refletem a diversidade dos agentes que influenciam o desenvolvimento turístico.

O planejamento estratégico, para Vignati (2008, p.100), é importante na gestão de destinos turísticos, pois exerce múltiplas funções, entre elas:

3http://www.turismo.gov.br/turismo/o_ministerio/publicacoes/cadernos_publicacoes/06planos_m

kt

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É o principal instrumento da política de turismo; orienta e define políticas de crédito e incentivo; dá segurança a investidores, empresários e população, revelando um verdadeiro interesse do município pelo turismo; facilita a integração dos esforços públicos aos privados; direciona os destinos pelos caminhos da sustentabilidade e da competitividade turística; melhora a eficácia do destino turístico.

O plano de desenvolvimento turístico é um processo complexo e deve estar em sinergia com todos os demais setores da economia, respeitando a existência dos programas e projetos no território e alinhado com seus objetivos, como do Plano Nacional de Turismo, Plano Diretor de Turismo do Estado e do Município e Plano Urbanístico da Região.

A competitividade do destino turístico está mais relacionada à capacidade de organização de processos e estruturas de uma economia criativa do que à quantidade de recursos naturais e socioculturais do território. É importante fazer uma análise macroambiental, mesmo se o planejamento proposto for de base local, como no caso do Engenho do Mato, para estimular as vantagens comparativas com a região, município ou pólo do entorno; a competitividade vai do local ao global, buscando forças nas diferenças e semelhanças com a oferta do mercado onde está inserido.

Não existe uma fórmula perfeita para o planejamento de destinos turísticos. A metodologia escolhida vai de acordo com o objetivo do plano e das características do território, sendo uma ferramenta para minimizar os impactos negativos e aumentar a competitividade do destino, mas não garante a resolução de todos os problemas locais. O primeiro passo é investigar o território em questão para identificar suas peculiaridades, proposta desenvolvida neste trabalho, e classificá-lo como um novo destino, analisando se está se reposicionando, ou se possui agentes específicos que impeçam ou dificultem o desenvolvimento de um tipo de atividade turística. No caso do Engenho do Mato, as características rurais são bem perceptíveis no comércio local, como pode ser visto na figura seguinte:

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Fonte: Arquivo pessoal.

Figura 04: Selaria – Trabalho Artesanal.

Segundo Vignati (2008, p.102-103) “a metodologia não é um instrumento estático e precisa adaptar-se às condições do destino que se pretende desenvolver”, o mesmo autor apresenta uma alternativa de metodologia baseada em quatro fases: delimitação do âmbito territorial, diagnóstico, estratégias e ações e indicadores de controle e sustentabilidade.

Já Petrocchi (2008, p.51) aponta dez etapas que devem ser observadas no planejamento: “análise macroambiental; elaboração de diagnóstico; definir os objetivos; determinar as prioridades; identificar os obstáculos, as dificuldades; criar os meios, os mecanismos; dimensionar os recursos necessários; estabelecer responsabilidades; projetar cronograma; estabelecer pontos de controle.” No caso do planejamento turístico a análise macroambiental pode ser externa e interna, a primeira significa fazer uma análise de mercado, definir ameaças e oportunidades, e a interna é composta pelo inventário e pontos fortes e fracos do destino turístico. A criação de meios e mecanismos resulta na formulação de estratégias de marketing e de

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comunicação e, quando definidas as responsabilidades dos agentes sociais, devem ser criados planos setoriais para desenvolvimento socioeconômico de destino turístico.

Hall (2004) chama atenção para as formas de participação no planejamento turístico, o preparo da comunidade, os arranjos de poder e interesses criados para administrar o destino e se as estruturas de governo públicas estão realmente abertas a intervenções; e o considera como produto de um conjunto de relacionamentos, ao publicar que:

A escolha das técnicas empregadas no planejamento turístico, na identificação de indicadores, na seleção de objetivos e na produção de resultados (que convencionalmente é reconhecido como um plano na forma de um documento) é determinada pelo conjunto de relacionamentos que existem entre as várias partes interessadas e pelo grau em que são inclusivos ou exclusivos. (2004, p.92-93)

3.2 A COOPERAÇÃO DOS AGENTES NO DESENVOLVIMENTO DE BASE LOCAL

No mercado de trabalho é recorrente escutar que o mercado está muito competitivo, que é necessário criar vantagens competitivas e estar em constante qualificação e atualização para se manter competitivo. A competição faz parte do sistema econômico capitalista vigente, o mercado do livre comércio é ajustado pela concorrência, e a tecnologia da informação contribui para aceleração dos processos de mudança e inovação, levando a um cenário contemporâneo dinâmico e competitivo, um ringue de disputas por posições.

Não diferente do que ocorre nos dias atuais, na realidade apresentada, tendo como cenário os ambientes criados pelos empreendedores do Engenho do Mato, parece contraditório trabalhar a cooperação de empreendimentos, uma vez que foi detectado na pesquisa de campo, apresentada no próximo capítulo, que não há articulação entre tais empreendedores no sentido de realizar um projeto de interesse único e que sugira retorno para todos, de forma concisa. O modo de pensar dicotômico das dualidades, proveniente da visão disseminada por Descartes, que se alinha à realidade acima exposta, pode impedir a construção de novos modelos de negócio, ou seja, uma empresa que deseja manter-se competitiva poderia se aliar a

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