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A importância dos estudos de transmissão de preços e de sua volatilidade

1. INTRODUÇÃO

1.3. A importância dos estudos de transmissão de preços e de sua volatilidade

A suinocultura, anteriormente operando como atividade complementar, tem abandonado ao longo dos anos esse perfil e tornado-se um setor moderno, caracterizado por alto nível de produtividade e integrado a um dinâmico setor agroindustrial (BDMG, 2002), em que a adoção de tecnologias de produção, informação, coordenação e

especialização foi crucial para o desenvolvimento e a competitividade da cadeia diante da concorrência doméstica e internacional, intensificada pela abertura da economia no início da década de 1990.

Apesar de a carne suína ser a terceira mais importante fonte de proteína animal e da grande importância do setor para a economia brasileira na geração de emprego e renda (BDMG, 2002), a atividade suinícola envolve muitas incertezas e riscos. Talamini (1992) já tinha observado frequentes queixas de produtores em relação aos baixos níveis e à instabilidade dos preços do suíno, provocados pela sensibilidade da atividade aos fatores climáticos, biológicos e de mercado.

Assim, conhecer a formação dos preços da carne suína e seu mecanismo de transmissão ao longo da cadeia e entre mercados é de fundamental importância para a tomada de decisão dos agentes integrantes desse setor e para promoção de políticas públicas, visto que o nível de preço da carne e sua oscilação exercem grande influência na variabilidade da renda dos participantes da cadeia e do consumidor.

A falta de uma análise de transmissão de preços que demonstre os mecanismos de sua evolução pelos canais de comercialização pode generalizar a impressão de que os intermediários e comerciantes possuem a capacidade de repassarem as elevações de preços em maior proporção, elevando seu nível e sua instabilidade (BARROS, 1990). Além disso, conhecer as origens dos choques e sua intensidade de transmissão aos demais segmentos do mercado pode ser útil para realização de previsões mais confiáveis (AGUIAR, 1990).

A análise de transmissão dos preços permite avaliar a necessidade e a forma de intervenção governamental (AGUIAR, 1995). Por ser uma cadeia produtiva constituída de segmentos, as políticas governamentais e ações privadas devem levar em consideração as interligações entre os diferentes estágios da produção, pois há uma interdependência, por meio do mecanismo de transmissão de preços entre os agentes (SANTANA, 1999a).

Nesse sentido, estudos em que se objetivam mais informações sobre a questão da formação de preços têm analisado a transmissão dos preços entre os segmentos das cadeias produtivas. Esses trabalhos têm sugerido que o sentido na transmissão entre os níveis de mercado pode variar de acordo com o tipo de produto, a região e o período analisado. Em se tratando do mercado de carne, estudos como os de Bliska (1989), para o mercado da carne bovina, Guimarães (1990), para a carne de frango, e Weydmann e Seabra (2006), para a carne suína, indicam diferenças quanto à origem das transmissões dos preços.

Bliska (1989) evidenciou passividade do atacado em relação aos demais níveis de mercado, com sentido de causalidade de preço do produtor para atacado e varejo e do varejo para atacado e produtor. Guimarães (1990) constatou sentido de causalidade dos

preços do produtor para atacado e varejo; e Weydmann e Seabra (2006) indicaram antecipação do atacado nas variações ao produtor e varejo.

Além da análise da transmissão de preços entre níveis de mercado, é importante avaliar o processo de formação de preços entre as principais regiões participantes do produto em estudo, como o da carne suína, que apresenta características peculiares, como intensa variabilidade dos preços, concentração geográfica da atividade e a existência de diferentes sistemas de produção.

Um estudo com esse propósito ainda não foi realizado, havendo carência desse tipo de informação. O trabalho que mais se aproximou do assunto foi realizado por Rosado (2006), que analisou a integração espacial entre os mercados brasileiros de suínos. Os resultados mostraram que o mercado da carne suína nacional é integrado.

Obter informações sobre o relacionamento dos preços entres regiões, que faz parte da análise de integração de mercado, permite que sejam implementadas políticas mais eficientes. Conforme Santana (1998), citado por Rosado (2006), o conhecimento do grau de integração do mercado auxilia na elaboração de políticas agrícolas e pode reduzir os gastos orçamentários devido à duplicidade de intervenções, sendo importante para uniformidade da tributação e dinamização do fluxo de comércio.

Por fim, embora muitos trabalhos tenham se dedicado aos estudos sobre as transmissões de preços de diferentes produtos entre níveis de mercado e entre regiões, observa-se que eles têm-se limitado a análises da sua origem, obtenção das elasticidades de transmissão da variação dos preços e análise de cointegração, não levando em consideração a volatilidade dos preços, especialmente no que diz respeito à sua possível transmissão entre os integrantes da cadeia.

Diante desse cenário, um dos instrumentos no auxílio a tomada de decisão dos agentes integrantes das cadeias agroindustriais tem sido o estudo da oscilação dos preços pelo método da análise do comportamento da volatilidade dos preços, como os trabalhos realizados por Silva et al. (2005), sobre a volatilidade do retorno das commodities agrícolas café e soja, Lamounier (2006), para a volatilidade dos preços no mercado spot de cafés, Mattos et al. (2006), em relação à volatilidade do retorno mensal de boi gordo, e Campos (2007), sobre os retornos mensais de soja, café, milho e boi gordo. Para o mercado da carne suína, foram realizadas análises sobre a volatilidade do preço dessa carne por Weydmann e Seabra (2006), Arêdes e Oliveira (2009), Stepaniack et al. (2009) e Otuki et al. (2009).

No entanto, essas análises têm-se baseado no estudo da volatilidade condicional de preços e retornos de commodities agrícolas por meio de modelos univariados. A nova

proposta é realizar estudos sobre a volatilidade condicional utilizando modelos multivariados que permitam verificar a interdependência da volatilidade de preços entre diferentes séries. Essa análise já foi realizada em mercados financeiros por Galvão et al. (2000), Bitencourt et al. (2005) e Gau (2008) e deve ser aplicada também na análise dos preços agrícolas, visto que está diretamente relacionada com o risco associado à comercialização dos produtos nas cadeias agroindustriais.

Como observa Bressan (2001), a administração do risco relativo à volatilidade dos preços nas transações envolvendo produtos agropecuários é um componente fundamental, sendo a volatilidade, segundo Santos (2001) um bom indicador da necessidade de mecanismos de proteção quanto ao risco de preços.

No caso dos preços da carne, segundo Santos (2001) a volatilidade do mercado de suínos é significativa e os agentes participantes da cadeia – produtores, agroindústrias de abate e processamento e intermediários – estão expostos aos riscos de oscilação dos preços. Segundo esse autor, a cadeia de suínos nacional, apresenta grande instabilidade, especialmente relacionada a riscos de preços do produto; sendo, a volatilidade de preços um bom indicador da necessidade de mecanismos de proteção quanto ao risco de preços.

Pelo fato de a produção agropecuária estar constantemente sujeita a irregularidades, observadas no processo de produção, como sazonalidade e choques aleatórios relacionados a fatores externos (variações climáticas, pragas, entre outros), a produção agropecuária necessita de instrumentos que minimizem o risco e auxiliem na tomada de decisão dos agentes integrantes do agronegócio (BRESSAN, 2001).

Como intensas oscilações nos preços agrícolas são indicativos de funcionamento deficiente do complexo produção-comercialização, visto que as rendas são instáveis e os abastecimentos para o consumo são irregulares (BARROS; MARTINES FILHO, 1987), a volatilidade de preços deve ser avaliada. Além disso, como observam Carvalho et al. (2006), grandes variações nos preços agrícolas são frequentes e permitem a ocorrência de transferência de renda entre os elos das cadeias agroindustriais, ou seja, entre produtores rurais, atacadistas, varejistas e consumidores.

Assim, pelo fato de o preço da carne suína se mostrar com grandes oscilações e, ainda, devido ao fato de a maioria dos agentes ser avessa ao risco, a análise de volatilidade dos preços desse produto é indispensável, tendo em vista que proporciona a mensuração do risco dos preços, propiciando aos agentes informações para o planejamento da produção e comercialização.