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3. A INDÚSTRIA EXTRATIVA: ENQUADRAMENTO E CONTRIBUTO DO

3.4. A recuperação ambiental de minas e pedreiras

3.4.1. A importância da recuperação ambiental

Os recursos naturais devem ser racionalmente explorados, valorizados e os respetivos espaços recuperados. A recuperação paisagística permite minimizar a ocorrência de impactos negativos sobre o ambiente ao evitar a existência de áreas degradadas e, consequentemente, possibilita o equilíbrio patrimonial e a melhoria da qualidade de vida da população em geral.

Segundo Antunes e Gonçalo (2008), são exemplos de efeitos negativos da indústria extrativa: o impacte visual, a emissão de poeiras, a acumulação de subprodutos, o ruído, as vibrações associadas à detonação de explosivos, o rebaixamento das cotas incrementando o risco de contaminação de águas (superficiais e subterrâneas), a erosão e a contaminação do solo, a alteração do relevo, a destruição da vegetação, entre outros. De facto, o impacte visual é o efeito negativo que mais se destaca, mas não é o mais preocupante.

As atividades extrativas a céu aberto alteram significativamente o relevo ao provocar a destruição do solo e do coberto vegetal. A lavra das pedreiras quando executada sem considerar as regras de boas práticas ambientais geram frentes rochosas, com grande declive e sem solo, que dificilmente possibilitam a fixação de espécies vegetais, bem como a própria regeneração espontânea da vegetação. Esta realidade agrava-se em zonas do país onde predominam as altas temperaturas e a falta de água. Contudo, a preocupação não pode ser apenas com a vegetação, pois se o solo não tiver qualidade, condicionará o desenvolvimento da mesma (Naturlink, 2009). A recuperação ambiental para a conservação da natureza constitui, atualmente, uma grande preocupação dos exploradores de recursos geológicos.

Nas últimas décadas, tem aumentado a preocupação com a proteção, com a preservação e com a restauração do ambiente (Damingos, 2006). A temática da recuperação de pedreiras abandonadas, apontando soluções para minimizar os efeitos da negligência ambiental resultantes da exploração desses recursos, tem sido objeto de vários estudos. No caso de pedreiras localizadas perto de malhas urbanas, a recuperação destas áreas poderá passar pela criação de parques de lazer, que contribuam para o aumento da qualidade de vida das populações (Damingos & Kaliampakos, 2003). No caso de areeiros, maioritariamente localizados fora das malhas urbanas, a solução poderá passar pela recuperação dessas áreas para uso agrícola.

Loures e Panagopoulos (2007) avaliaram três estratégias para a recuperação de locais abandonados transformando-os para a sociedade e para o ambiente. As três estratégias estão relacionadas com o tipo de paisagem: patrimonial, ambiental e sociocultural. Estas estratégias permitem minimizar o impacto ambiental das áreas abandonadas assegurando uma recuperação harmoniosa do meio (natural e construído). O envolvimento das comunidades onde estas áreas a recuperar se integram é crucial, quer no curto prazo, quer no longo prazo. A conservação da biodiversidade, a preservação de recursos e a manutenção de habitat não devem constituir exclusivamente os objetivos da recuperação. Também devem ser considerados aspetos como o aumento de espaços verdes nas áreas urbanas, os benefícios obtidos com a melhoria da qualidade do solo, a criação de habitat, o aumento das oportunidades recreativas e a revitalização económica de bairros.

Segundo Bastos e Silva (2006), as opções de ocupação dos espaços afetos a pedreiras ou minas são inúmeras, associadas a uma componente cultural, desportiva, recreativa e

Faculdade de Economia da Universidade do Algarve

educativa, entre outras. São exemplo: os aterros sanitários, os campos de golfe, os parques urbanos, os empreendimentos turísticos, as zonas de lazer, as urbanizações de qualidade, as explorações agrícolas, os refúgios para aves migratórias e, no caso das minas antigas, a sua musealização. Todavia, a solução a adotar depende de um conjunto de características dos locais, dos quais se destacam: as condições biofísicas, a história local, os padrões de ocupação do território, os planos de ordenamento do território e as expectativas da própria região.

Quando é iniciada a extração de um recurso mineral num determinado local deverá existir um plano de recuperação ambiental da área, que terá de incluir aspetos diversos, nomeadamente, a descontaminação de solos, das águas e a florestação. Não é possível proceder-se à extração de um recurso geológico, sem que daí não resulte uma consequência para o ambiente.

A existência de estéreis na atividade extrativa é um problema grave. Por um lado, do ponto de vista económico, são elevados os custos de transporte e de armazenamento, o que eleva os custos de produção, o preço final do produto e, consequentemente, reduz os resultados da empresa. Do ponto de vista ambiental, os problemas surgem da deposição desregrada destes subprodutos em aterros ou escombreiras, geralmente sem critérios de escolha e que produzem um impacto negativo na paisagem onde ocorre. Contudo, Costa et al (1995) refere que “é genericamente reconhecido que o impacto ambiental das escombreiras é essencialmente de natureza paisagística, não sendo de atribuir significado de relevo a outros tipos de poluição, nomeadamente à de natureza química das águas e de qualidade do ar”. Depreende-se que o impacto negativo causado pela indústria extrativa se situa maioritariamente no domínio da paisagem.

Para Bastos e Silva (2006), a indústria mineira implica um uso temporário do solo, do espaço. A forma como o explorador modela a área onde extrai determinado recurso geológico, prepara-a para um determinado uso futuro. A melhor solução para o explorador é a que lhe trás um maior valor económico e que resulta da conjugação entre o valor económico do aproveitamento do recurso e o valor do terreno na fase posterior à exploração do recurso. É de extrema importância que os instrumentos de ordenamento do território designem o uso deste tipo de áreas após o encerramento da atividade extrativa, o que possibilita a conciliação das expectativas dos exploradores, das populações e das várias entidades (oficiais ou não) da área envolvente.

De facto, o futuro da recuperação ambiental não passa apenas pela criação de uma área florestal em áreas degradadas, mas sim por soluções atrativas, quer para a população, quer para a região.