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INSTALAÇÃO DE OBRA OU ATIVIDADE POTENCIALMENTE CAUSADORA DE SIGNIFICATIVA DEGRADAÇÃO DO MEIO AMBIENTE

O Estudo de Impacto Ambiental (EIA), como parte integrante do processo de avaliação de impacto ambiental55, foi inspirado no Direito

Shimada et al. (Orgs.). Desafios do direito ambiental no século XXI (Estudos em homenagem a Paulo Affonso Leme Machado). São Paulo: Malheiros, 2005. p. 623.

53 Idem, ibidem. 54 Idem, ibidem.

55 Em verdade, “com precisão técnica, EIA (Estudo de Impacto Ambiental) e AIA (Avaliação de Impacto Ambiental) são termos distintos. Só os impactos significantes de um projeto exigem a elaboração de EIA”. (BENJAMIN, Antonio Herman V. Estudo de impacto ambiental e Ministério Público. VII Congresso Nacional do Ministério Público. Livro de Teses. Belo Horizonte, 1987. p. 285).

americano (National Environmental Policy Act – NEPA, de 1969) e introduzido em nosso Direito positivo, de forma tímida, pela Lei 6.803, de 02.07.1980, que “dispõe sobre as diretrizes básicas para o zoneamento industrial nas áreas críticas de poluição”.

A Lei 6.938/1981 alçou a Avaliação de Impacto Ambiental à categoria de instrumento da Política Nacional do Meio Ambiente e a Resolução Conama 001/86 estabeleceu as definições, as responsabilidades, os critérios básicos e as diretrizes gerais para o seu uso e implementação.

A Constituição Federal consolidou o papel do EIA como uma das mais importantes modalidades de AIA, vinculando-o aos processos de licenciamento de atividades potencialmente causadoras de significativa degradação ambiental.56 Verbis:

“Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.

§ 1º. Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:

[...]

IV – exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade” (g.n.).

A propósito desse comando, pertinente a indagação: pode a legislação (p. ex., leis, resoluções e decretos) presumir a significativa degradação do meio ambiente? A questão, que não é nova, foi enfrentada pela Orientação Jurídica Normativa nº 51/2015/PFE/Ibama, que concluiu pela

56 Art. 225, § 1°, IV. Também os Estados-membros, ao elaborar as suas Constituições nos termos preconizados pelo art. 11 do ADCT, quase à unanimidade, fizeram inserir em seus textos previsões específicas acerca dos estudos de impacto ambiental, com o que mais e mais se reforçou e consolidou aludido instrumento. Consultem-se, a propósito, as Constituições dos Estados de Alagoas (art. 217, IV), Amapá (art. 312, § 2.º), Amazonas (arts. 230, VI e 235), Bahia (art. 214, IV), Ceará (art. 264), Espírito Santo (art. 187), Goiás (art. 132, § 3.º), Maranhão (art. 241, VIII), Mato Grosso (art. 263, parágrafo único, IV), Mato Grosso do Sul (art. 222, § 2.º, IV), Minas Gerais (art. 214, § 1.º, IV, e § 2.º), Pará (art. 255, § 1.º), Paraíba (art. 228, § 2.º), Paraná (art. 207, § 1.º, V), Pernambuco (art. 215), Piauí (art. 237, § 1.º, IV), Rio de Janeiro (art. 258, § 1.º, X), Rio Grande do Norte (art. 150, § 1.º, IV), Rio Grande do Sul (art. 251, § 1.º, V), Rondônia (art. 219, VI), Santa Catarina (art. 182, V), São Paulo (art. 192, § 2.º) e Sergipe (art. 232, § 1.º, IV).

No Estado de São Paulo, ademais, há normas específicas que foram baixadas pela Secretaria de Estado do Meio Ambiente com a Resolução SMA 42/94, de 29.12.1994, a qual regulamenta os procedimentos a serem adotados em relação aos EIA/Rima. É de notar a instituição do RAP – Relatório Ambiental Preliminar, consistente em análise prévia a ser feita pelos órgãos competentes no sentido de verificar a necessidade ou não de EIA/Rima para a implementação de obra ou atividade com potencial degradador.

inoportunidade de EIA ante a ausência de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente, devendo as previsões normativas que o exigem sem esse critério serem lidas, em conformidade com a Constituição (art. 225, § 1º, IV), como presunções relativas, ou seja, o órgão ou entidade licenciador pode afastá-la na hipótese de ausência de significância de impacto. Deveras, diz bem a citada Orientação Jurídica, “aplicar a mais pesada arma do arsenal de avaliação de impacto ambiental, sugando recursos materiais e humanos por uma leitura pretensamente mais protetiva, acaba indo contra o próprio meio ambiente, minando a célere e criteriosa análise de outros processos de licenciamento ambiental ou mesmo comprometendo a ação do órgão ambiental em outras frentes de atuação”.57

O objetivo central do Estudo de Impacto Ambiental é simples: evitar que um projeto de obra ou atividade, justificável sob o prisma econômico ou em relação aos interesses imediatos de seu proponente, revele-se posteriormente nefasto ou catastrófico para o meio ambiente. Valoriza-se, na plenitude, a vocação essencialmente preventiva do Direito Ambiental, expressa no conhecido apotegma: “é melhor prevenir que remediar” (mieux vaut prévenir que guérir, para os franceses; ou, como dizem os italianos, è meglio prevenire che rimanere scottati).

Nenhum outro instituto de Direito Ambiental exemplifica esse direcionamento preventivo melhor do que o EIA. Foi exatamente para prever (e, a partir daí, prevenir) o dano, antes de sua manifestação, que se criou o EIA. Daí a necessidade de que seja elaborado no momento certo: antes do início da execução, ou mesmo antes de atos preparatórios do projeto.58

Numa palavra: por meio deste revolucionário instrumento, procura-se reverter hábito arraigado e peculiar de nosso povo de apenas correr atrás dos fatos ou de prejuízos, não se antecipando a eles – a tranca só é colocada na porta depois de esta arrombada!

Os procedimentos do EIA não são apenas legais e compulsórios: eles são altamente pedagógicos e encerram um caráter social, a saber, o interesse e a participação da comunidade.

Assim, a publicidade exigida pela norma constitucional59 possibilita a

57 OJN nº 51/2015/PFE/Ibama, item 30.

58 BENJAMIN, Antonio Herman V. Os princípios do estudo de impacto ambiental como limites da discricionariedade administrativa. Revista Forense. vol. 317. p. 30. Rio de Janeiro: Forense, 1992. 59 A realização de audiências públicas foi disciplinada pela Resolução Conama 009, de 03.12.1987,

participação popular nas discussões e aferição do conteúdo dos estudos, contribuindo para o seu aprimoramento.