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ECONÔMICA

3.1. Na ordem social

Nossa Carta Magna, em seu art. 3.º, estabelece os objetivos da

fiscalização do órgão ambiental competente. Este controle (prévio, concomitante ou sucessivo) da Administração, exterioriza-se por meio de processos administrativos ambientais. Ou seja, o processo administrativo ambiental é uma manifestação do dever fundamental de proteção ao ambiente e, nesta condição, representa um encargo universal, submetido ao princípio da igualdade e da proporcionalidade, com fonte na Constituição e previsto e detalhado em lei” (NIEBUHR, Pedro de Menezes. Processo administrativo ambiental. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2014, p. 346 e 347).

44 No ponto, vale anotar a Proposta de Emenda à Constituição 13/2015, que busca alterar o caput do art. 5.º da CF/1988, para nele inserir o direito fundamental ao meio ambiente ecologicamente equilibrado. 45 TRINDADE, Antonio A. Cançado. Ob. cit., p. 75.

46 Tutela penal do patrimônio cultural. São Paulo: Ed. RT, 1995, p. 9. 47 Art. 60, § 4.º, IV, da CF/1988.

República. Esses objetivos, tomados complexivamente, perseguem o desenvolvimento e o bem-estar da sociedade, vale dizer, de todos e de cada um dos cidadãos brasileiros e de todos os estrangeiros que residem legalmente no Brasil.

É evidente a ênfase colocada no aspecto social; outra não poderia ser, eis que trata direta e especificamente da sociedade. Por conseguinte, o escopo máximo é zelar pela nação, sublinhando a ordem social que faz parte da sua estrutura mesma.

Já o art. 225, que preenche o capítulo do Meio Ambiente, chega a explicitar o bem comum como causa e, ao mesmo tempo, decorrência do meio ambiente ecologicamente equilibrado. Neste sentir, vê-se com clareza meridiana que o “bem de uso comum do povo” gera a sua felicidade e, simultaneamente, é produzido por ele – o mesmo povo –, porquanto esse bem difuso deve ser objeto da proteção do Estado e da própria sociedade para usufruto de toda a nação.

De fato, o capítulo do Meio Ambiente está inserido na Ordem Social. Ora, o social constitui a grande meta de toda ação do Poder Público e da sociedade. A Ordem Econômica, que tem suas características e valores específicos, subordina-se à ordem social. Com efeito, o crescimento ou desenvolvimento socioeconômico deve portar-se como um instrumento, um meio eficaz para subsidiar o objetivo social maior. Neste caso, as atividades econômicas não poderão, de forma alguma, gerar problemas que afetem a qualidade ambiental e impeçam o pleno atingimento dos escopos sociais.

O meio ambiente, como fator diretamente implicado no bem-estar da coletividade, deve ser protegido dos excessos quantitativos e qualitativos da produção econômica que afetam a sustentabilidade e dos abusos das liberdades que a Constituição confere aos empreendedores. Aliás, a própria Ordem Econômica, analisada em seguida, requer garantias de obediência às regulamentações científicas, técnicas, sociais e jurídicas relacionadas com a gestão ambiental.

A Avaliação do Impacto Ambiental, um dos instrumentos de implementação da Política Nacional do Meio Ambiente, pressupõe a análise dos impactos sociais dos empreendimentos, sejam eles negativos ou positivos. De resto, a legislação está bem fornecida de instrumentos de salvaguarda dos interesses socioambientais. Neste contexto, as políticas nacionais que se relacionam ao meio ambiente trazem à lembrança os interesses sociais e a necessidade de participação comunitária. Vale destacar a Política Nacional de Educação Ambiental, disciplinada pela Lei

9.795, de 27.04.1999, na qual os valores sociais são especialmente encarecidos.

3.2. Na ordem econômica

A ordem econômica brasileira, “fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa”48, tem, entre seus princípios, a “defesa do meio ambiente”.49

Aqui está um dos principais – se não o principal – avanços da Constituição em relação à tutela ambiental. O sentido e o alcance desse princípio (e da sua inclusão como limite à livre iniciativa) são por demais complexos e amplos para serem tratados neste trabalho acadêmico.

De qualquer modo, cabe ressaltar que, nos termos da Constituição, estão desconformes – e, portanto, não podem prevalecer – as atividades decorrentes da iniciativa privada (da pública também)50 que violem a proteção do meio ambiente. Ou seja, a propriedade privada, base da ordem econômica constitucional, deixa de cumprir sua função social – elementar para sua garantia constitucional – quando se insurge contra o meio ambiente.51

O primado do social sobre o econômico, malgrado ser evidente pela natureza das coisas, não vingou perfeitamente na linguagem do legislador constituinte. Sem dúvida, isso aconteceu porque a cabeça do constituinte estava fortemente impregnada das preocupações de crescimento e desenvolvimento – como, de resto, a cabeça dos governantes e políticos. Contudo, não se há de negar os avanços realizados.

Com oportunidade, anotam José Rubens Morato Leite e outros autores: “O modo de vida humano não consegue – ao menos no momento – abandonar a ideia de que o ambiente é, de alguma forma, servil. Neste contexto, cabe a constatação de que o próprio Direito só passou a tratar de concepções ambientais nas últimas décadas, havendo Estados que ainda consideram o ambiente a partir de concepções notadamente economicocêntricas”.52

48 Art. 170, caput, da CF. 49 Art. 170, VI, da CF.

50 Só que aí com fundamento no art. 225 da CF.

51 Este o sentido do disposto no art. 1.228, § 1.º, do CC/2002: “O direito de propriedade deve ser exercido em consonância com as suas finalidades econômicas e sociais e de modo que sejam preservados, de conformidade com o estabelecido em lei especial, a flora, a fauna, as belezas naturais, o equilíbrio ecológico e o patrimônio histórico e artístico, bem como evitada a poluição do ar e das águas”.

Esta deficiência liminar no trato do Meio Ambiente como realidade, ao mesmo tempo, natural e social se explica, em parte, pela novidade da Questão Ambiental. No entanto, o vício antropocêntrico calcado nos aspectos econômicos vai mais longe e mais fundo. É o que assinalam os autores: “O Direito (no caso, a Constituição) é produzido por humanos e voltado para seus valores. Assim, sendo o aspecto econômico um dos mais valorizados e presentes em boa parte do mundo (chegando a ser, inclusive, indicado por muitos como razão de ser do Estado e do próprio Direito), é visível que o ambiente ainda fica, na esfera jurídica, refém das necessidades de ordem econômica. Não seria diferente na Constituição de 1988, que, mesmo consagrando um Estado Social de Direito, não deixa de contemplar amplamente pressupostos de um Estado Liberal. Diante de tal situação, não se poderia esperar que a Constituição Federal Brasileira, em que pese a sua avançada concepção de ambiente e busca pela formação de um Estado de Direito do Ambiente, não propugnasse também por uma visão antropocêntrica do ambiente”.53

Os autores identificam-se com os pensamentos básicos da chamada “ecologia profunda”, que insiste na integração do ser humano com o meio ambiente, relativizando, assim, a proeminência e a prepotência humana sobre o mundo. A razão humana careceria de fundamentos últimos para fazer escolhas no sentido de subjugar a Natureza. Mas a falta de sintonia com esse pensamento não tira, à nossa Carta Magna, o merecimento histórico que, com justiça, lhe é atribuído. Assim arrematam eles: “É interessante observar, contudo, que a mesma não se ateve a uma visão antropocêntrica de matiz economicocêntrico de meio ambiente. Assim, não contemplou o ambiente como mero instrumento para o proveito econômico e geração de riquezas. Os fortes delineamentos econômicos de ordem constitucional são conformados com a proteção ambiental”.54