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A Imprensa

No documento vanessabarbosaleiteferreira (páginas 42-46)

M. Lander a Juiz de Fora

2 OS PROTESTANTES NO BRASIL

2.5 A contribuição da educação americana no sistema de ensino brasileiro

2.5.2 A Imprensa

Não resta dúvida de que a imprensa sempre serviu como valiosa ferramenta de difusão de novos métodos e novos ideais. Quanto à educação, essa proposição foi confirmada na obra “História de Educação pela Imprensa”, dos organizadores Analete Regina Schelbauer e José Carlos Souza Araújo (SCHELBAUER; ARAÚJO, 2007), cujo conteúdo transformou- se em uma coletânea de artigos tendo como foco a educação.

Alguns registros que assinalam a chegada e a apropriação de novos métodos, técnicas procedentes do exterior no decorrer das décadas de 1870 e 1880, serão aqui abordados. A propósito, o jornal “A Província de São Paulo”, fundado por Rangel Pestana e Américo Campos em 1870 (SCHELBAUER; ARAÚJO, 2007, p. 10), retratou entre outros assuntos o ideal republicano da oferta da educação às classes populares, quando muito se exaltou o método intuitivo.

Hilsdorf (2009), em seu artigo “Revisando a história das escolas protestantes americanas na província de São Paulo”, atenta para o fato de Rangel Pestana como propagador dos ideais republicanos que, durante quinze anos (1875-1889), fez circular em seu jornal, “A Província de São Paulo”, impressões sobre as escolas protestantes e americanas, as quais, sob seu olhar viriam a constituir-se em instituições modelos para a educação brasileira.

- sentimento de liberdade de consciência, de crítica e de discussão;

- noções de ordem e hierarquia, disciplina rígida e altas exigências éticas, baseadas na combinação de obediência e autogoverno, sem castigos físicos nem morais;

- integração entre pensamento e ação;

- atividades extra-classe: clubes literários, ligas de temperança;

- organização seriada e progressiva e não sequencial e linear dos estudos; - conteúdos literários e científicos, trabalho manual como treino para os

estudos nos laboratórios, atletismo, educação física e ginástica sueca; - jardins da infância;

- classes de ensino normal profissionalizante com fundamentação pedagógica baseada em fisiologia e higiene escolar, ciências naturais, pedagogia e metodologia, filosofia intelectual e história da educação, e treino prático como regentes de classes (1885);

- bibliografia estrangeira, ou produzida e adaptada pelos próprios professores;

- ensino misto, preparando as meninas para ganhar a vida independentemente como professores e missionários;

- no lugar da memorização, a utilização das lições de coisas e do método intuitivo, apoiado em laboratórios, coleções de espécimes, museus, mapas e cartazes escolares;

- método sintético de leitura: palavras a partir de letras e sílabas; - caligrafia com modelos e cadernos americanos;

- ensino regular e seriado em cursos diurnos e palestras de divulgação noturnas, abertas ao publico em geral, como prática da educação popular; - emprego de professoras, inclusive para as matérias científicas, na figura

exemplar da professora Marie Rennotte, que dava física, química e ciências naturais no Colégio Piracicabano. (HILSDORF, 1986, p.172).

Publicado em 1876, o relatório sobre a instrução pública nos Estados Unidos, elaborado por Celestin Hippeau, professor honorário da faculdade de Paris, viu-se divulgado como um modelo a ser seguido pelos educadores brasileiros. O relatório, elaborado a pedido do governo francês para acompanhar o desenvolvimento da instrução pública no mundo, encantou especialmente os intelectuais dentro do contexto da educação americana, alicerce da modernidade pedagógica.

O referido documento circulou no Brasil em francês e sua versão em língua portuguesa foi publicada pelo “Diário Official do Império do Brasil”, em 1871, tendo sido responsável por oficializá-lo e difundi-lo (HILSDORF, 1986).

Ainda na introdução, Hippeau enaltece tanto a nação americana quanto seu sistema cultural, político e econômico baseados na razão, nos princípios democráticos, no liberalismo, com razões suficientes, segundo Gondra (2002, p. 6), “para alavancar o Brasil ao nível do seu tempo e incluí-lo no restrito concerto das nações modernas e civilizadas.”

O relator descreve, como princípios do sistema educacional americano, a igualdade para ambos os sexos e a gratuidade, ressaltando, porém, que a condição essencial para o seu

êxito é a independência dos Estados para com o governo central. Todas as crianças, de 5 a 18 anos, deveriam frequentar as escolas públicas (common schools, free schools). Os alunos deveriam percorrer todos os graus do ensino elementar, compreendendo, leitura, escrita, ortografia, princípios de gramática, cálculo, desenho e música. A Grammar School e a High School complementavam o conhecimento com os estudos das línguas antigas, literatura, história, geometria, álgebra, química, física e história natural. O ensino que seria útil a todos, assim como a participação política, o poder da iniciativa particular e a educação como indicadora de civilidade, através da prática de leitura de obras científicas, políticas e históricas ou de jornais, leituras públicas e meetings se acentuariam como pontos referenciais de uma educação moderna e modelar.

As matérias publicadas no jornal “A Província” traziam como objetivo a transmissão das ideias políticas defendidas pelos editores e autores. Os artigos mais significativos diziam respeito à escravidão, à república e à instrução do povo como o alicerce do progresso. A educação popular seria um ideal a ser alcançado gozando de prioridade, segundo o modelo da educação americana (SCHELBAUER; ARAÚJO, 2007).

A menção à forma, qualidade ou estrutura educacional encontrava-se sempre em foco. “A Província”, por exemplo, publicou em 1877 uma tradução do artigo de George Pouchete. Sobre “O livro de Estudos Sobre o Ensino” de Charles Robin, que se referia ao ensino em caráter científico e aos métodos que utilizavam a observação. Apesar de serem franceses, tanto o autor, quanto o tradutor, mais uma vez seria o modelo americano exaltado, devido ao espírito democrático e ao ensino científico (SCHELBAUER; ARAÚJO, 2007).

Em resposta a debate em torno do método intuitivo, Antônio Zeferino Candido (apud SCHELBAUER; ARAÚJO, 2007) relata que, ao contrário do que se pregava, o método intuitivo seria originário da América e não da Alemanha. Ainda no mesmo jornal em que exarou seus argumentos, o tema Escola Normal foi amplamente polemizado. Em fins da década de 1870, um artigo traduzido do Harper`s New Monthly Magazine, com o título “A Escola Normal em New York”, sobrelevava mais uma vez o ensino americano, desta feita baseado na experiência de uma escola enfatizando que os bons resultados obtidos no país se deviam à Escola Normal.

Também em “A Província”, na década de 1870, Tavares Bastos, discorreu sobre o conceito americano de educação: “Dispam-se dos prejuízos europeus os reformadores brasileiros: imitemos a América. A escola moderna, a escola sem espírito de seita, a escola comum, a escola mista, a escola livre, é a obra original da democracia do Novo Mundo.” (TAVARES BASTOS apud HILSDORF, 1986, p. 79).

O termo empregado por Hilsdorf (1986), “americanofilia”, tão presente nas abordagens de Rangel Pestana como educador, político e jornalista, integra-se no ideário republicano e liberal, contagiando também o intelectual Quintino Bocaiúva, que no jornal “A República”, publica em 1871, a tradução de um artigo sobre Horace Mann (o idealizador das Common Schools) e outro intitulado “A República dos Estados Unidos” (HILSDORF, 1986, p. 80).

Embora tais publicações, enaltecendo o país norte-americano fossem muito bem aceitas por intelectuais liberais, republicanos e maçons, elas suscitaram algumas reações negativas. A propósito, Joaquim dos Remédios, no jornal “Despertador”, de Santa Catarina, escreveu vários artigos afirmando seu desencanto pela nação apontada como modelo que possuía péssimas leis civis e cujo progresso se devia à raça anglo-saxônica (HILSDORF, 1986, p. 80).

O jornal democrata e de oposição ao clero, denominado “Gazeta de Piracicaba” (Piracicaba), também prestou grande contribuição à divulgação das atividades da igreja metodista e do Colégio Piracicabano ao publicar inúmeros avisos, anúncios e artigos no decorrer de seu estabelecimento na cidade, conforme aponta Hilsdorf (1986):

É fato que muitos dos artigos relacionados com a educação, publicados pela imprensa e guiados ou controlados pelos múltiplos interesses de seus agentes, foram aqueles que fizeram circular na sociedade brasileira novas idéias, reflexões, questionamentos especialmente aqueles com referência ao cidadão norte-americano e seu país, que representavam a referência que o povo brasileiro deveria seguir. (HILSDORF, 1986, p. 190).

Apesar de a imprensa periódica, nas últimas décadas do século XIX, não alcançar mais do que uma parcela mínima da população, considerando-se que sua esmagadora maioria era analfabeta, foi ela de grande relevância para que os assuntos educacionais extrapolassem as fronteiras dos colégios, e pudessem ser debatidos por pensadores e educadores. Foi por esse motivo que o papel da imprensa certamente veio a transformar-se em um dos mais significativos para a montagem de um compreensivo retrato da educação brasileira.

No documento vanessabarbosaleiteferreira (páginas 42-46)