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A influência da Inteligência Emocional no (In)Sucesso Escolar

CAPÍTULO II: CONCETUALIZAÇÃO DE INTELIGÊNCIA EMOCIONAL

2.3. A influência da Inteligência Emocional no (In)Sucesso Escolar

De uma forma geral quase todas as profissões exigem, em níveis diferentes, um relacionamento interpessoal, isto é, o contato com outras pessoas. Uma dessas profissões é a de docente. Atualmente, ser professor não consiste apenas na capacidade de transmissão de conhecimentos, sendo fundamental o relacionamento ‘emocional’ com os alunos. Se as

(…) primeiras socializações de um indivíduo são feitas no seio da família, a verdade é que as mudanças sociais foram levando a que o papel e a influência familiar também se fossem modificando (…) e a escola foi tendo uma ênfase cada vez maior na formação das crianças e adolescentes (Cerdeira, 2012, p.2).

Assim, uma vez que a profissão de docente assenta, essencialmente, em duas grandes bases, a relação com os outros (colegas de trabalho e alunos) e a relação consigo mesmo, é-lhes exigido uma enorme capacidade de relacionamento interpessoal mas também intrapessoal, visto que é imperativo que um professor consiga identificar, compreender e gerir os seus sentimentos de modo a poder fazer o mesmo em relação aos sentimentos dos outros. Como tal, é indispensável que os professores sejam pessoas empáticas de modo a construírem uma relação sólida com os seus alunos e colegas. Ademais, a partir do momento que os professores têm um comportamento empático nas suas relações com os discentes, assiste-se a uma tendência de estes melhorem aspetos que podem ser determinantes para o seu (in)sucesso escolar: aumento da autoestima, melhoramento do rendimento escolar, as agitações dentro da sala de aula diminuem bem como o número de faltas. Como salientam Nunes-Valente e Monteiro (2016, p.6), a Inteligência Emocional revela-se primordial na atividade dos professores, pois pode promover melhores resultados, aumentar a capacidade para lidar com as tensões vivenciadas na escola, assim como melhorar as competências de relacionamento interpessoal.

Quando os alunos se lembram dos professores, não se recordam apenas dos métodos que utilizavam em sala de aula, mas da sua personalidade e dos seus padrões comportamentais. Ou seja, na memória fica a imagem do professor como ser humano. Portanto, um professor emocionalmente inteligente, tira uma maior vantagem das suas competências profissionais e a marca que deixa nos alunos servirá também para o seu comportamento social futuro, servindo de modelo no processo de formação, educação e integração social (Marques, 2011, p. 40).

Para além disso, tal como Marques (2011) explica, as competências emocionais dos professores são fundamentais nos momentos de enino/aprendizagem. Assim, numa fase inicial, para que a ação pedagógica seja eficaz o docente tem de conhecer bem a turma com quem vai trabalhar ao longo do ano letivo, isto é, o docente precisa de conhecer os interesses, hobbies e a história de vida dos seus alunos. Numa segunda fase, é crucial que o docente fique a conhecer outros aspetos alusivos aos alunos, com destaque para os aspetos cognitivos, emocionais e afetivos, através do diálogo e da observação.

Acredita-se, portanto, que a Inteligência Emocional condiciona o (in)sucesso escolar, sendo que os alunos que possuem uma Inteligência Emocional elevada têm uma maior probabilidade de serem bem-sucedidos, enquanto os alunos cuja Inteligência Emocional é reduzida têm uma maior probabilidade de não conseguirem alcançar o sucesso académico pretendido. Tal significa que, quando os alunos possuem a capacidade de controlar as suas Emoções e interagem facilmente com os outros (capacidades de ordem emocional e social) têm uma maior probabilidade em serem bem-sucedidos academicamente. Como salienta Ângelo (2007, p.32), referindo-se ao estudo de Mayer, Roberts e Barsade (que seria publicado em 2008)

(…) há uma correlação positiva entre a inteligência emocional e as boas relações sociais, familiares, íntimas e de trabalho; os indivíduos de inteligência emocional elevada são encarados pelos outros como pessoas com quem é mais agradável estar, mais empáticas e socialmente mais hábeis do que os indivíduos de inteligência emocional baixa; a inteligência emocional está relacionada com o sucesso académico e no trabalho; a satisfação, a autoestima e a menor taxa de depressão exibem também uma correlação positiva com a inteligência emocional.

Assim, para os alunos atingirem o sucesso escolar é necessário que os professores contribuam para o seu desenvolvimento emocional para que estes saibam como lidar com as suas emoções nas diversas situações, visto que estas, quando bem geridas e

direcionadas, contribuem para o sucesso escolar dos estudantes. Importa também referir que, apesar dos ensinamentos do professor serem importantes para o desenvolvimento e progresso do educando, a maneira como o professor ensina, a postura emocional do professor, é importantíssima visto que é este grande fator que vai determinar o sucesso pessoal e académico do aluno. Com efeito, (…) a Inteligência Emocional do professor é uma das variáveis que explica a criação de um ambiente educativo emocionalmente inteligente (Medeiro, 2006, citada por Marques, 2011, p. 39).

O ambiente dentro da sala de aula tem também influência no (in)sucesso académico. Quando, na sala de aula, predomina um ambiente harmonioso em que os estudantes se respeitam uns aos outros e, ao mesmo tempo, apresentam um bom comportamento, reina um ambiente propício à aprendizagem. Para além disso, este ambiente é também essencial e favorável ao desenvolvimento da inteligência emocional.

Vários estudos confirmam que a Inteligência Emocional difere consoante o género dos indivíduos, sendo que educandos do sexo feminino têm uma tendência a serem mais competentes em determinadas dimensões da Inteligência Emocional face aos educandos do sexo masculino (Petrides, K.; e Furnham, A. 2000; Naghavi e Redzuan, 2011; Meshkat e Nejati, 2017). Como tal, as raparigas têm uma maior facilidade em identificar as suas emoções e os seus sentimentos e tendem a expressar o que sentem com maior frequência. Por fim, os estudos têm vindo a demonstrar que as raparigas se preocupam mais com o estado emocional dos outros e apoiam-se nas emoções quando precisam de prestar auxílio ao próximo. Já os rapazes possuem uma maior autoestima, são mais confiantes, geram melhor o stress, são mais otimistas e resolvem os seus problemas com maior facilidade. No fundo, as raparigas possuem uma maior inteligência interpessoal enquanto os rapazes pontuam nas capacidades intrapessoais.

A verdade é que as emoções são muito importantes nas tomadas de decisões racionais ou na resolução de problemas, o que significa que as emoções, portanto, são importantes para a racionalidade (Goleman, 1995, p. 59). É como se o ser humano tivesse “dois cérebros”, tal como Goleman (1995) defende: o cérebro pensante e o cérebro emocional, dois cérebros com funções distintas, mas que trabalham em conjunto. Assim, ambos desempenham funções vitais na vida do ser humano, sendo que o primeiro tem a função de administrar as emoções enquanto o segundo guia as decisões de cada um em todos os momentos. Uma vez que temos “dois cérebros”, temos também duas inteligências: a emocional e a racional. Estas duas inteligências trabalham de mãos dadas,

o que significa que não é só o nosso QI que define o nosso desempenho, mas também a nossa Inteligência Emocional. Todavia, apesar de serem duas inteligências que estão interligadas, pode acontecer que um indivíduo tenha um QI elevado, mas não seja emocionalmente inteligente.

Perante tal cenário, a educação emocional torna-se mais importante do que nunca. Esta pode ser encarada como um processo educativo, contínuo e permanente, que pretende potenciar o desenvolvimento emocional como elemento do desenvolvimento cognitivo, sendo que ambos são imprescindíveis para o desenvolvimento total da personalidade de um indivíduo (Hilário, 2012, p. 11). O principal objetivo da educação emocional passa por proporcionar bem-estar emocional e social aos alunos de modo a aumentar o seu nível de Inteligência Emocional. Assim, quando os alunos se tornam emocionalmente mais inteligentes têm uma maior facilidade para trabalhar em grupo, sentindo-se integrados no grupo de trabalho, mas também na turma, e tornam-se pessoas mais seguras e otimistas, duas qualidades que são precisas quando têm de enfrentar os seus problemas e dificuldades que possa surgir. Ademais, importa salientar que é imperativo que uma pessoa consiga identificar e controlar as suas próprias emoções e sentimentos. Com a educação emocional pretende-se que os educandos sejam capazes de identificar, gerir, controlar e até expressar as suas emoções de modo a que estas estejam adequadas aos momentos, ou seja, de modo a que não as suprimam e evitar que as expressem nos momentos que não devem.