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A influência da opinião pública explicada através de teorias da

2 O MARCO TEÓRICO-CONCEITUAL DESTE ESTUDO: INSTITUCIONALISMO

2.2 A relevância da comunicação política para a formação da opinião pública: o

2.2.1 A influência da opinião pública explicada através de teorias da

No período posterior ao debate entre Lippmann (1922) e Dewey (1927; 1982), o surgimento de adicionais veículos de comunicação que se portam como atores políticos não é uma novidade, pois na base de estudos sobre comunicação política há fartas referências a este fenômeno. Mesmo na academia brasileira há bons tratamentos sobre o fenômeno da mídia como ator político, como pode ser entendido

em uma definição sobre a participação política ativa de atores sociais, incluindo proprietários de empresas de comunicação:

A mídia não funciona apenas como um elo de intermediação (passiva) entre política e cidadãos. Nesta mediação há intervenção ativa de muitos atores sociais, tais como proprietários das empresas, profissionais, anunciantes, fontes, entidades, forças políticas presentes na sociedade (RUBIM; COLLING, 2005, p. 41).

McNair (2011, p. 69) expõe constatações que se alinham às tendências de Lippmann, explicitando que “[…] Jornais usam seu poder como disseminadores de informação para influenciar o ambiente de fazer política; para mover seus leitores em certas direções, se possível; e para colocar pressão em tomadores de decisões no governo”9. Nesse aspecto, a prática de um jornalismo que busca induzir a opinião

pública para pressionar o processo de tomadas de decisão é uma realidade ainda não superada, persistindo um tipo de prática jornalística militante, mesmo que por meios implícitos que, no mínimo, tenta manipular as massas.

McNair (2011) vai mais além, colocando a questão da identidade e da imagem política na cobertura realizada pelos emissores de comunicação, que pode ser relacionado com a abordagem maquiaveliana de Chesebro (1974), em que os símbolos possuem mais importância que as relações de poder. Destaca-se a comunicação proposital sobre política, não apenas cobrindo afirmações verbais ou escritas, mas também representações visuais, incluindo aspectos que desenvolvem uma identidade política ou uma imagem política (McNAIR, 2011, p. 24).

A relevância das abordagens de Chesebro (1974) contribui para o debate em comunicação política, para a explicação de fenômenos que envolve as relações de poder e os símbolos, elencando cinco tipos de abordagens, que são complementares entre si: maquiaveliana, icônica, ritualística, de confirmação e dramatística.

Na abordagem maquiaveliana, o que importa são as relações de poder e os símbolos são meras ferramentas. Na abordagem icônica, os símbolos são importantes para a definição do poder. Na abordagem ritualística, a manipulação dos símbolos induz a uma redundante e superficial natureza dos atos políticos. Na abordagem de confirmação, os aspectos políticos são vistos dependendo das 9 Tradução livre do original: “[…] newspapers use their power as information disseminators to influence the policy-making environment; to move their readers in certain directions if they can; and to put pressure on decision-makers in government”.

35 pessoas que os apoiam. E por fim, na abordagem dramatística, a política é simbolicamente construída, citando Kenneth Burke (CHESEBRO, 1974, p. 9) e importância do vocabulário.

Dentre as cinco abordagens críticas e complementares para a comunicação política contemporânea de Chesebro (1974), uma delas se refere às relações de poder como sendo determinante, a abordagem maquiaveliana (CHESEBRO, 1974). Nela, as fontes de poder são concebidas antes das interações comunicativas, em que os símbolos são vistos como ferramentas, e não como o fator determinante para o poder (CHESEBRO, 1974, p. 2-5).

Seguindo a lógica da abordagem maquiaveliana de Chesebro (1974), importam as intenções de quem possui o poder de emitir uma comunicação. Para Denton; Woodward (1998, p. 11), “[...] o fator crucial que faz a comunicação ‘política’ não é a fonte da mensagem, mas seu conteúdo e propósito”10. Assim, a forma como as intenções e mensagens dos emissores é produzida e difundida influencia o ambiente político (DENTON; WOODWARD, 1998), que segue a mesma corrente de Norris (2004), em que o processo de produção foca em como as mensagens são geradas pelos atores políticos e grupos de interesse e então transmitidos através de canais diretos ou indiretos de comunicação.

Denton e Woodward (1998) também destacam que dentre as formas objetivas de produção e difusão inclui-se a cobertura do noticiário na mídia como parte da discussão pública, focando na maneira e nos meios de expressão de natureza política como essenciais para constituir a influência – podendo utilizar métodos muito sutis para lograr uma influência capaz de obter uma “fabricação de consensos” (LIPPMANN, 1922).

Com o desenvolvimento do debate, a questão estratégica aparece como um fator relevante para a disciplina. Swanson e Nimmo (1990) chamam a atenção para a questão da influência da opinião pública com vistas à realização de metas políticas estratégicas. Eles tratam a comunicação política como algo que possui natureza estratégica, com destacado poder persuasivo para influenciar o conhecimento público, crenças e ação através do discurso em assuntos políticos11, mais uma vez

se aproximando das tentativas de manipulação das massas previamente explanadas 10 Tradução livre do original: “[...] the crucial factor that makes communication 'political' is not the source of a message, but its content and purpose”.

11 Tradução livre do original: "[...] the strategic use of communication to influence public knowledge, beliefs, and action on political matters [...]”.

pela abordagem de Lippmann (1922).

Bakir (2013) cunhou em sua análise o termo Comunicação Política Estratégica – Strategic Political Communication (SPC) – que reflete a relação com a produção da agenda política, em que a comunicação política é “manipulativa” (BAKIR, 2013, p. 3), fazendo uso de técnicas científicas sociais para compreender o comportamento e motivações humanas, e o ambiente da mídia, que deve informar somente o que deve ser comunicado, criando alianças estratégicas, visando a influência da opinião pública, facilitando o ambiente para a aplicação de certas políticas.

[...] comunicação política que é manipulativa na intenção, que utiliza técnicas sociais científicas e dispositivos heurísticos para compreender a motivação humana, o comportamento humano e o ambiente de mídia, para efetivamente informar o que deve ser comunicado – abrangendo seus detalhes e direção em geral – e o que deve ser retido, com o objetivo de levar em consideração e influenciar a opinião pública, e criar alianças estratégicas e um ambiente habilitante para políticas governamentais – ambas domésticas e exteriores (BAKIR, 2013, p. 3)12.

Debatendo com a Comunicação Política Estratégica de Bakir (2013) de forma mais concreta, um elemento que contribui para construir a imagem das lideranças políticas – elites internas dos agrupamentos – e mesmo da imagem simbólica da mensagem (CHESEBRO, 1974) difundida pelo próprio partido são as estratégias de marketing, em que os meios de comunicação possuem um papel fundamental no processo de persuasão sobre o público-alvo, contribuindo para realizar as intenções daqueles que estão por trás da formulação das estratégias do agrupamento político.

As estratégias condizem com os objetivos de quem as elabora, ou seja, as intenções de quem estabelece as estratégias. Portanto, os propósitos e conteúdo da comunicação podem ser mais importantes que a estratégia – fruto do efeito das intenções.

Não que Lippmann (1922) fosse explicitamente favorável à aplicação de métodos de influência das massas para fins políticos, mas sua constatação de que há uma busca por esses métodos com esses objetivos é embasada pela sequência do seu debate com Dewey (1927), em que formas das mais sofisticadas para a 12 Tradução livre do original: “[...] political communication that is manipulative in intent, that utilises social scientific techniques and heuristic devices to understand human motivation, human behavior and the media environment, to inform effectively what should be communicated – encompassing its detail and overall direction – and what should be withheld, with the aim of taking into account and influencing public opinion, and creating strategic alliances and an enabling environment for government policies – both at home and abroad”.

37 influência das massas se situam em um contexto de estratégias políticas (BAKIR, 2013), a serviço dos detentores do poder. A educação das massas, como Dewey apontava (1927; 1982) é um importante tópico a ser abordado para contrabalancear a tendência que considera o público como algo passivo.

2.2.2 O jornalismo advocatício como contraponto ao jornalismo de paradigma